Fotos jpb |
Com mais alguns milhares participei na manifestação NÃO NOS ENCOSTEM À PAREDE E porque participei?
foto pedida ao ChatGTP |
Fotos jpb |
Com mais alguns milhares participei na manifestação NÃO NOS ENCOSTEM À PAREDE E porque participei?
foto pedida ao ChatGTP |
Agradeço à Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar o convite que me foi feito para intervir nesta cerimónia do lançamento do livro “O Colégio Militar na História do Desporto em Portugal”, o que muito me honra.
O Livro que hoje é lançado, resulta do facto de neste ano de 2024 — também com Jogos Olímpicos em Paris — se comemorar um século da obtenção nos Jogos Olímpicos de Paris de 1924 da 1ª medalha olímpica de Portugal pelo 3º lugar — Bronze — da equipa de Hipismo de Saltos de Obstáculos e da qual faziam parte, dois antigos-alunos do Colégio Militar, o medalhado, Hélder Martins, 225/1912 e o Chefe de Equipa, Manuel da Costa Latino, 207/1888.
Ao pensar nesta comemoração, Martiniano Gonçalves, o 9/1958, que foi o principal responsável pela sua realização com os apoios decisivos do Professor Nuno Leitão e do Vasco Lynce, o 21/1960, pensou também que era um bom momento para dar a conhecer, para além dos resultados olímpicos que proporcionaram a entrega dos Troféus dos Comités Olímpicos de Portugal e Internacional, o enorme sucesso dos resultados desportivos noutras modalidades — cuja importância também já foi reconhecida por Governos de Portugal — que a formação desportiva que tivemos no nosso Colégio nos proporcionou. E assim se juntaram textos de diversos autores que nos dão a imagem da extraordinária qualidade desses resultados.
Presidente do Comité Olímpico de Portugal de 2013 a 2024, José Manuel Constantino gostava de dizer que (e cito): “o desporto é um bem público… que socialmente vale mais do que custa”. E no meu tempo colegial — finais dos anos 50 e primeira metade dos anos 60 do século passado — tenho a certeza que os responsáveis do Colégio, seguindo o conceito do fundador Marechal Teixeira Rebelo e do Director General Morais Sarmento que, passado um século, o repetia, tinham a absoluta noção da importância da Educação Física no desenvolvimento, também intelectual, das crianças, para além do seu valor social. E a equipa chefiada pelo Antigo Aluno, Pereira de Carvalho, (180/1934) e integrada por treinadores de renome nacional como Reis Pinto e Mário Lemos a que se juntavam o nosso excelente Dario Fernandes e os ex-alunos Luis Sequeira (5/1938), Nuno Vitória (66/1939), Abranches de Sousa (209/1945) e João Calixto (314/1947), soube ultrapassar convenções e adaptar o sistema, facilitando o percurso do “brincar, jogando” até à preparação organizada das equipas representativas nas competições escolares, passando, numa liberdade responsável e de forma integrada, da formação que fornece os conhecimentos para a melhoria de competências que o treino proporciona. Pode assim dizer-se que, ao ignorarem o ensino sectorial e o uso segmentado do corpo, transformaram, com notável antecipação, o “b+a=ba” de João de Deus no “método global”. Método global este que leva a uma aprendizagem mais natural e integrada e em que os atletas desenvolvem uma profunda compreensão da modalidade no seu contexto total, além do desenvolvimento de destrezas específicas para o seu melhor desempenho. E por isso a nossa iniciação e formação desportivas eram notáveis. Tão notáveis que costumo afirmá-las como, pelo menos, das melhores da Europa da altura.
De facto em todos os momentos livres — intervalos ou recreios — a actividade física era uma constante com jogos que iam desde os 2x2 aos 5x5 num “muda aos cinco e acaba quando obrigados” com bolas de trapos ou, nos “gerais” do Colégio Novo no pós-jantar, com bolas de plástico esburacadas para não partir vidros e a que se juntavam, espalhados por tudo quanto é lado, o ping-pong ou os jogos tradicionais do eixo, ursa, malha, etc. De fora os que aproveitavam estes tempos para leituras, restando muito poucos como assistentes.
