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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

REVIVER MEMÓRIAS COM AGRADECIMENTO

Capa do álbum de fotografias

Telefonaram-me da Federação Portuguesa de Rugby a dizer: “Há um senhor do Porto  que diz ter uma coisa sua e que quer falar consigo. Diz que é um álbum.”
Liguei ao número que me deram, apresentei-me e ouvi:
Sabe, eu sou um coleccionador de velharias e vou muitas vezes às feiras. Estava com a minha namorada e vi, numa das mesas da feira de Vandoma, um senhor a ver um álbum de fotografias onde vi fotos desportivas e, como gosto muito de Desporto, disse: “se ele não levar, eu compro!”. O homem pousou o álbum, peguei eu nele e perguntei: “Quanto?”. “Vinte euros!”, foi a resposta. “Levo!”, disse e dei-lhe o dinheiro.
“Chegado a casa pus-me a ver o álbum”, conta-me, “e pensei: Ná, isto foi roubado! Ninguém deita fora ou põe a vender um álbum de fotografias como este - isto é de família! Estava lá o senhor, ainda bébé com os seus pais, fotografias com irmãos - não, isto só pode ter sido roubado…E depois havia as fotografias desportivas, algumas de Rugby”
“Quanto mais via, pensava para mim: tenho que encontrar o dono disto.
O álbum, de capa vermelha, tinha, bordado a linha branca, pela minha Mãe - previlégios de primeiro filho - o meu nome, João Paulo.
Juntei o nome ao Rugby, fui ao Google e escrevi: João Paulo Rugby. E percebi logo quem o senhor era - até vi que foi condecorado pela Câmra de Lisboa - e falei para a Federação. Dei o meu nome e telefone e ainda bem que estámos a falar porque eu nunca me sentiria bem se não lhe entregasse o álbum. Um álbum deste é uma recordação de família!”
Há quase quarenta anos que não sabia que era feito do álbum - julgo, de facto, que terá sido roubado em mudanças ou obras ou num desleixo de limpezas - e foi uma alegria enorme sabê-lo recuperado nesta história maravilhosa: encontrado numa mesa de uma feira de velharias por alguém com a simpatia suficiente - para além de um sentido cívico invulgar - para ter o trabalho de me procurar e de fazer questão de me o fazer chegar. E já o tenho! 
A abertura do álbum traduziu-se num desfiar de recordações muito agradáveis que a visão das fotografias me proporcionou - é muito bom poder recordar familiares e amigos e lembrar as histórias que cada fotografia   tráz à superfície. Uma satisfação… no reviver dos tempos passados. 
Quem me proporcionou esta alegria, esta satisfação, foi o senhor Juvenal Queirós a quem expresso, com toda a minha gratidão, os meus maiores agradecimentos. Muito obrigado!

domingo, 20 de julho de 2014

Miguel de Vasconcelos

Miguel de Vasconcelos, Hélder Costa, Catarina da Rússia e Robespierre
Foto de Adriana em smartphone


No início da semana que passou participei, em A BARRACA e a convite do Hélder Costa, nos seus habituais "Encontros Imaginários" que reuniam desta vez a Catarina da Rússia (Leonor Areal, realizadora), Robespierre (Filipe Faria, Sociólogo) e Miguel de Vasconcelos, cabendo este último a mim. 
Foram momentos muito divertidos que tiveram por base, como sempre, excelente texto de Hélder Costa. Na minha figura de traidor - naturalmente a desdenhar de quem o chamava e a lembrar que a aristocracia portuguesa se mostrava, em geral, adepta dos Filipes - para além de tratar mal (pudera!) Robespierre e de estabelecer óbvia aliança com a Catarina ainda me pude interrogar sobre essa estória de traidor como, se ao aumentar os impostos em favor de estrangeiros tivesse feito diferente daquilo que nos fazem hoje os actuais governantes: traidor, não! percursor, sim! E ainda tive oportunidade de aceitar um convite da Catarina para ir para S. Petersburgo.
Foi divertido e só tenho a agradecer ao Hélder, à Leonor e ao Filipe, companheiros do mesmo Encontro.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

De Istambul

Gosto de flamengo, do cante, do cante jondo. Dos cantaores.

Um dia, final da tarde, estava em Istambul, nessa cidade desenhada para policiais da série B filmados a preto-e-branco, e começaram as rezas dos minaretes. Estava encostado a um e, de repente, pensei: isto é flamengo!

Contei a descoberta a amigos: que sim! que podia ser; que nem penses, porque não vem dali; que talvez e mais para aqui e ali. Mas fiquei sempre com a impressão: aquilo a sair dos minaretes era flamengo.

