sábado, 31 de dezembro de 2016

OS VELHOS SEM PRIORIDADE

Tenho mais de 65 anos e sou, por muito que tenhamos a mania de achar que é "feio" dizê-lo, velho. Mas não necessáriamente trapo. E sou velho com experiência suficiente para compreender muitas coisas da vida e, pelo menos, saber sobre algumas outras.
Ouvi dizer das prioridades e fui ler: um embuste para nós, os velhos. Porque não chega ser velho, é preciso ser alquebrado quase a não se poder sair de casa para ter prioridade. É preciso ser idoso que, de acordo com a alínea b) do Artigo 3º do Decreto-Lei nº58/2016 de 29 de Agosto de 2016 assim se define: "«Pessoa idosa», a que tenha idade igual ou superior a 65 anos e apresente evidente alteração ou limitação das funções físicas ou mentais".
Explicou a senhora Secretária de Estado para a Inclusão, Ana Sofia Antunes, que:"não basta que a pessoa comprove que tem 65 ou mais anos. Nesse caso, tem que ter uma incapacidade física ou mental visível, portanto, inquestionável ao comum dos cidadãos". Ou leio mal ou não passa de uma redundância para atirar com areia para os nossos olhos para fazer de conta que existem grandes preocupações humanitárias - o decreto-lei das "prioridades" garante a qualquer deficiente físico ou mental a prioridade desejada - embora devendo ser portador de atestado que garanta os 60% de incapacidade como recomenda fonte oficial do ministério responsável. O que significa que os velhos deficientes ou incapazes estão aí incluídos! Então para quê o articulado para os "idosos"? Para óbvia conversa da treta no habitual faz-de-conta de preocupações que verdadeiramente não existem - e nem cito as justificações, por pertencerem ao domínio da estupidez, da referida senhora Secretária de Estado. Como se não bastasse a idade para criar dificuldades em situações de longa permanência em pé... são precisas evidências?! A não ser que se deva agradecer o bónus da evidência por troca com a exigência do papel demonstrativo.
Com esta regulamentação, feita apenas com a preocupação de dar nas vistas - propaganda, diz-se - vamos dar-nos mal e o aumento da conflitualidade nos tempos perdidos das filas de espera parece ser a única garantia que teremos.
Estive no Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos e fui - agradavelmente - surpreendido por uma norma que considera "preferencial" toda e qualquer pessoa com mais de 60 anos sem mais qualquer outra classificação. Preferenciais no direito a lugar sentado no metro - tem uma carruagem azul onde a prioridade é absoluta ("menino, deixa o senhor sentar!" disse a senhora para um jovem. Que agradecia mas não precisava porque sairia duas estações à frente, respondi. Que não, "que tem que se habituar a respeitar", respondeu e lá me sentei no lugar que o jovem disponibilizou). Também nos postos que têm instalações sanitárias (de uma higiene impecável, diga-se) e que se situam nas praias de quilómetro em quilómetro, os preferenciais podem utilizá-las sem qualquer custo, podendo apenas ser obrigados a demonstrar a sua idade.
Os Jogos Olímpicos são uma experiência única para quem como eu pôde estar presente mas exigiram longas viagens em transportes públicos, longas filas de acesso aos locais das provas a que se somavam, ainda e muitas vezes, longos percursos a pé. Dias inesquecíveis mas cansativos. Mas em todos os locais existiam "vantagens" para os preferenciais - ou transporte motorizado (permitindo um acompanhante) ou filas exclusivas (tive oportunidade de entrar na loja "oficial" dos Jogos em menos de 10 minutos quando nas 4 ou 5 filas normais levaria mais de uma hora). Assim o tempo e o esforço eram reduzidos para todos, espante-se, os que tivessem, sem nenhuma outra classificação, mais de 60 anos. Com natural aceitação por parte de todas as outras pessoas que esperavam a sua vez nas lentas filas.
As regras que agora por cá se impõem têm apenas, para mim e outros velhos como eu, uma vantagem: não me insere no quadro de pessoa idosa - as minhas mazelas não são evidentes - e deixa-me ficar pelo grupo dos velhos. Grupo mais natural e menos politicamente correcto e que não tem que mostrar evidentes alterações.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

UM MUSSOLINI CONTEMPORÂNEO?

