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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

LANÇAMENTO DO LIVRO “O COLÉGIO MILITAR NA HISTÓRIA DO DESPORTO EM PORTUGAL”

  • Senhor Major-General Duarte, representante do Chefe do Estado Maior do Exérito 
  • Senhor Director do Colégio Militar, Coronel Santos Moura
  • Senhor Presidente do Comité Olímpico de Portugal, dr. Artur Lopes representante dos responsáveis pela atribuição do Troféu Olímpico e pela participação na atribuição do Troféu do Comité Olímpico Internacional.
  • Autoridades Civis e Militares presentes
  • Caras e Caros Camaradas de Hoje e de Sempre.
  • Caras Amigas e Caros Amigos
  • Minhas Senhoras e Meus Senhores




Agradeço à Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar o convite que me foi feito para intervir nesta cerimónia do lançamento do livro “O Colégio Militar na História do Desporto em Portugal”, o que muito me honra.


O Livro que hoje é lançado, resulta do facto de neste ano de 2024 — também com Jogos Olímpicos em Paris — se comemorar um século da obtenção nos Jogos Olímpicos de Paris de 1924 da 1ª medalha olímpica de Portugal pelo 3º lugar — Bronze — da equipa de Hipismo de Saltos de Obstáculos e da qual faziam parte, dois antigos-alunos do Colégio Militar, o medalhado, Hélder Martins, 225/1912 e o Chefe de Equipa, Manuel da Costa Latino, 207/1888.


Ao pensar nesta comemoração, Martiniano Gonçalves, o 9/1958, que foi o principal responsável pela sua realização com os apoios decisivos do Professor Nuno Leitão e do Vasco Lynce, o 21/1960, pensou também que era um bom momento para dar a conhecer, para além dos resultados olímpicos que proporcionaram a entrega dos Troféus dos Comités Olímpicos de Portugal e Internacional, o enorme sucesso dos resultados desportivos noutras modalidades — cuja importância também já foi reconhecida por Governos de Portugal — que a formação desportiva que tivemos no nosso Colégio nos proporcionou. E assim se juntaram textos de diversos autores que nos dão a imagem da extraordinária qualidade desses resultados.


Presidente do Comité Olímpico de Portugal de 2013 a 2024, José Manuel Constantino gostava de dizer que (e cito): “o desporto é um bem público… que socialmente vale mais do que custa”. E no meu tempo colegial — finais dos anos 50 e primeira metade dos anos 60 do século passado — tenho a certeza que os responsáveis do Colégio, seguindo o conceito do fundador Marechal Teixeira Rebelo e do Director General Morais Sarmento que, passado um século, o repetia, tinham a absoluta noção da importância da Educação Física no desenvolvimento, também intelectual, das crianças, para além do seu valor social. E a equipa chefiada pelo Antigo Aluno, Pereira de Carvalho, (180/1934) e integrada por treinadores de renome nacional como Reis Pinto e Mário Lemos a que se juntavam o nosso excelente Dario Fernandes e os ex-alunos Luis Sequeira (5/1938), Nuno Vitória (66/1939), Abranches de Sousa (209/1945) e João Calixto (314/1947), soube ultrapassar convenções e adaptar o sistema, facilitando o percurso do “brincar, jogando” até à preparação organizada das equipas representativas nas competições escolares, passando, numa liberdade responsável e de forma integrada, da formação que fornece os conhecimentos para a melhoria de competências que o treino proporciona. Pode assim dizer-se que, ao ignorarem o ensino sectorial e o uso segmentado do corpo, transformaram, com notável antecipação, o “b+a=ba” de João de Deus no “método global”. Método global este que leva a uma aprendizagem mais natural e integrada e em que os atletas desenvolvem uma profunda compreensão da modalidade no seu contexto total, além do desenvolvimento de destrezas específicas para o seu melhor desempenho. E por isso a nossa iniciação e formação desportivas eram notáveis. Tão notáveis que costumo afirmá-las como, pelo menos, das melhores da Europa da altura.

 

De facto em todos os momentos livres — intervalos ou recreios — a actividade física era uma constante com jogos que iam desde os 2x2 aos 5x5 num “muda aos cinco e acaba quando obrigados” com bolas de trapos ou, nos “gerais” do Colégio Novo no pós-jantar, com bolas de plástico esburacadas para não partir vidros e a que se juntavam, espalhados por tudo quanto é lado, o ping-pong ou os jogos tradicionais do eixo, ursa, malha, etc. De fora os que aproveitavam estes tempos para leituras, restando muito poucos como assistentes.


Nos recreios, tínhamos os diversos campos de jogos — futebol, andebol, basquetebol, voleibol, hóquei-em-patins, pista de atletismo a que se juntava a possibilidade, aqui controlada em aulas específicas, de utilizar os espaços que permitiam a prática de ginástica, esgrima, tiro, natação ou hipismo.


Com esta variedade de experiências em diversas modalidades que enchiam os campos de jogos numa aparente anarquia que possibilitava a mudança de umas para as outras, era-nos proporcionada uma liberdade de acção  que nos permitia, num processo muito avançado de adaptação prática de cada um de acordo com as suas capacidades, uma substancial melhoria de articulação e agilidade motoras. Tudo isto indo do brincar até ao treino organizado a preparar competições com as equipas representativas. Mas nada se fazia sem a responsabilidade competitiva de tudo fazer para vencer.


Estas práticas livres tinham também jogos organizados em competições inter-turmas e inter-anos numa evidente relação de cooperação e competição — que hoje designámos por coopetição — onde os mais capazes demonstravam as suas qualidades para serem seleccionados para as equipas representativas do Colégio que disputavam, em diversas categorias etárias, os campeonatos desportivos escolares inter-estabelecimentos de ensino promovidos pela então Mocidade Portuguesa. Criava-se assim também um espírito de corpo que permitia claques organizadas, sob o comando de alunos mais velhos, que apoiavam as equipas com os gritos “Colégio! Colégio!” e sempre com o sentido final de poderem vir a cantar: “São horas de embalar a trouxa/Boa noite ó tia Maria/que a malta ganhava a Taça/ já toda a gente sabia”. A vitória era de todos.


Com a variedade e diversidade desta formação — atenta e conhecedora e contrária a qualquer especialização precoce mas antes aberta à prática desportiva diversa e sem que o seu objectivo fosse fazer de cada aluno um expoente formidável, embora não deixando de proporcionar a cada um condições para um progresso que lhe permitisse atingir, de acordo com a sua idade, interesse e capacidades físico-desportivas, o seu melhor. E, por isso foi possível a muitos alunos sairem do Colégio Militar com um domínio das destrezas práticas que lhes permitiram, como este livro demonstra, atingir níveis de grande qualidade competitiva em diferentes modalidades.


