quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A conivência alarve de um político

O sr. Joaquín Almunia, espanhol, Vice-Presidente da Comissão Europeia e seu Comissário para a Concorrência no mandato de 2010 a 2014 disse, no programa Observatório do Mundo - filme de Arpad Bondy - transmitido pela TVI 24 às 01h16 de 31/12/2014, a propósito das exigências a que obrigaram os contribuintes europeus - falamos principalmente de irlandeses, cipriotas, portugueses, gregos e espanhóis - para a "salvação" do sistema bancário europeu, esta alarvidade:


"We can not be alone telling the truth." 
      (não podemos estar sózinhos a dizer a verdade)


Joaquín Almunia, Observatório do Mundo, TVI24,
filme de Arpad Bondy 

E como alarvidade não fica isolada, riu-se alarvemente da alarvidade que disse.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Farto de Coelho? Bom 2015!


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Natal Bessa, clã Raul


À nossa saúde
foto iPhone

Apesar de faltarem ainda alguns - a necessária divisão por diferentes famílias... -  e de todos os netos e sobrinhos netos - andam a brincar por outros lados - não aparecerem para a fotografia, é uma amostra de 30 no Jantar de Natal dos Bessa, clã Raul, que se juntou, neste 25 de Dezembro de 2014, na Aguda, no restaurante da minha irmã Chica. O perú e acompanhamento estava o habitual - de grande categoria. 

domingo, 21 de dezembro de 2014

Resultado das privatizações

Nota em quadro de madeira


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O jogo de interesses


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Esquinas da Cidade


Lisboa. foto iPhone

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Muro de Berlim



Tive a possibilidade de assistir em Berlim - com o António Costa e o António Manuel - às primeiras eleições da Alemanha unificada. Com o SPD - Partido Social Democrata Alemão - participamos em reuniões, comícios, distribuição de documentos, panfletos, visitas a isto e áquilo. Principalmente na zona berlinense da RDA e sua periferia e tive então a possibilidade de visitar diversos locais do Muro e, claro!, estive na Porta de Brandemburgo e no mítico Checkpoint Charlie. Conheci o bairro que foi dos agentes da STASI e percebi, pelos diversos locais que visitei, muito do que seria a vida do quotidiano dos alemães de Leste. Hospedaram-nos num hotel utilizado pela nomenklatura do antigo regime - o quarto de banho do quarto tinha o tamanho de um quase ginásio.
Lembrei-me dessa visita nestes 25 anos de comemoração da Queda do Muro de Berlim. E lembro os receios, nomeadamente do líder do SPD, Oskar Lafontaine, do que representaria a unificação das duas Alemanhas e o poderio que, na Europa, poderia representar para além das memórias que poderia ressuscitar. E das suas preocupações sobre os custos de uma reunificação liberal e mal preparada e do seu legado potencialmente perturbador para o equilíbrio europeu.  Levou alguns anos para que percebesse esses receios que, na altura, me pareceram despropositados - o custo não parecia exagerado vistas as vantagens - face à liberdade que se garantia a uma imensa população - com as consequências óbvias nos países satélites dos soviéticos.
Desta viagem guardo excelentes recordações e ainda lembro, quando se falava no retorno da capital a Berlim, a resistência que os membros do SPD faziam pela relação que esse facto poderia estabelecer com a Alemanha hitleriana e responsável pelas atrocidades da II Guerra Mundial. 
A Guerra deixa fantasmas e desconfianças.


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A mixórdia


Cartoon de Rodrigo

A mixórdia que o senhor ministro da defesa tem andado a cozinhar.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Membro Honorário da Ordem dos Arquitectos



foto de Luis Rocha

Por casualidade poucos dias depois da Sessão Evocativa que fizemos ao Vasco Massapina (209/57) fui convidado pelo Conselho Directivo Nacional da Ordem dos Arquitectos para fazer o seu elogio na cerimónia de entrega da distinção de Membro Honorário que, a título póstumo, lhe foi atribuída. No discurso de agradecimento de outro dos distinguidos - Manuel Correia Fernandes, actual Vereador do Urbanismo do Município do Porto - disse palavras muito simpáticas e significativas sobre o Vasco. Como membro (desde 2008) do Conselho Nacional de Delegados da Ordem tive lugar na Mesa da Cerimónia e esta foi a minha intervenção:

"Senhor Presidente da Ordem dos Arquitectos, João Santa-Rita
Senhores Membros Honorários da Ordem dos Arquitectos
Colegas Arquitectas e Arquitectos presentes
Minhas Senhoras e meus Senhores, Isabel, Pedro
Conheci o Vasco Massapina há cinquenta e sete anos e alguns dias mais - foi em Outubro de 1957 na camarata da 1ª companhia do Colégio Militar. Como lembra nas palavras que dedica, como refere, a este "seu amigo de sempre" no seu livro "O Risco do Arquitecto, Interesse Público e Autonomia da Profissão", fomos colegas em vários caminhos e encruzilhadas. E por esses caminhos e encruzilhadas sempre o reconheci como homem de carácter, culto, inteligente, amigo do seu amigo, solidário, camarada, disponível e coerente entre o dizer e o fazer. Um bom amigo de quem tenho saudades, um bom colega de profissão com quem partilhei as paixões que nos fazem Arquitectos.
E é por isso, por ser seu amigo de sempre e ter, com ele, partilhado caminhos e encruzilhadas que me sinto particularmente honrado com a possibilidade que me é dada de fazer o seu elogio nesta sessão de atribuição da distinção de Membro Honorário da Ordem dos Arquitectos.
Arquitecto desde 1972 pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, Vasco Massapina é membro nº 648 desta Casa e nº 45 do Colégio de Especialidade de Urbanismo. Foi Presidente do Conselho Directivo Regional Sul da Associação dos Arquitectos Portugueses entre 1993 e 1995 e Vice-Presidente do Conselho Directivo Nacional da Ordem entre 1996 e 1998. Foi ainda membro, com o número 46, da Associação dos Urbanistas Portugueses da qual foi vice-presidente e é Membro Honorário.
Em 1981 fundou com o seu irmão João Vicente, arquitecto, e a mulher, escultora, Isabel Lhansol, o "Atelier Cidade Aberta, Arquitectura, Planeamento e Artes Plásticas" por onde passaram amigos como Jorge Costa Martins, Jorge Kol de Carvalho e Luís Manuel Pereira e que se continuou com os seus filhos arquitectos João e Bárbara e o genro, também arquitecto, Pedro Vaz.
Funcionário público da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização desde 1972, atinge em 1992, por concurso e na categoria de "ordenamento do território", a categoria de Conselheiro do Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes onde preside à 3ª secção  "Urbanismo e Edifícios". Foi também Vogal do Conselho Consultivo do Instituto Português do Património Arquitectónico, IPPAR, onde, já depois de reformado, continuou, em regime pró-bono, a prestar serviço.
Foi ainda membro do Bureau executivo da Federação Internacional de Urbanismo e Ordenamento do Território e, em representação do Governo português de então, Perito do Comité Consultivo para a Formação no Domínio da Arquitectura na União Europeia. Recebeu a Medalha do Colégio Oficial de Arquitectos de Madrid e foi Académico Correspondente da Academia Nacional de Belas Artes.
Como professor convidado da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa leccionou de 1997 a 2002 a cadeira de Urbanismo II, deixando aí uma reconhecida marca qualitativa muito própria, 
Integrou ainda a Comissão Executiva dos Banhos de S.Paulo que dirigiu o processo de instalação da sede nacional no edifício dos Banhos de S.Paulo, inaugurada, como nos diz a memória e lembra a placa do átrio de entrada do edifício, em 21 de Novembro de 1994 - passam agora vinte anos.
Deixou, entre outros, dois planos marcantes - o "Plano de Salvaguarda de Beja" e o "Estudo de Preservação e Renovação Urbana de Ponte de Lima" - que, hoje ainda, quando lidos ou estudados proporcionam valiosos ensinamentos na arte de bem fazer.
Se ainda estivesse entre nós, Vasco Massapina - pelo que afirmou e lutou em nome da Arquitectura e dos Arquitectos, pelos valores que defendeu numa vida plena - estaria, posso afirmá-lo com convicção, na primeira-linha desta luta que os Arquitectos hoje travam contra o jogo de interesses, contra a iliteracia e contra a indigência cultural que representam as Propostas de Lei Nº 226/XII e Nº 227/XII que o Governo pretende fazer aprovar.
Estaria o Vasco Massapina, como tantos outros nesta sala e como sempre se mostrou, disponível para dar o seu melhor neste combate que, ultrapassando a mera visão corporativa, se afirma contra o abuso daqueles que confundem arquitectura com construção, desenho com ocupação espacial ou urbano com aglomeração. 
Ao atribuir ao Arquitecto Vasco Massapina a distinção de Membro Honorário da Ordem dos Arquitectos, o Conselho Directivo Nacional da Ordem honra a memória dos que, ao longos dos anos, construíram e pertencem a esta nossa Casa. 