Cabeça de Benito Mussolini de Giandante X (1900/1984)
Ganhou Trump e o país mais poderoso do mundo irá ser conduzido por um racista, demagogo, populista, egocêntrico, xenófobo, sexista, protofacista, mentiroso compulsívo e tantas outras coisas mais que fazem dele uma espécie de Mussolini contemporâneo.
Com uma campanha a fazer-se anti-sistema este multimilionário do imobiliário e casinolândia que vive no e do sistema conseguiu convencer os americanos suficientes para garantir o maior número de delegados.
É um facto que Hillary Clinton, não sendo um fenómeno de popularidade, tem ainda contra ela o facto de ser mulher numa sociedade que, segundo um conhecido comediante, é "muito mais sexista que racista... e somos terrivelmente racistas". Como caricaturava Michael Moore "era só o que faltava que depois de um negro viesse uma mulher dar-nos ordens".
É claro que a campanha de Clinton cometeu enormes erros estratégicos, deixando fugir uma vitória que, apesar das condições, esteve ao seu alcance - tanto que parece ir vencer no voto popular. Mas os votos da classe operária - os blue collars - dos estados da cintura industrial do MiddWest (Michigan, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin) deixaram-se embalar na demagogia trumpista e foram todos parar ao mesmo saco, garantindo assim que a derrota democrata seria uma evidência - mas havia sinais que foram ignorados e como no futebol, a campanha Clinton ao querer segurar uma vantagem diminuta deu o flanco para acabar por perder. Ignorando que o ataque é a melhor defesa, a estratégia da campanha Clinton encolheu-se e deixou-se andar para permitir - porque não reagiu - a multiplicação da ocupação do espaço pela demagogia, pela mentira e pelo abuso.
Estou com o Libération: deixemo-nos de coisas, é a extrema-direita que está no poder nos Estados Unidos. Basta ver - para além de voltar a ouvir os lapidares conceitos do novo presidente - o que nos espera de um Giuliani que vem de democrata em passos cada vez mais largos para a extrema-direita (o seu comentário de vitória é exemplar), de um filho de que basta ler os twitters ou quejandos para não se ter dúvidas do alinhamento, de um islamofóbico Gingrich a um Bannon que foi director de campanha e que mostrou no site de notícias que era responsável a sua aproximação à extrema-direita levando à demissão de diversos jornalistas. E corre que estes irão ser parte do novo governo...
Como não é estúpido Trump, no pós-vitória, mostra-se cordato, respeitoso, estadista, simpático até. Esperem pela volta. E pelo muro também. 
Os que não têm dúvidas já se manifestaram...
Esta eleição de Trump, tida por inesperada, comporta uma enorme lição dirigida à esquerda.
À americana - os chamados liberais - que passou o tempo todo a presumir, sobranceira no convencimento que a sua auto atribuída superioridade moral seria o garante natural da vitória. De todo o lado - dos grandes centros cosmopolitas e culturalmente inovadores que formam a América de que gostamos - se dizia, fossem quais fossem os problemas, que não era possível que um tipo como Trump ganhasse as eleições presidenciais. Porquê? Porque ninguém vota num tipo destes. Acordaram tarde - afinal não conheciam o país como julgavam, reconhecem o Nobel Krugman e a própria Hillary Clinton. 
À europeia que, pelo andar da carruagem, tem tudo a aprender. Nomeadamente que o seu comportamento tipo direita simpática mascarada com algumas preocupações sociais mas com o deslumbramento conhecido pela alta finança, nunca será suficiente para parar as pretensões da extrema-direita europeia. A partir desta eleição seria bom que a esquerda europeia se olhasse e reflectisse para encontrar as soluções necessárias para os diversos problemas de forma a garantir que da extrema-direita de Le Pen à Austria passando pela Holanda não dará mais folêgo aos já instalados. 
A lição é simples: candidatos como Trump vencem porque a esquerda, não se mostrando capaz de enfrentar o mundo e o sistema para encontrar as soluções que permitam melhorar as condições de vida das populações, deixa em branco o espaço para a escrita demagógica e populista. E depois, não há emendas.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

PALMAS PARA GUTERRES

Pela segunda vez na vida vi com muita emoção uma sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. A primeira foi quando Costa Gomes, então Presidente da República, discursou e pude ver - graças ao 25 de Abril - Portugal aceite no concerto das Nações enquanto membro de plena igualdade. Nessa altura, como hoje, senti um enorme orgulho carregado de enorme emoção.

Hoje, telever António Guterres ser aclamado enquanto novo Secretário-Geral, telever a salva de palmas com que foi brindado quando da sua entrada ou nas interrupções ao seu - excelente, diga-se - discurso, foi de um orgulho muito grande.
Esta eleição de Guterres representa um novo ciclo para as Nações Unidas: pela primeira vez a eleição foi realizada de acordo com os princípios da transparência. Quem quis soube ao que ia cada um dos candidatos e Guterres foi exemplar na construção da sua candidatura.
O seu anterior exercício de Comissário para os Refugiados dá-nos a certeza das suas capacidades e da tenacidade (ou resiliência) que porá no exercício deste cargo impossível como lembrou a Embaixadora americana. E também a certeza que não o exercerá sentado mas nos sítios necessários à sua influência. Em combate pelos princípios que enunciou.
O humanista Guterres tem as condições e convicções para que nos possamos vir a orgulhar do seu mandato. E uma certeza podemos desde já avançar: o seu exercício como o seu final serão de uma clareza de prestação de serviço a toda a prova. E ficaremos ainda mais orgulhosos com o legado transformador que este português deixará nas Nações Unidas.
Uma salva de palmas!

