quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cartaz resistente

Há dias um amigo meu ésseémiéssizou-me assim: "Estou no Hot. O teu cartaz resistiu ao incêndio. Incrível!"

Respondi-lhe que é para isso que se desenha, para resistir a desventuras.

(não sei se foi a sorte dos deuses ou se, pura e simplesmente, alguém tinha outro exemplar de um cartaz feito há bons trinta anos...)

Para memória - não vá o diabo tecê-las - aqui deixo a imagem do cartaz.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Senhor da Pedra ao entardecer


Senhor da Pedra, Miramar, foto telemóvel

domingo, 25 de dezembro de 2011

Dias de Inverno

Miramar (41º4'1"N, 8º39'25"O). Na praia a 25 de Dezembro

sábado, 24 de dezembro de 2011

NATAL 2011

Foto de telemóvel
Mesmo que seja desfocado, mesmo que a visão não seja a mais apetecível, BOM NATAL!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Prémio Secil Arquitectura 2010: da realidade à poesia

[razões que só as nuvens electrónicas conhecem atiraram este texto para sítios improváveis – é o terceiro e daí a razão do fora de tempo mas o dito merece este tempo.]

Começou assim a entrega dos Prémio Secil de Arquitectura 2010:

“As dificuldades que sentimos têm uma explicação primeira numa situação que só raramente conseguimos superar: os bens e serviços que todos produzimos, para vender aos portugueses e no estrangeiro, têm um valor médio muito baixo em comparação com os países nossos potenciais clientes e fornecedores.


É isso o que realmente significa a afirmação, incessantemente repetida, de que temos uma produtividade muito baixa. Não quer dizer que trabalhemos pouco, mas que o valor da nossa produção não é considerado suficientemente competitivo por parte de milhões dos seus potenciais consumidores.”
Pedro Queiroz Pereira, Presidente da Secil

Solução? exigência de qualidade e de inovação – razão, aliás, principal do prémio como nos disse.

Depois Miguel Figueira – o traço, a inteligência e a cultura do novo Montemor-o-Velho e presidente do Júri do Prémio Secil Universidades Arquitectura - preocupou-se com a nossa necessária aprendizagem de voar na maior dificuldade de o fazermos sem asas, lembrando apenas que “será a necessidade que vos vai ensinar!”



 Chegada a vez do vencedor deste 2010, Eduardo Souto de Moura, chegaram também os poetas.

Escolhido pela pintora Paula Rego para a sua Casa das Histórias de Cascais, Eduardo Souto de Moura lembrou a poesia dos livros de cabeceira ao falar da métrica e do rigor enquanto traço comum da arquitectura e poesia. E citou:
“Só a palavra exacta tem utilidade pública” de Eugénio de Andrade para justificar o rigor de cada traço.

Acrescentando Oscar Wilde sobre o esforço do tempo ponderado e reflectido exigido pelo trabalho: “O que fiz de manhã? Coloquei uma vírgula. À tarde? Retirarei a vírgula”
Tudo dito em duas frases correspondendo ao tudo escrito no desenho das duas chaminés que simbolizam o lugar das estórias.

[porque houve atraso deu para ler, a propósito do tema lançado por Queiroz Pereira, o embaixador da Argentina, Jorge Faurie, que assim disse marcado pela experiência recente: “Não há produtos com valor acrescentado tal que seja imprescindível comprar a Portugal. Fora do Mercado em euros Portugal tornou-se caro, sobretudo quando é possível encontrar mais barato com qualidade semelhante ou até superior.”]

A arquitectura portuguesa do Prémio Secil marcou a noite: definindo qualidade e mostrando inovação. E assim vive no Mundo.
fotos de telemóvel

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desigualdade


Time, Agosto 2011
Os dados agora divulgados pela OCDE sobre a desigualdade onde Portugal faz uma péssima figura só são surpresa para os desatentos. Ao lê-los, lembrei-me de duas coisas: uma, de um livro de António Barreto publicado antes do 25 de Abril que então li e que caracterizava Portugal como um país dual, tal a diferença entre ricos e pobres - diferença que, aliás, se mantém com as mesmas características (20% dos mais ricos ganham seis vezes mais do que 20% dos mais pobres); outra, a de um recorte mais recente datado de Agosto que guardei e que traduzia os trabalhos preliminares deste relatório onde Portugal já era apresentado com o pior lugar europeu com valores do índice de Gini (0,353) próximos dos agora apresentados. E de pouco valerá, para quem pertence ao mundo de baixo, o facto de Portugal contrariar a tendência de aumento de fosso - ele é tão grande que levará vidas na aproximação...

Sabe-se: a diferença de rendimentos, a desigualdade entre os que têm muito e os que têm (terão?) muito pouco, é responsável pela falta de qualidade de vida como o demonstra o vídeo que deixo. Mas é tão evidente a sua responsabilidade na diferença dos resultados da vida que, num documento de trabalho intitulado "Endividamento e Desigualdades" realizado em Dezembro do ano passado e a pedido do Fundo Monetário Mundial (FMI), Michael Kumhof e Roman Rancière escreveram: 
"Restabelecer a igualdade redistribuindo os rendimentos dos ricos pelos pobres, não agradaria só aos Robin dos Bosques do mundo inteiro; poderia também poupar à economia mundial uma nova crise de grandes proporções"
Nos quinze minutos da TEDTalks, Richard Wilkinson - o investigador britânico co-autor, com Kate Pickett, de "O Espirito da Igualdade" - dá uma maior dimensão a esta ideia.


Desigualdade, o verdadeiro inimigo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Falar Claro

"Public information should be made public. This public means presenting, designing and structuring this information so that it is acessible, available, understandable and free." Richard Saul Wurman in Understanding USA
Falar e escrever em português claro e entendível é uma obrigação de quem tem a função de comunicar com os outros portugueses. Como sejam todos aqueles que devem ser publicamente compreendidos.

Percebendo os portugueses que devem - por ser um seu direito - exigir compreender. Exigindo que a linguagem técnico-especializada seja apenas para técnicos especialistas e que a linguagem destinada às cidadãs e cidadãos tenha a cidadania da compreensão.

Neste campo da comunicação a proposta da Sandra Fisher-Martins, uma militante do falar claro que pode ser vista no vídeo, é um bom princípio: falar e escrever como se fosse para a própria avó. Iniciando pelo mais importante, com frases curtas e palavras simples.