João Paulo Bessa
Ordem dos Arquitectos, 30 de Outubro de 2014"

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Evocação do Vasco Massapina

Foto de Silva Alves
Organizada pela Família e com o apoio da Ordem dos Arquitectos realizou-se na sua Sede dos Banhos de S.Paulo uma Sessão Evocativa do Vasco Massapina (1947-2012). Numa sessão muito participada - Auditório Nuno Teotónio Pereira cheio de Amigos, Arquitectos e Ex-alunos do Colégio Militar - intervieram o Presidente da Ordem dos Arquitectos, João Santa-Rita, Elísio Summavielle, Fernando Pinto, Helena Souto, João Soares, Luis Carvalho, Luis Pedro Cerqueira, Pedro Guimarães, Pedro Vaz - em representação da família - Rui Rasquilho e eu próprio.
Coube-me nesta evocação, o nosso tempo comum com início em 1957 no Colégio Militar. Este foi o meu texto:

Exmas Senhoras e Senhores. Amigos do Vasco
A memória tem uma enorme vantagem: enquanto existe não deixa esquecer. E nós, camaradas do 209 de 1957, colegas do arquitecto Vasco Massapina, amigos do Vasco, não o esqueceremos. Generoso, amigo do seu amigo, diligente, inteligente, culto e disponível temo-lo hoje, como o teremos amanhã, na nossa memória. Com saudade feita de longa amizade.
Conhecemo-nos já vão 57 anos e dez dias...
... nesta camarata da 1ª Companhia onde, no dia da entrada, fazíamos a cama pela primeira vez. Separavam-nos duas, três camas; ficámos na mesma turma. 
Começava assim o ano de "Ratas" numa vida de fardas, de formaturas, de paradas militares. De continências.
Iniciávamos então a construção de uma marca indelével de uma forma de ser, de uma forma de encarar a vida, de uma forma de estar no mundo. De uma solidariedade chamada camaradagem assente em valores tão claros como simples: não deixar ninguém para trás, nunca ser canalha, respeitar os valores da honra, da dignidade e da decência. Olharmo-nos de frente e assumirmos as nossas responsabilidades.
O Vasco sempre gostou de cumprir. E fazia-o de forma inteligente e imaginativa: por "ordem de serviço" éramos obrigados a escrever todas as quartas-feiras para a família. Uma chumbada, uma dor de cabeça na invenção do nada para dizer. Excepto para o Vasco: nas cartas que escrevia relatava os nossos jogos de futebol do campeonato inter-turmas para terminar a missão com um definitivo não tenho mais nada para contar. 
O Vasco gostava de se fardar bem, de aparecer de botas altas de equitação. Sempre impecavelmente alinhado - o Martiniano Gonçalves lembra que gostava de lhe cravar cigarros porque eram os únicos que saíam direitos dos bolsos - tinha uma postura permanente de elegância. Que lhe ficou para a vida.
No Desporto que o Colégio tornava obrigatório: a esgrima, o tiro, a equitação, a ginástica, o atletismo - levando-nos à prática do Pentatlo Moderno de que não conhecíamos existência, o Vasco, como tantos de nós, ainda fazia questão de pertencer às equipas representativas colegiais que disputavam os campeonatos da salazarista Mocidade Portuguesa.
Também gostava muito de cavalos e embora - por evidente estupidez nas prioridades do então responsável - não tenha feito parte da Escolta a Cavalo colegial, montava bem e tinha artes - como mais ninguém, aliás - de conseguir, nas diversas vezes que qualquer castigo o proibia de saída ao fim-de-semana,  o direito a um "cavalo de serviço". E então, com o Francisco Cardoso de Menezes a cronometrar, fazia da pista de atletismo o hipódromo de todos os sonhos.
De mais aulas, de menos aulas, mais formaturas e mais paradas, borgas e desatinos, chegámos ao fim do curso marcado pelo Baile dos Finalistas. Aos próximos avisou: deixem-se de palermices, nada de parvoíces, hoje vem cá a Isabel!
Gostava de fardas o Vasco, pensou em ir para a Marinha - farda azul no inverno, farda branca no verão - mas a Isabel, a caminho das Belas-Artes, levou-o, pelo amor de uma vida e para sorte nossa, a preferir Arquitectura.
Acabado o 7º ano - onde ambos pertencemos, no fundo da hierarquia, ao notável clube dos "furriéis" - o Vasco manteve sempre uma enorme e apaixonada relação com o Colégio e a nossa Associação de Antigos Alunos. Muitas vezes passava lá as manhãs de sábado a ver, orgulhoso, os netos nos treinos do Pentatlo.
Ao desafio do então Director colegial, Raúl Passos, para projectar um novo e complexo pavilhão desportivo que respondesse às actuais necessidades da formação desportiva de excelência, organizámos uma equipa peculiar: só podiam participar profissionais ex-alunos do nosso curso e nossos filhos. A nós juntaram-se o Adão da Fonseca e o Santos Coelho e os nossos filhos, o João Massapina, arquitecto e o Raul Bessa, engenheiro. E com a generosidade que punha em tudo que fazia, ao pró-bono dos projectistas, juntou o serviço do seu gabinete. Projecto que está pronto e à espera da inteligência de melhores dias para ver a primeira pedra.
E dessa sua permanente disponibilidade ainda resultaram, a pedido da nossa Associação, o anteprojecto do Colégio Militar de Timor e a reabilitação do Quartel da Formação para, a exemplo das "meninas de Odivelas", construir o nosso lar social.
Durante anos rimos - como gozávamos com o ar jamesbond de o "risco ser a nossa profissão" - e tivemos, longas, divertidas e interessantes conversas sobre políticas, politiquices, exercício da profissão, arquitecturas, urbanismo e, principalmente, sobre a mútua paixão da Cidade - essa obra-prima da capacidade do ser humano. Sempre disponível para a intervenção cívica e profissional, participamos, juntos, em muita actividade.
Por seu desafio e insistência - "a Ordem precisa da tua experiência", dizia - tenho sido nos últimos anos membro do Conselho Nacional de Delegados desta casa.
Gostaria assim por tudo o que nos liga que nós, camaradas do 209 de 57, trouxéssemos da nossa outra casa que será sempre do Vasco e para esta outra casa onde o Vasco  é membro honorário, a nossa saudação tradicional:
Senhores ex-alunos, de pé!
Pelo 209 de 57, pelo arquitecto Vasco Massapina, pelo nosso amigo Vasco: Zacatráz! Zacatráz! Zacatráz!
Zacatráz! Zacatráz! Zacatráz!
Zacatráz! Zacatráz! Zacatráz!
Ala, Ala! Arriba
Ala, Ala! Arriba
Allez, Allez à votre santé!


