sábado, 31 de maio de 2014

Janelas discretas


Foto iPhone, Stº António, Lisboa

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Fugir com o rabo à seringa

Já nem sei porque me admiro.
O senhor ministro Marques Guedes chegou ao Estádio de Honra do Complexo Desportivo Nacional do Jamor e, sobre os graves incidentes da final da recente Taça de Portugal, disse sem qualquer pudor que eram resultado de "alguma percepção errada  por parte de pessoas que queriam entrar que pensavam que o acesso para o topo norte só se poderia dar nos torniquetes deste canto da praça da Maratona quando não é verdade [...]". 
Percepção errada?! Não era verdade?!
Claro: a culpa dos maus momentos passados pelas pessoas, não é da organização incompetente ou da incapacidade policial. A culpa, segundo o senhor ministro, é da percepção errada. De quem? Das pessoas, pois claro! 
O que, isto sim, não é verdade! As pessoas limitaram-se, civilizadamente, a cumprir com as instruções combinadas do que liam impresso nos seus bilhetes e aquilo que viam nas indicações colocadas expressamente para o jogo na Praça da Maratona. 
Senhor ministro, não é decente sacudir a água do capote para disfarçar a irresponsabilidade e incompetência demonstradas. Não é bonito, nem sério.
Popularmente a sua actuação de hoje só tem um nome: fugir com o rabo à seringa!

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Governo perdeu e o PS ganhou

Os dois partidos do Governo - somados um com o outro - e que têm propagandeado uma excelente governação tiveram menos votos do que o Partido Socialista. Ou seja, apesar de uma propaganda viciada e constante sobre a extraordinária governação que levou à saída (!) da troika e a mais esta e aquela vantagem e à maravilha disto e daquilo, a coligação dos partidos do Governo empenhada com a presença do Primeiro e do Segundo, perdeu. E o PS ganhou. Se isto não é uma derrota, numa eleição resultante do contexto do poder que dizem apoiado pelos portugueses, então o que é uma derrota? 
A máquina de propaganda aí está: não é uma derrota significativa porque ficamos próximos do PS, dizem. E os comentadores de serviço aí estão a corresponder: a derrota é de quem ganhou.
Mas a realidade dos factos é esta: a aliança governamental - apesar de toda a máquina de propaganda que utiliza, acrescento - não conseguiu convencer os portugueses da bondade da sua política. A coligação - os dois somados - teve menos (-27,7%) de votos  do que o PSD teve, sózinho, em 2009. E, por isso, perdeu! Perdeu uma brutalidade e não ganhou qualquer credibilidade para a sua política. O resto são estórias...
O Governo perdeu as eleições e o PS ganhou as eleições.
Ao Governo - com vista às legislativas - não lhe resta mais do que tirar truques da cartola para convencer os portugueses de que lhes melhora a vida enquanto que o PS ficará com a responsabilidade de convencer os portugueses de que tem a capacidade de mudar, melhorando, a sua vida e assim congregar essa enorme maioria de eleitores que - votando branco ou nulo ou se abstendo - mostraram não querer este Governo. E do resultado destas estratégias o futuro dirá. Mas o Governo perdeu e o PS ganhou.
É assim: o Governo de Passos Coelho perdeu as eleições por um resultado nada abonatório para a sua política. Ponto!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ir ao futebol para ver a Marta e...

... ver cumprir a velha ideia de Gary Lineker: futebol são onze de cada lado e no fim ganha a Alemanha. No caso - a UEFA Women's Champions League 2014 - ganharam, por 4-3 depois de estarem a perder por 2-0, as alemãs do VfL Wolfsburg ao venceram as "suecas" do Tyresö FF que tem a Marta - considerada pela FIFA a melhor jogadora do Mundo de 2006 a 2010 - na sua equipa. E vê-la continua a ser um prazer pelo toque e trato da bola, pela finta, pela subtileza da percepção táctica do jogo. E brindou-nos com dois golos sendo o último deles um tratado de bola: entrada pelo lado esquerdo da grande-área, flexão para o meio e remate - de pé direito! - a descrever um arco para entrar no ângulo oposto da baliza. Uma beleza técnica, um tratado! Uma inteligência táctica na procura do poste mais longe.


