quarta-feira, 31 de março de 2010

Eu não me resigno, eu não me conformo

"[...]
Uma nação é os seus cidadãos e cidadãs que têm direito a ser tratados sem preconceitos nem qualquer forma de discriminação.
E também os imigrantes que a escolheram para trabalhar e viver e têm direito à inclusão, não apenas para ganhar medalhas olímpicas ou vestir a camisola da selecção nacional de futebol, mas para participar também na nossa vida cívica.
Uma nação é as suas pessoas, e também a sua História, a sua cultura, a sua língua, a sua identidade. É essa a razão de ser da minha candidatura.
[…]
O Presidente da República tem o poder de convocatória. A responsabilidade do Presidente é ser uma referência e um referenciador. Cabe-lhe convocar o país para as reflexões sobre indecisões e contradições. Cabe-lhe promover os debates que ultrapassem as questões de contingência e as questões de circunstância. O país é uma comunidade formada por diversos compromissos e composto por interesses em regra diversos e divergentes. Cabe ao Presidente a convocatória, a interpelação e a mobilização.
Portugal tem um défice de reflexão e de estratégia, um défice de comunidade e, sobretudo, um défice de confiança.
Ser Presidente da República não é só ser o guardião: não é ser somente o titular de deveres e poderes. É também ser o intérprete, o promotor e o mobilizador.
Inspirar e animar a construção colectiva de um caminho em que os direitos sociais sejam respeitados e em que a ética republicana prevaleça.
[…]
Eu não me resigno, eu não me conformo.
[…]”
Manuel Alegre em Beja a 26/Março/2010

segunda-feira, 29 de março de 2010

Desporto inclusivo

Para além da convicção que tenho de que se as pessoas soubessem mais de Desporto e das suas componentes, seríamos muito mais eficazes na resolução dos mais diversos problemas do país, tenho também a profunda convicção que, através do Desporto e da sua prática, é possível - e constitui até um extraordinário e exemplar caminho - atingir elevados níveis de eficácia na integração social.

Assisti recentemente, na freguesia da Apelação, à assinatura dos protocolos de adesão ao Contrato Local de Segurança de Loures, entre o Município de Loures, o Governo Civil de Lisboa e diversas entidades parceiras de também diversas áreas culturais, religiosas, sociais e desportivas. Este programa – que tem como áreas de intervenção prioritária a prevenção da delinquência juvenil, da pequena criminalidade, da violência doméstica, dos comportamentos anti-sociais e dos fenómenos de insegurança - é impressionante, pleno de acções e com uma dimensão extraordinária de parcerias e a sua implementação sustentável trará, aos cerca de 53.000 habitantes das freguesias da Apelação, Camarate e Sacavém, o início das condições de cidadania a que têm direito independentemente da sua condição social.

Do lado do Desporto, espaço do meu contentamento e razão da minha presença, tornaram-se parceiros do programa “Desperta no Desporto” integrado neste Contrato Local, o Comité Olímpico de Portugal, a Federação Portuguesa de Esgrima, a Associação de Rugby do Sul, a Associação de Andebol, o CDUL-Rugby, o Sporting Clube de Portugal e o Estádio Universitário de Lisboa. E as acções já começaram: a esgrima já atira, o judo já projecta e o rugby já tem adeptos. Abre-se um novo mundo nas vidas dos miúdos das freguesias da Apelação, Camarate e Sacavém. A oportunidade da cidadania, também.

Fiquei impressionado com a aposta. Espero que daqui de Loures – vale a pena estudar o caso - resulte a percepção generalizada das enormes possibilidades e potencialidades que o campo desportivo oferece para a inclusão social e cidadania.

Caneta para a História?