E o Rugby, que nunca foi praticado no Colégio, é a melhor e mais clara demonstração da qualidade deste método colegial. Dezoito antigos alunos, foram, de 1965 a 1986 e apesar de uma aprendizagem tardia das bases da modalidade, jogadores internacionais integrados no mais alto nível português do rendimento desportivo porque terão passado muito do seu tempo colegial em diversas experiências de várias modalidades.


Esta demonstração é a razão principal da sua presença neste livro que tem o aval da nossa referência da revista ZacatraZ, o Luis Barbosa, 71/1957, que escreveu (e cito): “Uma coisa é certa. Os Antigos Alunos internacionais de Rugby, têm todo o direito de ombrearem com os nossos atletas olímpicos, na Galeria dos Notáveis Colegiais. Para eles, um grande ZacatráZ.” E por este reconhecimento, cá estamos.


Depois de comprender os Princípios Fundamentais do Rugby, achei muito estranho que esta modalidade não fosse uma prática colegial, já que ajudaria a exemplificar os nossos princípios e seria uma boa base de aprendizagem daquilo que designámos por Comando de Missão. A sua estratégia, muito organizada em mini-unidades com os seus componentes a terem de saber adaptar-se às manobras necessariamente inesperadas que — como ensinou Nuno Álvares Pereira — devem ser sempre anteriores a qualquer colisão, para tornar possível explorar as vantagens conseguidas.


Não foi aliás por acaso que a norte-americana Academia de West Point começou a praticar internamente a modalidade ainda antes de existir uma Federação rugbística nos Estados Unidos. E fê-lo essencialmente porque há uma relação muito próxima com a aprendizagem do combate.


Apesar da desvantagem da aprendizagem tardia, mas graças à notável qualidade e diversidade do sistema de ensino da Educação Física e da Prática Desportiva que o Colégio nos fornecia, os que decidiram dedicar-se ao Rugby não tiveram qualquer dificuldade de adaptação. E constituem o maior número de membros — 18 — de uma mesma escola secundária que atingiram uma selecção principal sénior de Portugal em qualquer modalidade desportiva colectiva. Razão que levou, recentemente, a Federação Portuguesa de Rugby a homenageá-los publicamente no intervalo de um jogo internacional.


Para além dos dezoito internacionais (identificação), quatro destes elementos — Pedro Lynce, Olgário Borges, Vasco Lynce e eu próprio, fomos Seleccionadores/Treinadores da Selecção Nacional de Portugal e, ainda, Pedro e Vasco Lynce foram capitães da Selecção Nacional. 


Felizmente que hoje, iniciado pela vontade do então Director, Major-General Raul Passos, o Rugby, que tem virtudes óbvias e é jogável nas vertentes feminina e masculina, integrando uma variedade de perfis físicos e tendo na Integridade, Paixão, Solidariedade, Disciplina e Respeito, os seus valores principais, já faz parte da aprendizagem desportiva colegial. O que poderá vir a significar mais internacionais, agora femininos e masculinos, para juntar a este grupo de Dezoito Internacionais, atraindo mais praticantes e constituindo uma muito boa influência.


Por fim, agradeço ao Colégio Militar, aos que foram meus professores de Educação Física, Iniciação, Formação e Treino Desportivos e a todos os camaradas que comigo participaram nas diversas equipas representativas, o facto de terem contribuído para tornar o Desporto na “Água-forte” que desenha a minha vida. Muito obrigado.

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[Minha comunicação na cerimónia de lançamento do livro “O Colégio Militar na História do Desporto em Portugal” realizada no Auditório do Colégio Militar em 19 de Dezembro de 2024.]

quarta-feira, 27 de março de 2019

60 ANOS DA ESCOLTA A CAVALO DO COLÉGIO MILITAR

A Escolta a Cavalo na Baixa Pombalina pelos anos sessenta (encontro-me à esquerda da fotografia) comandada pelo António Adão da Fonseca actualmente um notável e mundialmente reconhecido "engenheiro de pontes"
A Escolta a Cavalo do Colégio Militar comemorou os Sessenta Anos da sua formação e que, praticamente de então para cá, tem desfilado anualmente, a galope, pela Avenida da Liberdade quando das comemorações do Aniversário do Colégio Militar, fundado a 3 de Março de 1803.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

CARTA ABERTA AOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS DO COLÉGIO MILITAR