Mas depois a consistência alemã tomou conta do relvado e o oxigénio começou a subir mais devagar tornando os erros suecos numa permanência. O costume, já se vê.
Mas foi um óptimo jogo de futebol, com muita lealdade e muita geometria - uma vantagem que parece ter o futebol feminino sobre o actual masculino com excepção do Barcelona dos grandes momentos. E o ambiente do Restelo foi suficientemente caloroso.
E é claro que as entradas e o acesso aos lugares se fizeram no pólo oposto da final da Taça de domingo passado: tranquilamente e sem quaisquer receios. Como é mais agradável e mais seguro.
O problema foi no final do jogo: no que julgo ter sido uma simpatia da UEFA, após o jogo iniciou-se um concerto - ao que suponho a entrada terá passado a ser livre - que permitiu (e pediu!) que as pessoas fossem, atravessando a pista de atletismo - cujos problemas de construção e manutenção conheci bem - para o relvado. Relvado que pareceu em bom estado durante o jogo.
E uma de duas: ou o relvado já estava programado para ser substituído e pouca importa o que lhe possa acontecer provocado pelo amontoado de pessoas e a pista, que não teve quaisquer defesas para ser atravessada por milhares de pessoas - sujeita a diversas agressões nomeadamente ao punçonamento dos saltos dos sapatos de senhoras - já não tem qualquer qualidade para o treino e provas de atletismo ou, tudo isto, não é mais do que um puro desperdício.
E o desperdício incomoda-me. Principalmente porque a tendência para o resolver passa, como sempre, pelos dinheiros públicos, isto é, pelo dinheiro dos nossos impostos, descontos e similares.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Ir ao futebol para sermos tratados como bichos

Sempre e inevitavelmente cada um de nós subestima o 
número de indivíduos estúpidos em circulação.   
As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, Carlo Cipolla

Já há muito que percebi que os estádios de futebol - e nem sempre o foram - são, hoje em dia - nos seus privilégios e abusos - uma expressão do dualismo social  que nos atravessa: de um lado os senhores que, na protecção dos seus carros, entram, longe de tudo e de todos e sem cruzamentos com a plebe, pelas cavernas do estacionamento para, subindo nos elevadores, chegarem aos casulos onde se albergam e onde comem e bebem - álcool incluído -  e onde terão a visão da apoiante massa popular apenas nas bancadas do outro lado do campo; desse outro lado, os que fazem do futebol um espectáculo de massas que permite o êxito do negócio mas que se encontram sujeitos a todas e mais umas regras de controlo e revistas, são tratados como vassalos sem direitos, apertados em espaços de atropelo uns aos outros, empurrados daqui, empurrados dali num sufoco permanente até que, num derradeiro esforço de uma pequena passagem, sejam expelidos para a vista do relvado. 

Ambos, nas aparências pelo menos, comungando do mesmo fervor clubista. Como se fossem iguais. Como se tivessem o mesmo tratamento. Como se o facto de apoiarem o mesmo clube derrubasse as barreiras que lhes impuseram à chegada - e que parece ter no golo a sua expressão igualitária máxima.

No domingo fui ao Jamor - para ver a minha neta dançar e o Benfica a jogar. À chegada, de antecedência por via das coisas, uma enorme multidão de camisolas vermelhas a ocupar a entrada da praça da Maratona por onde o meu bilhete dizia dever entrar. A minha mulher e eu entramos no amontoado, andando centímetro a centímetro, aos encontrões, apertos e pisões, empurrados e levados na mole humana que tinha no ver o início do jogo o objectivo maior. E embora a multidão se comportasse bem e tentasse movimentar-se com civilidade, o ambiente não era nem agradável, nem cómodo. Pior, era assustador se se pensasse nas consequências que daí poderiam resultar caso houvesse qualquer pânico. Desistimos e voltamos para trás - não sem grandes dificuldades - na secreta esperança que alguém responsável solucionasse as entradas.