Para que não haja dúvidas - nem receios - sobre as vantagens da simplicidade e clareza, Sandra Fisher-Martins cita Einstein: "se não o consegues explicar de forma simples é porque não o compreendes suficientemente."

Pois é: o pretenciosismo de falar com palavras de libra desnecessárias, do uso também desnecessário de expressões estrangeiras não passa de um disfarce de ignorância. Dando-se ares.

Falar claro torna a vida mais fácil, alarga o acesso a oportunidades, permite compreensões e decisões mais adequadas, estabelece uma relação social menos estratificada. Enfim, alarga o direito de cidadania à visão republicana da sobreposição do direito ao privilégio.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A História com memória

O rebuscar displicente do sr. João Duque do salazarento "A Bem da Nação", incomodou-me. Menos talvez do que a votação idiota de melhor português, mas incomodou. Pior, irritou-me o ar doutoral da ignorância da História transformada em brejeira e descontextualizada provocação. E reciei, como ainda receio, a sequência no desplante de "tudo pela Nação, nada contra a Nação."

Valeu-me, no mesmo sítio - SIC - e logo de seguida a tê-lo visto, ligeiro, a analisar as dificuldades dos outros neste país de fossos abissais entre uns e outros, ter assistido à entrevista de Mário Soares. Um filme da história, uma lição de convicções, um cofre de memórias. Uma lição de republicanismo, de democracia, de valores humanistas e de direito democrático. De socialismo democrático. Aqui sim, a História na sua grandeza: republicana, laica e socialista.

Com a entrevista por fundo revisitei momentos inesquecíveis da participação que tive no MASP da sua primeira campanha presidencial e que o tornou no primeiro Presidente da Républica civil depois do 25 de Abril. Lembro-me, no dia da sua tomada de posse e ao vê-lo, das escadas de S.Bento, despreocupado do "passo certo" enquanto passava revista às tropas, de ter pensado: nunca mais teremos um Presidente militar. Era o princípio de uma outra República.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Diferença que distingue

Gosto de Futebol e, por sorte, já vi grandes jogos em grandes estádios europeus e segui muitos mais. Um deles, com muita pena, que não vi - guardo, para não esquecer a vitória e numa qualquer gaveta cá de casa, o bilhete do meu pai - foi o Benfica-Real Madrid de Amsterdam da final da Taça dos Campeões Europeus.

Mas não fui ao Benfica-Sporting. Porque não gosto do estúpido clima de guerra que destrói um jogo e tenho dificuldade em participar na jiga-joga de escoltas, demoras, incómodos. E conivência. Apesar de gostar que a minha equipa ganhe, pertenço ao mundo do rugby que se viu no último Mundial - camisolas diferentes a admirar a qualidade de uns e outros.

Sobre esta matéria, dos desacatos, das claques, da falta de cultura cívica, poderia falar, até do que penso sobre os mais diversos aspectos que mantêm o estado das coisas inalterável. Por razões que me parecem óbvias não farei os comentários que me apeteceriam. Mas deixo nota.

O Desporto tem a particularidade de exigir a suspensão - durante um período de tempo previamente conhecido - das regras que nos regem o quotidiano para as substituir por outras prévia e comummente acordadas e reconhecidas. Ou seja: aqueles que se encontram no espaço do campo desportivo tem como regimento um outro corpo de regras e comportamentos sem que isso envolva considerações cívicas negativas ou reprováveis.

Mas tudo isto termina no espaço limitado pelas linhas do campo desportivo e no tempo pré-determinado. Para os espectadores, claques ou não, a suspensão que o jogo desportivo exige não existe. Continuam sujeitos às regras, aos direitos e deveres. Às leis que regem o país democrático que somos.

E esta diferença - que parece ser muito difícil de perceber - faz a diferença.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Encontros Imaginários

Há dias fui a A Barraca ver um dos Encontros Imaginários do Helder Costa. Juntava á volta da sua mesa o Zé do Telhado - peça para a qual, há anos, desenhei o cartaz que deixo aqui - o Swift que inventou o Gulliver e o Maomé que acabou por ser dado como inventor destas estórias de ódio religioso.

Os diálogos são notáveis, a articulação - os pontos comuns encontrados pelo Helder - entre diferentes personagens de tempos distantes da História é inteligentemente contada. Vale a pena ir ao bar de A Barraca no Cinearte de Santos na primeira e terceira segundas-feiras e cada mês.

Com a nota que o Hélder me deixou não podia deixar de estar presente. E o Zé do Telhado, reconhecendo-me - em tempos teve que posar para mim a entrar pela janela - veio, simpaticamente, dar-me um colar de ouro. Roubado a uma Viscondessa, pareceu-me ouvi-lo dizer.

No Encontro tudo se passa com o á-vontade de quem parece conhecer-se há muito tempo - como se a pertença à História lhes desse um espaço comum que partilham há séculos.

De Helder Costa já conhecíamos o interesse sobre a História - aqueles "diálogos históricos" na televisão foram a demonstração pública desse interesse. Mas estes Encontros são melhores. Mais inteligentes, mais interessantes, mais dinâmicos. E com uma demonstração de cultura superior. Muito bom. A exigir presença e que, embora a dimensão esteja adequada à situação ao vivo, os diversos Encontros possam ser mostrados de novo com outra dimensão - a da televisão.  

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Só agora?

Li nos jornais: Angela Merkel vê perigos na crise para a Alemanha (in Público).

A sério?! a srª Merkel está preocupada com a crise que atravessa a Europa?! lembrou-se agora que é a malta dos preguiçosos, incapazes e etc. que lhes compra a maquinaria, os automóveis e os etc.?

Quer dizer: a srª Merkel ignora agora a superioridadezinha a que gosta de se dar ares, percebendo a relação entre as coisas que faz por entender como distintas? Ou está só a teatralizar a reposição de velha peça, fazendo de conta que não tem nada para contar, pagar ou justificar?!

Será que o fogo está a pegar-lhe na barra da saia?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Há caminho nos caminhos?

Dois documentos diferentes - um painel colocado numa rua em qualquer parte da Alemanha e uma entrevista televisiva de Gerard Celenta, director do Instituto Trend - apresentam um ponto comum: ambos mostram preocupações com os bancos.

Três pontos a reter: a preocupação Merkel/Sarkozi pelo salvamento da pele dos seus bancos e a definição de facismo ou a desmistificação do crescimento motu continuo de Celenta .