  

  


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

5 de Outubro

Convidado pelo Presidente fui às Comemorações do Dia da República na Câmara Municipal de Lisboa. Sentado na galeria junto de outros convidados vi chegar o Primeiro-ministro que, passando-nos na frente - literalmente en passant - lançou displicente: Bom dia. Como estão? Não resisti e lancei: Mal!, enquanto que o homem se refugiava na área dos gabinetes. A lata: com ar como se nada fosse, pergunta como se fossemos todos íntimos, como estão?! E com a governação que comanda havíamos de estar como? Bem?!    
Ouvi António Costa, a propósito da necessidade de preservar a memória, exigir a volta dos feriados de 5 de Outubro e 1 de Dezembro. E prometendo que Lisboa continuará a festejar um e outro com festejos adequados. Respondeu-lhe uma enorme salva de palmas - a única da sessão.
Depois falou Cavaco Silva. E por maior respeito republicano que possa ter por um Presidente não posso deixar de lamentar o teor e o tom do seu discurso. Pretensioso e fingido a deixar, no final, uma única e possível questão: E que fez Vossa Excelência com o imenso poder de que tem desfrutado ao longo de anos para evitar os males que nos apresenta como suas preocupações?  Um homem que passou anos no poder como primeiro-ministro e agora como presidente sacode, olímpicamente, a água do capote de culpas próprias para, qual extra-terrestre recém-aterrado, desatar a malhar por tudo quanto representa a sua acção e o seu pensamento político. Quer dizer, o homem mascara-se e rejeita qualquer responsabilidade pela actual situação. Quer como Presidente da República, quer como Primeiro-Ministro. Ou seja: nada tem com isto. Chegou agora...
Quer dizer que o que disse está errado? Nem por isso, mas faltou-lhe a dignidade corajosa de dizer que era parte do estado a que as coisas chegaram - que diabo, Cavaco Silva tem ligações ao poder de maior capacidade decisória durante quase vinte anos nos últimos 34 anos.
Acabada a cerimónia saí com Eduardo Lourenço, cumprimentámos António Costa, e fomos procurar um táxi - uma trabalheira em dia de Maratona - apanhável apenas próximo da Casa dos Bicos. Na volta, já sem a ajuda da sempre estimulante conversa deste camarada do Colégio Militar, perguntei, á vista de uns quantos de passo de corrida pesado, a um polícia: a que horas passaram os primeiros atletas? Ás 11 menos um quarto, respondeu. O relógio marcava 1 menos dez...

De povo, nada. O festejo da República fez-se sem povo. A praça da ovação da República não tinha o povo republicano que a defende. A História, na distração das nossas preocupações, está a perder-se neste jogo de apagamento forçado.

domingo, 7 de setembro de 2014

Inadmissível!

Um desenho repetido a repetir o que se repete
A derrota futebolística de hoje com a Albânia é inadmissível. E deve exigir responsabilidades e explicações. A quem comandou e a quem deu aval.

A Albânia conta muito pouco no mundo do futebol - ocupa o 67º lugar do ranking da FIFA a 704 pontos de Portugal que ocupa o 11º posto. Uma diferença abissal entre uma equipa com pretensões - a nossa - e uma equipa que conseguiu a sua terceira vitória em 43 jogos internacionais - a Albânia.

O que mais incomoda é o ar de formidáveis, de se pensarem supervedetas e serem incapazes - como já se viu no Mundial - de estabelecer as diferenças necessárias dentro do campo, nesse espaço onde as categorias se demonstram. O que incomoda é a mais do que demonstrada incapacidade de cumprir as exigências desportivas de uma modalidade colectiva. O que incomoda ainda é a falta de revolta perante o rame-rame que vamos desenvolvendo como se o direito da derrota pertencesse aos adversários.

Depois segue a conversa do costume sempre incapaz de encarar as coisas de frente. E a frente é esta: não expressamos talento suficiente para pretender uma selecção com pretensões a lugares mundiais de relevo.

E, continuando assim, sem procurar para encontrar, num faz de conta de azares - dos ais e os quase... - será cada vez pior. O mito do futebol português cairá pela base do que começamos a adivinhar no campo e nas secretarias.

Com óbvia pena de quem o gosta de ver bem jogado. 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Atleta


Atleta, Conceição, Tavira
Nikon D300

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Gatos em férias


Nina da Ria Formosa, Knight de Campo de Ourique e Percy Vale D'Asseca em férias

domingo, 31 de agosto de 2014

Escrito na Parede


Parede em Tavira
Foto iPhone

terça-feira, 5 de agosto de 2014

BAUHAUS vence em Viseu

in internet
A memória da Arquitectura vence, por Phil BAUHAUS, em Viseu a 6ª etapa da Volta a Portugal em bicicleta. E venceu com um excelente sprint.
Não que as imagens aéreas que vimos do alto do hélicoptero da RTP nos mostrasse algo do traço que a escola alemã nos deixou em herança - as visões mais interessantes correspondiam a exemplos da arquitectura popular portuguesa mas com a maioria a mostrar-se no hibrido da construção sem risco que lhe valha a marcar conurbações de pouco carácter. 
Mas ter BAUHAUS no nome não é pouco ... pode até ser a causa de momentos de perplexidade de quem se lembre de conceitos e obras do fundador Walter Gropius - "A arquitetura é a meta de toda a actividade criadora” - dos posteriores directores Hannes Myer e Mies Van der Rohe acompanhados por Kandinsky, Klee, Itten, Marcel Breuer, Moholy-nagy ou Joos Schmidt e ainda das marcas conceptuais que nos seguiram na "a forma segue a função" ou no "menos é mais" que marcaram o modernismo que culturalmente nos marcou e abriu perspectivas mais amplas para um desenho integrado na obra-prima humana que é a cidade.
Uma enorme responsabilidade de um nome que hoje marcou presença vencedora em Viseu. 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Desportivismo

O Pódio 2014: Péraud, Nibali e Pinot
Foto de 
Le Tour de France, TDFbySKODA
A última etapa do Tour tem regras, obrigando os corredores a cumprirem os códigos que eles próprios definiram. Por isso é sempre um grande espectáculo ver as últimas voltas do circuito dos Champs Elysées com o pelotão apinhado dos sobreviventes que, depois de enormes sacrifícios e esforços conseguiram cumprir a sua ambição: chegar a Paris. E ontem não falhou o entusiasmo: os combóios das equipas a prepararem o caminho para os seus sprinters foi digno de admirar - e a velocidade a que vão... O sprint final entre Marcel Kittel, o vencedor, e Alexander Kristoff, segundo classificado, foi de cortar a respiração. Que momento!
Mas viu-se mais.
O francês - e um dos mais velhos do pelotão - Jean Christophe Péraud caiu, já dentro de Paris e por causa de uma garrafa, a 43 quilómetros do final da etapa. Em segundo lugar da classificação geral, a pouca diferença que trazia de vantagem sobre o terceiro - o também francês Thibaut Pinot que ganharia o Prémio da Juventude - viu o seu lugar no pódio em risco. Principalmente se alguém resolvesse acelerar a velocidade do pelotão.
E foi o que aconteceu: conhecedores ou não da queda de Péraud alguns ciclistas, que não Pinot, resolveram atacar.
Então, do meio do pelotão, saiu o grande - o enorme - camisola amarela e vencedor do Tour, Vicenzo Nibali para, com gestos determinados e que não deixavam dúvidas a ninguém, impor ordem - no que foi seguido por outros ciclistas - aos violadores do imperativo código. Bonito gesto e uma exigência de desportivismo a demonstrar que, apesar de profissional, o desporto pode ter a decência por base. Grande Tour!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Cândido, o Cadol