Cúpula com capote, Jacinto Luis

Caros Camaradas
A caminho do estrangeiro não posso estar presente na Assembleia Geral da AAACM de 23/10/2015 mas não quero deixar de vos comunicar o que, caso pudesse estar presente, iria dizer e qual o meu sentido de voto face à repetição que a Direcção da AAACM pretende fazer da sua  "Proposta de Revisão da Orientação Estratégica da AAACM".
Em primeiro lugar considero - e estou a ser simpático - indelicado, senão desleal, que se repita uma proposta já apresentada e que mereceu a rejeição da Assembleia Geral de acordo com o Comunicado da Mesa da Assembleia Geral da AAACM, assinado pelo seu Presidente e recebido por mail em 8 de Julho de 2015. 
É um facto que formalmente foi alterada a linguagem - de uma linguagem inadmissível passou-se a uma linguagem mais cordata e aceitável - mas o seu conteúdo continua o mesmo como foi afirmado pelos Camaradas Banazol e Rio de Carvalho em duas reuniões distintas mas consecutivas do Conselho de Delegados. Ou seja, na realidade nada foi alterado apesar das críticas formuladas e da rejeição atribuída: trata-se, objectivamente, da mesma proposta!
A apresentação da mesma proposta já, repete-se, rejeitada, constitui uma intolerável falta de respeito pelos associados presentes na Assembleia Geral, violando valores que nos são caros e que pretendemos continuar a manter vivos na instituição que aqui nos une: o Colégio Militar. Por mais disfarces ou retóricas com que se pretenda embrulhar a pretensão, o facto é este: a orientação estratégia pretendida implementar pela Direcção da AAACM foi rejeitada em Assembleia Geral e as razões foram - quer na altura quer nas posteriores reuniões do Conselho de Delegados - suficientemente expostas para que à repetição pretendida não se possa dar outro classificativo que não seja a teimosia.
Sou membro do Conselho de Delegados de Curso e nessa qualidade tenho, com muitos outros dos seus membros e durante o último ano lectivo, visitado o Colégio Militar, tendo podido aperceber-me, quer pelo contacto directo, quer em reuniões com membros da direcção colegial, que tem sido feito um notável esforço para que as coisas - de enorme dificuldade pela forma canhestra, apressada e irresponsável como o Ministério conduziu todo o processo - possam correr o melhor possível e com a melhor segurança. Por outro lado temos sabido das posições da Associação de Pais através do camarada Cordeiro de Araújo, Presidente da Associação de Pais até ao final do último ano lectivo e actual Presidente do Conselho de Delegados. Ou seja, tenho uma boa informação e de nada tenho sabido que possa justificar uma preocupação como a pretendida para inverter o caminho de integração percorrido pelos responsáveis colegiais. Tanto quanto tenho visto e sei, existe uma boa integração de género. E, tanto quanto sei, os alunos e alunas gostam e os Pais também!
Para além desta tranquilizante verificação e do erro que constitui a pretensão da proposta apresentada, pergunto-me como tantos outros o têm feito: com que direito pretende a AAACM intrometer-se (cf. ponto 2, alíneas a) e b) de B da proposta) na gestão pedagógica corrente do Colégio Militar, impondo-se à sua Direcção e às suas responsabilidades através de uma pretendida Orientação Estratégica que vinculará absoluta e univocamente cada uma das acções da Direcção da AAACM nas suas relações com o Colégio Militar, seus alunos, alunas, professores, oficiais e Direcção. É assim, impondo, que se procura uma parceria?
O Colégio Militar, caros camaradas, mudou. É misto. Juntou-se um novo ingrediente à química do Colégio Militar que todos nós conhecíamos e está, na reacção provocada, a formar-se, naturalmente, uma nova realidade. Que é diferente do Colégio que a nossa memória transporta. E esta proposta da Direcção ignora, olimpicamente, esta evidência.
O que a torna extemporânea! E com apenas um sentido perceptível: se alguma coisa correr mal - o quê? porquê? - poderemos refugiarmo-nos no conforto do "nós bem avisamos...".
Parca glória para tanto fumo.
E em que, objectivamente, se traduz esta proposta de Orientação Estratégica? Num Colégio de dois colégios separados por género e com o 3 de Março, misturando-os, a servir de falsa montra. Com consequências gravosas para uma integração que, respeitando os géneros nas áreas devidas, se pretende para manter viva a imagem qualificada do Colégio Militar. Ou seja: pretendendo resolver aquilo que consideram um problema irão, caso a proposta fosse aceite, criar, promovendo divisões, maiores problemas.
Pretendendo imiscuir-se em áreas que não são da sua competência, a proposta esquece aquelas em que a AAACM deveria intervir como a questão essencial que tem marcado negativamente a contemporaneidade colegial: o péssimo estado do seu ensino. E neste campo, o da melhoria do ensino, a AAACM poderá e deverá ter uma palavra decisiva a dizer uma vez que o retorno à excelência está directamente relacionado com a nossa imagem de ex-alunos. E essa deve, conjuntamente com o desenvolvimento do seu carácter filantrópico e solidário, ser a área de intervenção da AAACM. 
E para que as pretendidas intervenções sejam viáveis a AAACM deverá realizar, abandonando o papel de franco-atirador, uma aliança estratégica com a Associação de Pais - principais interessados na normalidade excelente do Colégio - garantindo assim uma acção mais legitimada e eficaz. 
E pode, finalmente, perguntar-se: o elevado preço que se está a pagar sob a forma de desunião do corpo dos antigos alunos justificará com os pretensos benefícios esta teimosia?
Pela discordância que manifesto em relação à proposta de Revisão da Orientação Estratégica da AAACM e se estivesse presente na Assembleia geral de 23 de Outubro de 2015 o meu voto seria, como já o foi na anterior assembleia de 19 de Junho de 2015, contra.
Lisboa, 20 de Outubro de 2015
João Paulo Bessa (200/1957)

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A mixórdia


Cartoon de Rodrigo

A mixórdia que o senhor ministro da defesa tem andado a cozinhar.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Evocação do Vasco Massapina

Foto de Silva Alves
Organizada pela Família e com o apoio da Ordem dos Arquitectos realizou-se na sua Sede dos Banhos de S.Paulo uma Sessão Evocativa do Vasco Massapina (1947-2012). Numa sessão muito participada - Auditório Nuno Teotónio Pereira cheio de Amigos, Arquitectos e Ex-alunos do Colégio Militar - intervieram o Presidente da Ordem dos Arquitectos, João Santa-Rita, Elísio Summavielle, Fernando Pinto, Helena Souto, João Soares, Luis Carvalho, Luis Pedro Cerqueira, Pedro Guimarães, Pedro Vaz - em representação da família - Rui Rasquilho e eu próprio.
Coube-me nesta evocação, o nosso tempo comum com início em 1957 no Colégio Militar. Este foi o meu texto:

Exmas Senhoras e Senhores. Amigos do Vasco
A memória tem uma enorme vantagem: enquanto existe não deixa esquecer. E nós, camaradas do 209 de 1957, colegas do arquitecto Vasco Massapina, amigos do Vasco, não o esqueceremos. Generoso, amigo do seu amigo, diligente, inteligente, culto e disponível temo-lo hoje, como o teremos amanhã, na nossa memória. Com saudade feita de longa amizade.
Conhecemo-nos já vão 57 anos e dez dias...
... nesta camarata da 1ª Companhia onde, no dia da entrada, fazíamos a cama pela primeira vez. Separavam-nos duas, três camas; ficámos na mesma turma. 
Começava assim o ano de "Ratas" numa vida de fardas, de formaturas, de paradas militares. De continências.
Iniciávamos então a construção de uma marca indelével de uma forma de ser, de uma forma de encarar a vida, de uma forma de estar no mundo. De uma solidariedade chamada camaradagem assente em valores tão claros como simples: não deixar ninguém para trás, nunca ser canalha, respeitar os valores da honra, da dignidade e da decência. Olharmo-nos de frente e assumirmos as nossas responsabilidades.
O Vasco sempre gostou de cumprir. E fazia-o de forma inteligente e imaginativa: por "ordem de serviço" éramos obrigados a escrever todas as quartas-feiras para a família. Uma chumbada, uma dor de cabeça na invenção do nada para dizer. Excepto para o Vasco: nas cartas que escrevia relatava os nossos jogos de futebol do campeonato inter-turmas para terminar a missão com um definitivo não tenho mais nada para contar. 
O Vasco gostava de se fardar bem, de aparecer de botas altas de equitação. Sempre impecavelmente alinhado - o Martiniano Gonçalves lembra que gostava de lhe cravar cigarros porque eram os únicos que saíam direitos dos bolsos - tinha uma postura permanente de elegância. Que lhe ficou para a vida.
No Desporto que o Colégio tornava obrigatório: a esgrima, o tiro, a equitação, a ginástica, o atletismo - levando-nos à prática do Pentatlo Moderno de que não conhecíamos existência, o Vasco, como tantos de nós, ainda fazia questão de pertencer às equipas representativas colegiais que disputavam os campeonatos da salazarista Mocidade Portuguesa.
Também gostava muito de cavalos e embora - por evidente estupidez nas prioridades do então responsável - não tenha feito parte da Escolta a Cavalo colegial, montava bem e tinha artes - como mais ninguém, aliás - de conseguir, nas diversas vezes que qualquer castigo o proibia de saída ao fim-de-semana,  o direito a um "cavalo de serviço". E então, com o Francisco Cardoso de Menezes a cronometrar, fazia da pista de atletismo o hipódromo de todos os sonhos.
De mais aulas, de menos aulas, mais formaturas e mais paradas, borgas e desatinos, chegámos ao fim do curso marcado pelo Baile dos Finalistas. Aos próximos avisou: deixem-se de palermices, nada de parvoíces, hoje vem cá a Isabel!
Gostava de fardas o Vasco, pensou em ir para a Marinha - farda azul no inverno, farda branca no verão - mas a Isabel, a caminho das Belas-Artes, levou-o, pelo amor de uma vida e para sorte nossa, a preferir Arquitectura.
Acabado o 7º ano - onde ambos pertencemos, no fundo da hierarquia, ao notável clube dos "furriéis" - o Vasco manteve sempre uma enorme e apaixonada relação com o Colégio e a nossa Associação de Antigos Alunos. Muitas vezes passava lá as manhãs de sábado a ver, orgulhoso, os netos nos treinos do Pentatlo.
Ao desafio do então Director colegial, Raúl Passos, para projectar um novo e complexo pavilhão desportivo que respondesse às actuais necessidades da formação desportiva de excelência, organizámos uma equipa peculiar: só podiam participar profissionais ex-alunos do nosso curso e nossos filhos. A nós juntaram-se o Adão da Fonseca e o Santos Coelho e os nossos filhos, o João Massapina, arquitecto e o Raul Bessa, engenheiro. E com a generosidade que punha em tudo que fazia, ao pró-bono dos projectistas, juntou o serviço do seu gabinete. Projecto que está pronto e à espera da inteligência de melhores dias para ver a primeira pedra.
E dessa sua permanente disponibilidade ainda resultaram, a pedido da nossa Associação, o anteprojecto do Colégio Militar de Timor e a reabilitação do Quartel da Formação para, a exemplo das "meninas de Odivelas", construir o nosso lar social.
Durante anos rimos - como gozávamos com o ar jamesbond de o "risco ser a nossa profissão" - e tivemos, longas, divertidas e interessantes conversas sobre políticas, politiquices, exercício da profissão, arquitecturas, urbanismo e, principalmente, sobre a mútua paixão da Cidade - essa obra-prima da capacidade do ser humano. Sempre disponível para a intervenção cívica e profissional, participamos, juntos, em muita actividade.
Por seu desafio e insistência - "a Ordem precisa da tua experiência", dizia - tenho sido nos últimos anos membro do Conselho Nacional de Delegados desta casa.
Gostaria assim por tudo o que nos liga que nós, camaradas do 209 de 57, trouxéssemos da nossa outra casa que será sempre do Vasco e para esta outra casa onde o Vasco  é membro honorário, a nossa saudação tradicional:
Senhores ex-alunos, de pé!
Pelo 209 de 57, pelo arquitecto Vasco Massapina, pelo nosso amigo Vasco: Zacatráz! Zacatráz! Zacatráz!
Zacatráz! Zacatráz! Zacatráz!
Zacatráz! Zacatráz! Zacatráz!
Ala, Ala! Arriba
Ala, Ala! Arriba
Allez, Allez à votre santé!


  

  


domingo, 1 de junho de 2014

As Meninas da Luz


Colégio Militar, 28 de Maio 2014 - a partir de foto de Silva Alves

O Colégio Militar de género misto está, num sinal dos tempos - o género feminino já conquistou nas sociedades ocidentais os direitos de acesso a todas as áreas de actividade - a que só desatentos ao mundo que nos envolve podem colocar estranheza, a tornar-se uma realidade. 

As raparigas que, actualmente e na sua enorme maioria, entraram por primeira escolha para o Colégio Militar, mostram-se satisfeitas e dizem até que querem o estatuto de "internas" porque "é mais divertido!"

Mas nem tudo são rosas. Devido às péssimas decisões do Ministério de Defesa - num despautério incompetente, desproporcionado e temporalmente errado - as "Meninas da Luz" não estão nas melhores condições podendo até falar-se de segregação em aspectos que dizem respeito a espaços e acções de lazer ou fardamentos, por exemplo. 

Com um início pouco brilhante e onde a Igualdade de Género ou a Igualdade de Oportunidades - valores essenciais desta nova faceta - não parecem estar devidamente acauteladas por responsabilidade das acções, repete-se, do Ministério da Defesa, espera-se que os responsáveis da Direcção colegial, da Associação de Pais e da Associação de Antigos Alunos consigam impôr as necessárias rectificações que evitem a realidade do ditado de "o que torto nasce, tarde ou nunca se endireita".

E esta mudança para o estatuto misto - ao contrário do que pretende o Ministério da Defesa - nada obriga ao desaparecimento do secular Instituto de Odivelas. Uma coisa nada tem a ver com a outra. A não ser a comando de interesses.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Cortina de fumo

