sexta-feira, 17 de maio de 2013

Do Benfica

Do Benfica, não sei que dizer. Há meia-dúzia de dias no Dragão deitaram fora a vantagem que tinham num erro de principiantes a ignorar a experiência e enorme evidência do conceito: quem joga para o empate, perde!

Para mais, com um golo primeiro mais a apetência lhes deu e em vez do, pelo sim, pelo não, princípio do estás é mal enterrado, seguiram o caminho fácil de segurar o resultado. E como quem não arrisca, não petisca, perderam. Azar dissemos na sorte de um remate que saiu na lotaria. Pois, mas fomos nós que não soubemos, marcando, colocar-mo-nos nos abrigos do acaso.

Já na jornada anterior me tinham obrigado a sintetizar num a determinação é a alma dos campeões as razões de uma perda desleixada de pontos. Azar, havia sempre um que aparecia a cortar a trajectória da bola - claro, fazendo o que deviam e nós, lentos, a deixá-los chegar...

Ontem foi mais do mesmo: deitar fora o que estava à vista da vitória. 

Os ingleses quando inventaram - melhor, organizaram - o futebol foram claros na definição dos objectivos do jogo e usaram a palavra goal - objectivo -  para ilustrar a bola dentro da baliza. Ou seja, definindo aquilo que importa. Os brasileiros perceberam depressa, mesmo se dados a recorrer ao samba da bola corrida, de que jogo se tratava: futebol é "minina" no barbante. Golo, dizemos nós sem lhe perceber mais do que o gozo. 

Pouco importa se jogámos mais - quais são os indicadores? porque medida comparamos? - se isto se aquilo, se mais posse de bola, se mais remates fora do rectângulo, se, objectivamente, ao marcar menos golos do que o adversário, perdemos. Mas jogámos bem, não merecíamos. 'Tá bem, abelha...e não consigo perceber a postura de espera por um prolongamento de que não teríamos vantagem evidente.

Em Amsterdam tivemos tudo para ganhar excepto a tal determinação que faz os campeões. E por isso não marcámos os golos que estavam ali a pé de semear. Porque não tivemos a determinação que, no momento da decisão, nos retirasse o medo de falhar e nos atirasse para o remate. Em jogos de nível elevado, raras vezes se perde por azar - perde-se porque não faz o devido e porque se deixa que o adversário o faça. Perde-se porque, no que conta, fomos inferiores. Porque, mesmo marcando, não fizemos o necessário para a vitória: marcar mais golos do que o adversário. 

... por isso perdemos... e porque nada teremos aprendido com os erros anteriores.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Vasco Massapina