DYLAN, PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA



SURPRESA! Fiquei, genuinamente, surpreendido, agradado e de boca aberta de espanto: a Academia Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan "por ter criado novas expressões poéticas no espaço da grande tradição das canções americanas".
"Ele é um grande poeta" disse, no anúncio do premiado, Sara Danius secretária permanente da Academia, para acrescentar que "the times they are a'changing, perhaps" justificando a atribuição com um dos títulos dos álbuns de Dylan.
Come senators, congressmen
Please head the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside
And it is ragin'
It'll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'. 

Que mudem os tempos! Bons ares atravessaram a académica sala e atingiram em cheio a frescura de mentalidades que representa esta decisão dos seus 18 membros. E a ideia de cultura só ganha com isso. E ganha também a memória das gerações como a minha que se deliciavam com as suas "letras" e que lhe encontravam um sentido de vida que agora o Nobel vem confirmar. Afinal, sabíamos o que ouvíamos. Ouvíamos acerca de "condições sociais, religiosas, políticas e amor" como bem lembra o texto de atribuição do Nobel.




No mesmo dia de tristeza pela morte de Dario Fo, também prémio Nobel da Literatura (1997) e militante de esquerda sem bandeira como o definiu o Corriere della Sera, esse enorme émulo dos Bobos medievais "flagelando a autoridade e protegendo a dignidade dos espezinhados" como lembrou a Academia Sueca, não sei de melhor homenagem. Com qualquer deles aprendi a olhar para as coisas de outra maneira.

O QUE ANDAM A FAZER?

Segundo o que fomos sabendo via comunicação social, a GNR montou um enorme aparato para dar caça ao assassino de Aguiar da Beira. Cercou aldeias, pediu aos habitantes para não abrirem portas ou janelas, avisou que já poderiam sair de casa e decidiu mandar retirar o aparato com zero de resultado. O assassino continua a monte. E uma de duas: ou o assassino é da escola do James Bond ou a demonstração da GNR é de absoluta incompetência.
E a razão dada para justificar o abandono da operação - por não ter havido contacto com o "suspeito" - sendo ridícula consegue, ainda assim, ser de menor grau do que as garantias de que se manterá " a segurança às populações, através de acções de patrulhamento". Devem todos estar mais descansados...
Mas não é só por cá que a competência se mostra incapaz de atingir os objectivos pretendidos.
A polícia alemã da Saxónia prendeu Jaber Albakr, suspeito de estar a preparar um grande atentado terrorista. Um alívio portanto.
No entanto o prisioneiro - que tinha iniciado uma greve da fome - estava, dadas as possibilidades de suicídio, sob vigilância apertada. Os vigilantes devem ter-se distraído com golos do futebol ou com as cartas que o baralho não dava e pronto: o homem matou-se na cela. Suicidou-se! E o que mais poderia saber-se, ficou no ar esbugalhado de um enforcado...
O que é que andam a fazer?! Que dimensão, que limites, que objectivos têm os serviços que é suposto prestarem as forças de segurança? A GNR ao lançar a operação fê-lo apenas movida por interesses corporativos imediatistas? Os guardas prisionais de Leipzig acharam que vigiavam um estupor - o que é verdade - e que, portanto, pouco importava que se matasse?
Nestes conturbados e perigosos tempos que vivemos por onde ficam os deveres para com a comunidade que é suposto servirem? Com que nível de segurança e vigilância poderemos contar para além do absoluto fechar de portas que as direitas propõem?

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

LIÇÃO DE JUBILAÇÃO


A Jorge Olímpio Bento
Base: Foto com iPhone;
transformação, legendagem e finalização a ponta de dedo em aplicações de iOS
Como seria de esperar o meu Amigo Jorge Olímpio Bento na sua lição de jubilação - 29 de Setembro de 2016 - esteve fiel a si próprio: disse o que tinha a dizer sem máscara ou circunstância. E disse-o claramente numa lição que intitulou "Parrésia" ou "Coragem da Verdade". E fê-lo com o "vício da palavra sem grilhetas" numa lição de dignidade cívica que, como nos contou, lhe marca a forma de encarar a vida:
"Desde o berço e a escola primária na aldeia transmontana, até à jubilação da cátedra na Universidade do Porto, fiz a viagem com o substancial que os meus pais me ensinaram e transformaram em modo de agir: apego e o testemunho da verdade.  
À medida que fazia a viagem, mais ficava contaminado pelo vício da palavra sem grilhetas, desassombrada e desempoeirada."
E assim nos deu a sua visão vigorosamente crítica de uma Universidade neo-liberal, politicamente correcta, pouco dada ao questionamento e muito agarrada ao conforto da hipersimplificação que marca os seus tempos de hoje traduzidos em "instituição de formatação e instrução funcionalizante" da versão mercantilista de "fábrica de papers".
Uma lição feita legado para que os mais empenhados - estudantes incluídos - possam encontrar os caminhos que, revoltando-se, permitam alterar a actual circunstância de um reinado onde impera "um silêncio de morte"para a expressão de uma Universidade de atitude crítica, "de modéstia subversiva, atalaia e vigilância contra os cânones de toda a índole", perante o mundo e os seus sistemas num claro objectivo de, desencurralando-a, fazer o que deve ser feito.
Que aula!!! Uma jubilação a deixar a marca das "palavras sem grilhetas"! Mas manifestando sempre  o agradecimento a todos os que, com ele, partilharam a aventura de uma carreira cívica e universitária.
Lição a que assistiram inúmeros amigos vindos expressamente de muitas partes de Portugal, de Espanha, do Brasil, da Argentina a demonstrar o apreço pela pessoa, obra e carreira do Jorge Olímpio Bento.
Foi muito bom!