Já fui a muitas centenas de jogos de futebol em variados estádios no país e no estrangeiro. Já vi muitas organizações de entradas para estádios e também já participei na sua organização. Já estive dos dois lados em diversas ocasiões: do lado dos senhores de acesso fácil ou do lado dos populares em penosos caminhos de diferentes estádios e diferentes países. Já levei filhos de outros aos ombros e já entrei de carro até porta.

Sei portanto o suficiente destas coisas para poder dizer que o que se passou no Jamor é o somatório de incompetência e de total falta de respeito pelos cidadãos-espectadores. Quer dos organizadores que se mostraram incapazes de perceber os problemas para encontrar as soluções, quer da polícia que igualmente se mostrou incapaz de encontrar soluções eficazes. Foi infame! E é perturbador.

Sendo um estádio antigo - inaugurado em 1944 - o Estádio de Honra do Jamor exige uma organização adaptada para um espaço que tendo poucas entradas tem a vantagem de um largo corredor na base das bancadas que permite a distribuição dos espectadores para todos os sectores. E que exige, do lado da Maratona, uma organização de corredores iniciada a boa distância dos pontos de paragem para revistas e para a verificação electrónica de bilhetes.


A Maratona e os sectores servidos pelas suas portas (verso do bilhete)

Bastava olhar as costas dos bilhetes de ingresso para ver que o problema iria surgir: a entrada norte da Maratona servia 20 sectores enquanto que a entrada sul da mesma Maratona servia apenas 8 sectores. O que significa, sem necessidade de especial análise, uma entrada desproporcionada de pessoas por um e outro lado. Facilmente previsível, facilmente programável e emendável e, portanto, evidenciando falha grave da organização montada pela Federação Portuguesa de Futebol.

Como se esta incompetência não bastasse, juntou-se a incapacidade da chefia da Polícia que pretendeu justificar o péssimo ambiente criado e o mau serviço prestado com um corporativo "as pessoas têm de ter consciência de que têm de chegar cedo aos estádios de futebol em geral”. Não, não têm que ter essa consciência coisissima nenhuma! Tendo comprado bilhetes para um espectáculo com hora marcada, as pessoas devem chegar às horas que melhor entenderem e com pleno direito de entrada cómoda e segura num horário razoável de dispêndio de tempo aceitável. Com o respeito como princípio base, compete á Polícia encontrar soluções que garantam a sua segurança - de todos sem excepção - e zelar pela sua comodidade. 

E as soluções estavam lá: bastava utilizar parte da força que tanto fizeram para impedir o avanço das pessoas e, numa forma construtiva e avisando da vantagem, levá-las para a porta sul da Maratona onde não havia ninguém - foi por lá, logo que descobri a hipótese, que entrei - para utilizar depois o corredor interior de distribuição. Solução que se encontraria se o propósito da acção fosse respeitar os espectadores e não o fazer-lhes frente. Em vez disso, o responsável policial, numa forma distorcida do seu papel cívico, culpabiliza os espectadores, razão principal para haver bilhetes, bancadas e espectáculo. E multidões. 

E de que valeu este mal-estar? De coisa nenhuma! A dado momento tudo entrou sem qualquer revista ou verificação de bilhetes. Ao meu lado a conversa "eu não te dizia que não era preciso comprar bilhete, já no ano passado foi assim..." provava o disparate.

Esta falta de respeito pelos espectadores portadores de ingressos não é admissível, não é desculpável e exige a chamada à responsabilidade por quem de direito. Em defesa dos direitos de cidadania e para que o futebol seja um espaço civilizado de divertimento.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Martim Moniz, Uma Praça de Lisboa

Há dias participei com a Daniela Ermano no colóquio Conversas da Mouraria organizado pelo Grupo Amigos de Lisboa. Tinham-nos pedido que fizessemos uma intervenção sobre o projecto que ambos realizaramos para a Praça Martim Moniz. Resolvi ler o texto - abaixo reproduzido - que escrevera para o Congresso Mundial da Federação Internacional para a Habitação, Urbanismo e Ordenamento do Território em 1998.
Antes e naturalmente passei na Praça e fiquei chocado com o que vi de "montagens" que por lá se fizeram sem qualquer nexo ou respeito pela geometria do desenho projectado - mudanças existem sempre e, se feitas com o respeito devido ao espaço definido pela geometria do lugar, podem tornar-se - no que não é obviamente o caso - num valor acrescentado. Isto sem falar na pecha de já longa duração que é a falta de manutenção, a falta de alimentação das árvores que seria suposto criarem uma esplendorosa barreira visual em cortinas densas e luxuriantes ou a falta da água que jorra sabe-se lá quando corre - a "fonte da estrela" está preparada para "dar as horas". Enfim, uma tristeza!
O texto lido aqui fica:

MARTIM MONIZ, UMA PRAÇA DE LISBOA
Em tempos, foi um esteiro do Tejo por onde terá chegado, guiada por dois corvos, a barca com as relíquias do mártir São Vicente, hoje padroeiro e simbolo de Lisboa. Nos terrenos drenados ao tempo manuelino. foi aí, no inicio do sec.XVI. construida por temor da peste, da fome e da guerra, a igreja de S. Sebastião da Mouraria que, em 1561, mudaria para o actual nome de Nossa Senhora da Saúde. Em 1646, nascia com a igreja do Socorro, a freguesia do mesmo nome.
Séculos antes por aí passou o troço da muralha fernandina que ligava a colina do Castelo à de Sant'ana, definindo o limite da cidade de que resta a memória de um cubelo ao cima da escadaria do Jogo da Péla, e de que se pode perceber a localização cartografada pelo correr da rua denominada. a partir de 1915, de Martim Moniz.
Nos anos quarenta deste século e como resultado da abertura. em 1903 e na sequência da já tradicional ligação entre a cidade e os seus arrabaldes, da Avenida D. Amélia - hoje Almirante Reis - iniciou-se, embora com algum propósito de bons costumes, um processo de demolição em larga escala justificado na necessidade de articular este eixo estruturante de desenvolvimento urbano com a Baixa Pombalina. A igreja do Socorro, o Teatro Apolo e o palácio do Marquês de Alegrete - este já muito deteriorado pelo terramoto de 1755 - foram alguns dos edificios notáveis demolidos.
Ao mesmo tempo que o espaço livre aumentava, o nome de Martim Moniz alargava a sua esfera de influência. A ponto mesmo da Câmara, que nada fizera para oficializar esta dimensão do desejo popular, referir em reunião de 15 de Novembro de 1946, o Largo de Martim Moniz.
De então para cá, não faltaram tentativas de solução sobre o espaço assim vazio. Da memória de sempre ficaram a Igreja da Saúde, as encostas envolventes e a visão tutelar do castelo. Dos diversos planos tentados - o último nos anos 80 - fica a memória visivel dos edifícios dos centros comerciais e a pedonalização da rua da Mouraria.
Foi sobre este espaço vazio. sobre este espaço residual de encontro de tecidos urbanos de várias procedências, de diversas formas ou lógicas de utilização, de transformação e de apropriação que nos foi dado intervir: a nascente, a Mouraria originária de uma ocupação medieva extra-muros; a poente, o traço pré-pombalino da colina de Sant'ana; a sul, a racionalidade da Baixa Pombalina; a norte, a avenida Almirante Reis, contraponto pobre ao boulevard da Avenida da Liberdade.
A vista do castelo, o nome mitológico do guerreiro, a visão romântica da tomada de Lisboa, a imagem das margens do esteiro transformadas em campo de lutas atravessado por cavaleiros de armadura e lança, a conquísta, os mouros, as muralhas com a suas passagens, arcos e postigos de acesso, os nomes de João Peculiar, de Pedro Pitões, Fernão Cativo, Paio Delgado ou Pedro Plágio que, à volta do Conquistador, se juntavam ao nome mitológico do guerreiro mártir, formam o imaginário medieval popular traduzindo o espirito do lugar onde, nós projectistas, nos iremos mover.
Em termos de desenho urbano e partindo da necessidade programática de criar um novo parque central de estacionamento, três novos problemas a resolver: a articulação do desenho da praça com o eixo da avenida Almirante Reis, a integração visual dos edifícios recentemente construídos e a defesa acolhedora - fisica e visual - do espaço-ilha rodeado de vias de tráfego intenso.