O Vasco Massapina faria hoje 66 anos. Partiu cedo de mais e deixa-nos o vazio da sua amizade. Em memória deixo o texto que escrevi e que foi recentemente publicado no nº 190 da revista ZacatraZ da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar.
VASCO MASSAPINA, O PESCADA
Pescada. Pescada?! Mas quem se lembraria de pôr esta alcunha a alguém. Porque antes de o ser já o tinha sido? Reincarnações? Não, não me parece e só parece haver uma explicação: era do antecessor. Está visto, a alcunha era do antecessor. Mas o 209 de 1957, o nosso Vasco não se importava com ela, achava-lhe até uma certa graça. E assim ficou, até hoje: Pescada.
Entrámos ambos em 57 para a 1ª do Guedes Florista e ficámos na mesma turma. Na sala de aula, uma carteira nos separava; na camarata, duas, três camas nos separavam. Fizemos a vida sempre próximos: Colégio, Arquitectura, vidas cívicas, confronto de ideias e opiniões, risos e gargalhadas. E indignações várias!
Há pouco tempo deu-me uma carta, encontrada no fundo da gaveta, que escrevera à madrinha sobre as memoráveis futeboladas que fazíamos no pelado da 1ª ou nos gerais. Falava dos golos - deveria ser do tempo em que éramos obrigados a escrever a alguém à quarta-feira - que eu tinha marcado e que, dizia, de outra forma não teríamos chegado à vitória. Terminava com um não tenho mais nada para dizer de missão cumprida. Era assim, cumpridor. Era preciso fazer, fazia-se. Falando dos amigos, a gabá-los.
Nenhum de nós era algum modelo de bom comportamento. A maior diferença estaria, talvez, que o Vasco gostava de fardar-se bem - o Nano lembra que no bolso do sempre elegante blusão nunca faltavam cigarros - e de usar botas altas e, eu, tinha uma razoável indiferença sobre essa componente de atavio castrense. Mas ambos gostávamos de montar e de cavalos. Logo que pude concorri à Escolta e fiquei porque a preocupação de quem mandava era mais a do “estar a cavalo” do que a de comportamento. O Vasco, mais tarde, também concorreu - um outro qualquer exigia, mais do que o “estar a cavalo”, o bom comportamento. E o senhor aluno, o Pescada, o 209, o Massapina, não tinha o Bom a comportamento necessário: não entrou e essa tristeza ficou-lhe pela vida. E só me perdoou porque era meu amigo - em grandes gargalhadas comentava: este gajo foi da Escolta e eu, por mau comportamento, não fui. Já viram isto?
Aventuras colegiais, muitas. Do início até ao posto de Furriéis com que ambos não fomos graduados - no nosso curso éramos um notável grupo de alguns quinze... Saídas nocturnas, cavanços, entrada a salto e assaltos - acho que foi na Física que foi apanhado fora de horas e de autorização.
No dia do Baile dos Finalistas apareceu-me alvoraçado: eh pá! andei por todo o lado à tua procura - tinha ido à Luz ver o Eusébio a enfiar dois na baliza do dr. Maló da Académica - tens que me safar. Que era então? Tens que “segurar” a Paula - morena, volumosa de corpo roliço, irmã da namorada do Gil e flirt recente do Vasco - porque a Isabel também vem. Fiz o que devia e o “caso” ficou-se por ali.
E ficou-se com a Isabel, o amor da sua vida. Desde então até hoje. Acho até que foi por ela que foi cursar Arquitectura - a Isabel foi para Pintura e tudo se passava na mesma escola de Belas-Artes de Lisboa. E acho também, talvez porque ele me tenha dito ou talvez por lhe adivinhar o gosto das fardas, que foi por ela que não foi para a Marinha, vontade a que a própria Mãe não seria alheia. Mas a Isabel levou a melhor.
Lembrava-me sempre - e fazia questão de o lembrar a outros - a homenagem do Menau quando atravessei, fardado e pela última vez, os claustros: levantai-vos que vai ali um homem digno! Achou sempre - e dizia-o - a minha expulsão uma indecência.  Sempre amigo do seu amigo. E preocupado com injustiças. Camarada, fiável, solidário. Sempre!
Na Escola participámos numa greve que o meu curso - eu atrasei um ano graças à expulsão - levou até limite dos exames corridos a zero. Foram meses de RGA, de bota abaixo, de exigências, de “enterro da Escola”. No pós-25 de Abril entrámos na luta contra a existência de “patrões” no Sindicato dos Arquitectos - sindicato é para empregados! Mais tarde ajudou à construção da Associação dos Arquitectos Portugueses onde foi Presidente do Conselho Directivo Regional do Sul e foi ainda Vice-Presidente do Conselho Directivo Nacional da Ordem dos Arquitectos. Por sua causa - precisámos da tua experiência, disse-me a convencer - ainda sou hoje membro dos seus corpos sociais!
Como profissional o Vasco sempre se preocupou com as cidades - lembro-me de uma interessante tese, numa visão inovadora da extensão do conceito cidade e dos seus serviços e como proposta de desenvolvimento urbano - que defendia que o centro de Lisboa se situava no meio do Tejo. E realizou, nessa paixão do construir cidade, dois trabalhos inovadores: o Plano de Beja e o Plano de Ponte de Lima que ainda hoje são lidos como marcos da intervenção urbana portuguesa. E fez também, começando em associação com o Olhos - outro arquitecto “menino da Luz” do nosso curso - a que se juntava a mulher Isabel, muita arquitectura em gabinete próprio a que acrescentou, logo que possível, os filhos também arquitectos - a Bárbara e o João. E sobre isso trocávamos opiniões e chamávamo-nos mutuamente a atenção para coisas relevantes da arte. E o gozo que nos dava acertarmos nas mesmas coisas.
Era do Belenenses e fazia parte daquele pequeno grupo de espectadores que, fielmente, seguia , no estádio, a sua equipa de futebol. Tinha pena da realidade da equipa e de não poder ir com os amigos à bola - dadas as circunstâncias, nenhum de nós se mostrava muito interessado. E ele lá ia, muitas vezes com os netos, a deixar correr a marca pastel no sangue.
Pouco depois de termos ido falar - o meu cunhado Vasco Coucello fez-nos companhia - aos futuros graduados que ficaram agradavelmente admirados com as estórias que nos ouviram, o Raul Passos, então Director do Colégio, desafiou-nos para realizarmos o projecto do novo Pavilhão. Aceitámos e pusemo-nos uma condição: a equipa projectista seria formada com ex-alunos entrados em 57 e com os seus filhos: o Adão da Fonseca, o Santos Coelho, nós os dois e os nossos filhos, o João e o Raul. Formámos uma parceria excelente a que se acrescenta o Nano, então Presidente da Associação, que nos ajudava nas relações entre partes. O Vasco, como sempre, pôs toda a energia, o tempo e o espaço do seu gabinete ao serviço deste projecto para o nosso Colégio. E o projecto - bom, diga-se - aí está, pronto a começar a construir depois das medições e orçamento feitos, entretanto, pela Engenharia Militar.
Com a paixão que punha nas coisas que diziam respeito ao Colégio - passava aqui manhãs de sábado com a desculpa de ver os netos no Pentatlo Moderno - lançou o princípio do projecto de reconversão da Formação para, seguindo o exemplo das Meninas de Odivelas, também criarmos ali o nosso Lar - e conseguiu, passo sempre delicado, a aprovação do IPPAR para as novas volumetrias. A pedido da nossa  Associação ainda fez o anteprojecto para um Colégio Militar em Timor - projecto interessante com réplica contemporânea e adequada dos nossos claustros - e que foi aprovado pelo agora Presidente da Républica timorense ao tempo de Chefe do Estado-Maior General.
Ocupou postos de relevo, foi professor e, entre diversos escritos, deixou-nos um livro com o sugestivo título de “O Risco do Arquitecto, Interesse Público e Autonomia da Profissão” - e como ríamos da ideia de “o risco” ser a nossa profissão. Nesta discussão actual sobre Arquitectura, Arquitectos, Actos Próprios da Profissão, desemprego por falta de projecto ou saídas profissionais, deixou-me um texto, bem recente, a abrir portas para o futuro da profissão. Generoso como sempre. Sem desistências. Amigo para sempre. 
O tempo acabou-se para o Pescada e eu tenho saudades.
João Paulo Bessa (200/57)