O Colégio Militar está a ser utilizado como cortina de fumo para destruir, longe do olhar da opinião pública, o Instituto de Odivelas.
Cúpula com capote
Jacinto  Luís
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Esta é a verdade das coisas e a questão do género, posta a correr como centro do conflito Colégio Militar/Ministério da Defesa Nacional, não passa de um artifício usado pelos estrategos ministeriais para levar a carta a um qualquer Garcia. 
No início era a justificação económica que, como se viu, não passava da vulgaridade economicista. Agora surge o género como elemento central do conflito. Sempre para focar atenções e com o mesmo objectivo: permitir a destruição do Instituto de Odivelas longe do conhecimento da opinião pública. E com um mesmo método: utilizar o Colégio Militar e a sua oposição ao processo.
Se a Igualdade de Género fosse a questão central, o processo teria outra forma. Explico-me:
Para resolver este problema do género uma de duas soluções é possível:
- na primeira, o Colégio Militar e o Instituto de Odivelas mantinham-se como são desde sempre. A existência de duas escolas com finalidades e objectivos similares e sendo uma de frequência masculina e outra feminina, resolvem a questão da igualdade de género ao possibilitar o acesso de qualquer dos sexos à essência de um mesmo programa escolar. Ficando assim a questão do género resolvida com as vantagens e inconvenientes da homogeneidade;
- na segunda, os dois estabelecimentos abririam as suas portas ao género contrário, o Colégio Militar a raparigas, o Instituto de Odivelas a rapazes. Fazendo então sentido especializar cada um dos estabelecimentos em programas de estudo diferentes e a questão do género ficaria resolvida com as vantagens e inconvenientes da heterogeneidade.
Em qualquer das situações, não sendo necessário qualquer destruição mas apenas as mudanças exigidas pela adaptação aos tempos, nada impediria a procura de sinergias que fizessem um todo superior às partes.
E como se decidiria por uma ou outra forma? Enumerando, de uma e outra, vantagens e inconvenientes para, recorrendo a um conselho de pedagogos, encontrar o sistema que forneça melhores garantias de êxito futuro.  
Como nada disso foi ou será feito, percebe-se que a questão do género não passa de uma habilidosa fumaça dirigida aos olhos da opinião pública. Para esconder objectivos e disfarçar intenções. 
Porque o conflito é outro. O que directamente nos opõe assenta na forma descuidada, ignorante, leviana e irresponsável como o sr. ministro Aguiar Branco tem dirigido, num facilitismo oportunista, todo o processo, ignorando o carácter bissecular da instituição ao impor o externato como forma e possibilitando entradas até ao 10º ano (Despacho 4785/2013). O que, hoje, acrescentamos na oposição é o abuso de poderoso ao utilizar-nos, ao utilizar o Colégio Militar, para encobrir os seus interesses. 
A pretensão é evidente: fazer verdade da mentira mil vezes repetida. Repeti-la à exaustão para que encontre o caminho do mito e se estabeleça na opinião pública, justificando e escondendo e levando-a ao desinteresse das coisas sem importância
E que nos resta? A denúncia, obviamente.
Denunciar os jogos de interesses, avisando a opinião pública que o objectivo deste jogo é destruir o Instituto de Odivelas para entregar o seu património físico aos interesses de privados. Denunciar que esta estratégia é da responsabilidade do sr. Aguiar Branco porque feito ministro da Defesa Nacional. E que a questão de género não é para aqui chamada: não faz parte da questão.
E porque é que a destruição do Instituto de Odivelas nos diz respeito? Antes do mais, por razões de solidariedade - pertencemos ao mesmo mundo - depois porque, se distraídos e como avisa Brecht, já não teremos tempo, caído que esteja, de lutar pela nossa defesa.



sábado, 7 de setembro de 2013

Crendices

Foto iPhone - João Paulo Bessa

Chegou-se ao espelho, viu-se heroína e proclamou: “Nesse dia passarei a ter uma coisa em comum com os alunos do Colégio Militar: nesse dia estaremos a fazer história.”(1). Como do reflexo não viesse sinal de alarme desta abusiva imposição de partilha de vontades, excedeu-se e definiu cronologicamente um Setembro de 2013 com uma desmedida justificação: “O ano em que será extinta a ultima limitação de género da república portuguesa.”(2).

Ó senhora Berta Cabral, a última limitação de género na República Portuguesa?! Não o faz por menos?! Em que mundo vive, para onde olha e o que vê? A última limitação?!… 

Pensei que o argumento surgisse mais cedo – era imperdível, não era? Nada como justificar uma fusão apressada, cara e arruinadora de património com uma causa nobre – Igualdade de Género e Direitos da Mulher - e que serve simultaneamente de acusação: os Antigos Alunos do Colégio Militar não passam de um bando de machistas empedernidos. Condição, afirma-se aos sete ventos, que é a única e verdadeira razão da oposição dos Antigos Alunos: “Garantir que as mulheres continuariam sem entrar no Colégio Militar.”(3)

Tenho, senhora Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, experiência suficiente de vida e bom conhecimento das questões de género – aprendo em casa: sou casado com Ana Coucello, feminista, presidente (2000/05) da Association des Femmes de l’Europe Méridionale (AFEM), vice-presidente (2002/04) do Lobby Europeu de Mulheres, presidente (2006/2008) da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres e antiga aluna (nº68/59) do Instituto de Odivelas – para não cair na primeira aparência só porque alguém se lembra de chamar o assunto à colação para melhor servir os interesses que conduz. E, claramente, não aceito o argumento. 

Porque se fosse uma questão de direito de acesso a solução seria simples: abria-se o Colégio Militar à frequência de raparigas – solução que não obrigaria a dar cabo – como pretendem dar - do secular Instituto de Odivelas. Que tem pergaminhos históricos. Patrimoniais. Inimitáveis. 

E não é assim. A Igualdade de Género só é aqui chamada como bengala de argumentário coxo. Porque tudo isto navega contra a sedimentação da História acobertado no disfarce da pretensiosa inovação da marca de Estabelecimentos Militares de Ensino e na insinuação, em promária caça de elogios, de que o peso da tomada de decisão está no rompimento de um inventado Clube do Bolinha onde menina não entra, mistificando e usando o que dá jeito para ignorar o que incomoda e criando contas, sem profundidade e confronto. para justificar a mais fácil das soluções: acabar com tudo e reduzir a História a zero. Assim, neste quadro que me impuseram, assiste-me o direito de perguntar: a quem vai interessar o Forte de Santo António da Barra sobre o mar que toca o Tejo? e a qualidade das instalações de Odivelas? e o Monumento Nacional do Mosteiro de S. Dinis? e o Claustro da Moura? e a Torre da Madre Paula? e a Sala do Tecto Bonito? A quem vão servir? quem ficará com eles, para que uso e a troco do quê? 

Aliás se o problema fosse uma verdadeira preocupação para encontrar soluções de acordo com os méritos da Igualdade de Género, também o Instituto de Odivelas abriria as suas portas a rapazes. Ah! Mas isso era impossível por causa dos custos, imagino-a a responder, senhora Secretária de Estado, num aqui d’el-rei de primeira-linha. Mas será?! 

Por favor, senhora Berta Cabral, não me venha com a pomposidade da estrutura de custos: há mais de dez anos que a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar tem vindo a fornecer aos responsáveis de mais alto nível pela instituição, soluções que, se aplicadas, já teriam feito do Colégio Militar uma unidade autossustentável. E sem alteração do seu carácter fundamental. 

As razões da fusão destruidora – destruindo num despacho aquilo que levou séculos a construir - só podem ser outras…que valerão o exagero do custo da operação. 

Como já o disse mais do que uma vez não é o género feminino e a sua eventual frequência do Colégio Militar que me preocupa ou me faz espécie – a adaptação ao sentido dos tempos a isso levaria. O que me faz espécie é esta avidez, esta insustentável leveza de solução pretensiosa onde tudo parece valer para impor um duvidoso interesse já decidido. A que se acrescenta a perigosa vaidade de Fazer História. E para o garantir nada como ouvidos de mercador em contraponto à demagogia de argumentos falaciosos. 

O que continua em causa é a incapacidade de proceder às reformas que garantam que o carácter das instituições caminha sempre no sentido da excelência: escolar, desportiva e da aprendizagem de liderança baseada em valores perenes. Fazendo destas instituições de ensino uma demonstração cada vez mais qualificada da extensão do serviço público prestado pelo Exército Português. 