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

RIO 2016 - EXIGIR SEM BASES

Existe uma enorme tendência de uma boa parte dos portugueses para colocarem infundadas expectativas sempre que há representações desportivas nacionais em confronto internacional. Seja pela iliteracia desportiva que nos caracteriza, pelo mero desconhecimento da relatividade das coisas ou por um qualquer aproveitamento interesseiro, as representações desportivas nacionais são analisadas pelas aparências, sem qualquer objectividade e ignorando o seu meio de inserção. Como se tivessemos um Sistema Desportivo exemplar.

Se as esperanças em notáveis resultados podem resultar da vontade de nos fazermos valer, a sua transformação nas elevadas expectativas de quase certezas só serve para abrir o campo à desilusão. E, portanto, não havendo vitórias de arraso e independentemente da qualidade dos diversos resultados, tudo é mau ou desastroso, seja qual for o ponto de vista da análise, diz-se e escreve-se. Ou seja: bestiais na formatação das expectativas a bestas perante a aparência dos resultados. Tudo num salto palavroso de nota 10...

E mais uma vez assim foi no regresso da Missão portuguesa dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Elevadas expectativas fundadas em irrealismos - como se não se tratasse de uma competição desportiva de altíssimo nível em confronto com os melhores e adequadamente preparados para tentar a vitória e onde só 8% dos 11 544 atletas presentes podem regressar com medalhas conquistadas - marcam o adjectivo da análise. Uma só medalha? E apenas bronze?! Um desastre!

Terá sido?!

Ao longo de 24 presenças olímpicas, o desporto português conseguiu 24 medalhas - 4 de ouro (Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora), 8 de prata e 12 de bronze - numa média de uma medalha por cada participação. O que significa que Portugal está longe de campeões como os Estados Unidos com as suas 2546 medalhas. E tão pouco se aproxima dos países latinos europeus como a França (1169 medalhas), Itália (605), Espanha (148) ou Roménia (306) ou ainda da Holanda (195) ou Bélgica (164) - estes dois últimos com populações próximas da portuguesa.

Com a medalha conseguida pela notável e persistente Telma Monteiro, Portugal ficou dentro da sua média e colocou-se, com as 16 modalidades, entre as 28 possíveis, em que participou, em 78º lugar no Medalheiro - o que significa que conseguiu melhor do que os 119 países participantes que não obtiveram qualquer medalha - apenas 42% dos 205 países presentes obtiveram uma ou mais medalhas.

Lembre-se que todos os atletas portugueses presentes se qualificaram - obtendo as marcas estabelecidas - para poderem competir nos Jogos. Ninguém foi, portanto, sem mérito ou apenas para participar - atribuição de espectadores - mas sim para competir, embora e naturalmente, balizados pelas marcas conseguidas. Balizas que devem, desde logo, limitar as expectativas. Dando-lhes realidade - pensar, por exemplo, que as notáveis prestações de Nelson Évora com a melhor marca pessoal do ano e Patrícia Mamona com novo recorde nacional, poderiam garantir a certeza de medalhas é ignorar a existência de outros atletas com as competências e capacidades adequadas à vitória. Ignorar portanto que estamos integrados numa competição do mais elevado nível e de particulares características.

Os resultados globais da Missão foram maus? Não, não foram. E foram melhores do que o contexto onde se prepararam. Na sua enorme maioria - excepção feita a um ou outro erro, a um ou outro falhanço, a uma ou outra menor atitude - os atletas portugueses bateram-se com grande dignidade e tudo tentaram para honrar a responsabilidade da representação em que estavam investidos.

Os Jogos Olímpicos constituem a melhor e maior montra mundial de demonstração de capacidade desportiva de cada país e permitem uma análise comparativa global. A juntar a esta medalha de bronze, os atletas portugueses conseguiram 10 Diplomas olímpicos, isto é, obtiveram 10 classificações entre os 4º e 8º lugares classificando assim 12% do total dos seus atletas em finais. Entre os 9º e 16º lugares - habitualmente designados por semi-finalistas - a Missão portuguesa contou com 16 posições. E colocou ainda 6 atletas no 17º lugar. Ou seja: Portugal conseguiu 33 classificações - 36% do total dos seus atletas - abaixo do 20º lugar nas 57 provas em que teve a participação de seus representantes. Refira-se ainda que dos 92 atletas portugueses presentes - 32 mulheres e 60 homens - 54 deles não tinham qualquer experiência olímpica. Tratando-se da competição desportiva entre as competições desportivas, os resultados conseguidos apresentam-se com mérito que baste e não são compatíveis com o que se escreveu, disse ou colocou nas redes sociais.