Impondo-se o valor de uso ao valor de troca subjacente a planos anteriores, surge como objectivo prioritário a criação de um espaço de paragem, de encontro, de estar, de relação e lazer suficientemente protegido e enfático da memória do sitio e do espirito do lugar.
Decidimos assim, dividir a praça em três zonas:
a) na 1ª, tendo como preocupação articular os eixos da nova praça com a avenida e estabelecer uma relação integradora na envolvente urbana;
b) na 2ª, procurando através de um comércio especial e de qualidade. atrair as pessoas ao seu interior;
c) na 3ª. criando um clima lúdico que possibilite tempos dinâmicos de distracção.
Para resolver os problemas criados pela intensidade do tráfego e enquanto cortina de salvaguarda visual e articulação com a escala envolvente dos edifícios mais modernos, decidimos rodear a praça de revestimento arbóreo denso e elevado.
Quem chega pela Almirante Reis ao Martim Moniz. encontra um primeiro espaço de paragem numa estrela, numa rosa dos ventos, que constitui uma placa giratória capaz de inflectir um eixo e, na leveza dos seus jogos de água, relacionar e articular a escala urbana com a redução necessária ao conforto de quem passeia.
Na parte central. criando a atracção necessária para a frequência de uma população exterior às zonas envolventes e para o entretenimento dos utentes habituais, um conjunto de quiosques destinados à venda de artesanato qualificado desenha pequenos pátios a que as laranjeiras darão a sombra para um tempo de espera a que os bancos convidam.
A água lançada dos repuxos de um caneiro central que acentua a simetria do espaço, trará, nos quentes fins-de-tarde de verão, uma frescura convidativa ao sabor de quem está. dos grupos, das conversas ou da solidão procurada para leitura de um livro ou de um jornal. A envolvente de árvores e arbustos dará - logo que o seu tempo de crescimento se adapte á dimensão esperada - o conforto, a protecção e a intimidade que este espaço-ilha necessita para se autonomizar.
Logo a seguir, três degraus para entrar num espaço que aborda, com ironia, a mitologia histórica das proximidades do sítio. Um muro-muralha, vaga impressão fernandina e onde guerreiros - de bandeiras colocadas ao alto e engalanados de românticas plumas ao vento - parecem perfilados na perenidade da recordação de conquistadores, dá o tom à plasticidade de uma outra praça.
Uma porta entreaberta - marcando a direcção das lescadarias das encostas opostas - um machado enorme jorrando das suas marcações um labirinto de águas de que a miudagem foge e, pelo sim, pelo não, guardiões - companheiros de Osberno? eventualmente templários - tomando conta, não vá o diabo tecê-las!, das passagens-pontes sobre a água borbulhenta de mistérios insondáveis.
Lá ao fundo, no limite que obriga ao retorno, restos marcantes da cultura vencida que, por tantos anos quantos os que chegam atá hoje. continua a jorrar marcando a vida e os passos do ser português. A esta cultura dum sul tão próximo juntam-se pequenas influências das sete partidas do mundo que demandamos em quinhentos.
É assim: uma praça espaço de paragem, de lazer, feita de percursos com lembranças à frescura das árvores e do correr da água. Um espaço de divertimento.
João Paulo Bessa, arq.º
      texto escrito para o 44º Congresso Mundial da FIHOUT
 (Federação Internacional para a Habitação, Urbanismo e Ordenamento do Território)
Lisboa, 13 a 17 de Setembro de 1998