E nós por cá? De que lado estamos? Do lado da preocupação bancária? do lado das pessoas? Temos estratégia ou navegamos ao sabor da costa? Temos perspectiva ou os sacrifícios que fazemos não servirão para coisa alguma?

Pé de página
 [Os líderes europeus aceitam o estado das coisas como, nos anos 30, aceitaram o nazismo(...). Com as democracias confiscadas por Berlim, ele aí está, outra vez, à solta.]
Inês Sá Lopes, i

As últimas da Nina

Terminado o Campeonato do Mundo de Rugby - ganhou a Nova Zelândia - o mundo deixou de andar de pernas para o ar e os horários voltaram à normalidade. Sem as doses maciças de jogos a desoras - um jogo em directo vê-se por paixão, um jogo em diferido vê-se como ciência.

Levou algum tempo a recuperar hábitos mas agora a vida caseira parece a normal de sempre.

Normal é uma maneira de dizer porque com a total recuperação da resiliente Nina agora é a casa que anda de pernas para o ar. Estupenda depois da notável luta pela sobrevivência a Nina não pára. Mete-se com o Percy e o Knight como se eles fossem irmãos de ninhada - passa por eles, provoca-os, salta-lhes por cima, dá-lhes ligeiras palmadas, mordidelas, desafia-os para corridas. Enfim, brinca, luta, salta, rouba-lhes comida. E eles com uma paciência de santo vão-na deixando...com um ou outro bufo para garantir o respeito.

A Nina é uma agitada permanente - se os apanha a dormir não descansa sem que os acorde - e tem uma agilidade extraordinária - consegue, em saltos consecutivos e com enorme facilidade, agarrar com as duas mãos as pontas dos fios dos estores que pairam - medi, claro - a 94 cm do chão. E é também muito inteligente: nas lutas terríveis que faz com as palhinhas que transforma em inimigo preferido e sempre que escapam por baixo de qualquer porta sabe ir à volta para continuar a batalha. E está com um pelo lindo.

Quer um, quer outro - o Percy e o Knight - tiveram que desistir de alguns dos seus lugares preferidos porque a Nina não descansou enquanto não os ocupou. Mas curiosamente, agora!, raras vezes se zangam. Devem ter chegado à conclusão que a melhor táctica, para melhor sossego, era a de cederem terreno.

Parece evidente que a Nina vai ficar cá por casa - situação que se tornava cada vez mais clara à medida da luta pela sobrevivência que vivemos com ela... mas mantemos a esperança que ela desista das correrias madrugada fora.

sábado, 8 de outubro de 2011

Steve Jobs, 1955-2011


"Muitas vezes as pessoas não sabem aquilo que querem até lhes mostrarmos" 
a partir da criação de Jonathan Mak
 Com os i a minha vida, o meu dia-a-dia, ficou mais fácil. Os de muita gente ficaram mais fáceis. O Mundo ficou diferente - e todos acabámos por beneficiar da sua capacidade de inovar e integrar. Pessoalmente, agradeço-lhe o que me tem proporcionado. A sua memória fica connosco, a sua influência marcará o futuro de gerações.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Conquistas da Nina


A cama que a Nina se arranjou 


















...deixa-se enrolar nas brincadeiras...
 Nina está cada vez melhor e já conquistou o Knight que, com uma paciência de irmão mais velho lhe atura todas as tropelias - que não são poucas...não pára, morde-o, salta por cima dele, dá-lhe patadas e ele na sua superioridade negra deixa enrolar nas brincadeiras, corre corredor fora, mostrando-lhe, volta-não-volta e sempre com uma calma desconcertante, que ele é mais velho e quer respeitinho.São muito engraçados juntos.

Uma acelerada, não tem travões, diz a Ana e quase pede desculpa ao Knight pelo abuso que é obrigá-lo a aturá-la.


...mais velho e quer respeitinho
Quem não acha grande graça a esta agitação é o Percy - o mais velho da casa que, com aquele ar calimério dos momentos graves de não vá o mundo cair-lhe cabeça abaixo, não está interessado em quaisquer negociações. Olha distante, mostra a sua capacidade de bufo, deixa-se ficar ou retira-se com ar de desprezo pelo pingente - e para mostrar o desagrado, grunhe à Ana para, se ela lhe fala carinhosamente, lhe piscar os olhos a seguir. E mostra ao Knight que ele é o principal da casa...

Os dois feitios diferentes do Percy e Knight mostram-se em cada passo da presença da Nina: curioso o Knight, mal ela se afasta, vai ver qual a nova aventura, qual o esconderijo onde ela lhe prepara o assalto; desconfiado e cuidadoso o Percy mostra pretender que não quer proximidades - que está bem mas à distância - nada de abusos...

Assim parece: a Nina está em grande, recuperou totalmente.

Agora é aturar-lhe as brincadeiras... e ouvir os ralhetes que a Ana lhe dá e os miados roucos do Knight a chama-lá.
[fotos da Ana e minhas de telemóvel]   

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A resiliente ganhou

A Nina parece que recuperou totalmente - aumentou substancialmente de peso e tem uma actividade que roça o hiper. Foi de novo à veterinária que se mostrou muito optimista, achando que é possível começar a apresentá-la ao Percy ao Knight.

E aqui começa a agitação maior. Bufos a definir hierarquias, mostras de domínio territorial. Enfim, gestos a mostrar quem é quem, quem manda. E a Ana, com paciência de Job, vai-os apresentando, trás a Nina na transportadora até à sala e procura que se vejam, tentando sempre garantir que não haverá mal maior. Vai deixando objectos com cheiro dela para habituar. E fala com o Percy - que nem sempre lhe acha graça ao discurso, mostrando-se mesmo irritado - a explicar-lhe que não haverá perda de privilégios. O Knight, menos preocupado, deixa -se levar pela curiosidade e continua a a espreitar a novidade sempre que pode. Depois destas visitas a Nina é trazida de novo para os seus aposentos e o sossego nota-se: o cansaço da descida da adrenalina ganha e dorme num dos seus lugares favoritos - já criou alguns...

A Nina mostra-se cada vez mais viva e atrevida. E muito curiosa. Já se entretém com caçadas a tudo que lhe parece um terrível  inimigo.

Enfim, parece que com a sua notável resiliência, ultrapassou definitivamente o início de vida difícil que teve. Agora é assistir ao crescimento e divertir-mo-nos com as fases de criação de relações com o Percy e o Knight.