Na Ordem dos Arquitectos tomou posse a Comissão Instaladora do Colégio de Especialidade de Património Arquitectónico, constituída por Vítor Mestre, Walter Rossa, Sérgio Fernandez e Gonçalo Byrne. Pretende-se, como disse João Rodeia – presidente da Ordem – que o Colégio seja um think tank das questões que dizem respeito ao Património Arquitectónico e não um espaço profissionalmente reservado. Sérgio Fernandez, em palavras de ocasião de empossado, afirmou não gostar muito do conceito Especializado, percebendo-se preferir um espaço de encontro e discussão sobre as questões que se colocam nesta área.
Para quem, como eu, que tem defendido no Conselho Nacional de Delegados a que pertenço, que os Colégios de Especialidade não podem ser uma corporação de interesses dentro da Ordem, fico satisfeito com os princípios declarados.
Tratando-se de uma área de enorme importância para a cultura e história portuguesa e pela qual tenho carinho e interesse, mais satisfeito ainda fico com o facto de as assinaturas – momento histórico? - terem sido feitas com a minha caneta – uma neta actual da lapiseira Fixpencil 2 da Caran d’Ache que integra a selecção dos 1000 Objectos de Culto de Design da Phaidon Design Classics. A foto (de qualidade de velho telemóvel) aqui fica como testemunho e para o caso do momento se tornar histórico – espero-o bem pois que, se assim for, uma das minhas netas poderá contar com algum valor interessante de herança.

sábado, 27 de março de 2010

Estúpida falta de memória

[...] "o Sp. de Braga foi alvo de uma campanha vergonhosa levada a cabo pela CD da Liga (...) ao melhor estilo inquisitório, que faria a PIDE parecer meninos de coro"*. A estupidez da comparação é óbvia e insultuosa. E representa enorme falta de respeito para com todos aqueles que sofreram as torturas pidescas, viram a sua vida e das suas famílias arruinadas ou perderam a vida por mera discordância de opinião.
A comparação, ignorando a memória, não é mais do que uma revisão da história portuguesa. A existência da PIDE em Portugal não é uma ficção ou invenção. E não foi um mero organismo que se limitava a interpretar regulamentos: foi uma polícia política de cariz secreto que usou e abusou dos seus poderes contra cidadãos portugueses.

Tenham juízo!
*Comunicado da SAD do Sporting de Braga acerca da decisão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol

sexta-feira, 26 de março de 2010

O jogo dos interesses

Os stewards não são intervenientes do jogo, diz o Conselho de Justiça da Federação de futebol. Talvez não. Talvez sejam apenas elementos essenciais da organização do jogo.
Mas certeza, certeza, é que não são espectadores. Porque eu, espectador, não tenho que cumprir - para além do direito de entrada - com mais coisa nenhuma para ir a um jogo de futebol. E um steward tem! Tem que cumprir o legalmente estabelecido para o poder ser.

Os steward em Portugal nasceram com o Europeu de 2004. Por imposição da UEFA que quis, por razões de segurança, desmilitarizar os estádios procurando assim evitar a visibilidade policial, lida muita vezes como provocatória (no Euro 2000 vi forças policiais preparadas para intervir em caso de necessidade mas situadas a distâncias anti-provocação e dentro dos estádios, não se viam polícias).
Tinham aprendido com o futebol inglês que se socorreu dos stewards quando percebeu que as sessões contínuas da violência holligan se deviam também ao mútuo acicate de claques e polícias - uns e outros a chamarem a adrenalina num jogo de insultos e provocações. Com os stewards com uma missão precisa enquanto parte de um longo plano - os líderes dos gangs viram terminados os seus direitos de entrada em estádios - a Inglaterra transformou os espaços de espectáculo futebolístico em lugares de frequência familiar. E os estádios estão cheios...