Autoria do Projecto:
Daniela Ermano, arquitecta
João Paulo Bessa, arquitecto
Gonçalo Ribeiro Teles, arquitecto paisagista


quarta-feira, 7 de maio de 2014

A contente demagogia

Vi, no programa televisivo Prós & Contras, o senhor Ministro da Economia. Fiquei pasmado! O que vejo ou leio nada tem a ver com o País das Maravilhas que nos impingiu no rectângulo mágico. Tudo a caminho do fenomenal, do extraordinário, numa demagogia de apresentação de números de positivas aparências, num total desrespeito pelos inúmeros portugueses que não têm emprego, que viram as suas vidas a andar para trás ou que tiveram de novo que emigrar como o fizeram aos milhares nos anos sessenta. Num contentamento desbragadamente inconsciente. Quer dizer: tudo às mil maravilhas na visão de quem passa olímpicamente - porque a carne lhes aparece sempre no prato - sobre a crise, com o desplante ainda de se verem altamente patriotas porque - imagine-se - abandonaram vantagens para servir a Pátria. Um despudor! Uma lata desmedida, uma cegueira pesporrente. Uma vaidade imbecil, a que se juntarão as palmas dos estrangeiros de serviço...
Todo o país está melhor e a caminho do céu, dizem. E a pergunta a fazer irrita-me na pacatez dos distraídos: á custa de quê? à custa de quem? De que fome, de que medo, de que instabilidade, de que fugas? De que futuro? De que desespero?
E é um dar vivas a isto e áquilo, num vivó frenético como se tivessem decidido, em escolha responsável, fazer o que, em quarenta-e-cinco-graus-e-arrecuas, aceitaram imposto. Como se os amigos a quem servem tivessem, alguma vez, sugerido mais do que uma porta aberta. Ou se tivessem esquecido de dar ordens. Escolhemos a saída limpa! Façam-me um favor, sejam decentes.
Valeu, neste despejar da sebenta da cadeira, que o representante do Partido Socialista foi capaz - fico satisfeito por isso - de desmascarar as gloriosas obras, os notáveis indicadores, dos novos salvadores da Pátria, reduzindo-as à dimensão de péssima governação.
E o constitucionalista presente tem toda a razão: o que fizeram, o que o governo nos preparou, não passa de levar um enxerto de porrada mais ligeiro do que o último - estão a ver? foi melhor. Mas é enxerto de porrada à mesma!

sábado, 3 de maio de 2014

Trocatintismo

Trocar as tintas já não é um erro imperdoável - é apenas uma forma de ser

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Uma só solução

Anos da nossa esperança

O senhor primeiro-ministro parece não ter qualquer senso. Encantado consigo próprio, satisfaz-se com as palmadinhas nas costas do inner circle e com o sorrizinho cúmplice dos que o amanteigam: Arrasou-os! Ficam sem resposta! Muito bem!
Diz-se que o Poder corrompe. É provável. E será mesmo certo se falarmos de corrupção da inteligência, do auto-respeito, da própria decência. Parece que o Poder consegue criar uma armadura que isola os senhorecos do mundo que os rodeia - e que aquilo que são princípios, valores, respeito ou decência perderam-se no deslumbre sem que isso lhes bata na consciência.
Não merecem respeito, é o que é. Mentem quando querem, abusam quando lhes apetece, decidem como lhes interessa e miram-se no espelho mágico que o Poder lhes proporciona com o ar néscio de meninos embevecidos. Deliciados.
O aumento do IVA não é aumento de impostos como dois mais dois não serão quatro. E por mais que nos pasme a pobre e impossível explicação, os senhores do Poder, pendurados no sorriso dentrífico da propaganda que os move, nem se atrapalham. 
O Poder fá-los perder a cabeça? O Poder retira-lhes a capacidade de controlo e responsabilidade que a cidadania exige?
A última estória que tive conhecimento enquadra-se neste ambiente frenético e abusador.
Do Ministério da Defesa terão telefonado para o Instituto de Odivelas exigindo a recolha das fardas das raparigas para que não pudessem sair fardadas no último fim-de-semana e assim não se notar a sua participação nas manifestações do 25 de Abril. Não teve sorte o senhor ministro: as fardas não puderam ser recolhidas porque, responderam, são propriedade dos familiares das alunas e assim e graças à coragem da oposição, todos pudemos reconhecer as Meninas de Odivelas no 25 de Abril, nas chaimites, no Terreiro do Paço. 
Seria ridícula a imposição se não se tratasse de um claro abuso de Poder. Que deveria ser penalizado! O senhor ministro vai demitir-se? 
O senhor primeiro-ministro que nos trata, no diz uma coisa hoje e outra amanhã, como tontos, ignorantes e não merecedores de respeito, vai demitir-se?
O Governo que se entretem a fazer o que entende sem respeito pelos portugueses, vai demitir-se?
Dados os interesses em causa, temo bem que não.
Resta um solução: apeá-los!

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