quarta-feira, 29 de junho de 2011

Leviandade legislativa

No logradouro do quarteirão onde vivo há um casal de melros residente. Julgámos – gostámos de julgar na dúvida que sempre nos segue na falta de anilhas comprovativas - que são os mesmos de sempre.

Estando lá sempre, cantam, chamam um pelo outro e fazem que os meus gatos se mostrem os felinos predadores que sempre foram. Uns e outros fazem o seu número sabendo, bem lá no fundo, que nada vai acontecer a uns ou a outros – nem uns caçam, nem os outros se deixam caçar. Há sempre um mundo de obstáculos inultrapassáveis a separá-los.

Agora temo que possam desaparecer. Porque um idiota permitiu que possam ser tidos por caça – situação que, não sendo possível há mais de vinte anos, é hoje simplesmente, intolerável.

Como se não bastasse a incompetência  que dá forma ao documento legal, junta-se o disparate da sua extensão por três épocas, as ilegalidades que violam a Directiva Aves da União Europeia, o desrespeito pela tempo de criação ou pela autorização do uso do chumbo em zonas húmidas, mantendo ainda a autorização de caça  – não consigo entender as razões, o gozo possível ou a habilidade do disparo  – ao estorninho malhado (sturnus vulgaris) que, para além de estar em regressão, constitui um dos mais notáveis espectáculos de voo em grupo – com séries, aparentemente espontâneas, de tomadas de decisão nas alterações momentâneas do comando que me levam sempre a olhá-los como possíveis modelos de organização dos movimentos nos desportos colectivos e aprender muito, pelas adaptações possíveis, com os estudos que, sobre eles, vou lendo.

                                                     bando de estorninhos em voo
Agora que há novo Governo empossado, espero a anulação da Portaria em causa – a 147/2011 – e que sejam repostas as coisas de acordo com a civilidade e rigor de que estes aspectos se devem revestir.

(registo de interesse: sou sócio da Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves – SPEA)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

É tão evidente assim?

Foto telemóvel, Lisboa

Culturas


Por isso a culpa, sendo virgem, morre solteira.

domingo, 26 de junho de 2011

Perversidades

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Desperta no Desporto

Com o titulo Estas crianças ganharam o direito a sonhar e a fotografia das três atiradoras da sala de Armas da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar na capa, a Pública deu a conhecer um projecto que, com base na actividade desportiva, tem permitido aos miúdos dos bairros das freguesias da Apelação, Camarate e Sacavém o conhecimento de outras realidades, a relacionamento com miúdos com outras formas de vida e outras experiências, a abertura de novos horizontes que ultrapassem os limites do bairro ou as fronteiras de alguns passeios, numa verdadeira demonstração de primeiros passos da integração social desejada.

Este programa Desperta no Desporto [ver referência anterior] da responsabilidade do Governo Civil de Lisboa em parceria com a Câmara de Loures teve no próprio Governador - António Galamba - e no seu adjunto Rafael Lucas Pereira  os iniciadores e dinamizadores da ideia que conta no seu universo com diversas pessoas para garantir a sua sustentabilidade. Os resultados estão à vista, as alterações comportamentais são evidentes, o respeito e a disciplina ganham corpo no novo social onde se movem e o projecto abre um caminho exemplar a ser multiplicado por novas experiências. E o Desporto a mostrar todo o seu potencial de relacionamento, de inserção e de escola de aprendizagem e treino da vida e das suas coisas.

Podia este programa ser realizado noutra área? poder, podia... mas não com a mesma capacidade positiva da relação atração/benefício. Porque o Desporto mostra de imediato um conjunto de valores que, quando apreendidos, alteram o modo e as relações da vida de cada um. Assim: igualdade de oportunidades numa mesma equipa, o mérito como evidência, o respeito e a ética do compromisso no cumprimento das regras de jogo, as camisolas como única cor separadora, o erro como forma de progresso, o grupo, a equipa, como meio para chegar mais longe, os objectivos a construirem os caminhos a prosseguir. A integração de diferentes capacidades, de diferentes tarefas num todo que se pretende superior à soma das partes garante o fermento para a compreensão das novas perspectivas que pareciam nem aos sonhos pertencerem.