O trabalho das equipas
Foto de Le Tour de France, TDFbySKODA

Gosto do Ciclismo que se traduz em corridas, principalmente por etapas. Gosto das estratégias e tácticas que as equipas utilizam para colocar os seus melhores em posição de vitória - gosto da componente colectiva desta modalidade.
Ver a Volta a França através da excelência das imagens que a televisão nos proporciona - juntando às imagens desportivas as imagens aéreas da ocupação do território (haverá imagens mais interessantes do que uma vista aérea de um aglomerado urbano?) - é qualquer coisa de extraordinário. E se houver luta desportiva, então o tempo é muito bem passado, divertido e, muitas vezes, entusiasmante.
Quem primeiro me mostrou o que eram os encantos do ciclismo foi o Cândido mais conhecido por Cadol, garagista - como o classificávamos - que nos arranjava os furos das câmaras de ar das bicicletas. Mecânico de bicicletas de profissão, louco pelo F.C. Porto, fazia, volta não volta, a Volta a Portugal. E era dele que ouvíamos as estórias dos ataques, das duras subidas, das loucas descidas. Do Sousa Santos, do Ribeiro da Silva, do Alves Barbosa, do Emídio Pinto, do Carlos Carvalho, do Sousa Cardoso e sei lá mais de quantos que a memória já não guarda. Tinha um filho, o Copi, em quem depositava esperanças de campeão - construi-lhe uma bicicleta com volante de corrida à proporção do tamanho dele.
As estórias entusiasmavam-nos e levavam-nos - na nossa etapa anual com prémio da montanha e tudo - de Miramar aos Carvalhos para ver passar os ciclistas.
Sempre que vejo as Voltas, lembro-me - com alguma nostalgia - do Cândido, o Cadol, das suas estórias e daquele espaço escuro com uma lâmpada pendurada de um fio e cheio de óleos onde brilhavam rodas de bicicletas. E onde passávamos horas por cada furo a arranjar. 
Continuo a gostar de ciclismo.
Principalmente da sua componente colectiva - provavelmente por isso, sou favorável, como acontece na Volta à França, ao uso de comunicações rádio: para que todos os membros da equipa tenham percepções semelhantes da corrida e possam agir em conformidades com os melhores interesses da equipa. O trabalho em equipa - numa distribuição de trabalho altamente organizado - é formidável: na protecção do seu chefe-de-fila (o nome diz tudo da expressão táctica colectiva), nas perseguições, no aumento de ritmo para desgastar adversários - os combóios são de notável expressão técnica e estética - na preparação para a melhor colocação do "seu" sprinter. A transmissão televisiva da Volta a França é um espectáculo que procuro não perder. Depois segue-se a Volta a Portugal, a Vuelta e o que mais houver entrecortado por jogos de rugby vindos do outro lado do mundo.
Continuo a gostar de ciclismo.

domingo, 20 de julho de 2014

Miguel de Vasconcelos

Miguel de Vasconcelos, Hélder Costa, Catarina da Rússia e Robespierre
Foto de Adriana em smartphone


No início da semana que passou participei, em A BARRACA e a convite do Hélder Costa, nos seus habituais "Encontros Imaginários" que reuniam desta vez a Catarina da Rússia (Leonor Areal, realizadora), Robespierre (Filipe Faria, Sociólogo) e Miguel de Vasconcelos, cabendo este último a mim. 
Foram momentos muito divertidos que tiveram por base, como sempre, excelente texto de Hélder Costa. Na minha figura de traidor - naturalmente a desdenhar de quem o chamava e a lembrar que a aristocracia portuguesa se mostrava, em geral, adepta dos Filipes - para além de tratar mal (pudera!) Robespierre e de estabelecer óbvia aliança com a Catarina ainda me pude interrogar sobre essa estória de traidor como, se ao aumentar os impostos em favor de estrangeiros tivesse feito diferente daquilo que nos fazem hoje os actuais governantes: traidor, não! percursor, sim! E ainda tive oportunidade de aceitar um convite da Catarina para ir para S. Petersburgo.
Foi divertido e só tenho a agradecer ao Hélder, à Leonor e ao Filipe, companheiros do mesmo Encontro.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Charlie Haden (1937-2014)


Charlie Haden com Carlos Paredes e Fernando Alvim no Hot Clube de Portugal, 1976
(foto: João Paulo Bessa) 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Reduzidos a cinzas

O paleio do sr. Scolari e o facto de trazer um título mundial na carteira aldrabaram-me quando chegou a Portugal - ingenuamente julguei que iria trazer coisas novas que pudessem transformar o futebol português. E, estúpido, acreditei. Comecei a desconfiar que não seria assim quando vi a selecção portuguesa a jogar - o paleio não tinha tradução prática, nada se transformava... mas a malta deixava-se ir na conversa das bandeirinhas à janela.
O final é conhecido, resultou no Euro sanduíche: derrota à entrada, derrota à saída contra os mesmos gregos e da mesma maneira. Ainda hoje tenho enorme amargo de boca da lembrança do desperdício de uma oportunidade que não retorna - tudo se ficou por marquetings saloios, num sempre em festa irresponsável. E desportivamente com erros elementares - como se a organização da festa nos garantisse o direito ao título.
Dez anos depois, igual... mas no Brasil. O desastre dos 7-1 do Brasil do sr. Scolari contra a Alemanha devem colocá-lo no plano onde deve estar: treinador banal que vive de auréolas exteriores à capacidade de pôr uma equipa a jogar de forma a garantir a máxima eficácia dos jogadores que a compõem e a melhor capacidade para anular as vantagens do adversário. Que é o que lhe compete enquanto treinador. O que a este alto nível significa demonstração prática de inteligência estratégica e táctica. Coisa de que nada se viu como demonstram os erros cometidos contra a Alemanha: assim como se as rezas garantissem o título tido por direito - Deus, existindo, não tem por missão tratar daquilo que é, no campo desportivo, exigência humana. 
Decididamente não gosto do sr. treinador Scolari e não lhe perdôo a derrota de Portugal na final do Euro 2004 - da qual me vou lembrar para o resto da minha vida: sentado na bancada com a família a ver a ineficácia...
Para o Brasil espero que esta derrota lhes permita reconhecer os erros do sistema do seu futebol - muita coisa está obviamente errada e as vozes que o denunciam devem agora ser melhor ouvidas. A derrota é brutal mas permite a mudança. Agora e acertada e aos que hoje choram o vexame, cabe a exigência.

domingo, 6 de julho de 2014

Os interesseiros

As opiniões do jornalista alemão, Harald Schumann, que está a realizar um documentário sobre a troika e que foram publicadas no Público de 4 de Julho de 2014:

"A ideia de resolver o problema da dívida através da austeridade falhou completamente. A dívida é agora ainda mais insustentável do que era há três anos. Os programas são também extremamente enviesados. Todo o fardo é assumido pelos trabalhadores e pelos contribuintes normais, enquanto as elites privilegiadas, que conseguem evadir a sua riqueza através dos offshores e que são as maiores responsáveis pela crise, até conseguem lucrar com os programas de ajustamento.
Por exemplo, quando conseguem comprar activos valiosos ao Estado a preços de saldo.
[...]
O “resgate” errado, que apenas salvou os investidores estrangeiros, principalmente alemães, de perderem nos maus investimentos que fizeram, mina a confiança nas instituições democráticas dos países afectados. Os governos e os parlamentos desses países parecem ser apenas marionetas nas mãos de desconhecidos — e não eleitos — burocratas estrangeiros. E, ou, de investidores.
[...]
Agora, em muitos países, estão em ascensão forças nacionalistas, que prometem ver- se livres desta Europa opaca e não democrática. Esta receita, se posta em prática, tornar-nos-ia, a todos, mais pobres. Perderíamos todos os ganhos da divisão transnacional do trabalho. Mas é precisamente porque os nossos governos mantêm os cidadãos em iliteracia económica, para camuflar a verdade e os interesse que servem, que estes extremistas são bem sucedidos. Por isso, todos os que não queremos que a Europa regresse aos tempos sombrios do século passado temos de fazer o que estiver ao nosso alcance para criar um discurso público que ultrapasse as fronteiras nacionais. Ou o conseguimos, ou o projecto europeu irá ruir."

Esclarecedor!

quinta-feira, 26 de junho de 2014

BILHETE DE VOLTA

Foi mau, muito mau. E é um dever exigir explicações. Não sobre o remate à trave, ou o falhanço inacreditável só com o guarda-redes pela frente mas sobre tudo o que se passou desde a decisão contratual ás decisões de partida e estada, dos percursos, dos sítios, da escolha de jogadores e mais etc. e etc.

Ou seja: o que parece ressaltar do que vimos é que os erros se estenderam por todos os sectorese departamentos. E se são erros, devem ser reconhecidos para que - numa regra de ouro do Alto Rendimento desportivo - não se repitam; se não foram erros é preciso saber que o não foram e saber então o que foram. Porque alguma coisa foram e ciência não foi.
O jogo de hoje foi, apesar da vitória, um desperdício: por sorte dos deuses - que já nos tinha dado o golo de Varela - o Gana, num repente, percebeu que tinha as malas feitas e nós Selecção de Portugal fomos incapazes de aproveitar a oportunidade, jogando fora, umas atrás das outras, as hipóteses que nos surgiram. Porque, num repente, os deuses tinham girado as rodas para o nosso lado sem que, no relvado, o tivessem percebido ou não aproveitado.
A periferia quando não culturalmente assumida, só se traduz em desfasamentos. Em desacertos com o momento e com o sítio. Principalmente quando se lhe junta a mitologia que nos impôs o silêncio de quarenta anos do orgulhosamente sós. A periferia paga-se caro e a mitologia da supremacia não dá qualquer troco: na realidade sustenta o provincianismo. De que é exemplo o provincianismo da focagem absoluta no "maior jogador do mundo" - como se o futebol não fosse uma modalidade colectiva...
A  questão é esta: temos direito a explicações - se esta visível incapacidade se passa no futebol, a modalidade mais rica de Portugal, o que não será das outras modalidades colectivas desportivas. Se são estes os exemplos que fornece quem mais pode numa demonstração constante de um deserto de ideias disfarçadas em azares e ais duns quases sempre a destempo, que podem fazer os outros? Que exemplos, que conhecimentos, que consequências nos são transmitidas? Que aprendizagem nos é facultada? Que lição nos é garantida?
Explicações, exigem-se! ...
... Ou teremos o direito de entender que houve interesses que, sob a vulgata da incerteza desportiva - o futebol é assim mesmo - vantajosamente se sobrepuseram.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Rui Costa - tri-vencedor da Volta à Suiça

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Foto do site de Rui Costa

Parabéns Rui Costa!
Vale-nos o nosso Campeão Mundial. Venceu pela terceira vez consecutiva a Volta à Suiça - ver a subida dos três últimos quilómetros é impressionante da classe do nosso ciclista - e agora é o terceiro - depois de Contador e Quintana (recente vencedor da Volta à Itália) - do ranking mundial. 
Agora é contar os dias para a Volta à França.


[e o Tiago Machado venceu a Volta à Eslovénia prova do nível da Volta a Portugal]
O ciclismo português está em grande.

DESADEQUADO

Depois dos resultados obtidos a conclusão é evidente: a preparação da equipa portuguesa para o Mundial não foi adequada! E não vale a pena contar estórias e ignorar evidências: cometemos o mesmo erro no Mundial da Coreia e não soubemos aprender nada. Preparamos mal o Mundial!

No desporto - como aliás na vida - é admissível cometer erros - errar é humano, diz-se - o que já não é admissível é repetir o mesmo erro. Que repetimos quer na preparação quer no eterno recuar a dar hipóteses ao adversário.

Joga-se como se treina, treina-se como se joga é o conceito do desporto colectivo que encerra toda uma metodologia que é necessário cumprir para atingir os patamares de sucesso. A evidência do que fizemos transporta-nos para a evidência do erro no uso do método. Estivemos mal, muito mal!

Portugal, a nossa selecção nacional de futebol, não esteve à altura de quem se ficciona num 4º lugar de um ranking FIFA sem sentido. Nem das expectativas que nos foram criando num constante atirar poeira para os nossos olhos. Foi muito mau! Mau por parte dos dirigentes, mau por parte da equipa técnica, mau por parte dos jogadores.

A responsabilidade desta negativa participação pertence por inteiro aos dirigentes, à equipa técnica e aos jogadores. Importam-se de fazer as alterações necessárias?

segunda-feira, 16 de junho de 2014

NÃO É ACEITÁVEL

No desporto exige-se a humildade necessária para que nos seja possível tirar o máximo partido das capacidades que temos; a vaidade e o convencimento retiram-nos capacidade de análise, de execução e de clarividência para impedir que entendamos que o erro, para além de costas largas, termina sempre na culpa do árbitro.
O banco português desde cedo focou no árbitro os erros evidentes da disponibilidade física e psíquica dos jogadores portugueses de que o atraso desmesurado para o guarda-redes foi o prenúncio de um cartão vermelho - encostar a cabeça, coloque ou não em perigo a integridade física do adversário é um acto inadmissível, anti-ético, num campo desportivo - e do golo onde a superioridade numérica portuguesa de jogadores "em jogo" era evidente.
Palavras leva-as o vento, cartas de amor são papéis, escreveu o poeta que provavelmente nada sabia de futebol ou de campeonatos do mundo mas que alerta para a conversa da treta em que e ao que parece, nos tornamos especialistas: estamos aqui para ganhar! a nossa selecção é a maior! tragam-nos a Taça! Como se o apuramento ou alguns dos jogos de preparação não nos mostrassem o contrário e onde só um ranking feito de forma canhestra ajuda à mentira (quem é 4º do ranking mundial não joga assim!).
[a Alemanha jogou contra um sol violento que o horário tornou muito mais difícil para o guarda-redes. Nem partido dessa vantagem se viu jeitos...]