Não bastando uma visão distorcida da razão dos stewards, tínhamos ainda que nos confrontar com outra particularidade do futebol português: o facto de ser mais barato dar um enxerto de porrada num espectador - o lorpa pagante alimentador do espectáculo - do que em qualquer outro interveniente do jogo. A proporção é de 1 para 6!
Em Inglaterra, não! Há quinze anos quando Cantona agrediu um espectador que, reconhecidamente, o tinha insultado, foi - sem qualquer outra preocupação que não a defesa da qualidade ética do espectáculo - castigado com 8 meses de suspensão. E será também por isso que no futebol inglês se pode ir aos estádios, sem que os espectadores se sintam punching-balls a preço de saldo. Por cá, pelo contrário, justifica-se tudo numa amálgama de teses peregrinas - em pérolas como esta: quem incumpre é que deve ser castigado e multado, mas nunca ao ponto de deixar de exercer a sua profissão - que justificam o injustificável.

Se admitirmos que a estupidez não é para aqui chamada, então a ignorância nesta matéria dos portugueses influentes no futebol caseiro só pode ser vista como mera cortina de fumo para camuflar o verdadeiro móbil: uma razão de interesse! Até que o futebol se torne insuportável e não haja clubite ou propaganda que o mantenha.

quarta-feira, 24 de março de 2010

As claques correm sozinhas?

Há alguns anos li um estudo sobre claques futebolísticas realizado pela Universidade de Lovaina (Bélgica). Aí estabeleciam-se, de forma clara e depois das necessárias investigações, as ligações entre grupos da extrema-direita e as claques de futebol, denunciando as intromissões, articulações e liderança das acções violentas.

Nas últimas semanas, em Portugal, houve constantes confrontos entre membros de claques a propósito da disputa de jogos de futebol. Na crise em que vivemos, no elevado desemprego em que nos encontramos, na imensa nebulosa com que o futuro se nos apresenta, temos montado o palco conforme às actividades de convulsão social pretendidas pela extrema-direita. Estão as autoridades portuguesas capazes de garantir que a mãozinha de uma qualquer Internacional Negra está fora de questão?

Incidente de vulto

Segundo o Público, a GNR faz um balanço positivo do que aconteceu no Algarve, no Benfica-Porto, por, dizem, não se terem "registado incidentes de vulto no jogo de maior risco do ano". Estão a brincar? O incidente de vulto é agora indicador para aferir da possibilidade de ir assistir a um jogo de futebol? Que raio de ideia é esta de medir o acesso a um espectáculo de futebol pela regra de batalhas campais?

Ao que se pode ler, a GNR tem por Missão a manutenção da ordem pública, assegurando o exercício dos direitos, liberdades e garantias. O que inclui manter a segurança dos cidadãos. Estes serão os indicadores pelos quais se pode medir a qualidade da sua intervenção. Que, pelo que vi, foi de má qualidade: na prevenção e na acção.

Incidentes de vulto!? Só falta esta visão para nos colocar ao mesmo nível de percepção dos elementos dos gangs chamados claques clubísticas.

PEC ou Plano de Austeridade?

A lógica deste PEC tem um problema: contradiz o pacto essencial de uma sociedade democrática - o de criar justiça social.
Fernanda Câncio in Diário de Notícias de 19/03/2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Dormir sobre o assunto

Trabalhar em excesso, embora seja admirável, levanta questões sérias e pode pôr em causa o desempenho.
Relatório final da Comissão sobre o desastre do Challenger, 1986

Ou seja, mais vale dormir do que ser admirado... para segurança de todos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Ainda a Madeira

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as margens
que o comprimem.
Bertolt Brecht (1898/1956)

Cultura

Ter cultura é ter a capacidade de relacionar coisas, factos, meios, aparentemente distintos. O resto é memória.

domingo, 21 de março de 2010

Continuação da estupidez das claques

A coberto do futebol, as cenas de pancadaria entre claques continuam. Para garantir a “segurança” desses bandos sem lei, cerca de 1000 agentes foram mobilizados. A pergunta precisa de resposta urgente: O que é que clubes, Liga e Federação fazem tensões de fazer para – de uma vez por todas – acabar com esta alarvice anti-social?

sexta-feira, 19 de março de 2010

A brutal desproporção

Tenho uma enorme dificuldade em entender os tiros do polícia que levaram à morte de Nuno Rodrigues (o rapper Mc Snake). Não entendo mesmo esta estúpida desproporção entre uma fuga automobilística a uma Operação Stop e os disparos que levaram à morte do condutor. Será preciso recorrer a tiros para fazer justiça sobre um condutor desobediente? Não chegará saber o tipo de carro e a própria matrícula para actuar? Em que raio de filme ou série televisiva se julgava o atirador?