Poderiam os resultados serem melhores? Claro! Podem sempre. Desde que haja a adequada aproximação de condições aos melhores competidores.

A realidade do sistema desportivo português é fraca e encontra-se muitos furos abaixo dos padrões europeus. Nas modalidades olímpicas temos cerca de 400 mil inscritos nas respectivas federações desportivas nacionais (últimos dados oficiais referentes a 2014), o que representa um número ridículo, impeditivo de competições internas de elevado nível, quando comparado com outros países europeus e que está longe das potencialidades de um país com 10 milhões de habitantes.

O Desporto em Portugal assenta num sistema caduco, desorganizado, sem objectivos e sem estratégia, com uma mistela de conceitos confusos e pouco clarificadores onde abundam as frases feitas do Desporto para Todos - e o Desporto não é para todos: é para quem pode e, dentro destes, para quem quer - e de que o Desporto dá Saúde - o Desporto é para quem tem saúde - confundido uma actividade de exigência, superação e responsabilidade de resultados com Actividade Física, essa sim, para todos, adaptável ás necessidades e que se pretende praticável para uma vida inteira. Curiosamente a actual Lei de Bases (Lei 5/2007 ) é designada por Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, designação que não parece preocupar ou induzir seja quem for.

Com um Desporto Escolar que não produz efeitos visíveis - Andebol, Basquetebol e Voleibol estão inseridos no sistema escolar desde os anos 30 do século passado e nunca se qualificaram para os Jogos - quer na detecção de talentos, quer no aumento de inscrições federadas e que desde há muito deveria ter passado para o estádio de Desporto em Idade Escolar articulado com clubes locais e federações de utilidade pública desportiva. Com um objectivo claro: introdução dos modelos desportivos das várias modalidades e detecção de talentos com o devido encaminhamento.

Não há dinheiro disponível para financiar as necessidades desportivas diz o Governo através do seu Secretário de Estado (RTP Notícias, 18/Ago/2016). Mas muitas das mudanças necessárias que permitirão adaptar o desporto português às necessidades competitivas actuais, não custam dinheiro. Exigem apenas transformações. De conceitos, de mentalidades, de estruturas.

Desde logo estabelecendo como Missão das federações de utilidade pública desportiva a criação de condições para que os nossos atletas possam competir internacionalmente em termos de igualdade, nomeando a sua dimensão rendimento como prioritária para assim lhes exigir programas qualificados - e não numéricos - de formação e desenvolvimento, com índices de competitividade elevados e afastando-as das tentações das imensas exigências que se lhes pretende sempre colocar para iluminar fogachos políticos. Também sem custos será a revisão das actuais leis federativas, retirando a mesma medida de fato a corpos com dimensões diferentes e adequando-as e articulando-as, de acordo com as nossas especificidades, com as necessidades do confronto internacional - a definição oficial e legal das modalidades colectivas e individuais (a Canoagem é, legalmente, uma modalidade individual!) é, no mínimo, inaceitável e umas e outras não podem reger-se pelas mesmas regras. O mesmo se dirá com o sistema escolar dos atletas que, apesar de um quadro legal facilitador, só enfrentam dificuldades e abusos quer da dupla actividade, quer na forma como são escolarmente tratados. A revisão do actual sistema de formação de treinadores exige também uma radical e urgente transformação sob pena de diminuição do seu número e da sua qualidade. O próprio estatuto do Alto Rendimento necessita de transformação e adequação, ampliando-se, às exigências actuais.

Para que as exigências por melhores resultados possam ter razão de ser - os obtidos no Rio 2016 se são bastante bons dentro do sistema que condiciona o Desporto português, não podem ser meta - é absolutamente necessário proceder às transformações que o enquadramento internacional nos exige. Começando por estabelecer os objectivos pretendidos e construindo uma estratégia adequada. No quadro do Desporto de Rendimento.

João Paulo Bessa
(Texto publicado no jornal Público de 8 de Setembro de 2016)

MEDALHA DE MÉRITO DESPORTIVO

A Câmara Municipal de Lisboa decidiu, em reunião pública de 28 de Setembro, atribuir-me a Medalha Municipal de Mérito Desportivo. O Vereador do Desporto, Jorge Máximo, colocou no seu facebook a justificação que copio:

"Foram hoje aprovadas, por unanimidade, as propostas de atribuição da Medalha Municipal de Mérito Desportivo a 4 grandes referências do desporto em Lisboa e Portugal:

a) Carla Couto - reconhecida como a Jogadora do Século pela FPF.

b) Aurélio Pereira - um dos mais bem sucedidos captador e formador de talentos desportivos do nosso país.

c) João Paulo Bessa - ex-selecionador e um dos grandes nomes do Rugby e do planeamento e arquitectura de infraestruturas desportivas em Portugal.

d) Luis Almeida dos Santos - um dos mais consagrados e internacionalmente reconhecidos nomes portugueses no Andebol e no dirigismo desportivo.