Quatro-zero não é resultado aceitável para uma equipa que a comunidade futebolística nacional considera como das melhores mundiais.
Como se sai daqui? Sabendo que a derrota ensina, só há uma maneira possível: a honestidade de um acto de contrição colectivo - de jogadores, responsáveis técnicos e dirigentes - que possa recolocar a focagem de cada um e de todos numa diferente atitude e forma de encarar um jogo internacional, colocando na entrega, na velocidade, na entreajuda, na vitória, as questões essenciais em cada momento daqueles que se encontram em campo.
Certo é que ou os jogadores portugueses mudam radicalmente de atitude e garantem uma postura adequada a uma presença num campo desportivo onde a capacidade de luta, de resiliência e de sofrimento fazem os vencedores - sem sangue, suor e lágrimas não há vitórias! - ou a nossa passagem pelo Mundial do Brasil ficará, de novo e negativamente, na história futebolística nacional.
E o pior que podemos fazer é a eterna desculpa dos fracos e medíocres: pôr na arbitragem as desculpas do descalabro que apenas a nós pertence - jogamos muito pouco, fomos completamente ineficazes e sem qualquer tipo de consistência colectiva.
Dar a obrigatória volta depende apenas da nossa coragem e honestidade competitivas. E o primeiro passo da mudança será não aceitar nem mascarar o que se passou no jogo. 

domingo, 1 de junho de 2014

As Meninas da Luz


Colégio Militar, 28 de Maio 2014 - a partir de foto de Silva Alves

O Colégio Militar de género misto está, num sinal dos tempos - o género feminino já conquistou nas sociedades ocidentais os direitos de acesso a todas as áreas de actividade - a que só desatentos ao mundo que nos envolve podem colocar estranheza, a tornar-se uma realidade. 

As raparigas que, actualmente e na sua enorme maioria, entraram por primeira escolha para o Colégio Militar, mostram-se satisfeitas e dizem até que querem o estatuto de "internas" porque "é mais divertido!"

Mas nem tudo são rosas. Devido às péssimas decisões do Ministério de Defesa - num despautério incompetente, desproporcionado e temporalmente errado - as "Meninas da Luz" não estão nas melhores condições podendo até falar-se de segregação em aspectos que dizem respeito a espaços e acções de lazer ou fardamentos, por exemplo. 

Com um início pouco brilhante e onde a Igualdade de Género ou a Igualdade de Oportunidades - valores essenciais desta nova faceta - não parecem estar devidamente acauteladas por responsabilidade das acções, repete-se, do Ministério da Defesa, espera-se que os responsáveis da Direcção colegial, da Associação de Pais e da Associação de Antigos Alunos consigam impôr as necessárias rectificações que evitem a realidade do ditado de "o que torto nasce, tarde ou nunca se endireita".

E esta mudança para o estatuto misto - ao contrário do que pretende o Ministério da Defesa - nada obriga ao desaparecimento do secular Instituto de Odivelas. Uma coisa nada tem a ver com a outra. A não ser a comando de interesses.

sábado, 31 de maio de 2014

Janelas discretas


Foto iPhone, Stº António, Lisboa

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Fugir com o rabo à seringa

Já nem sei porque me admiro.
O senhor ministro Marques Guedes chegou ao Estádio de Honra do Complexo Desportivo Nacional do Jamor e, sobre os graves incidentes da final da recente Taça de Portugal, disse sem qualquer pudor que eram resultado de "alguma percepção errada  por parte de pessoas que queriam entrar que pensavam que o acesso para o topo norte só se poderia dar nos torniquetes deste canto da praça da Maratona quando não é verdade [...]". 
Percepção errada?! Não era verdade?!
Claro: a culpa dos maus momentos passados pelas pessoas, não é da organização incompetente ou da incapacidade policial. A culpa, segundo o senhor ministro, é da percepção errada. De quem? Das pessoas, pois claro! 
O que, isto sim, não é verdade! As pessoas limitaram-se, civilizadamente, a cumprir com as instruções combinadas do que liam impresso nos seus bilhetes e aquilo que viam nas indicações colocadas expressamente para o jogo na Praça da Maratona. 
Senhor ministro, não é decente sacudir a água do capote para disfarçar a irresponsabilidade e incompetência demonstradas. Não é bonito, nem sério.
Popularmente a sua actuação de hoje só tem um nome: fugir com o rabo à seringa!

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Governo perdeu e o PS ganhou

Os dois partidos do Governo - somados um com o outro - e que têm propagandeado uma excelente governação tiveram menos votos do que o Partido Socialista. Ou seja, apesar de uma propaganda viciada e constante sobre a extraordinária governação que levou à saída (!) da troika e a mais esta e aquela vantagem e à maravilha disto e daquilo, a coligação dos partidos do Governo empenhada com a presença do Primeiro e do Segundo, perdeu. E o PS ganhou. Se isto não é uma derrota, numa eleição resultante do contexto do poder que dizem apoiado pelos portugueses, então o que é uma derrota? 
A máquina de propaganda aí está: não é uma derrota significativa porque ficamos próximos do PS, dizem. E os comentadores de serviço aí estão a corresponder: a derrota é de quem ganhou.
Mas a realidade dos factos é esta: a aliança governamental - apesar de toda a máquina de propaganda que utiliza, acrescento - não conseguiu convencer os portugueses da bondade da sua política. A coligação - os dois somados - teve menos (-27,7%) de votos  do que o PSD teve, sózinho, em 2009. E, por isso, perdeu! Perdeu uma brutalidade e não ganhou qualquer credibilidade para a sua política. O resto são estórias...
O Governo perdeu as eleições e o PS ganhou as eleições.
Ao Governo - com vista às legislativas - não lhe resta mais do que tirar truques da cartola para convencer os portugueses de que lhes melhora a vida enquanto que o PS ficará com a responsabilidade de convencer os portugueses de que tem a capacidade de mudar, melhorando, a sua vida e assim congregar essa enorme maioria de eleitores que - votando branco ou nulo ou se abstendo - mostraram não querer este Governo. E do resultado destas estratégias o futuro dirá. Mas o Governo perdeu e o PS ganhou.
É assim: o Governo de Passos Coelho perdeu as eleições por um resultado nada abonatório para a sua política. Ponto!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ir ao futebol para ver a Marta e...

... ver cumprir a velha ideia de Gary Lineker: futebol são onze de cada lado e no fim ganha a Alemanha. No caso - a UEFA Women's Champions League 2014 - ganharam, por 4-3 depois de estarem a perder por 2-0, as alemãs do VfL Wolfsburg ao venceram as "suecas" do Tyresö FF que tem a Marta - considerada pela FIFA a melhor jogadora do Mundo de 2006 a 2010 - na sua equipa. E vê-la continua a ser um prazer pelo toque e trato da bola, pela finta, pela subtileza da percepção táctica do jogo. E brindou-nos com dois golos sendo o último deles um tratado de bola: entrada pelo lado esquerdo da grande-área, flexão para o meio e remate - de pé direito! - a descrever um arco para entrar no ângulo oposto da baliza. Uma beleza técnica, um tratado! Uma inteligência táctica na procura do poste mais longe.