O capítulo da dúvida mostra-se encerrado.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

De novo a Nina

O atento Knight
foto telemóvel jpb
Com o apoio - e o mimo - da Ana e a constante atenção do Knight, a Nina tem-se aguentado na sua recuperação estipulada para trinta dias a antibiótico. Nos dias de bem-estar vive alegremente, salta - e como saltam os gatos (esta minorca salta para cima de objectos com 4/5 vezes o tamanho dela...) - trepa pelo cilindro de cordas onde se equilibra esbracejando por comida.

Ás vezes tem recaídas - aparentes, porque se trata apenas de mudança de comida. Alterada a ração, come alarvemente, pede mais e depois - ao colo da Ana, claro! - arrota como um bébé. E corre, salta, finta, esconde-se... não pára!

Mas continua isolada numa sala e sem poder, até que se saibam mais resultados de análises (um parasita que as pulgas lhe terão deixado, diz-se...) contactar com os outros gatos.

O Percy e o Knight andam naturalmente perturbados - ambos já perceberam a existência da Nina - mas não percebem porque não têm direito aos movimentos de sempre. E a casa tem uma agitação que não é comum  - como se não bastassem as trasmissões directas a desoras do Mundial de Rugby - e que não garante o sossego habitual. O que aumenta preocupações...

Habilidades circenses
foto telemóvel Ana
O Percy mostrou a sua segurança - nada costume - e quando viu a Nina através do vidro, bufou-lhe, deu meia-volta e, de rabo no ar - ufano, mesmo - voltou para a sala, deitou-se e dormiu. O Knight, não - farta-se de aproveitar cada momento para ver a Nina através do vidro da porta e mostra-se muito interessado.

Começa a faltar-nos paciência para manter a quarentena da Nina mas temos que garantir um mínimo de regras de segurança em relação ao Percy e Knight.  Amanhã nova visita ao veterinário para ver o que dizem novas análises - tenho bastante curiosidade em saber a opinião veterinária sobre o seu aspecto. Aparentemente parece curada, aparentemente parece capaz de enfrentar a vida apenas com os nossos cuidados normais. Mas as aparências...

Mas que a meNINA é resiliente, é! E uma querida. E mostra-nos mais uma vez a excelência deste notáveis animais. Uns companheiros - umas vezes tão sossegados e dependentes como outras de uma independência invulgar, muito senhores dos seus bigodes e capazes das maiores e mais notáveis habilidades felinas. E sempre, sempre, alheios a qualquer ordem, mas dando sempre mostras de uma enorme confiança nos seus cuidadores.


Percy a garantir companhia
foto telemóvel jpb










[o Percy dorme todo esticado com parte do corpo em cima do computador onde escrevo - e se o tiro, volta.]  


domingo, 11 de setembro de 2011

Novas da Nina da Ria Formosa

Não tem sido fácil o princípio de vida da pequena Nina da Ria Formosa.

Já tínhamos percebido que a lesão no ombro, deslocado ou mesmo partido, não era mais do que o resultado da selvajaria de ter sido agarrada pela perna e lançada para longe. No dia seguinte à volta do refúgio de Olhão a Nina apareceu com um febrão de 40º - vírus eventualmente apanhado de gatos mais velhos, pensámos - e voltámos à veterinária Sarah. Mais antibiótico, mais injecções. Medicada dormiu aos cuidados da Ana mas de manhã ardia de novo em febre. Comia mal e bebia pouco e a drª Sarah propôs-se ficar com ela durante a noite para a colocar a soro e a monitorizar – ela e o namorado, gente boa, foram-se revezando na vigília. Pelo telefone íamos sabendo das reacções. e de manhã fomos informados que a febre tinha, finalmente, cedido e diminuído. Fomos buscá-la para, em carros diferentes do Percy e Knight, a trazermos para Lisboa.

Rearranjo das coisas cá em casa com a Nina num quarto isolada e as desconfianças dos outros dois que não percebiam a redução do espaço. No entanto a febre da Nina não baixava e continuava a comer pouco. O antibiótico, cuspia-o. Voltámos ao veterinário de quem somos clientes habituais. Mais antibiótico, mais injecções e a Nina, com todo o stress da cena, a cair redonda de sono na marquesa do consultório enquanto se anotavam os conselhos.

Nos momentos em que se sente melhor a Nina é um desassossego: salta, brinca, fala, sobe – com habilidade rara – ao tronco de corda para se equilibrar, em actividade circense, na diminuta plataforma. Aconchega-se no colo da Ana, trepa-a e olha curiosa para todo o lado. Esperta menina. Sempre de enorme simpatia e a mostrar-se agradecida, dá-nos esperança de que haverá de recuperar. Resiliente, a menina. Uma lutadora. Uma sobrevivente. Depois de tudo o que passou, não se abandona.

Nesses momentos a nossa esperança aumenta. Mas depois vem de novo o ciclo do aumento da febre e de não comer. A Ana, nas experiências que vai fazendo, lembrou-se de lhe fazer uma canja: como qualquer miúdo começou por comer a carne do frango e só depois o arroz. E comeu uma pratada. A coisa compunha-se, a Nina melhorava, a febre descia. Mas ainda não era altura para distracções.

Ontem, sábado, estava de novo caída, com o nariz seco, sem querer comer. Fomos ao Hospital Veterinário da Estefânia – durante a noite já tínhamos feito uma consulta telefónica – e passámos lá uma boa parte da tarde (só vi o último quarto-de-hora do Benfica…) – em análises, injecções, mais isto, mais aquilo. A Nina portou-se, apesar de alguns gritos de dor, como um heroína, aguentou com tudo. Ela é, aliás, muito lutadora, não está para desistências, reage sempre e sempre que pode dá nota da vontade de viver – não nos deixa desanimar.

Hoje o dia começou melhor. A Nina estava bem disposta – os remédios para o estômago fizeram o seu trabalho e a anemia detectada começou a diminuir – subia por onde podia e não tinha febre. Conforme combinado voltámos ao Hospital para controlo. Tudo parece estar no caminho da melhoria. A Ana vai-lhe dando todo o ânimo que pode e a pequeNINA gata parece compreender e mostra-se agradecida. É uma querida! E tremenda lutadora. Vai sobreviver.

[Acrescento]

11/9 – ainda hoje, apesar de dez anos depois e do distanciamento que as imagens televisivas permitem, não consigo deixar de ter uma profunda revolta de indignação perante o fanatismo gratuito que provocou a queda das torres e a morte de pessoas alheias às pretensas questões. Nada – religião, política, seja o que for – justifica a estupidez da decisão dos alqueidas.