Como diz, e cito da reportagem o treinador de Rugby do CDUL, Paulo Murinello: não me interesssa de onde vêm, só para onde querem ir. 

Senhor da Pedra ao fundo

Da Foz do Douro

segunda-feira, 20 de junho de 2011

República

Afinal...

Primeiro foi o filme Inside Job de Charles Ferguson a que já me referi [ver aqui] e que existe por aí em DVD. Explicava tudo e, pelos vistos, terá sido visto pelos que já sabiam e por outros que, com a crença dos incrédulos, se julgavam num Série B. Houve então, pouca ou nenhuma transladação crítica e fomo-nos ficando pela adesão aos odes e perorações da fama dos quinze minutos dos especialistas do rectângulo – e ele há cada um…

O Expresso publicou, em Abril passado, uma entrevista a Robert Fishman – americano, professor universitário, estudioso das implicações do euro sobre os países ibéricos. E que vem dizer, como já tinha dito em artigo publicado dias antes no The New York Times e que também aqui referi [ver aqui], que Portugal foi vítima dos especuladores e das agências de rating – bem como do Banco Central Europeu. Dizia então ele: Não concordo com a ideia de que esta crise tenha sido criada pelos políticos portugueses.

Pelo visto – quem viu, viu; quem não viu, visse! citando o grande nº10, António Oliveira - na última Quadratura do Círculo, Lobo Xavier também não acredita e veio lembrar as enormes dificuldades da situação – e da nova governação, pois claro! –– porque a intervenção seria muito limitada porque a troika isto e aquilo e etc. e tal e que estaríamos dependentes de factores exógenos e não de nós próprios. De factores exógenos, ouvi.

Embora de justificação interesseira este alargamento ao global da vista da crise – dominada por factores que nos são exógenos como ouvi - constitui um alívio por se saber que, afinal e mesmo para quem sempre referiu as culpabilidades internas absolutas, pesem os erros, os desacertos, a falta de explicações, mesmo o distanciamento ou algum desfoque na visão, a culpa, A CULPA! da actual situação de penúria em que nos encontrámos, não será do Sócrates. Ó alívio…e assim também não poderá ser de mais ninguém. É da vida, portanto!

Mas é de alguém e convém aprender a lição. Os mãozinhas invisíveis, os especuladores, os agiotas mesmo, detestam a regulação, detestam que haja Estados que possam intervir na libertinagem do mercado, detestam a esquerda, detestam países como Portugal que são governadas com conceitos políticos que, mesmo num intervalo centrista, exigem a intervenção reguladora do Estado. É um facto: os especuladores e suas mãozitas armadas odeiam Portugal – e por isso resolveram atacá-lo. Com o beneplácito de muitos, incluindo óbvias – com os interesses imediatistas da Alemanha à frente –  incapacidades europeias, truculência do Banco Central, inépcia da Comissão, malta ingenuamente a dormir e o que mais se saberá.

Então?! e como é que se resolve? antes do mais: não caindo na esparrela de impedir a regulação; depois – e como parece estar a ser feito – torcendo e ajudando como possível a que seja alterado o estatuto de opinadores, detido pelos agentes de rating, para peritos e aí, caindo no quadrante que Cipolla designa de bandidos [ver aqui], passarem a ter que responder criminalmente, mudado que fica o estatuto da liberdade de expressão, pelos seus actos (não fugindo mais ás acções judiciais que, inclusive por portugueses, têm sido colocadas em tribunais). A outra forma é que a Europa e os seus povos percebam a absoluta necessidade da regulação, acabando com o apoio aos mitos liberais das pretensas felicidades, dos bem-estares de devaneio, da visão do mundo focada apenas no interesse dos poderosos. Mantendo a razoabilidade dos valores da solidariedade, da igualdade e da liberdade…

… e esperando que os exógenos, os interesses de agiotas e especuladores, agentes e outros tratantes - lembrei-me de Gil Vicente - não façam cair a Grécia e estraguem mais do que já fizeram… porque ao estrago não haverá novo Governo que nos valha…

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Da Justiça

 Naquilo que me parece marcar uma excelente diferença entre moral e moralice cito de um acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra - juízes Alice Santos e Belmiro Andrade - e lembrado pelo Francisco Teixeira da Mota:

E para que se perceba – apesar de momentos heróicos como o anteriormente citado - o longo caminho que falta percorrer à nossa Justiça, cito, de ouvido numa intervenção política na CNN, conceito atribuído a Thomas Jefferson, 3º Presidente (1801-1809) dos Estados Unidos:



quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nas nuvens com mar ao fundo

Pico, Açores

domingo, 12 de junho de 2011

Não há memória?