Que raio passou pela cabeça do atirador-polícia para considerar que a fuga o colocava – a ele ou a terceiros - em situação de alta perigosidade. Que raio de treino é este? Sei o suficiente sobre tiro de pistola para saber que só pessoas bem treinadas podem utilizar 7,65 ou 9mm de maneira eficaz e com os cuidados necessários. E uma de duas: ou as polícias têm o treino necessário para saber quando e como usar armas ou… devem andar sem elas.

Pedrada em Alvalade

E ontem, em Alvalade? Bonito espectáculo de bandos de arruaceiros – com essa coisa pretensamente chamada “calçada à portuguesa” (são apenas cubos de vidraço) a servir de arma de arremesso. Pode continuar-se a ir ao futebol?

segunda-feira, 15 de março de 2010

O jogo das claques

Cada vez que vejo claques futeboleiras acompanhadas por aparatos policiais de dezenas de agentes, não consigo deixar de pensar: porque tratamos energúmenos como gente decente, deixando que se comportem acima de qualquer regra?
Percebo que os membros das claques gostem daquilo. No fundo, a polícia protege-os e assim podem insultar toda a gente, provocar e incomodar a seu bel-prazer. A polícia é portanto parte essencial desta aberração de gostar de futebol. Sem a sua protecção, as claques já teriam perdido o carácter de gang. E os membros adivinham-no e por isso aceitam estes passeios concentracionários. Por sobrevivência.

Sendo tudo isto tão obviamente estúpido – para além do enorme custo que representa – a questão permanece cada vez mais brutal: porque é que não acaba? Em Inglaterra, acabaram…

Há dias participei num seminário onde se falou destas coisas: violência nos estádios, segurança, meios, etc. etc. Lá se foi percebendo o que já se sabe: aos clubes de futebol as claques dão jeito, dão votos e é melhor tê-las com do que contra. Portanto, a não mudar a mentalidade, não serão aliados da transformação dentro da lógica de mais valer poder do que espectadores.

Mas, curiosamente e à medida que o tempo corria, dei comigo a pensar numa outra perspectiva: estas acções também interessam à polícia – razão porque não acabam!

Por umas acções sem custos físicos sérios – não há baixas – passam-se uns dias - uma, duas semanas - a preparar uma guerra particular com o estendal habitual das salas de operações, recorrendo a informações e à sua procura, traduzindo em mapas e notas operativas os elementos estratégicos, operacionais e tácticos, num gozo pleno de adrenalinas. De pica e à borla. Sem riscos.

E se é verdadeira a regra fundamental dos bombeiros – um fogo não se combate, evita-se – só uma especial aliança de convergência de interesses permite que se deixe correr este fogo lento.
Até que as idas ao futebol se tornem uma impossibilidade.

quarta-feira, 10 de março de 2010

A Alice de Lewis Carrol

A quem ainda não leu a Alice de Lewis Carrol, aliás Charles Lutwidge Dodgson (1832/1898), proponho que o faça quanto antes. A quem já leu, que volte a ler. Principalmente antes de ver o filme que agora se estreou. Porquê? Porque “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas” e “Alice do Outro Lado do Espelho” são livros excelentes, muito interessantes e divertidos. E muito inteligentes.