Nos recreios, tínhamos os diversos campos de jogos — futebol, andebol, basquetebol, voleibol, hóquei-em-patins, pista de atletismo a que se juntava a possibilidade, aqui controlada em aulas específicas, de utilizar os espaços que permitiam a prática de ginástica, esgrima, tiro, natação ou hipismo.
Com esta variedade de experiências em diversas modalidades que enchiam os campos de jogos numa aparente anarquia que possibilitava a mudança de umas para as outras, era-nos proporcionada uma liberdade de acção que nos permitia, num processo muito avançado de adaptação prática de cada um de acordo com as suas capacidades, uma substancial melhoria de articulação e agilidade motoras. Tudo isto indo do brincar até ao treino organizado a preparar competições com as equipas representativas. Mas nada se fazia sem a responsabilidade competitiva de tudo fazer para vencer.
Estas práticas livres tinham também jogos organizados em competições inter-turmas e inter-anos numa evidente relação de cooperação e competição — que hoje designámos por coopetição — onde os mais capazes demonstravam as suas qualidades para serem seleccionados para as equipas representativas do Colégio que disputavam, em diversas categorias etárias, os campeonatos desportivos escolares inter-estabelecimentos de ensino promovidos pela então Mocidade Portuguesa. Criava-se assim também um espírito de corpo que permitia claques organizadas, sob o comando de alunos mais velhos, que apoiavam as equipas com os gritos “Colégio! Colégio!” e sempre com o sentido final de poderem vir a cantar: “São horas de embalar a trouxa/Boa noite ó tia Maria/que a malta ganhava a Taça/ já toda a gente sabia”. A vitória era de todos.
Com a variedade e diversidade desta formação — atenta e conhecedora e contrária a qualquer especialização precoce mas antes aberta à prática desportiva diversa e sem que o seu objectivo fosse fazer de cada aluno um expoente formidável, embora não deixando de proporcionar a cada um condições para um progresso que lhe permitisse atingir, de acordo com a sua idade, interesse e capacidades físico-desportivas, o seu melhor. E, por isso foi possível a muitos alunos sairem do Colégio Militar com um domínio das destrezas práticas que lhes permitiram, como este livro demonstra, atingir níveis de grande qualidade competitiva em diferentes modalidades.
E o Rugby, que nunca foi praticado no Colégio, é a melhor e mais clara demonstração da qualidade deste método colegial. Dezoito antigos alunos, foram, de 1965 a 1986 e apesar de uma aprendizagem tardia das bases da modalidade, jogadores internacionais integrados no mais alto nível português do rendimento desportivo porque terão passado muito do seu tempo colegial em diversas experiências de várias modalidades.
Esta demonstração é a razão principal da sua presença neste livro que tem o aval da nossa referência da revista ZacatraZ, o Luis Barbosa, 71/1957, que escreveu (e cito): “Uma coisa é certa. Os Antigos Alunos internacionais de Rugby, têm todo o direito de ombrearem com os nossos atletas olímpicos, na Galeria dos Notáveis Colegiais. Para eles, um grande ZacatráZ.” E por este reconhecimento, cá estamos.
Depois de comprender os Princípios Fundamentais do Rugby, achei muito estranho que esta modalidade não fosse uma prática colegial, já que ajudaria a exemplificar os nossos princípios e seria uma boa base de aprendizagem daquilo que designámos por Comando de Missão. A sua estratégia, muito organizada em mini-unidades com os seus componentes a terem de saber adaptar-se às manobras necessariamente inesperadas que — como ensinou Nuno Álvares Pereira — devem ser sempre anteriores a qualquer colisão, para tornar possível explorar as vantagens conseguidas.
Não foi aliás por acaso que a norte-americana Academia de West Point começou a praticar internamente a modalidade ainda antes de existir uma Federação rugbística nos Estados Unidos. E fê-lo essencialmente porque há uma relação muito próxima com a aprendizagem do combate.