Fui ao cinema ver o Barney’s Version de três casamentos e das presumíveis – só presumidas pelo estilo de vida – vantagens financeiras das Produções Totalmente Desnecessárias para as quais terá sempre encontrado interessados nas inutilidades. Bom filme, cheio de humor (ele a ler as páginas desportivas e ela, farta: ontem viste o jogo todo, julgas que o resultado mudou durante a noite?!) e com – parte não menos interessante - a muito bonita actriz, Rosamund Pike. Apesar disso, o filme põe-nos desconfortáveis: o homem passa a vida a beber uísque e a mostrar que gosta (os charutos não cheiram mas o gelo tilinta…). Fez-me sede que cresceu á medida… mas o problema resolveu-se bem: cheguei a casa e bebi um de excelência que me soube pelo filme…e que serviu para me relembrar.

Lembrei-me que antes do início do filme e na passagem dos anúncios apareceu, com a assinatura da Comissão Europeia, um filme laudatório ao retorno à agricultura e à necessidade de a desenvolvermos. Fiquei siderado! É preciso uma lata desmedida: sem qualquer complacência ajudaram a dar cabo da agricultura em Portugal em favorecimento dos agricultores alemães e franceses e vêm agora com aquele ar imaculado de muito atentos abridores dos caminhos da salvação. Insuportável.

Depois, pior, li o Expresso e vi a carta de Belém com um também apelo agora a “um vasto e patriótico movimento nacional que coloque a agricultura como sector fundamental para a sustentabilidade futura do nosso pais;”.

Não há passado? Não há responsabilidades?

Já não há memória?!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O meu apoio

Gostei da declaração de candidatura de António José Seguro a Secretário-Geral do Partido Socialista. Como um bom treinador desportivo de alto nível deixou claro que não quer vitórias por falta de comparência ou baixo nível de opositores mas pretende trabalhar para que seja a qualidade do jogo que permita vitórias e atraia mais adeptos. Que a vitória seja pelo reconhecimento das competências demonstradas e não apenas pelo constrangimento das incapacidades dos responsáveis da governação opositora.

Gostei da confiança transmitida, do optimismo mobilizador sem perda da noção das circunstâncias em que vivemos actualmente. Gostei da exposição e reclamação da matriz de valores e princípios do Socialismo Democrático que caracteriza o Partido Socialista.

Gostei da garantia de que os compromissos assumidos pelo PS se cumprirão apenas no rigor do intervalo dos princípios e valores que definem a impressão digital e são a razão de ser do Partido Socialista. E gostei ainda das chamadas à assumpção da ética republicana e socialista. E da chamada ao debate, à construção, à opinião dos militantes e simpatizantes – participação e desenvolvimento de ideias com o objectivo de atingir as plataformas de bem-estar e felicidade que temos direito a perseguir. Abrindo a porta à necessária utopia mobilizadora. Gostei. Gostei da atmosfera de mudança.

O candidato a Secretário-Geral do PS, António José Seguro, transporta consigo a memória – lembrou-o na história da sala onde se declarou – dos trabalhos do Socialismo Democrático que ajudou a implementar. Sei-o porque me lembro dele desde o tempo que foi Presidente da Juventude Socialista.

Gostei do que ouvi, gostarei que seja o próximo Secretário-Geral do Partido Socialista.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Abaixo do aceitável


O resultado do PS foi abaixo do aceitável. Com a dignidade necessária Sócrates seguiu a lei inexorável dos treinadores desportivos: não atingindo a equipa o nível de resultados expectáveis, deixa-se o lugar para outro.
 