O que me incomoda, o que me indigna, senhora Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, é o desplante da escolha cega e surda de um caminho desastroso para o carácter futuro destas instituições de ensino, nomeadamente – e para o caso que mais me diz respeito – do Colégio Militar. Melhor prova?! O facto de Marçal Grilo, conceituado especialista e convidado pelo seu actual Ministério da Defesa para estudar e propor as hipóteses de reforma, ter assinado a petição enviada ao senhor Presidente da República para pôr fim ao despacho ministerial que formaliza a fusão. 

Fazer História. Porque o titula, julga-se no direito a pretendê-lo. Está feita, diz a senhora Berta Cabral e o mundo curva-se. Curvar-se-á?! Deixá-la-á sonhar com a referência, na memória dos tempos, do seu nome na cronologia de sempre da luta – essa sim, quantas vezes heroica - pela Igualdade de Género? 

Fará História?! Ficará na História?! Só se for, senhora Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, num rodapé a lembrar abuso consumado de uma operação infeliz e prejudicial ao património de Portugal. E que mais não é do que ofensa gratuita à memória de muitos. 
(Antigo Aluno 200/57)

(1) Fazer História, Berta Cabral in Diário de Notícias de 2/9/2013
(2) idem
(3) ibidem

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

QUE LHE BATE FORTE

Diz que lhe bate forte no coração, o ministro. É natural, o senhor Aguiar Branco - não é que não perceba o erro da aposta - tem uma agenda. Uma agenda de destruição de instituições de ensino seculares - Colégio Militar, Instituto de Odivelas e Pupilos do Exército - a favor de qualquer coisa, no interesse de alguma coisa que, confesso, ainda não percebi.
Mas qualquer coisa existe de interesseiro neste poder governamental - cada vez que os ouço, no despudor das intervenções, na pesporrência das suas afirmações, na visão que demonstram, mais me convenço que assim é. Traição à Pátria?! Assim é para quem, na desculpa de mau pagador, usa e abusa - José Gil, o filósofo, lembrava Sartre para acrescentar em definitivo: "Canalha é aquele que usa e abusa do seu direito." - pior, do que lhe deram como poder. E destruir, com ar triunfal de alquimista do futuro, património secular e transmiti-lo adulterado às novas gerações pode ser assim chamado, pode ter o nome de traição. À Pátria?! Claro, porque é à Pátria, a Portugal, que este património pertence!
E estas coisas do património, escrutinam-se - tirando as devidas conclusões e impondo as necessárias obrigações.
Eminência parda, à marca secular, ao nome feito e reconhecido, prefere a sua inovação: "Estabelecimentos Militares de Ensino". 
"Estabelecimentos Militares de Ensino", a marca do senhor ministro que ninguém conhece, que ninguém sabe a que se refere mas que pretende substituir na história as marcas que o tempo vincou. A substituição que o marketeer de serviço lhe impingiu. E que, num deslumbre, gostou. Que lhe bate forte, diz embevecido. São assim os recém-chegados, de nada sabem mas são serviçais na vaidade que os interesses lhes descobrem. 
E abusa das caras, das imagens - os mais letrados as reconhecerão - e abusando da nossa memória, afirma o seu objectivo: mostrar-nos o poder de que desfruta.
É preciso ter lata: que a fusão é necessária, afirma, por razões económicas pela situação do país, etc. e tal, e, portanto, gasta-se dinheiro numa campanha sem sentido: estupidamente elitista e provocadoramente fora de tempo - AS INSCRIÇÕES JÁ FECHARAM!!!
Aqui e ali o senhor ministro e a sua equipa pretendem, num truque de extensão da parte ao todo, passar a mensagem -  não falando já da amálgama de números para influenciar a opinião pública menos conhecedora ou atenta - de que o problema, a razão de ser, da oposição dos antigos alunos do Colégio Militar se centra na instituição mista. Disparate! Abuso! Pretensão de nos fazer passar - a mim e a outros ex-alunos como eu - por nostálgicos tontos passadistas. 
O problema não está na eventualidade de uma abertura de género do Colégio Militar. O problema de base não é a questão de algum clube do Bolinha onde menina não entra. Não! O problema está na pressa, no desvario, com que se pretende fazer uma reforma destruindo o carácter institucional que levou 200 anos a construir mas que a varinha mágica ministerial levará meia-hora a destruir. E que define a diferença entre, no caso, o Colégio Militar e as outras instituições de ensino nacionais. O problema está no disparate, não numa qualquer guerra de sexos.
Que é necessária uma reforma?! Claro que é, di-lo há anos a Associação dos Antigos Alunos.
Aquilo que queremos, aquilo que pretendemos, é que a necessária reforma potencie as capacidades colegiais para um mundo actual e futuro de tal forma que o torne tão exemplar como o foi sempre. Com inteligência e sentido estratégico.

                                                                                                         Ex-aluno 200 de 1957

terça-feira, 9 de abril de 2013

Tratantes

O senhor Aguiar Branco, mesmo se Ministro da Defesa, tomou uma decisão para a qual não é competente nem, tão pouco, mandatado. Por ignorância, convencimento ou vaidade institucional decidiu deitar ao caixote do lixo património nacional, cultural e histórico de mais de duzentos anos. Com o mesmo ar com que os néscios tratam aquilo que não compreendem ou atingem. Sem importância.

A pesporrência do senhor ultrapassa aquilo que é suposto fazer um nomeado governamental: proteger a herança patrimonial que recebeu e garantir-lhe a continuidade futura. Inchado de importância no fato de riscas e gravata saliente decidiu-se pelo disparate de alterar o Colégio Militar, instituição nascida a 3 de Março de 1803 e que a Portugal deu muito mais do que o sr. Ministro sabe ou possa julgar.

Nos velhos claustros perorou um dia, em cerimónia oficial, o investido sr. Ministro:
Em 208 anos de história já passaram por este púlpito dezenas de ministros, primeiros- ministros e chefes de estado. Por este púlpito já passaram dois regimes, três repúblicas e dezenas de governos. Deste púlpito já se disseram centenas de discursos.
Uns glorificando o passado, outros mais pessimistas com o presente, no tempo em que foram ditos, outros optimistas quanto ao futuro que se aproximava.
Mas passaram os regimes, passaram os ministros disseram-se as palavras e o Colégio Militar permaneceu.
Há 208 anos que é assim. Há 208 anos que o Estado Português investe não na instituição em si, porque essas nascem e morrem por decreto, mas nas pessoas. Nos alunos. Por aquilo que podem fazer cá dentro mas sobretudo por tudo aquilo que demonstram ser capazes de fazer lá fora.
Na sua longa história o Colégio Militar sempre fez justiça a esse legado. Os alunos do Colégio Militar absorvem aqui os valores e princípios que o Estado, verdadeiramente soberano e digno do seu povo precisa, hoje mais do que nunca.
Os alunos do Colégio Militar sempre se souberam distinguir. Na defesa da soberania. Na defesa da liberdade e na construção e desenvolvimento do país.
Dos teatros de África às missões internacionais em que hoje estamos empenhados. Da política, à economia ou mesmo na chefia do estado.
Não é seguramente por acaso que esta é a instituição de ensino que mais Chefes de Estado deu ao nosso país.
E é por isso que Estado português investe no Colégio Militar. Para ter ex-alunos do Colégio Militar 
28 de Outubro de 2011 
Quer dizer o sr. Ministro disse o que não percebia e agora também não percebe - para azar nosso de ex-alunos - a contradição da sua assinatura. Provavelmente porque não disse o que disse. E porque não percebe que nós falámos de património, não de saudade.