[Cippolli tem toda a razão quando avisa que um estúpido é muito mais perigoso que um bandido.]

sábado, 3 de setembro de 2011

Aventuras da Nina da Ria Formosa

Nina da Ria Formosa

À saída da praia, no limite da Ria Formosa mais próximo de Manta Rota, ouvimos miados que traduziam uma enorme ansiedade senão mesmo desespero. No meio das plantas aquáticas próximas de um caneiro encontrámos um gatito de poucas semanas de vida. Miando sempre, deixou-se apanhar com facilidade. Esperámos, uma boa meia-hora, pela possibilidade de resposta da mãe enquanto os movimentos do gatinho traduziam uma demonstração evidente de fome.

De resposta, nada. Era óbvio: fora, de acordo com os costumes locais, abandonado – o Percy que trouxemos há anos cá para casa também tinha sido abandonado – mas em local de impossível sobrevivência (se é que não escapou a um afogamento colectivo…). Ele há gentes…etc. e tal é o primeiro pensamento de repúdio e revolta – fazendo-nos esquecer que em parte alguma, escola incluída, existe qualquer preocupação para ensinar os princípios básicos para lidar com os animais que, como cães e gatos, nos são mais próximos. Nomeadamente no que diz respeito a cuidados elementares e necessidades de esterilizações… e assim nascem aos magotes com os resultados que se conhecem de abandonos, mortes por afogamento, transmissão de doenças, etc., etc.
Com uma caixa improvisada com coisas que sempre há nas malas de um carro em tempo de férias, resolvemos trazê-lo connosco – com dois gatarrões em casa a sua colocação não iria ser fácil… mas haveríamos de encontrar solução.















Meia-dúzia de telefonemas depois, a Ana conseguiu estabelecer uma rede que nos levou até à presidente de uma associação de defesa dos direitos dos animais em Tavira que nos indicou um abrigo de Olhão pertencente à ADAPO e capaz de o receber. Achamos melhor consultar um veterinário e deram-nos o contacto de uma veterinária irlandesa – dr.ª Sarah – que vive na área do Vale da Asseca. Novo telefonema e apareceu, sem qualquer problema, de imediato: eram dez da noite.

E foi então que percebemos que o gatinho era uma gata!

A drª Sarah em acção














Depois de algumas injecções, de tentar perceber o que poderia impedi-la de mexer bem uma pata, conseguimos instalá-la. Estava morta de fome, comeu tudo o que lhe demos e foi alimentada de quatro em quatro horas.

Conforme o combinado fomos, no dia seguinte, levá-la à associação de Olhão onde ficaria até aparecer alguém que a adoptasse. A viagem correu bem e, percebi, a ligação com a Ana era cada vez maior. Não sem alguma tristeza, deixámo-la na associação, deixando também o seu nome: Nina da Ria Formosa. E a esperança que a sua resiliência lhe permitisse a adaptação necessária à sobrevivência no meio de uma trintena de gatos, todos eles, comparativamente, enormes.

A Ana estava inconformada. Apesar da boa vontade evidente – por tão pequenina a coordenadora do abrigo levou-a para sua casa nessa noite - da preocupação em garantir meios de sobrevivência aos gatos, o local estava sobrelotado para a dimensão das instalações. Passou o resto do dia a fazer telefonemas, procurando entre amigos e conhecidos quem poderia ficar com a Nina. Encontrada guarida, voltámos a Olhão para a buscar.

Na volta, novo encontro e nova consulta com a dr.ª Sarah – só fala inglês (por enquanto diz ela). Detectado um surto de febre, mais injecções e mais pastilhas, melhor conhecimento da lesão na pata e aí está a Nina, de novo instalada em melhores condições, à espera que a levemos para Lisboa enquanto que o Percy e o Knight se mostram desconfiados com algum esquecimento a que ficaram sujeitos nestes três dias.

Nota: Numa ironia sobre impossibilidades, Desmond Morris deu como exemplo a improvável (ou até ridícula) relação gatos/jogadores de rugby. Claramente Morris não sabe nada de rugby e não terá grandes conhecimentos sobre estes felinos da nossa proximidade.
fotos jpb de telemóvel




domingo, 28 de agosto de 2011

Coisas de verão

Constatação
em Portugal não há ricos
Evidências
ir à praia sem dar um mergulho no mar é desperdíçar tempo
         corolário
se não é para dar um mergulho não se vai à praia
Certezas
pode-se olhar para o mar com qualquer tempo

sábado, 13 de agosto de 2011

Melros satisfeitos

Pelo ar com que os meus gatos estão a ir à varanda – majestáticos, cauda no ar, olhar a disfarçar intenções – percebi logo que alguma coisa tinha mudado. Os melros do logradouro do meu quarteirão andam satisfeitos da vida, cantam mais e chamam-se mais vezes. Sabedores de que já não podem mais ser caçados – eles e os meus gatos sabem bem, uns e outros, que o ar de caçadores e caçados não passa, entre eles, de um faz-de-conta para manter aparências: ninguém caçará ninguém – uns porque não voam, outros porque têm o cuidado de pousar a boa distância de segurança – os melros, agora passados à categoria de ex-condenados à morte, mostram-nos a sua satisfação.

Como sócio da SPEA lembro e agradeço o excelente trabalho que a Sociedade fez na denúncia da prepotente estupidez de permitir a abertura da caça aos melros (ver o que então escrevi) e – tenho obrigação disso – agradeço também ao actual Secretário de Estado, Daniel Campelo, a inteligência de os (nos) ter ouvido.

Nota: o uso do possessivo é um mero costume de linguagem. Dos gatos, a Ana e eu, somos apenas cuidadores como temos definido nos Bilhete de Identificação de Gato de Estimação de cada um deles; do quarteirão somos algumas dezenas – no mínimo – que desfrutamos da vista e gozamos do canto dos melros também residentes.

domingo, 31 de julho de 2011

Rico mais rico

A minoria dos portugueses mais ricos ficou, de acordo com o que podemos ler e ouvir na comunicação social, ainda mais rico, numa demonstração prática da Lei de Pareto - vinte por cento ficam com tudo e oitenta por cento pagam-no. E assim será sempre se não forem encontradas formas de regulação eficientes e que possam encontrar outra aplicação de Pareto que garanta a descoberta de vinte por cento de coisas que possam impôr uma distribuição de riqueza mais equitativa.