Apesar da desvantagem da aprendizagem tardia, mas graças à notável qualidade e diversidade do sistema de ensino da Educação Física e da Prática Desportiva que o Colégio nos fornecia, os que decidiram dedicar-se ao Rugby não tiveram qualquer dificuldade de adaptação. E constituem o maior número de membros — 18 — de uma mesma escola secundária que atingiram uma selecção principal sénior de Portugal em qualquer modalidade desportiva colectiva. Razão que levou, recentemente, a Federação Portuguesa de Rugby a homenageá-los publicamente no intervalo de um jogo internacional.
Para além dos dezoito internacionais (identificação), quatro destes elementos — Pedro Lynce, Olgário Borges, Vasco Lynce e eu próprio, fomos Seleccionadores/Treinadores da Selecção Nacional de Portugal e, ainda, Pedro e Vasco Lynce foram capitães da Selecção Nacional.
Felizmente que hoje, iniciado pela vontade do então Director, Major-General Raul Passos, o Rugby, que tem virtudes óbvias e é jogável nas vertentes feminina e masculina, integrando uma variedade de perfis físicos e tendo na Integridade, Paixão, Solidariedade, Disciplina e Respeito, os seus valores principais, já faz parte da aprendizagem desportiva colegial. O que poderá vir a significar mais internacionais, agora femininos e masculinos, para juntar a este grupo de Dezoito Internacionais, atraindo mais praticantes e constituindo uma muito boa influência.
Por fim, agradeço ao Colégio Militar, aos que foram meus professores de Educação Física, Iniciação, Formação e Treino Desportivos e a todos os camaradas que comigo participaram nas diversas equipas representativas, o facto de terem contribuído para tornar o Desporto na “Água-forte” que desenha a minha vida. Muito obrigado.
_________________________________
[Minha comunicação na cerimónia de lançamento do livro “O Colégio Militar na História do Desporto em Portugal” realizada no Auditório do Colégio Militar em 19 de Dezembro de 2024.]
Durante estes 11 anos da sua presidência tive a oportunidade — até porque fui por si convidado para o cargo de membro da Comissão Consultiva de Treinadores — de diversas conversas com ele e das quais guardo o ganho de conhecimento que melhorou o meu conhecimento sobre os mais diversos factores da mútua paixão do Desporto.
Nos 11 anos em que presidiu ao COP, teve a responsabilidade da Equipa de Portugal nos Jogos do Rio, de Tóquio e Paris, deixando o legado de 9 Medalhas — 2 de Ouro, 3 de Prata e 4 de Bonze — totalizando 25% das 32 medalhas conquistadas por atletas portugueses a que se juntam 40 diplomas olímpicos. Um marco! A que se junta o facto de, pela primeira vez, as atletas femininas (37), terem mais um elemento do que o conjunto masculino (36)… e sabe-se como o Presidente do Comité Olìmpico de Portugal se bateu para que o desporto feminino atingisse o valor da cidadania.
O seu falecimento, onde podemos perceber a demonstração da resiliência que o acompanhou nos últimos tempos na realização de uma missão a que se tinha imposto, para além de representar uma enorme perda quer para Portugal quer para o seu Desporto, junta-se ao Encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 onde a Equipa Portugal da sua responsabilidade, conseguiu os melhores resultados desportivos olímpicos de sempre. Honremos a sua memória, garantindo o descanso do seu espírito. Até sempre, José Manuel Constantino!
Antigo atelier de João Braula Reis na Rua Visconde da Luz, nº 13, Cascais |
Texto lido na sede da Ordem dos Arquitectos em 23 de Abril de 2024 num encontro “As Brigadas de Abril” de homenagem a Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas e em que lembrei João Braula Reis, nosso colega e que emprestou o seu atelier de Cascais para o plenário de 5 de Março de 1974 em que participaram cerca de 200 militares representantes do então Movimento dos Capitães. A lembrança representa a nossa justa homenagem a um arquitecto, também ele contribuiu para o 25 de Abril de 1974.