A decisão do Ministério da Defesa do Governo da República Portuguesa e interpretada pelo ministro Aguiar Branco sobre as instituições de ensino militar, nomeadamente sobre o Colégio Militar do qual fui aluno e que conheço muito bem nas suas virtudes e defeitos, é incompetente, estúpida e irresponsável.

Incompetente porque se baseia em contas mal feitas, comparando o incomparável - esquecendo o elementar aprendido na primária de não somar castanhas com bananas - e não mostrando a mínima ideia de como realizar qualquer composição de custos. A visão é economicista, primária e, ignorando as diversas formas de ultrapassar um problema criado por exterioridades ao próprio Colégio, desvaloriza as óbvias mais-valias que uma administração mais objectiva e melhor relacionada com as características colegiais, facilmente conseguiria.

Estúpida porque pretende resolver um problema criando um maior, no seguimento aliás do receituário que temos percebido como ás de trunfo governamental: recorrer ao mais fácil por total incapacidade de encontrar eficazes soluções para cada problema que surja. Para o Colégio Militar existem óbvias soluções, explicadas por mais do que uma vez aos senhores governantes e seus mandados - mas o preconceito e a pateta ideia da poupança aparente e propagandeável está, estupidamente, a levar a melhor sobre a inteligência do trabalho que soluções capazes e eficazes implicam. Mas que resolvem o problema. Como define Cippola (ver aqui), a estupidez é muito mais ampla e perigosa do que poderíamos supôr. E a decisão tomada é prejudicial e ninguém ganhará realmente com ela. Pelo contrário, prejudicará todos, incluindo o Exército que deixará de poder mostrar ao país que lhe presta um vantajoso serviço de elevado nível como o demonstrará qualquer análise ao passado colegial.

Irresponsável porque transforma aquilo que, com 210 anos de existência, se tem pautado por caminhos de excelência que a mera análise das médias de notas anuais não permitem compreender ou qualificar. Tão pouco o pretendido custo comparativo de contas mal feitas. Deitar pela sarjeta potencialidades - e já nem falo nas vantagens comparativas de uma especial relação com os PALOP - que um mínimo de inteligência e cultura permitiriam repôr, transformando um período menos bom num novo exemplo de excelência, é de uma irresponsabilidade inconcebível. Que não pode ser ignorada ou perdoada.

E tudo misturado, embora pretendendo disfarçar-se sob um diáfono mas pretencioso manto de boa governança - só contaram p'ra si... - configura um brutal desperdício do que levou gerações a construir. E neste sentimento englobo o centenário Instituto de Odivelas que desaparecerá do estado que lhe conhecemos.

Duzentos e dez anos é uma dimensão que este Governo não compreende nem, tão pouco, distingue do anteontem. Ao admitir esta solução o Governo, o Primeiro-Ministro e os seus outros membros, são cúmplices no disparate e no abuso. E enquanto destruidores de património relevante não merecem respeito e como tal devem ser tratados.

Tratantes!

terça-feira, 5 de março de 2013

Ginásio Dario Fernandes

Jacinto Luís
O velho Ginásio, o nosso velho Ginásio de mais de meio século, cheio das nossas memórias de saltos de plinto, de mini-tramp, de cama elástica, de corridas, de cambalhotas, de mortais e flic-flacs, de subidas à corda ou a espaldares ou equilíbrios de subidas à barra ou passeios na trave ou de jogos colectivos, em aprendizagens precisas de destrezas e domínios corporais, ganha hoje uma nova vida ao ver-lhe acrescentado o nome ilustre de um dos nossos: Professor Dario Fernandes. Ginásio Professor Dario Fernandes.

Quando Dario, em 1962, chegou ao Colégio eu já fazia parte, como alguns outros que aqui estão hoje presentes, da Classe Especial de Ginástica pela mão de Mestre Reis Pinto. Era uma excelente classe, trabalhada na técnica das posições, na disciplina da articulação de desenho exacto dos segmentos corporais a que a preocupação do Mestre pela flexibilidade, dava uma dimensão estética inultrapassável. Na passagem de mão, Dario Fernandes, a nada virando as costas da anterior formação e preparação, mas, pelo contrário, tirando dela todo o partido, deu-nos, abrindo-nos novas caixas de ferramentas, uma nova alma ao introduzir-nos no mundo da acrobacia gímnica, na parafernália de saltos e acrobacias que nos transportavam a um outro mundo – e como treinávamos… sempre com o sorriso e a mão de apoio, subtil, a safar qualquer erro. Crescemos assim como classe, como grupo, como grupo de amigos, solidário e empenhado numa partilha de confiança absoluta: "podes tentar que consegues", respondia às nossas preocupações de risco. Foi uma Classe Especial excelente que se mostrou em diversos saraus. E assim continuou anos a fio até à Classe de Gafanhotos com que em 1994 encerrou a sua prestação de professor.

Há anos atrás - tantos que o Refeitório dos Oficiais ainda era no velho edifício, hoje desaparecido, onde foi a minha 1ª Companhia - recebi um convite do então Director para assistir a uma exibição da Classe Especial da altura, seguida de almoço com ele próprio. Naturalmente, apresentei-me. Vi a Classe e encontrei, com alguma surpresa e já na mesa de refeitório do Director, o Dario. “Então, gostou?”, perguntou o Dito. ”Nem por isso”, respondi sem os grandes alardes que um convidado não pode ter. Pediu-me para explicar e eu disse: “Não é a nossa cultura gímnica! À habilidade faltou forma, ao destemor faltou disciplina senão técnica, à dimensão faltou estética. Pareceu-me que estaremos no limiar da acrobacia de saltimbanco.” Dario sorria, levemente, mas sorria. “Percebo…”, disse o Director e Dario sorriu mais.