Hoje ouvi uma entrevista de El Cigala, cantaor, voz reconhecida do flamengo - o meu pai aparecia lá em casa com o Camarón - de la Isla, com certeza - ou com o Paco de Lucia, sempre vivi no meio desta música, deste ambiente. E mais à frente deu-me a enorme satisfação: um dia estava em Istambul e ouvi os canticos dos minaretes e disse, isto é flamengo!

Também acho.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Três Mandatos

"Três vezes, senhor aluno. Já lhe disse três vezes, senhor aluno.", avisava o Celestino, servente do Colégio Militar, de mão no ar a mostrar só dois dedos que o terceiro fora transformado em toco num salto de moto-serra.

Lembrei-me, cinquenta anos depois, do Celestino e dos seus dois dedos a indicar três, ao pensar na "lei dos três mandatos" camarários que afinal parecem ser só dois com o entendimento que pode ser sempre mais um.

Contas...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Melhor Entusiasmo 2011






Entusiasmados com a própria importância, a bifelândia do Londres 2012 estendeu-se ao comprido.

Tudo tão formidável, tudo tão sustentável, tudo tão... que até julgaram ter esticado os lugares disponíveis e dobraram um estádio, multiplicando por dois - de dez mil para vinte mil - a venda dos bilhetes para algumas sessões da Natação Sincronizada.

Grande Festa!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Melhor Profecia 2011


Charters de chineses!

Paulo Futre - enorme jogador de futebol - foi o profeta do ano. Avisou da chegada de charters de chineses.

Acertou de tal maneira que hoje já comandam a Electricidade (ex) de Portugal.

[lembro sempre, no gabinete de um dos seus fundadores e segundo presidente - meu Pai - de dois mapas que mostravam a diferença entre a cobertura eléctrica de Portugal, antes e depois. Antes, da responsabilidade dos privados; depois, da responsabilidade da empresa nacionalizada - num uns risquitos, noutro uma mancha, a marcar a diferença entre o interesse e o direito. Sei que, porque a enorme aposta era a de garantir electricidade a todos, não iria gostar deste pretendido - dos muitos prestados - último serviço à República.]

Inteligente, vivo, com excelente sentido de humor, Futre marca golos, agora de graça - passe a suposição da factura de algumas...

Futre a continuar assim, continuará também a encher-nos com a alegria que os adeptos tinham no estádio de tanto jogo... e os charters de chineses continuarão a vir com vistas para a Europa. Enorme profecia!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Melhor prémio 2011

Se houve prémio bem atribuído no ano de 2011 esse foi o Prémio Pessoa a Eduardo Lourenço.

Erudito de grande cultura – enorme capacidade para articular coisas aparentemente distintas – humanista, conhecedor como ninguém de Portugal – dos seus mitos, das suas profundezas – Eduardo Lourenço é ainda a nossa maior referência para quem quer conhecer Pessoa e a sua obra.

Melhor decisão não poderia haver: Pessoa a quem é de Pessoa!

Para além de tudo o mais, Eduardo Lourenço tem um notável sentido de humor. O que faz dele um intelectual próximo de qualquer humano. Juntos, podemos sempre rir, aliviando as tensões que a proximidade com a sabedoria sempre cria.

Há anos, dias antes do Mundial de Itália em futebol, encontrámo-nos num congresso em Nápoles. Em dia mais maçador propôs-me : e se fossemos apanhar um barco até Capri e dessemos uma volta pela ilha? Melhor acordo não poderia ter e lá fomos a caminho da travessia.

O mar estava picadito, o barco bamboleava e viemos para o convés para apanhar ar. Já enjoado como uma pescada, encostado à amurada, chamando pelo gregório, olha-me e, pesaroso, lança-me: e sou eu filho de um país de marinheiros …

[como também gosto de lembrar - para que haja uma noção mais clara da amplitude da dimensão da formação colegial – Eduardo Lourenço é, como eu, antigo aluno do Colégio Militar.]

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sanfermines

Nos encierros de San Fermín os Miura correm sempre ao domingo: porque são nobres e há muita gente – cerca de 3500 para oitocentos metros de corrida entre o curral de Santo Domingo e a Monumental de Pamplona.
Durante uma semana todos os dias às locais 7 da manhã estala o foguete e os seis touros lançam-se na corrida acompanhados pelos mansos que os enquadram. Na frente, ao lado, atrás, os corredores – gente de todas as idades e de ambos os sexos que quer experimentar a sensação de correr à frente de um touro. Tem consciência que pode morrer? é a pergunta dos panfletos que distribuem por toda a cidade – e podem. Mas as calles estão cheias, tão cheias nalguns dias que não se percebe como correm sem ver os touros, escondidos atrás da mole de gente aos encontrões para fugir às pontas das hastes.

À medida que as ruas se vão enchendo e que as guardianas – mãe e filha que durante o ano têm a figura do santo no vestíbulo de sua casa – colocam a estátua no nicho tradicional da cuesta de Santo Domingo, uma tranquila tensão marca o tempo dos três cânticos que lhe pedem protecção.