Conhecer o original antes de ver o filme de Tim Burton - que faz da estória ponto de partida e de memória permanente - permitirá um gozo maior de ambos. E a recente edição do Expresso – graficamente excelente e desafiadora, com ilustrações de Diogo Muñoz (de quem uso, com cumprimentos, uma reprodução) de uma Alice tirada das Meninas de Velásquez que se passeia em cenários de referência como a Guernica de Picasso (Andy Wharol e tantos outros também são para aqui chamados) – é uma excelente oportunidade para, lendo com a lentidão dos grandes momentos, se deliciar.

Lendo-os poderá reconhecer que Lewis Carrol também sabia da moral de “quem sai aos seus não degenera” ou perceber como o diálogo de Alice com o Gato Cheshire permitiu a Henry Kissinger*, notoriamente com a importância de uma outra pompa e claramente noutra circunstância, aconselhar que “se não sabe para onde vai, todos os caminhos o levarão a lugar nenhum” ou, ainda, aprender que numa Corrida Eleitoral se começa a correr quando se quer, se desiste também quando se quer e que, no final, todos são vencedores com direito a prémio, para já não falar no retrato esquizofrénico do mundo actual dado, em aviso elementar de Rainha, com um “aqui, como vês, é preciso corrermos o mais depressa possível para ficarmos sempre no mesmo lugar. Se quiseres chegar a outro sítio, tens de correr pelo menos ao dobro desta velocidade.” Ou também reconhecer, com Alice e numa pergunta de absoluta pertinência: “Mas como é que se pode falar com alguém que diz sempre a mesma coisa?”. A Alice de Lewis Carrol é uma maravilha.

*Ex-Secretário de Estado dos EUA

segunda-feira, 8 de março de 2010

A FIFA quer um jogo humano

A FIFA, através da sua International Board, decidiu não recorrer a ajudas tecnológicas. Apresentando uma razão fundamental: para preservar o futebol como jogo humano.

Melhor não conseguiria imaginar. Nem mais tonto.

Mas, pensando bem: sendo o erro, o engano, o roubo, a aldrabice tão humanos como o certo, o verdadeiro, a decência e outras coisas mais, o futebol limitou-se a manter a enorme abertura que o caracteriza - com excepção, claro, dos estádios onde a segregação social é total (aqui há direito a álcool, ali, nem pensar! etc., etc.)

Podemos ficar descansados. O perfume da dúvida, mantém-se. Iremos continuar a ver as mãos de Maradona, de Vata, de Henry a eliminar adversários; a saber de golos que, cheirando a linha, umas vezes são, outras não; a ver foras-de-jogo quilométricos - pela distância que nos permite abrir o ângulo de visão - que bandeirinhas nunca - a ciência avisa-o - poderiam ver. Enfim, o erro continuará a fazer parte da coisa - e os que pretendem evitá-lo (rugby, ténis, futebol americano, entre outros) não passam de senis humanóides...


Só me faz espécie que, sendo uma decisão notavelmente estúpida e sem sentido, não se queira ver o interesse que a promove. Duvido que seja para nos garantir, a nós espectadores, momentos de alívio da tensão, berrando contra o quarteto de arbitragem, jogadores e adeptos contrários. Quer dizer, que seja a função social do alívio...

Será então porque a dúvida, ao alimentar uma indústria envolvente do jogo e constituída por televisão, jornais, revistas, vídeos, sites e sei lá mais o quê, transforma o futebol num negócio que não se importa de viver paredes meias com a negligência? Será?

terça-feira, 2 de março de 2010

A Região Norte e o QCA III

A Região Norte teve um excelente desempenho no seu Programa Operacional do QCA IIIagora formalmente encerrado. A tal ponto que teve direito a um prémio de eficiência de 135 milhões de euros.

O relatório final do Programa Operacional reflecte essa qualidade de desempenho com as Medidas a superar as metas que lhes estavam atribuídas – a Medida Desporto Regionalmente Desconcentrada que coordenei, tem aí excelentes referências, sendo até considerada como Estudo de Caso pela inovação dos instrumentos introduzidos para a sua realização. O que representa também admirável reconhecimento por entidade externa para a qualidade da equipa que comigo colaborou e para a excelência do seu trabalho. Pena que alguns – em enorme manifestação de absoluto desperdício de experiência, competência e capacidades – continuem no desemprego ou, para um deles, em lugar de total desaproveitamento.