Mas depois a consistência alemã tomou conta do relvado e o oxigénio começou a subir mais devagar tornando os erros suecos numa permanência. O costume, já se vê.
Mas foi um óptimo jogo de futebol, com muita lealdade e muita geometria - uma vantagem que parece ter o futebol feminino sobre o actual masculino com excepção do Barcelona dos grandes momentos. E o ambiente do Restelo foi suficientemente caloroso.
E é claro que as entradas e o acesso aos lugares se fizeram no pólo oposto da final da Taça de domingo passado: tranquilamente e sem quaisquer receios. Como é mais agradável e mais seguro.
O problema foi no final do jogo: no que julgo ter sido uma simpatia da UEFA, após o jogo iniciou-se um concerto - ao que suponho a entrada terá passado a ser livre - que permitiu (e pediu!) que as pessoas fossem, atravessando a pista de atletismo - cujos problemas de construção e manutenção conheci bem - para o relvado. Relvado que pareceu em bom estado durante o jogo.
E uma de duas: ou o relvado já estava programado para ser substituído e pouca importa o que lhe possa acontecer provocado pelo amontoado de pessoas e a pista, que não teve quaisquer defesas para ser atravessada por milhares de pessoas - sujeita a diversas agressões nomeadamente ao punçonamento dos saltos dos sapatos de senhoras - já não tem qualquer qualidade para o treino e provas de atletismo ou, tudo isto, não é mais do que um puro desperdício.
E o desperdício incomoda-me. Principalmente porque a tendência para o resolver passa, como sempre, pelos dinheiros públicos, isto é, pelo dinheiro dos nossos impostos, descontos e similares.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Ir ao futebol para sermos tratados como bichos

Sempre e inevitavelmente cada um de nós subestima o 
número de indivíduos estúpidos em circulação.   
As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, Carlo Cipolla

Já há muito que percebi que os estádios de futebol - e nem sempre o foram - são, hoje em dia - nos seus privilégios e abusos - uma expressão do dualismo social  que nos atravessa: de um lado os senhores que, na protecção dos seus carros, entram, longe de tudo e de todos e sem cruzamentos com a plebe, pelas cavernas do estacionamento para, subindo nos elevadores, chegarem aos casulos onde se albergam e onde comem e bebem - álcool incluído -  e onde terão a visão da apoiante massa popular apenas nas bancadas do outro lado do campo; desse outro lado, os que fazem do futebol um espectáculo de massas que permite o êxito do negócio mas que se encontram sujeitos a todas e mais umas regras de controlo e revistas, são tratados como vassalos sem direitos, apertados em espaços de atropelo uns aos outros, empurrados daqui, empurrados dali num sufoco permanente até que, num derradeiro esforço de uma pequena passagem, sejam expelidos para a vista do relvado. 

Ambos, nas aparências pelo menos, comungando do mesmo fervor clubista. Como se fossem iguais. Como se tivessem o mesmo tratamento. Como se o facto de apoiarem o mesmo clube derrubasse as barreiras que lhes impuseram à chegada - e que parece ter no golo a sua expressão igualitária máxima.

No domingo fui ao Jamor - para ver a minha neta dançar e o Benfica a jogar. À chegada, de antecedência por via das coisas, uma enorme multidão de camisolas vermelhas a ocupar a entrada da praça da Maratona por onde o meu bilhete dizia dever entrar. A minha mulher e eu entramos no amontoado, andando centímetro a centímetro, aos encontrões, apertos e pisões, empurrados e levados na mole humana que tinha no ver o início do jogo o objectivo maior. E embora a multidão se comportasse bem e tentasse movimentar-se com civilidade, o ambiente não era nem agradável, nem cómodo. Pior, era assustador se se pensasse nas consequências que daí poderiam resultar caso houvesse qualquer pânico. Desistimos e voltamos para trás - não sem grandes dificuldades - na secreta esperança que alguém responsável solucionasse as entradas.

Já fui a muitas centenas de jogos de futebol em variados estádios no país e no estrangeiro. Já vi muitas organizações de entradas para estádios e também já participei na sua organização. Já estive dos dois lados em diversas ocasiões: do lado dos senhores de acesso fácil ou do lado dos populares em penosos caminhos de diferentes estádios e diferentes países. Já levei filhos de outros aos ombros e já entrei de carro até porta.

Sei portanto o suficiente destas coisas para poder dizer que o que se passou no Jamor é o somatório de incompetência e de total falta de respeito pelos cidadãos-espectadores. Quer dos organizadores que se mostraram incapazes de perceber os problemas para encontrar as soluções, quer da polícia que igualmente se mostrou incapaz de encontrar soluções eficazes. Foi infame! E é perturbador.

Sendo um estádio antigo - inaugurado em 1944 - o Estádio de Honra do Jamor exige uma organização adaptada para um espaço que tendo poucas entradas tem a vantagem de um largo corredor na base das bancadas que permite a distribuição dos espectadores para todos os sectores. E que exige, do lado da Maratona, uma organização de corredores iniciada a boa distância dos pontos de paragem para revistas e para a verificação electrónica de bilhetes.


A Maratona e os sectores servidos pelas suas portas (verso do bilhete)

Bastava olhar as costas dos bilhetes de ingresso para ver que o problema iria surgir: a entrada norte da Maratona servia 20 sectores enquanto que a entrada sul da mesma Maratona servia apenas 8 sectores. O que significa, sem necessidade de especial análise, uma entrada desproporcionada de pessoas por um e outro lado. Facilmente previsível, facilmente programável e emendável e, portanto, evidenciando falha grave da organização montada pela Federação Portuguesa de Futebol.

Como se esta incompetência não bastasse, juntou-se a incapacidade da chefia da Polícia que pretendeu justificar o péssimo ambiente criado e o mau serviço prestado com um corporativo "as pessoas têm de ter consciência de que têm de chegar cedo aos estádios de futebol em geral”. Não, não têm que ter essa consciência coisissima nenhuma! Tendo comprado bilhetes para um espectáculo com hora marcada, as pessoas devem chegar às horas que melhor entenderem e com pleno direito de entrada cómoda e segura num horário razoável de dispêndio de tempo aceitável. Com o respeito como princípio base, compete á Polícia encontrar soluções que garantam a sua segurança - de todos sem excepção - e zelar pela sua comodidade. 

E as soluções estavam lá: bastava utilizar parte da força que tanto fizeram para impedir o avanço das pessoas e, numa forma construtiva e avisando da vantagem, levá-las para a porta sul da Maratona onde não havia ninguém - foi por lá, logo que descobri a hipótese, que entrei - para utilizar depois o corredor interior de distribuição. Solução que se encontraria se o propósito da acção fosse respeitar os espectadores e não o fazer-lhes frente. Em vez disso, o responsável policial, numa forma distorcida do seu papel cívico, culpabiliza os espectadores, razão principal para haver bilhetes, bancadas e espectáculo. E multidões. 

E de que valeu este mal-estar? De coisa nenhuma! A dado momento tudo entrou sem qualquer revista ou verificação de bilhetes. Ao meu lado a conversa "eu não te dizia que não era preciso comprar bilhete, já no ano passado foi assim..." provava o disparate.