Porque, pelo caminho desta coisa dos ricos continuarem cada vez mais ricos, só há uma certeza: nós ficaremos cada vez pior e com pobres cada vez mais pobres. Assim reza a lei do equilíbrio da crise: todos mais pobres e ricos muito mais ricos. E a tese de Pareto, por optimista, desfaz-se numa proporção de cauda cada vez mais longa.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Arquitecturas

irmãos Aires Mateus, Centro de Artes de Sines

domingo, 24 de julho de 2011

A solidariedade é não permitir

A extrema-direita é extrema-direita! É violência, intolerância, racismo, imposição, liquidação de direitos e valores civilizacionais e tudo o mais que a História nos ensina.

Julgar que existe essa coisa de extrema direita mais pacífica ou mais política é, ignorando as lições da História, ignorar a sua génese - o porquê da sua existência - e deixar-se ficar pela ingenuidade de julgar impossível aquilo que nunca seríamos capazes. A distracção sobre a extrema-direita e seus derivados tem consequências graves. Muito graves. A democracia, os valores humanistas que nos formam e a memória da História que nos construiu, não podem dar-se a esse luxo. Porque acordar tarde de mais pode ser muito perigoso.

A única solidariedade possível com os noruegueses assassinados - neste momento de expressão de todas as mágoas - é garantir que a nossa Europa não permitirá qualquer outra repetição. Em nenhuma circunstância.

O ovo da Serpente

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Paulo Morais

Ou seja e como é óbvio: se pretendemos alterar alguma coisa neste país – nomeadamente se pretendemos combater a corrupção - é obrigatório começar por alterar as leis e o seu emaranhado.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

leisLeisleis

Produção Legislativa em Portugal é "terceiro mundista".

A frase fez título do Jornal de Negócios que se baseia no conceito citado de um especialista em direito administrativo.

E se assim é definida por um especialista a produção das leis com que vivemos, vejam bem como se sentirá o comum dos cidadãos quando tem de se confrontar profissionalmente com este emaranhado... eu torço-me!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Primeira medalha olímpica Londres 2012

O José Carlos Cruz e o filho António – meu sobrinho – ganharam, juntamente com a Inês Guedes e o Miguel Santos, o concurso internacional de ideias para um Posto de Informação dos Jogos Olímpicos de Londres de 2012 na Trafalgar Square.

Partindo do conceito dos anéis olímpicos tiraram partido da diferença dos planos da praça para com uma ligeira inclinação mostrar as cinco cores – cada uma representa um continente - e estabelecer, com subtileza, o clima concordante com o fim em vista. Um excelente ponto de partida para relacionar a escala dos espaços circulares protegidos – será uma construção efémera – com a marcante escala envolvente. Fazendo-se notar sem interferir.

A fusão espacial conseguida com o recurso ao aço polido que constrói os elementos circulares confunde o aqui e o ali num ambiente que – dada a festa olímpica – se pretende feérico mas, como todo o domínio british classic que se preza, sem perder a compostura. Muito interessante, inteligente e culto e mais uma vez a demonstração do excelente nível internacional da arquitectura portuguesa.

[não resisto: há dias fui jantar ao restaurante Darwin na Fundação Champalimaud e de novo dei por mim a pensar: com a qualidade da arquitectura portuguesa qual a necessidade de procurar um estrangeiro que, nada mostrando compreender do espírito do lugar, parece aí ter colocado um edifício que tinha outro local por destino?…]

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sanfermines

Nos encierros de San Fermín os Miura correm sempre ao domingo: porque são nobres e há muita gente – cerca de 3500 para oitocentos metros de corrida entre o curral de Santo Domingo e a Monumental de Pamplona.
Durante uma semana todos os dias às locais 7 da manhã estala o foguete e os seis touros lançam-se na corrida acompanhados pelos mansos que os enquadram. Na frente, ao lado, atrás, os corredores – gente de todas as idades e de ambos os sexos que quer experimentar a sensação de correr à frente de um touro. Tem consciência que pode morrer? é a pergunta dos panfletos que distribuem por toda a cidade – e podem. Mas as calles estão cheias, tão cheias nalguns dias que não se percebe como correm sem ver os touros, escondidos atrás da mole de gente aos encontrões para fugir às pontas das hastes.

À medida que as ruas se vão enchendo e que as guardianas – mãe e filha que durante o ano têm a figura do santo no vestíbulo de sua casa – colocam a estátua no nicho tradicional da cuesta de Santo Domingo, uma tranquila tensão marca o tempo dos três cânticos que lhe pedem protecção.

Há, na suspensão do tempo, um misto de loucura e fé, de crença, em cada manhã da feira. E a crescente tensão, de tão tranquila parece não deixar outra hipótese que não seja a obrigação de estar ali e esperar que a sorte das coisas nos proteja – que Deus nos guarde parecem traduzir os mais conhecedores. Os outros, capazes de todo o disparate, alienados no ambiente envolvente, nem percebem que precisam de protecção – San Fermín, sem olhar a quem, distribui passes do seu capotino permitindo as tangentes milimétricas num toureio miraculoso.

Nem se compreende como não há mais feridos, mortes até: são encontrões na procura dos huecos – intervalos entre as cabeças dos touros - quedas em montóns, pisotóns, cornadas, numa corrida espectacular, de grande emoción, com as velocidades garantidas pela equipa de pastores – o recorde 2011 foi de 2 minutos e onze segundos de curral a curral para toda a manada – e que não permite distracções: De mozos (as) a touros. Durante a corrida é o silêncio dos comentadores televisivos, o silêncio dos momentos graves com os mozos corredores, no centro da rua, a safarem, porque se fazem à atenção dos touros, os que, cozidos às paredes, nem sonham o alvo que podem ser.

Mas há quem saiba muito, correndo na frente dos touros, adequando a velocidade, usando o jornal para controlar, saindo no tempo de deixar o percurso a outro – qué bién, ouve-se - fazendo corridas que vão durar nas memórias.

No final, a televisão dá a estatística dos feridos – o quê e onde. Antes da largada apresentam-nos as estatísticas das outras passagens do ferro por Pamplona: melhor e pior tempo, média de cornadas e de feridos por corrida. E claro, pesos e nomes de cada touro. Tudo organizado num suporte dedicado e orgulhoso das suas festas de San Fermín.