Há, na suspensão do tempo, um misto de loucura e fé, de crença, em cada manhã da feira. E a crescente tensão, de tão tranquila parece não deixar outra hipótese que não seja a obrigação de estar ali e esperar que a sorte das coisas nos proteja – que Deus nos guarde parecem traduzir os mais conhecedores. Os outros, capazes de todo o disparate, alienados no ambiente envolvente, nem percebem que precisam de protecção – San Fermín, sem olhar a quem, distribui passes do seu capotino permitindo as tangentes milimétricas num toureio miraculoso.

Nem se compreende como não há mais feridos, mortes até: são encontrões na procura dos huecos – intervalos entre as cabeças dos touros - quedas em montóns, pisotóns, cornadas, numa corrida espectacular, de grande emoción, com as velocidades garantidas pela equipa de pastores – o recorde 2011 foi de 2 minutos e onze segundos de curral a curral para toda a manada – e que não permite distracções: De mozos (as) a touros. Durante a corrida é o silêncio dos comentadores televisivos, o silêncio dos momentos graves com os mozos corredores, no centro da rua, a safarem, porque se fazem à atenção dos touros, os que, cozidos às paredes, nem sonham o alvo que podem ser.

Mas há quem saiba muito, correndo na frente dos touros, adequando a velocidade, usando o jornal para controlar, saindo no tempo de deixar o percurso a outro – qué bién, ouve-se - fazendo corridas que vão durar nas memórias.

No final, a televisão dá a estatística dos feridos – o quê e onde. Antes da largada apresentam-nos as estatísticas das outras passagens do ferro por Pamplona: melhor e pior tempo, média de cornadas e de feridos por corrida. E claro, pesos e nomes de cada touro. Tudo organizado num suporte dedicado e orgulhoso das suas festas de San Fermín.

Em Pamplona toda a organização se subordina à menorização do risco. Há regras a cumprir e truques de segurança – nem o lenço nem a cinta devem ser presos de tal maneira que um corno possa prender e arrastar o corredor. As festas de Pamplona têm um rigoroso ritual, tudo tem uma ordem e um protocolo: os vereadores municipais fazem o percurso a garantir que tudo está conforme; polícias municipais impõem a ordem da ocupação dos espaços já limpos pelas equipas de serviço da sujidade dos delírios nocturnos; no hospital tudo está a postos para receber feridos que fazem a primeira triagem na própria rua ou nos diversos postos espalhados ao longo do percurso. Os fotógrafos ocupam, com máquinas a disparar por controlo remoto, os lugares – com a curva Mercaderes à frente - que garantam as fotografias que vão viajar pelo mundo a mostrar a diferença deste espaço de risco gratuito mas de festa. De enorme festa!

Nas casas com varandas os alugadores tomam o pequeno-almoço com os moradores e veem o encierro na privilegiada posição de se assustarem apenas com o perigo dos outros.

O vermelho domina sobre o branco da vestimenta tradicional – embora haja camisolas de clubes de futebol ou rugby – e o espírito de Hemingway tem presença permanente.

Menos grave do que se esperava é o alívio final de cada encierro. Durante uma semana Pamplona não dorme nem descansa, vive. E despede-se num mar vermelho a encher a praça do Município e a cantar Pobre de mí, pobre de mí, que se han acabado las fiestas de San Fermín. Na certeza que Ya falta menos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Jantar da Mesa Dois

O jantar da Mesa Dois do Procópio - habitual na época do Natal - realizou-se hoje (18) no restaurante da Ordem dos Engenheiros (nada mau, bem servido e com boa vista sobre o Eduardo VII). Momento especial de encontro de amigos de longa data. Risos, altas teorias, notícias, perspectivas, assim vai o mundo e etc. e tal. Do melhor como sempre e mantendo a tradição de tratar do mundo - já que de nós parece cada vez mais difícil. Na mesa onde fiquei - ao lado da dos senhores embaixadores e senhoras (ainda sobravam embaixadores espalhados pela sala...) - lembrei-me, a propósito de qualquer coisa, dum enorme e belíssimo verso da poesia portuguesa, o resignado "tão fora de esperar bem" de Joam Roiz de Castelo Blanco. O João Paulo Guerra, porque o disse há anos (muitos) numa récita organizada pela Natália Correia, lembrava-se mais ao menos de todo o poema. Conseguimos, em esforço de toda a mesa, (re)compô-lo integralmente. É de uma beleza extraordinária: na métrica, no jogo de palavras, nas imagens que permite. Assim:


CANTIGA, PARTINDO-SE

Senhora partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tam tristes os tristes
tam fora d'esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém

Joam Roiz de Castelo Branco
Segunda metade do sec. XV
Contador de D.Afonso V


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