Nesta conversa sobre “As Brigadas de Abril” que servirá para homenagear Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, gostaria de lembrar um outro arquitecto que tem uma história relacionada com o início da revolução que nos trouxe até aqui.
Co-autor com Nuno Teotónio Pereira do Franginhas e porque aí existia a única empresa lisboeta — a Sinase— que alugava espaços para reuniões, foi por muito pouco que não viram realizar-se no seu edifício uma das mais importantes e decisivas reuniões do Movimento dos Capitães. Tudo estava preparado com as regras de segurança necessárias a uma reunião clandestina, com os participantes espalhados por 18 cafés e pastelarias da cidade de Lisboa e prontos, naquele dia 5 de Março de 1974, para, à hora conveniente, se dirigirem ao edifício da esquina Braancamp/Castilho. Mas algo fez desconfiar os responsáveis Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho que, reorganizando as tropas, decidiram ir reunir-se para outras paragens.
O recurso foi o Major de Engenharia Sanches Osório que, em paredes-meias do Estado-Maior, mantinha a amizade com o seu antigo capelão do Colégio Militar, Padre Braula Reis, Tenente-Coronel Graduado. Conversa sobre salão paroquial daqui e dali e a lembrança surgiu: o irmão, o arquitecto João Braula Reis, tinha um atelier em Cascais. Feito! E, num instante, a palavra passou: atelier do arquitecto Braula Reis no número 13 da Visconde da Luz em Cascais!
Foram cerca de 200, representando uns outros 600, que chegaram ao 1º andar do atelier. E enquanto uns tinham receio que o piso, com tanta gente, abatesse, outros, como Vasco Lourenço, Vítor Alves e Nuno Pinto Soares, subiam para os estiradores para dizerem ao que estavam ali. E se nem tudo correu da melhor forma, ouvindo-se por tudo quanto era lado a enorme vozearia por discordâncias de pormenores (embora a palavra independência fosse um pormaior…), os objectivos, neste plenário de 5 de Março de 1974 que, segundo Vasco Lourenço, terá definido o avançar para o derrube da ditadura, foram atingidos com a aprovação de três posições fundamentais como foram as decisões de derrube do regime por acção da força, de elaboração de um programa político, delegando em Melo Antunes a responsabilidade da sua elaboração para que definisse as linhas futuras com base no texto “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação” então aprovado pela assinatura, em papel selado, de 111 dos presentes e ainda, que fossem escolhidos, desde que aceitassem o futuro Programa do Movimento das Forças Armadas, Costa Gomes e Spínola para futuros Chefes.
Dias depois as consequências ressaltaram: 4 capitães foram compulsivamente transferidos — 2 para os Açores, 1 para a Madeira e outro para Bragança. Mas, apesar dos avisos e dos riscos, o Movimento mostrava-se imparável.
O nosso colega arquitecto João Braula Reis, ao permitir a utilização do seu atelier para o plenário de 5 de Março de 1974 do Movimento dos Capitães, sabia bem os riscos que poderia correr — o seu parceiro Nuno Teotónio Pereira continuava preso em Caxias… — e cabe a nós, neste momento de Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, lembrar, com o devido agradecimento e homenagem, a abertura de portas que permitiu a passagem do Movimento de Capitães para o agregador Movimento das Forças Armadas, o MFA, que, possibilitando a enorme vitória do 25 de Abril, acabou também por abrir, para todos nós, as portas da Liberdade e da Democracia em que hoje vivemos. Obrigado caríssimo colega, João Braula Reis! A sua memória está connosco e estamos-lhe gratos pela sua visão e coragem!
Lembrá-lo nestes 50 anos, nesta casa e neste Auditório Nuno Teotónio Pereira, é um acto de justiça.
UM TEXTO DA ANA SOBRE O NOSSO GATO KNIGHT ESCRITO NO FINAL DO ANO EM QUE ELE NOS DEIXOU
Lisboa, Junho de 2007 - 18 de Fevereiro de 2023