Dario Fernandes tinha, sem nunca mo ter dito, arranjado aquele encontro. Desgostoso do caminho colegial que a sua Ginástica estava a levar, queria mostrar uma outra opinião. Leal como sempre, não influenciou. Mas, mais uma vez, Dario Fernandes mostrava-se o herdeiro cultural da forma como encarávamos o exercício da ginástica e a sua apresentação. Graças ao Dario a nossa cultura, a nossa tradição gímnica, o nosso Colégio, tinham ganho mais uma batalha. Destreza, desenrascanço, ousadia, destemor, com certeza, mas enquadrados pela excelência da técnica, do rigor e da disciplina. Pela estética mais do que pelo espanto. Ou seja: dentro do quadro do que somos, do que queremos ser, enquanto Colégio Militar. É por isso que Dario Fernandes é um dos nossos: porque construiu connosco, na partilha de cada dia, o desporto que constitui um dos factores distintivos e identitários do nosso Colégio. É dos nossos porque lutou, porque luta, connosco pelos mesmos valores! E por isso, em cada um dos três milhares de alunos que os seus 33 anos de serviço colegial permitiram, deixou a raridade de um amigo e de uma saudade.

Fico contente, por ti e por nós, meu velho Ginásio agora que rejuvenesces com o espírito aberto, cativante e alegre, carinhoso, leal, franco e solidário de um verdadeiro humanista que é o sempre presente espírito do Dario Fernandes que agora te amplia o nome. Guarda-o bem e lembra-te: quando as nossas memórias se apagarem e fores tu quem tenha de responder à dúvida do quem foi?, lembra-te que recordarás um Homem de Bem. Um dos nossos!
João Paulo Bessa (200/57)

[texto dito na cerimónia de colocação do nome do Professor Carlos Dario Fernandes no Ginásio do Colégio Militar a convite da Associação dos Antigos Alunos em 3 de Março de 2013]

sábado, 5 de janeiro de 2013

Prémio Barretina Desporto 2012

Texto que li na cerimónia em que recebi o Prémio Barretina - Associação Desporto - 2012 atribuído pela associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar.

Foto iPhone

"Agradeço à Associação dos Antigos Alunos do nosso Colégio e à sua Direcção esta atribuição do Prémio Barretina do Desporto que muito me honra.

Os meus camaradas de curso, principalmente os "200 Bessas" das patrulhas que guardo no coração, saberão bem quanto significa para mim. E também saberão do seu significado alguns amigos oficiais de então - como o Nuno Cêpeda ou como o Pinto de Menezes, o querido Menau, que gostaria de o saber se cá estivesse connosco.

Agradeço também este prémio ao meu Pai que me introduziu o vírus do Desporto e que se tornou na água-forte que desenha toda a minha vida. Obrigado Pai.

E agradeço também a todos os treinadores, colaboradores, companheiros de equipa, dirigentes e a muitos adversários com quem fiz a minha carreira desportiva.
Desenhado em iPad
Miúdo ainda fui com a minha avó à costureira. Fiquei - claro! - a olhar para a janela e vi, lá ao fundo, uma curva e um bocado de recta de uma Pista de Atletismo. Fiquei fascinado. E aí terão começado os sonhos.

Tempos depois, ao lado do meu Pai e quando ia fazer os exames de aptidão ao, soube-o depois, Ginásio colegial, vi a nossa Pista de Atletismo e percebi, logo ali e acima de qualquer dúvida, que queria ficar no Colégio. Pelo ligeiro sorriso que guardo do meu Pai, sei que percebeu as minhas razões.

Com o que sei hoje de Desporto e dos seus sistemas - e sei bastante - não tenho nenhuma dúvida em o afirmar: frequentei uma das melhores escolas de formação desportiva do mundo da altura.

O que no Colégio então se fazia é comparável aos melhores sistemas de formação que hoje servem o desenvolvimento desportivo internacional.

À frente do método e do sistema de então lembro Pereira de Carvalho, o "Porco".

Dessa equipa faziam parte Mário Lemos, meu treinador de Atletismo e Voleibol; Reis Pinto na Ginástica e com quem aprendi oo inícios da Classe Especial; Nuno Vitória e Abranches de Sousa, meus treinadores de Andebol; Luís Sequeira, meu treinador de futebol e de quem fui "capitão de equipa". E lembro ainda com amizade o Chico das Bolas que nos garantia a qualidade das bolas e o Carranço que nos entregava equipamentos cuidados como para verdadeiros profissionais.

E lembro ainda, nos cavalos, o Manel Cerqueira que, no meio do volteio, me ensinou para a vida que "serviço é serviço, conhaque é conhaque!"; o Manuel Rodrigues, o "Manecas" e o Milho Ferro que eram responsáveis da Escolta a Cavalo a que pertenci.

Também não esqueço o Calisto da Esgrima e as tentativas que fazíamos para jogar Ténis no Ginásio com a impossibilidade de bater em bolas que deslizavam agarradas ao chão...

Por último e por mais próximo do coração lembro o enorme Dario Fernandes cuja Competência - transformou a nossa Classe Especial numa Classe de Excelência - Sentido Humano e Amizade me marcam as saudades para sempre.

Para com todos eles tenho uma dívida de gratidão.

Nós eramos atletas de Pentatlo Moderno sem sabermos que isso existia... e o método era tão bom que, sem que a modalidade nos fosse alguma vez ensinada, conseguimos formar uma Selecção Nacional de Rugby com ex-alunos que foram internacionais. Como também aí, no Rugby, me junto nos quatro seleccionadores nacionais ex-alunos. E como temos campeões noutras modalidades ou treinadores de grande sucesso. Todos ex-alunos do nosso Colégio.

A formação desportiva do nosso Colégio era, no meu tempo, formidável. E também graças a isso posso estar aqui a receber este Prémio Barretina.

E é por muito dever ao nosso Colégio que quero ainda dizer alguma coisa sobre o actual momento colegial.

"Todo o mundo é composto de mudança", avisou o poeta Camões e cantou-o o trovador José Mário Branco. O meu Colégio, o Colégio do nosso tempo, mudou! Já nada é como foi.

Aceito, naturalmente, a mudança. Mas gostaria que essa mudança - sendo composta como a vida mandar - me deixe as referências que permitam que a minha memória possa ter um espaço real de representação e encontro.

Por isso, para que isso seja possível, é que se dá importância ao património físico e cultural - para que a memória se mantenha viva nessa misteriosa e churchiliana "cadeia dourada" que dá sentido e continuidade às nossas gentes.

Já bastou a falta de cultura e inteligência que levou à destruição do Edifício das Ciências de notável escadaria. Já bastou a insensibilidade incapaz de integrar a incomparável luz do Pavilhão de Desenho numa nova função, numa nova forma.

O que espero, o que desejo, o que quero é que a inteligência, a capacidade da força da nossa resistência se for caso disso, nos garanta, seja qual for a mudança, o espaço de vivência dos zacatrazes da nossa memória.

Viva o nosso Colégio! Viva o Colégio Militar!
30 de Novembro de 2012"

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