Ver aqui outro texto sobre o Vasco

domingo, 5 de maio de 2013

Um disparate provoca mais disparates

Por razões de trabalho tive que ler a Lei 38/2012 de 28 de Agosto, lei antidopagem no Desporto.
No seu Artigo 2º, Definições, podem retirar-se estas pérolas:

l) «Desporto coletivo» a modalidade desportiva em que é permitida a substituição de jogadores no decorrer da competição;

m) «Desporto individual» a modalidade desportiva que não constitua um desporto coletivo;

Não há outra pergunta possível: estão a brincar?! A permissão de substituições define uma modalidade colectiva? Palavra d'honra?

Desta forma compreendo o disparate do Remo e da Canoagem terem sido consideradas como modalidades individuais - nos barcos, na equipa, cada um rema por si, para o lado que lhe apetece e com o ritmo que entender. E por um qualquer milagre dos deuses o barco vai a direito, sincronizado e em boa velocidade...

Como é possível, com estes disparates, termos um Desporto capaz?

Também percebi que, lendo a alínea o), já não há mais "provas desportivas" mas sim "eventos desportivos". Do simples tudo acaba, como numa banda desenhada, no superlativo. Não há nada como acontecências - acontecimento de excelência, um êxito - com anúncio de antes de ser já o era. Assinale-se:

o) «Evento desportivo» a organização que engloba uma série de competições individuais e ou coletivas que se realiza sob a égide da mesma entidade desportiva;

John Le Carré já tinha avisado: "uma secretária é um sítio muito perigoso para analisar o mundo". A secretária dos escribas também e Cipolla tem razão ao avisar-nos que há muito mais estupidez em circulação do que possámos imaginar.

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