Enquanto vereador do desporto do município de Lisboa, o meu sincero agradecimento aos agraciados pelo enorme e importante legado em prol do desporto que muito honram e prestigiam a nossa cidade.

#desportolisboa"

Aproveito desde já para manifestar a minha satisfação e o meu agradecimento que, naturalmente, terei oportunidade de renovar na cerimónia de atribuição.

domingo, 4 de setembro de 2016

PARA INGLÊS VER


Para atravessar a Ria Formosa na Fábrica - sítio próximo de Cacelha-a-Velha - é preciso ir de barco para chegar à praia. A viagem dura poucos minutos - menos de cinco - mas por uma qualquer ordem é obrigatório a utilização de coletes de salvamento. O que parece uma medida acertada. E protectora até, não vá o diabo tecê-las.
E assim seria, não fora o aumento do perigo. Explico:
- colocados pela cabeça, os coletes têm uma frente - um peito - que cobre, em duas componentes, o peito das pessoas. Têm também duas correias que, passando pelas costas deveriam ser apertadas na frente - mas que não são utilizadas. Ou porque estão enroladas e atadas e, portanto, não utilizáveis ou porque já não existem. Ou porque não é fácil a manobra. Ou ainda porque, pura e simplesmente, não são apertados por a viagem ser demasiado curta.
Ora, colocados assim, os coletes de salvamento tornam a viagem mais perigosa do que sem qualquer apetrecho. Porque, se o barco se voltar ou alguém cair à água, as duas componentes dos coletes não fixas pelas correias ficarão à tona, deixando que a boca do utilizador fique "entalada" entre elas e praticamente dentro de água. E sem grande, pela presumível atrapalhação, possibilidade de ajustamento.
Pensei que a pôr o apetrecho - se não puser, multam-nos em 300€, avisam - a forma mais segura seria pô-lo ao contrário. Dentro de água a boca ficaria acima do colete, embora deixando de ter a possibilidade de ficar na posição de costas, de cara virada para cima e esperar a vinda de socorros.
Enfim tudo muito cuidado, cheio de efes e erres de segurança... para inglês ver, naturalmente.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

SONHO


A minha filha juntou os seus três filhos e disse-lhes: o avô João Paulo vai aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A minha neta, nove anos e ginásta, lançou:
- Acho melhor começarem a poupar dinheiro...
- Poupar dinheiro?! para quê? - perguntou com alguma estranheza a mãe.
- Para poderem ir lá ver-me quando eu estiver lá.
Pronto está aberto o caminho: a minha neta Mafalda quer competir nos Jogos. 2024?

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ESTÁ ERRADO! COMPONHA-SE!


@s noss@s menin@s são piores do que @s menin@s dos outros? Serão?!
Alguma coisa se há-de passar pelas más notas que @s noss@s menin@s têm a Matemática e Português. Todos burr@s?! - palavra que aliás não se justifica porque o animal é inteligente.
Então, se @s noss@s menin@s são tão burr@s ou inteligentes como @s outr@s, porque terão as más notas que têm? Porque não estudam nada? Ou porque não percebem o que lhes ensinam por desajustamento de programas ou erro de métodos de ensino?
Seja como for, manda a obrigação de serviço público de se adaptar o sistema à realidade existente. Isto é, que se faça um esforço para que se encontrem os processos que permitam que @s alun@s aprendam as bases que lhes permitam contar e comunicar eficientemente. Ou seja: que os programas sejam adequados e que o processo e método de ensino sejam também adequados e atraentes. 
E adequar significa encontrar formas que aproximem a linguagem de alunos e professores, permitindo,portanto, que se entendam.
É urgente que a transformação se faça - a Matemática e o Português são ferramentas fundamentais para uma integração positiva na sociedade.
E como @s noss@s menin@s são iguais a@s outr@as menin@s do resto do mundo não convém dar-lhes logo de início uma imensa desvantagem.

(EPÍLOGO COM LEMBRANÇAS DE MONIZ PEREIRA (1921/2016): Acreditando que os noss@s atletas eram tão boas/bons como @s estrangeir@s desde que tivessem as mesmas condições de treino, Moniz Pereira convenceu o poder político pós 25 de Abril a conceder às/aos atletas com melhores resultados e maiores capacidades o tempo disponível necessário para poderem treinar bi-diariamente. Introduzindo  as práticas necessárias ao Desporto de Rendimento, Moniz Pereira aproximou @s noss@s atletas d@s adversári@s e assim conquistou medalhas olímpicas, medalhas e recordes mundiais, campeonatos. Talvez @s senhor@s que mandam nestas coisas chamadas da Educação obtivessem melhores resultados se seguissem a proposta de Moniz Pereira: garantir que @s noss@s menin@s têm as mesmas condições do que @s menin@s dos outros lados. Porque valem tod@s o mesmo!).