Claro que há a crise. Claro que há e houve isto e aquilo. E uma campanha da imprensa contra Sócrates como não se terá visto outra – nem a de Portas contra Cavaco... Que se pôs a jeito, dir-se-á... pois, mas mais grave, terá sido o comportamento das estruturas do Partido cuja ilusão da realidade, falta de ideias e incompreensão das vontades dos cidadãos parece nada ter deixado fazer – veja-se o gráfico – para inverter a tendência que estava à vista. Sem estratégia, o descalabro foi absoluto – 30 deputados de diferença e perda de 1 milhão – UM MILHÃO! - de votos desde 2005.
 
Questão para os próximos tempos: como se inverte a tendência e se dá sentido ao PS?
 
Respostas esperam-se dos candidatos em presença.

terça-feira, 7 de junho de 2011

António Manuel (1959/2011)

Isto de pertencer ao clube do Sgt. Peppers exige uma cada vez maior capacidade de enfrentar o desagradável – é uma outra forma de dar conteúdo à ideia de que a idade não perdoa.

A notícia chegou seca e sem rodeios: faleceu o António Manuel.

Desde que se mudou para Bruxelas que nos víamos menos mas temos memórias suficientes para nos mantermos presentes. Juntos mais o António Costa, fizemos diversas campanhas políticas – sempre do bom lado, gostámos de lembrar – a percorrer o país de cima abaixo. Temos estórias conjuntas de gargalhada, momentos inesquecíveis, vitórias memoráveis. E horas de alguma preocupação também.

Os três fomos à Alemanha para as primeiras eleições pós-reunificação. Do lado do SPD, claro. E aí percebemos a dimensão útil do “desenrascanço” português – eles, os alemães, nem por isso... Era então líder do SPD, Lafontaine e, nas reuniões em que nos falavam da estratégia eleitoral, percebemos que estavam à rasca: tinham a campanha toda planeada – ao pormenor mais ínfimo – sem contar com a queda do Muro que os havia surpreendido e não sabiam que fazer com a alteração e as suas profundas consequências. Consultados, dissemos: esqueçam a campanha, vamos a outra! Que não – e o António Manuel, a pensar no espírito alemão, ria-se – que não havia tempo de planear outra, diziam. Demos a nossa primeira lição: to much planning is equal at non planning at all; se aceitarem isto, podemos avançar e adaptarmo-nos ao novo quadro. Aceitaram só um bocadinho e não lhes correu muito bem – o Lafontaine também não ajudou muito…. Mas foi uma boa aventura e que deixou boas marcas.

Claro que tenho uma enorme tristeza pelo desaparecimento do António Manuel. Mas manda a experiência da vida que seja contida porque estamos a entrar na fase que sabemos que é o que vai acontecer cada vez mais, perder amigos. Esta é a triste realidade: perdi um amigo.

Que lembrarei sempre à mistura com alguma nostalgia dos tempos heróicos das caravanas. Sorrindo.

domingo, 5 de junho de 2011

Derrotado mas não...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Votar no PS. Porquê?

Antes de tudo o mais e por razões de princípios e valores que me são caros e que fazem parte da minha vida, nunca votaria na direita.

Portanto a escolha fica desde logo reduzida. À esquerda (há diferenças, claro que há, e não são poucas… por muito que custe aos arautos da poeira para os olhos.).

E à esquerda… no PCP, não vale a pena – pertence a outro mundo, não está cá, vive da modernidade de outrora, de amanhãs desafinados e do jogo retórico da falta de memória.

Resta, para eventual opção, o BE. E pode-se votar neles? Poder, podia não fora esta incapacidade do compromisso da construção à esquerda.

Fica o PS para o voto. Porque, cedo ou tarde, o PS volta sempre, como sempre voltou, ao seu espaço natural do Socialismo Democrático.

E como os tempos não estão de modas ou experimentações e porque se exige a garantia de um Estado Social actuantemente eficaz, com uma Saúde e Escola Públicas, uma Segurança Social capazes de proporcionarem condições de dignidade dos direitos dos portugueses, votar no PS é um acto inteligente.

Lá estarei!

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