Esta falta de respeito pelos espectadores portadores de ingressos não é admissível, não é desculpável e exige a chamada à responsabilidade por quem de direito. Em defesa dos direitos de cidadania e para que o futebol seja um espaço civilizado de divertimento.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Martim Moniz, Uma Praça de Lisboa

Há dias participei com a Daniela Ermano no colóquio Conversas da Mouraria organizado pelo Grupo Amigos de Lisboa. Tinham-nos pedido que fizessemos uma intervenção sobre o projecto que ambos realizaramos para a Praça Martim Moniz. Resolvi ler o texto - abaixo reproduzido - que escrevera para o Congresso Mundial da Federação Internacional para a Habitação, Urbanismo e Ordenamento do Território em 1998.
Antes e naturalmente passei na Praça e fiquei chocado com o que vi de "montagens" que por lá se fizeram sem qualquer nexo ou respeito pela geometria do desenho projectado - mudanças existem sempre e, se feitas com o respeito devido ao espaço definido pela geometria do lugar, podem tornar-se - no que não é obviamente o caso - num valor acrescentado. Isto sem falar na pecha de já longa duração que é a falta de manutenção, a falta de alimentação das árvores que seria suposto criarem uma esplendorosa barreira visual em cortinas densas e luxuriantes ou a falta da água que jorra sabe-se lá quando corre - a "fonte da estrela" está preparada para "dar as horas". Enfim, uma tristeza!
O texto lido aqui fica:

MARTIM MONIZ, UMA PRAÇA DE LISBOA
Em tempos, foi um esteiro do Tejo por onde terá chegado, guiada por dois corvos, a barca com as relíquias do mártir São Vicente, hoje padroeiro e simbolo de Lisboa. Nos terrenos drenados ao tempo manuelino. foi aí, no inicio do sec.XVI. construida por temor da peste, da fome e da guerra, a igreja de S. Sebastião da Mouraria que, em 1561, mudaria para o actual nome de Nossa Senhora da Saúde. Em 1646, nascia com a igreja do Socorro, a freguesia do mesmo nome.
Séculos antes por aí passou o troço da muralha fernandina que ligava a colina do Castelo à de Sant'ana, definindo o limite da cidade de que resta a memória de um cubelo ao cima da escadaria do Jogo da Péla, e de que se pode perceber a localização cartografada pelo correr da rua denominada. a partir de 1915, de Martim Moniz.
Nos anos quarenta deste século e como resultado da abertura. em 1903 e na sequência da já tradicional ligação entre a cidade e os seus arrabaldes, da Avenida D. Amélia - hoje Almirante Reis - iniciou-se, embora com algum propósito de bons costumes, um processo de demolição em larga escala justificado na necessidade de articular este eixo estruturante de desenvolvimento urbano com a Baixa Pombalina. A igreja do Socorro, o Teatro Apolo e o palácio do Marquês de Alegrete - este já muito deteriorado pelo terramoto de 1755 - foram alguns dos edificios notáveis demolidos.
Ao mesmo tempo que o espaço livre aumentava, o nome de Martim Moniz alargava a sua esfera de influência. A ponto mesmo da Câmara, que nada fizera para oficializar esta dimensão do desejo popular, referir em reunião de 15 de Novembro de 1946, o Largo de Martim Moniz.
De então para cá, não faltaram tentativas de solução sobre o espaço assim vazio. Da memória de sempre ficaram a Igreja da Saúde, as encostas envolventes e a visão tutelar do castelo. Dos diversos planos tentados - o último nos anos 80 - fica a memória visivel dos edifícios dos centros comerciais e a pedonalização da rua da Mouraria.
Foi sobre este espaço vazio. sobre este espaço residual de encontro de tecidos urbanos de várias procedências, de diversas formas ou lógicas de utilização, de transformação e de apropriação que nos foi dado intervir: a nascente, a Mouraria originária de uma ocupação medieva extra-muros; a poente, o traço pré-pombalino da colina de Sant'ana; a sul, a racionalidade da Baixa Pombalina; a norte, a avenida Almirante Reis, contraponto pobre ao boulevard da Avenida da Liberdade.
A vista do castelo, o nome mitológico do guerreiro, a visão romântica da tomada de Lisboa, a imagem das margens do esteiro transformadas em campo de lutas atravessado por cavaleiros de armadura e lança, a conquísta, os mouros, as muralhas com a suas passagens, arcos e postigos de acesso, os nomes de João Peculiar, de Pedro Pitões, Fernão Cativo, Paio Delgado ou Pedro Plágio que, à volta do Conquistador, se juntavam ao nome mitológico do guerreiro mártir, formam o imaginário medieval popular traduzindo o espirito do lugar onde, nós projectistas, nos iremos mover.
Em termos de desenho urbano e partindo da necessidade programática de criar um novo parque central de estacionamento, três novos problemas a resolver: a articulação do desenho da praça com o eixo da avenida Almirante Reis, a integração visual dos edifícios recentemente construídos e a defesa acolhedora - fisica e visual - do espaço-ilha rodeado de vias de tráfego intenso.
Impondo-se o valor de uso ao valor de troca subjacente a planos anteriores, surge como objectivo prioritário a criação de um espaço de paragem, de encontro, de estar, de relação e lazer suficientemente protegido e enfático da memória do sitio e do espirito do lugar.
Decidimos assim, dividir a praça em três zonas:
a) na 1ª, tendo como preocupação articular os eixos da nova praça com a avenida e estabelecer uma relação integradora na envolvente urbana;
b) na 2ª, procurando através de um comércio especial e de qualidade. atrair as pessoas ao seu interior;
c) na 3ª. criando um clima lúdico que possibilite tempos dinâmicos de distracção.
Para resolver os problemas criados pela intensidade do tráfego e enquanto cortina de salvaguarda visual e articulação com a escala envolvente dos edifícios mais modernos, decidimos rodear a praça de revestimento arbóreo denso e elevado.
Quem chega pela Almirante Reis ao Martim Moniz. encontra um primeiro espaço de paragem numa estrela, numa rosa dos ventos, que constitui uma placa giratória capaz de inflectir um eixo e, na leveza dos seus jogos de água, relacionar e articular a escala urbana com a redução necessária ao conforto de quem passeia.
Na parte central. criando a atracção necessária para a frequência de uma população exterior às zonas envolventes e para o entretenimento dos utentes habituais, um conjunto de quiosques destinados à venda de artesanato qualificado desenha pequenos pátios a que as laranjeiras darão a sombra para um tempo de espera a que os bancos convidam.
A água lançada dos repuxos de um caneiro central que acentua a simetria do espaço, trará, nos quentes fins-de-tarde de verão, uma frescura convidativa ao sabor de quem está. dos grupos, das conversas ou da solidão procurada para leitura de um livro ou de um jornal. A envolvente de árvores e arbustos dará - logo que o seu tempo de crescimento se adapte á dimensão esperada - o conforto, a protecção e a intimidade que este espaço-ilha necessita para se autonomizar.
Logo a seguir, três degraus para entrar num espaço que aborda, com ironia, a mitologia histórica das proximidades do sítio. Um muro-muralha, vaga impressão fernandina e onde guerreiros - de bandeiras colocadas ao alto e engalanados de românticas plumas ao vento - parecem perfilados na perenidade da recordação de conquistadores, dá o tom à plasticidade de uma outra praça.
Uma porta entreaberta - marcando a direcção das lescadarias das encostas opostas - um machado enorme jorrando das suas marcações um labirinto de águas de que a miudagem foge e, pelo sim, pelo não, guardiões - companheiros de Osberno? eventualmente templários - tomando conta, não vá o diabo tecê-las!, das passagens-pontes sobre a água borbulhenta de mistérios insondáveis.
Lá ao fundo, no limite que obriga ao retorno, restos marcantes da cultura vencida que, por tantos anos quantos os que chegam atá hoje. continua a jorrar marcando a vida e os passos do ser português. A esta cultura dum sul tão próximo juntam-se pequenas influências das sete partidas do mundo que demandamos em quinhentos.
É assim: uma praça espaço de paragem, de lazer, feita de percursos com lembranças à frescura das árvores e do correr da água. Um espaço de divertimento.
João Paulo Bessa, arq.º
      texto escrito para o 44º Congresso Mundial da FIHOUT
 (Federação Internacional para a Habitação, Urbanismo e Ordenamento do Território)
Lisboa, 13 a 17 de Setembro de 1998

Autoria do Projecto:
Daniela Ermano, arquitecta
João Paulo Bessa, arquitecto
Gonçalo Ribeiro Teles, arquitecto paisagista


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