terça-feira, 2 de agosto de 2016

O IMI, A ESTUPIDEZ E A ARQUITECTURA


Não sei se ouvi bem... eles disseram que iam aumentar o IMI de acordo com o maior grau de exposição solar ou da existência de vistas de um edifício?!!!!!
Se isto não for mentira é de uma estupidez gratuita, prepotente e abusiva. E é tão estúpida que viola Princípios Básicos da Arquitectura e do Exercício da Profissão e põe em causa qualquer possibilidade de desenvolvimento de uma Política Pública de Arquitectura.
A evidência do estrago é tal que não vale a pena perder tempo a explicar a gravidade. Não iam entender e não merecem a preocupação. Anotem os NÃOS!
(Uma explicaçãozinha ligeira: compete ao arquitecto nos projectos que realiza procurar a maior exposição solar e melhor usufruto de vistas possíveis como forma de garantir o melhor conforto e a maior qualidade do fogo que propõe. Ou seja: cada risco de arquitecto, cada aumento de IMI...).
Pelo andar da carruagem terminaremos a pagar impostzo pela largura da rua, pela distância à praça mais próxima, pela árvore no passeio, pelo fim de escorregadelas na calçada, pelo ninho que a andorinha deixou no beirado, pelo número de janelas das traseiras que permitem a circulação interna do ar, por qualquer melhoria higieno-sanitária do fogo, pela sombra sobre a janela. Pelo facto de ser uma habitação, pelo facto de ser mais do que um abrigo. Pagaremos imposto pelo desenho da Cidade!
Tão estúpido!
Pior. É um fartar vilanagem espertalhote que ultrapassa a estupidez - prejudicar terceiros, prejudicando-se a si próprio - para atingir o patamar do banditismo: prejudicar terceiros para favorecimento próprio.
É ultrajante! É mesquinho! É inculto! Sem a mínima noção das consequências.
Um tiro na Arquitectura.
Importam-se de ter juízo?

(Nota de interesse: não sou proprietário, sou arquitecto.)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

DE FACA E GARFO...



.... e nem sequer tinham a galinha

terça-feira, 28 de junho de 2016

O BREXIT



quarta-feira, 15 de junho de 2016

ESTÁDIO DO DESPORTO!? ORA,ORA…

(Texto publicado no jornal Público a 27 de Maio de 2016 em resposta a um outro texto da autoria de Fernando Tenreiro e anteriormente também publicado no mesmo jornal)

"Escrevo a propósito de “O estádio do desporto” de Fernando Tenreiro publicado na edição do Público de 19-5-2016, para mostrar a minha indignação. Escreveu o autor: “O departamento das infra-estruturas desportivas do ex-IDP foi posto em causa a partir da criação do QCA desporto no início do século XXI que colocou fora da instituição o investimento de milhões de euros para espaços de desporto. Depois dos milhões gastos, desconhece-se o que são e para que servem as infra-estruturas desportivas nacionais.”.
Quando se desconhece um assunto, duas atitudes são possíveis: informar-se e estudar para ficar a saber ou, pura e simplesmente, ficar calado. Trata-se de uma decisão de bom senso e de responsabilidade.
A Medida Desporto - Intervenção Operacional Regionalmente Desconcentrada da Medida Desporto - integrada no III Quadro Comunitário de Apoio (QCA III), nasceu do acordo entre os representantes da Comissão Europeia e do Governo português. Não foi um medida clandestina, foi publicada no Diário da República e obedeceu aos critérios entendidos como mais adequados ao uso dos financiamentos comunitários.
A intervenção da Medida Desporto diz respeito a um investimento global - superior ao inicialmente previsto - de 340 950 239,30€ a que correspondeu uma comparticipação comunitária FEDER de 145 738 345,20€ distribuída pelas cinco regiões-plano do país, permitindo a construção de 251 equipamentos desportivos. Foram assim realizados 77 Grandes Campos de Jogos, 24 Pistas de Atletismo, 39 Pavilhões Desportivos, 42 Salas Desportivas, 54 Piscinas cobertas, 2 Conjuntos de Balneários, 2 Grandes Campos de Hóquei, 1 Equipamento Náutico Fluvial, 1 Pista de Remo e Canoagem, 2 Pistas de Atletismo de 8 corredores, 1 Nave de Atletismo e 6 Estádios.
O dinheiro do co-financiamento comunitário foi investido, as obras estão à vista e há muitos portugueses - homens, mulheres, jovens, crianças - que as utilizam e lhes dão vida. Para o saber basta não fazer da secretária o centro do conhecimento...
Ou seja, o QCA III Desporto não viveu do “frete”, do fazer favores ou de decisões arbitrárias mas sim da regra e da exigência dos procedimentos como Pré-Candidaturas, Custos Máximos de Referência ou a adequação dos pavimentos às normas desportivas internacionais e os espaços às diversas valências necessárias à sua utilização social. Toda a candidatura era escrutinada pela Unidade de Gestão do Eixo Prioritário 3, aprovada tecnicamente pelo IDP e financeiramente pela UG do Programa Operacional Regional respectivo e homologada pela tutela do Desporto. A execução dos contratos estava sujeita a auditorias de diversos níveis de organismos internos e europeus. E nenhum desses organismos demonstrou dúvidas ou fez acusações sobre o processo.
Não sei que objectivos norteiam o autor do texto - tão pouco me interessam. Mas sei que o que escreveu representa ofensas gratuitas a todos os que trabalharam na Medida Desporto e que desempenharam o seu trabalho com o zelo devido à defesa do interesse público. Fazer insinuações como as que o autor faz é leviano, mal intencionado, irresponsável e não se coaduna com o dever de cidadania que a todos obriga.  