Em Pamplona toda a organização se subordina à menorização do risco. Há regras a cumprir e truques de segurança – nem o lenço nem a cinta devem ser presos de tal maneira que um corno possa prender e arrastar o corredor. As festas de Pamplona têm um rigoroso ritual, tudo tem uma ordem e um protocolo: os vereadores municipais fazem o percurso a garantir que tudo está conforme; polícias municipais impõem a ordem da ocupação dos espaços já limpos pelas equipas de serviço da sujidade dos delírios nocturnos; no hospital tudo está a postos para receber feridos que fazem a primeira triagem na própria rua ou nos diversos postos espalhados ao longo do percurso. Os fotógrafos ocupam, com máquinas a disparar por controlo remoto, os lugares – com a curva Mercaderes à frente - que garantam as fotografias que vão viajar pelo mundo a mostrar a diferença deste espaço de risco gratuito mas de festa. De enorme festa!

Nas casas com varandas os alugadores tomam o pequeno-almoço com os moradores e veem o encierro na privilegiada posição de se assustarem apenas com o perigo dos outros.

O vermelho domina sobre o branco da vestimenta tradicional – embora haja camisolas de clubes de futebol ou rugby – e o espírito de Hemingway tem presença permanente.

Menos grave do que se esperava é o alívio final de cada encierro. Durante uma semana Pamplona não dorme nem descansa, vive. E despede-se num mar vermelho a encher a praça do Município e a cantar Pobre de mí, pobre de mí, que se han acabado las fiestas de San Fermín. Na certeza que Ya falta menos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Do murro

O literal murro no estômago só pode vir de um amigo: porque nos pusemos a jeito, porque o deixámos chegar próximo.

A minha avó, galesa, celta a quem a cultura anglo-saxónica deu um enorme pragmatismo, disse-nos um dia: never trust a friend. No chocado Ó avó… ainda não tínhamos percebido que apenas nos ensinava a vida. Que o perigo vem sempre dos traidores em quem confiámos.

Hoje e por aí, parece que houve quem acordasse para esta realidade (foram surpreendidos pelos amigos… queriam ser próximos, puseram-se a jeito e na troca … pum!). Porque é assim:

as gentes dos interesses não se prendem com amigos

Fora do Tempo: há Amigos, mas são outra coisa: procuram-se de candeia.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Saber dizer

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Lixo?!

domingo, 3 de julho de 2011

Os trabalhos do Gonçalo Byrne

Ouvi o Gonçalo Byrne na conferência da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva integrada no ciclo Do Conceito à Obra - uma organização da Estratégia Urbana sob a batuta do Nuno Sampaio.

Foi muito interessante e uma excelente lição sobre aquilo que eu entendo – ou seja: no significado que lhe dou – por espírito do lugar: sistema complexo de ligação de elementos tangíveis e intangíveis de um local e que admite e impõe a interpretação pessoal qualificada (dois arquitectos diferentes interpretam e desenham de forma diferente o mesmo programa para um mesmo local). Como exemplo a valer a conferência, o recente trabalho para o espaço mágico, misterioso e pousado na água de Veneza.

Aí, Byrne foi descobrir – num processo cultural de grande perspicácia analítica – uma síntese notavelmente contemporânea – lembrei-me da frase já aqui citada do italiano Francesco Dal Co a propósito da intervenção de Souto Moura em Portalegre - de elementos localmente relacionáveis pela vida quotidiana veneziana.

Pela primeira vez há a possibilidade de existir um edifício em Veneza sem o cumprimento regulamentar de telha na cobertura – porque a cobertura torna-se num espaço de passeio, num jardim, com jogos de terraços para deixar deslizar o olhar sobre o híbrido jogo dos telhados venezianos, permitindo fazer descobrir ao visitante aquilo que é previlégio particular dos iniciados.

Corto Maltese nas telhas de Veneza - Hugo Pratt
Disse-lhe no fim: Hugo Pratt iria gostar e deixaria Corto Maltese – como já o havia feito telhas fora - passear nesses teus jardins entre o suspenso e o suportado e a percorrerem o espírito dos espaços de ligação que articulam os acessos nos interiores dos edifícios.

Que esta arquitectura ganhe o edifício.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Nós também...

Alexandre Quintanilha
Nós também...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Leviandade legislativa

No logradouro do quarteirão onde vivo há um casal de melros residente. Julgámos – gostámos de julgar na dúvida que sempre nos segue na falta de anilhas comprovativas - que são os mesmos de sempre.

Estando lá sempre, cantam, chamam um pelo outro e fazem que os meus gatos se mostrem os felinos predadores que sempre foram. Uns e outros fazem o seu número sabendo, bem lá no fundo, que nada vai acontecer a uns ou a outros – nem uns caçam, nem os outros se deixam caçar. Há sempre um mundo de obstáculos inultrapassáveis a separá-los.

Agora temo que possam desaparecer. Porque um idiota permitiu que possam ser tidos por caça – situação que, não sendo possível há mais de vinte anos, é hoje simplesmente, intolerável.

Como se não bastasse a incompetência  que dá forma ao documento legal, junta-se o disparate da sua extensão por três épocas, as ilegalidades que violam a Directiva Aves da União Europeia, o desrespeito pela tempo de criação ou pela autorização do uso do chumbo em zonas húmidas, mantendo ainda a autorização de caça  – não consigo entender as razões, o gozo possível ou a habilidade do disparo  – ao estorninho malhado (sturnus vulgaris) que, para além de estar em regressão, constitui um dos mais notáveis espectáculos de voo em grupo – com séries, aparentemente espontâneas, de tomadas de decisão nas alterações momentâneas do comando que me levam sempre a olhá-los como possíveis modelos de organização dos movimentos nos desportos colectivos e aprender muito, pelas adaptações possíveis, com os estudos que, sobre eles, vou lendo.

                                                     bando de estorninhos em voo
Agora que há novo Governo empossado, espero a anulação da Portaria em causa – a 147/2011 – e que sejam repostas as coisas de acordo com a civilidade e rigor de que estes aspectos se devem revestir.

(registo de interesse: sou sócio da Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves – SPEA)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

É tão evidente assim?