No seu discurso de encerramento no portuense Palácio da Bolsa, Carlos Lage – presidente da CCDR Norte – expressou o seu sentimento de ambivalência perante os resultados conseguidos. De facto à qualidade de desempenho do Programa Operacional opõe-se a regressão económica da Região. Ou seja e como ressalta à vista desarmada: atinge-se a excelência no desenvolvimento do Programa Operacional e a Região fica em pior situação.

No que parece, sendo assim, um enorme desalinhamento entre o programa que se desenvolveu e as reais necessidades regionais. Porquê? Por inépcias várias que vão desde o alheamento para seguir caminhos que estudos e pesquisas definiram em trabalhos muito participados pelas forças e estruturas regionais até ao velho estilo de deixar imperar interesses ou o eterno receio de ferir susceptibilidades. Ou ainda, que as decisões - iniciais, de objectivos, de possíveis articulações - das diversas partes de programas regionais ou nacionais, tenham sido tomadas naquilo que Le Carré designa pelo sítio mais perigoso para analisar o mundo: a secretária.

A Região Norte quando começou, em 1988, a planear o III Quadro e até 2001 vivia em crescimento – mesmo acima da média europeia – e, praticamente, em pleno emprego. A partir de 2002 a recessão ou a anemia para só em 2007 ter de novo crescimento. Sol de pouca dura com nova recessão e o desemprego a subir em flecha. Que é o quadro actual.

A sensação é de que se acertou ao lado em relação às necessidades regionais. E uma das razões porque assim é - remate ao lado - diz respeito à forma como estes programas são olhados pela Comissão Europeia – uma visão burocrática e economicista mais preocupada com o cumprimento dos objectivos teóricos do que em fornecer respostas às necessidades. Porque cada alteração é uma impossibilidade, ou assim o têm entendido os responsáveis. A inflexibilidade de uns e outros, a pouca elasticidade e falta de adaptação aos avisos, resultam nesta sorte de contradição de termos. E se ainda juntarmos a artificialidade das fronteiras entre fundos nacionais e regionais, limitando a integração e a articulação, ou a permanente ignorância dos diagnósticos, temos o espartilho instalado que terá impedido uma maior e melhor intervenção do PO Regional na competitividade da Região. Mesmo que seja obviamente verdade que muito do que foi feito, foi bem feito.

Sabe-se que hoje o Norte está a aumentar a sua produtividade. À custa - não é preciso ser-se harvardiano – do aumento do desemprego. O que significa – e também não é preciso ser-se sábio - que os apoios devem centrar-se no aumento de emprego, ajudando à criação de novas e sustentáveis empresas e abrindo novos e inovadores caminhos empresariais. Apoios que têm que ser estrategicamente definidos para que não vão ter às mãos das maiores e mais poderosas empresas, levando as PME a situações piores do que as actuais e contribuindo, pela maior precariedade de emprego, para um superior aumento do desemprego. Porquê? Porque não havendo qualquer regulação, as PME continuarão, na permanente sujeição a elevados níveis de subcontratação, numa concorrência desenfreada que as fará – na procura da sobrevivência – propor preços menores que os custos. Numa espiral que utilizará dinheiros públicos para que o resultado seja o contrário do pretendido: mais desemprego, menos sustentabilidade.

Mas tendo o novo quadro comunitário, o QREN, sido desenhado ANTES da crise pergunta-se elementarmente: que margem de manobra se construiu para permitir mudanças no desenho, possibilitando alterações e adaptações? Ou vai tudo continuar na mesma, perdendo dos dois lados - nos investimentos que não resultam e nos desempregados que aumentam?
Pobretes mas alegretes? Eternamente?

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