domingo, 28 de janeiro de 2018

EDMUNDO PEDRO (1918~2018)

A dez meses de chegar aos cem anos - a última vez que falámos apostámos que lá chegaria - faleceu o meu Amigo Edmundo Pedro. E desta aposta perdida fica-me o misto de tristeza e de alegria. Tristeza por ter visto partir uma pessoa que, como os heróis ficcionais, nunca nos deveria deixar; alegria por ter podido conhecê-lo e participar das suas ideias e das recordações de diversas situações que viveu - o prazer que me deu a leitura da versão inicial, ainda manuscrita, de que fez questão de me dar a ler, do seu texto sobre o assalto ao quartel de Beja... Ainda hoje não percebo porque não há um filme sobre aquela acção que, pela sua pena, transmitia a realidade do país: o romantismo amadorístico, cheio de uma coragem capaz de não deixar que algum obstáculo atrapalhasse o objectivo a que se tinha proposto demonstrado por um grupo de resistentes antifascistas a quem faltou sempre a coragem de outros para poder cumprir a missão que lhes norteava a vida; um regime que, impondo o medo, não abria portas fora do seu limitado mundo de interesses.
Ir parar ao Tarrafal, o "campo da morte lenta", com 17 anos e aí passar 9 anos e nunca desistir do projecto da insurreição nacional derrubador do regime facista de Salazar demonstra bem a fibra de que era constituído este querido Amigo. Conhecer a sua vida percorrendo as linhas das suas Memórias é descobrir um herói de carne e osso, de simpatia irradiante, de força moral extrema que será o mais próximo que humanamente se pode conseguir dos super-heróis que desenham os sonhos juvenis da mente de cada um de nós. Homem de enorme firmeza de carácter, tinha uma noção muito clara da lealdade e da decência - reconheça-se com admiração (e pedido público de desculpas!) o seu comportamento no famigerado “caso das armas” que lhe custou, em 1978, seis meses de prisão: que nunca tinha falado perante a polícia e que não se implica alguém que desempenha as funções de Presidente da República (Eanes), foram as explicações, décadas mais tarde, para o seu silêncio.
Edmundo Pedro era uma personagem única!
E por ser único não precisa da preguiça dos copistas para aumentarem incorrectamente a sua biografia que tem, na sua realidade própria, o mais que suficiente para merecer o respeito de Portugal. Edmundo Pedro - sendo um histórico do Partido Socialista - não precisa de ser dado como seu fundador - em cuja lista não se encontra o seu nome - para se reconhecer a importância da sua participação na vida do Partido Socialista enquanto militante, dirigente ou deputado: esteve sempre do lado da justiça, do lado dos mais fracos, do lado da Democracia e, acima de tudo, do lado da Liberdade.
Cito, do prefácio do seu Memórias I, Mário Soares: “Após o 25 de Abril de 1974, ao contrário do seu amigo Fernando Piteira Santos, Edmundo Pedro, entraria no Partido Socialista. Num encontro casual que tivemos, em Setembro de 1973, no aeroporto de Barajas, estando eu já no exílio e de regresso do Chile, de Allende, anunciou-me a sua vontade de se inscrever no PS, que acabava de ser formado na clandestinidade, na Alemanha. Mas essa vontade não chegou a concretizar-se formalmente. Só viria a sê-lo depois do 25 de Abril. […]".
A memória de Edmundo Pedro, pelo que representa para todos nós que vivemos em Democracia, não merece distrações ou desplicências. A extraordinária vida deste homem exige o respeito pelo rigor histórico dos factos.

Ver aqui texto escrito no seu 99º aniversário
...
[pelo respeito e amizade que tenho por Edmundo Pedro vou ter uma enorme dificuldade em apagar o seu nome e número de telefone do meu telemóvel...]

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

PESSOAS?!

É insuportável ter que ouvir os barões e os seus escudeiros neoliberais a justificar as suas acções ou decisões. Ou a dizerem o que pensam sobre qualquer matéria.
De uma coisa fico certo no rebuscar das suas teses: a última por última das coisas que os preocupam são as pessoas.  
De facto as pessoas estão no fundo buraco negro do seu pensamento e o único objectivo da sua iluminada retórica é a mecânica procura da multiplicação dos interesses que servem com o aconchego moral de um "se é bom para mim, é bom para todos". E em vez de indignação, há quem ache isto decente como forma de vida.
...E com o péssimo exemplo Trump a coisa tem a fiar ainda mais grosseiro.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

NO MEU SÍTIO

Foto JPBessa, Nikon D300


domingo, 7 de janeiro de 2018

MÁRIO SOARES...PASSOU UM ANO

Sede do Partido Socialista, Largo do Rato, Lisboa - foto JPB Iphone
Passou um ano...
... passou um ano sobre o falecimento de Mário Soares, o português com as acções mais importantes para a construção da Democracia portuguesa. Da Democracia em que vivemos depois de 40 anos de Ditatura.
Conheci-o bem quando participei, como Director Executivo do MASP I, na campanha eleitoral da sua primeira candidatura à Presidência da República. Com ele percorri muito Portugal e participei directamente na montagem e organização dos comícios. E desse tempo guardo estórias que, na lembrança, me fazem ainda sorrir com o sabor das peripécias.
Mas principalmente de Mário Soares guardo a memória da sua enorme coragem moral e física na defesa das suas convicções e a permanente e clara visão estratégica para atingir os objectivos superiores da Liberdade numa Democracia moderna e humanista e onde os valores da Cidadania Republicana fossem a realidade da vida dos portugueses. E nessa realidade da nossa vida introduziu, atribuindo-lhe a dignidade de gesto pleno, o Direito à Indignação.  
Passou um ano... ( ver aqui o post de 7 de Janeiro de 2017)

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

CEGOS E SURDOS...MAS NÃO MUDOS

São de uma lata desmedida!

Quem os ouve falar - aos senhores políticos que fizeram ou apoiaram o anterior Governo patrono da austeridade ++ - deverá julgar que só existem a traço-ponto. Chegaram agora (traço) e nada têm de responsabilidades anteriores (ponto). Aquilo que funciona mal é por total culpa e inépcia do actual governo; o que funciona bem é resultado da excelente política do anterior Governo. Nunca por nunca por terem dado cabo e fechado diversos serviços públicos, por terem cortado verbas a torto e a direito sem olhar a quem, por se terem mostrado mais austeros do que a austeridade. Por terem, na sua visão de um país melhor, uma política de facilidade, optando pelo mais simples e descurando a procura de soluções pela sua incapacidade de pensamento solidário. No fundo, fazendo aquilo que mais gostam e que tomam por missão: proteger os mais ricos, prejudicando todos os outros.

Ouvi-los falar nas sessões da Assembleia da República ou a perorar nas diversas televisões atinge o pior nível de desrespeito pelas pessoas que prejudicaram quer pela contente aceitação de regras primárias da imposta austeridade quer pelo desmantelar de serviços que serviam comunidades de pessoas. Um fartote de indecência mascarada de bom tom a fazer de todos nós uns parvos, uns estúpidos vergados à sua importância.

Não há paciência para tanto enfardo.

Arquivo do blogue

Seguidores