Lisboa, 25 de Maio de 2016
João Paulo Bessa (Coordenador Nacional da IORD da Medida Desporto do QCA III, 2000-2006)"


Por razões de espaço jornalístico não foi possível mostrar os números que sustentam a demonstração da importância das intervenções da Medida no seu enquadramento com as regiões-plano. Nos quadros seguintes estão quer os valores financeiros, quer as tipologias e quantidade dos equipamentos desportivos construídos.


LOCALIZAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS
















quarta-feira, 23 de março de 2016

Bruxelas, 22 de Março 2016


Sylvain Grand Maison

"Uma pessoa estúpida é o tipo de pessoa mais perigoso que existe" definiu Carlo Cipolla na sua 5ª Lei Fundamental da Estupidez Humana donde retirou o corolário "O estúpido é mais perigoso que o bandido". E porquê? Porque de acordo com a sua Lei de Ouro (3ª Lei Fundamental) "Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a uma outra pessoa ou grupo de pessoas, sem, ao mesmo tempo, obter qualquer vantagem para si ou até mesmo sofrendo uma perda.".
Foi destas leis que me lembrei quando levei com o choque do massacre de Bruxelas. Como se pode ir com aquele ar de quase satisfação que a divulgada foto dos autores nos mostra? O fanatismo estúpido destes suicidas - tal como os kamikazes japoneses (esse imbecil Grupo Especial de Ataques por Choque Corporal) da II Grande Guerra - exige, não só em nome das vítimas mas em nome de todos nós, que a comunidade internacional - e nomeadamente a europeia sobre quem pesam responsabilidades directas da nossa defesa - seja capaz de terminar com a fonte dos problemas: o Daesh. Sem mais desculpas ou assobios para o lado! 
O que exije liderança encabeçada por líderes que sejam capazes de lidar com a situação de acordo com os valores europeus da Liberdade, Direitos e Garantias. E acção em sua defesa antes que sejamos subjugados - ainda por cima com aplausos - pelo securitarismo abusivo da estupidez da extrema-direita.
Como o Tintim, ainda tenho lágrimas nos olhos. Também de revolta, pela inércia dos mandantes...

domingo, 17 de janeiro de 2016

O NOME DA ROSA

Fui ver ao Teatro Nacional D. Maria II - onde também estava o espectador José Ramos-Horta, Prémio Nobel da Paz de 1996 e antigo Presidente de Timor-Leste - a peça "O Nome da Rosa" com texto de Pedro Zegre Penim e Hugo van der Dinh (o autor da banda desenhada A Criada Malcriada), com encenação de Pedro Zegre Penim e a participação da própria Rosa Mota. Encomendada ao Teatro Municipal do Porto por Paulo Cunha e Silva - que não chegou a vê-la - a peça é uma homenagem à Rosa Mota e ao seu notável percurso desportivo. Mas não só: é, enquanto peça de teatro, excelente!

Texto inteligente, culto e com humor que baste, com boa direcção de actores, tem a movimentação necessária - de palavras, actores e objectos - para nos prender a atenção de princípio ao fim. Com ainda o controlo necessário para, a cada momento em que a ansiedade curiosa a que a tensão cénica nos leva e nos põe a quer adivinhar o seguimento, sermos surpreendidos com o cuidado das ligações e passagens, mantendo-se sempre num registo que foge a toda e qualquer chavão facilitista.

Ultrapassando a mera homenagem factual - Umberto Eco também aparece - a peça constitui o melhor elogio do Desporto que me lembro de ter visto. Porque dá ao Desporto a dimensão cultural e estética, retirando-o do caixote do lixo onde os programas de "análise futebolística" rasteiramente e quase quotidianamente o colocam e que, no fundo, está na razão dos enormes feitos que os atletas conseguem. Ao dar-nos esta dimensão cultural e estética do Desporto, a peça, para além da emoção que a memória nos transporta - os braços no ar das vitórias da Rosa são inesquecíveis - mostra-nos a dimensão que motiva os atletas, que os leva aos sacrifícios, ao rigor e responsabilidade constantes do treino, à procura permanente da superação, à definição de objectivos mais altos que o próprio sonho.

De excelência! Inteligente e culta, estéticamente poderosa e interessante no seu minimalismo cenográfico, a peça deve ser mais vista a passear por outros lados. Porque, repito, é excelente e surpreendente! É inspiradora.

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