Foto telemóvel, Lisboa

Culturas


Por isso a culpa, sendo virgem, morre solteira.

domingo, 26 de junho de 2011

Perversidades

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Desperta no Desporto

Com o titulo Estas crianças ganharam o direito a sonhar e a fotografia das três atiradoras da sala de Armas da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar na capa, a Pública deu a conhecer um projecto que, com base na actividade desportiva, tem permitido aos miúdos dos bairros das freguesias da Apelação, Camarate e Sacavém o conhecimento de outras realidades, a relacionamento com miúdos com outras formas de vida e outras experiências, a abertura de novos horizontes que ultrapassem os limites do bairro ou as fronteiras de alguns passeios, numa verdadeira demonstração de primeiros passos da integração social desejada.

Este programa Desperta no Desporto [ver referência anterior] da responsabilidade do Governo Civil de Lisboa em parceria com a Câmara de Loures teve no próprio Governador - António Galamba - e no seu adjunto Rafael Lucas Pereira  os iniciadores e dinamizadores da ideia que conta no seu universo com diversas pessoas para garantir a sua sustentabilidade. Os resultados estão à vista, as alterações comportamentais são evidentes, o respeito e a disciplina ganham corpo no novo social onde se movem e o projecto abre um caminho exemplar a ser multiplicado por novas experiências. E o Desporto a mostrar todo o seu potencial de relacionamento, de inserção e de escola de aprendizagem e treino da vida e das suas coisas.

Podia este programa ser realizado noutra área? poder, podia... mas não com a mesma capacidade positiva da relação atração/benefício. Porque o Desporto mostra de imediato um conjunto de valores que, quando apreendidos, alteram o modo e as relações da vida de cada um. Assim: igualdade de oportunidades numa mesma equipa, o mérito como evidência, o respeito e a ética do compromisso no cumprimento das regras de jogo, as camisolas como única cor separadora, o erro como forma de progresso, o grupo, a equipa, como meio para chegar mais longe, os objectivos a construirem os caminhos a prosseguir. A integração de diferentes capacidades, de diferentes tarefas num todo que se pretende superior à soma das partes garante o fermento para a compreensão das novas perspectivas que pareciam nem aos sonhos pertencerem.

Como diz, e cito da reportagem o treinador de Rugby do CDUL, Paulo Murinello: não me interesssa de onde vêm, só para onde querem ir. 

Senhor da Pedra ao fundo

Da Foz do Douro

segunda-feira, 20 de junho de 2011

República

Afinal...

Primeiro foi o filme Inside Job de Charles Ferguson a que já me referi [ver aqui] e que existe por aí em DVD. Explicava tudo e, pelos vistos, terá sido visto pelos que já sabiam e por outros que, com a crença dos incrédulos, se julgavam num Série B. Houve então, pouca ou nenhuma transladação crítica e fomo-nos ficando pela adesão aos odes e perorações da fama dos quinze minutos dos especialistas do rectângulo – e ele há cada um…

O Expresso publicou, em Abril passado, uma entrevista a Robert Fishman – americano, professor universitário, estudioso das implicações do euro sobre os países ibéricos. E que vem dizer, como já tinha dito em artigo publicado dias antes no The New York Times e que também aqui referi [ver aqui], que Portugal foi vítima dos especuladores e das agências de rating – bem como do Banco Central Europeu. Dizia então ele: Não concordo com a ideia de que esta crise tenha sido criada pelos políticos portugueses.

Pelo visto – quem viu, viu; quem não viu, visse! citando o grande nº10, António Oliveira - na última Quadratura do Círculo, Lobo Xavier também não acredita e veio lembrar as enormes dificuldades da situação – e da nova governação, pois claro! –– porque a intervenção seria muito limitada porque a troika isto e aquilo e etc. e tal e que estaríamos dependentes de factores exógenos e não de nós próprios. De factores exógenos, ouvi.

Embora de justificação interesseira este alargamento ao global da vista da crise – dominada por factores que nos são exógenos como ouvi - constitui um alívio por se saber que, afinal e mesmo para quem sempre referiu as culpabilidades internas absolutas, pesem os erros, os desacertos, a falta de explicações, mesmo o distanciamento ou algum desfoque na visão, a culpa, A CULPA! da actual situação de penúria em que nos encontrámos, não será do Sócrates. Ó alívio…e assim também não poderá ser de mais ninguém. É da vida, portanto!

Mas é de alguém e convém aprender a lição. Os mãozinhas invisíveis, os especuladores, os agiotas mesmo, detestam a regulação, detestam que haja Estados que possam intervir na libertinagem do mercado, detestam a esquerda, detestam países como Portugal que são governadas com conceitos políticos que, mesmo num intervalo centrista, exigem a intervenção reguladora do Estado. É um facto: os especuladores e suas mãozitas armadas odeiam Portugal – e por isso resolveram atacá-lo. Com o beneplácito de muitos, incluindo óbvias – com os interesses imediatistas da Alemanha à frente –  incapacidades europeias, truculência do Banco Central, inépcia da Comissão, malta ingenuamente a dormir e o que mais se saberá.

Então?! e como é que se resolve? antes do mais: não caindo na esparrela de impedir a regulação; depois – e como parece estar a ser feito – torcendo e ajudando como possível a que seja alterado o estatuto de opinadores, detido pelos agentes de rating, para peritos e aí, caindo no quadrante que Cipolla designa de bandidos [ver aqui], passarem a ter que responder criminalmente, mudado que fica o estatuto da liberdade de expressão, pelos seus actos (não fugindo mais ás acções judiciais que, inclusive por portugueses, têm sido colocadas em tribunais). A outra forma é que a Europa e os seus povos percebam a absoluta necessidade da regulação, acabando com o apoio aos mitos liberais das pretensas felicidades, dos bem-estares de devaneio, da visão do mundo focada apenas no interesse dos poderosos. Mantendo a razoabilidade dos valores da solidariedade, da igualdade e da liberdade…

… e esperando que os exógenos, os interesses de agiotas e especuladores, agentes e outros tratantes - lembrei-me de Gil Vicente - não façam cair a Grécia e estraguem mais do que já fizeram… porque ao estrago não haverá novo Governo que nos valha…

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da Justiça

 Naquilo que me parece marcar uma excelente diferença entre moral e moralice cito de um acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra - juízes Alice Santos e Belmiro Andrade - e lembrado pelo Francisco Teixeira da Mota:

E para que se perceba – apesar de momentos heróicos como o anteriormente citado - o longo caminho que falta percorrer à nossa Justiça, cito, de ouvido numa intervenção política na CNN, conceito atribuído a Thomas Jefferson, 3º Presidente (1801-1809) dos Estados Unidos:



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