segunda-feira, 28 de julho de 2014

Desportivismo

O Pódio 2014: Péraud, Nibali e Pinot
Foto de 
Le Tour de France, TDFbySKODA
A última etapa do Tour tem regras, obrigando os corredores a cumprirem os códigos que eles próprios definiram. Por isso é sempre um grande espectáculo ver as últimas voltas do circuito dos Champs Elysées com o pelotão apinhado dos sobreviventes que, depois de enormes sacrifícios e esforços conseguiram cumprir a sua ambição: chegar a Paris. E ontem não falhou o entusiasmo: os combóios das equipas a prepararem o caminho para os seus sprinters foi digno de admirar - e a velocidade a que vão... O sprint final entre Marcel Kittel, o vencedor, e Alexander Kristoff, segundo classificado, foi de cortar a respiração. Que momento!
Mas viu-se mais.
O francês - e um dos mais velhos do pelotão - Jean Christophe Péraud caiu, já dentro de Paris e por causa de uma garrafa, a 43 quilómetros do final da etapa. Em segundo lugar da classificação geral, a pouca diferença que trazia de vantagem sobre o terceiro - o também francês Thibaut Pinot que ganharia o Prémio da Juventude - viu o seu lugar no pódio em risco. Principalmente se alguém resolvesse acelerar a velocidade do pelotão.
E foi o que aconteceu: conhecedores ou não da queda de Péraud alguns ciclistas, que não Pinot, resolveram atacar.
Então, do meio do pelotão, saiu o grande - o enorme - camisola amarela e vencedor do Tour, Vicenzo Nibali para, com gestos determinados e que não deixavam dúvidas a ninguém, impor ordem - no que foi seguido por outros ciclistas - aos violadores do imperativo código. Bonito gesto e uma exigência de desportivismo a demonstrar que, apesar de profissional, o desporto pode ter a decência por base. Grande Tour!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Cândido, o Cadol


O trabalho das equipas
Foto de Le Tour de France, TDFbySKODA

Gosto do Ciclismo que se traduz em corridas, principalmente por etapas. Gosto das estratégias e tácticas que as equipas utilizam para colocar os seus melhores em posição de vitória - gosto da componente colectiva desta modalidade.
Ver a Volta a França através da excelência das imagens que a televisão nos proporciona - juntando às imagens desportivas as imagens aéreas da ocupação do território (haverá imagens mais interessantes do que uma vista aérea de um aglomerado urbano?) - é qualquer coisa de extraordinário. E se houver luta desportiva, então o tempo é muito bem passado, divertido e, muitas vezes, entusiasmante.
Quem primeiro me mostrou o que eram os encantos do ciclismo foi o Cândido mais conhecido por Cadol, garagista - como o classificávamos - que nos arranjava os furos das câmaras de ar das bicicletas. Mecânico de bicicletas de profissão, louco pelo F.C. Porto, fazia, volta não volta, a Volta a Portugal. E era dele que ouvíamos as estórias dos ataques, das duras subidas, das loucas descidas. Do Sousa Santos, do Ribeiro da Silva, do Alves Barbosa, do Emídio Pinto, do Carlos Carvalho, do Sousa Cardoso e sei lá mais de quantos que a memória já não guarda. Tinha um filho, o Copi, em quem depositava esperanças de campeão - construi-lhe uma bicicleta com volante de corrida à proporção do tamanho dele.
As estórias entusiasmavam-nos e levavam-nos - na nossa etapa anual com prémio da montanha e tudo - de Miramar aos Carvalhos para ver passar os ciclistas.
Sempre que vejo as Voltas, lembro-me - com alguma nostalgia - do Cândido, o Cadol, das suas estórias e daquele espaço escuro com uma lâmpada pendurada de um fio e cheio de óleos onde brilhavam rodas de bicicletas. E onde passávamos horas por cada furo a arranjar. 
Continuo a gostar de ciclismo.
Principalmente da sua componente colectiva - provavelmente por isso, sou favorável, como acontece na Volta à França, ao uso de comunicações rádio: para que todos os membros da equipa tenham percepções semelhantes da corrida e possam agir em conformidades com os melhores interesses da equipa. O trabalho em equipa - numa distribuição de trabalho altamente organizado - é formidável: na protecção do seu chefe-de-fila (o nome diz tudo da expressão táctica colectiva), nas perseguições, no aumento de ritmo para desgastar adversários - os combóios são de notável expressão técnica e estética - na preparação para a melhor colocação do "seu" sprinter. A transmissão televisiva da Volta a França é um espectáculo que procuro não perder. Depois segue-se a Volta a Portugal, a Vuelta e o que mais houver entrecortado por jogos de rugby vindos do outro lado do mundo.
Continuo a gostar de ciclismo.

domingo, 20 de julho de 2014

Miguel de Vasconcelos

Miguel de Vasconcelos, Hélder Costa, Catarina da Rússia e Robespierre
Foto de Adriana em smartphone


No início da semana que passou participei, em A BARRACA e a convite do Hélder Costa, nos seus habituais "Encontros Imaginários" que reuniam desta vez a Catarina da Rússia (Leonor Areal, realizadora), Robespierre (Filipe Faria, Sociólogo) e Miguel de Vasconcelos, cabendo este último a mim. 
Foram momentos muito divertidos que tiveram por base, como sempre, excelente texto de Hélder Costa. Na minha figura de traidor - naturalmente a desdenhar de quem o chamava e a lembrar que a aristocracia portuguesa se mostrava, em geral, adepta dos Filipes - para além de tratar mal (pudera!) Robespierre e de estabelecer óbvia aliança com a Catarina ainda me pude interrogar sobre essa estória de traidor como, se ao aumentar os impostos em favor de estrangeiros tivesse feito diferente daquilo que nos fazem hoje os actuais governantes: traidor, não! percursor, sim! E ainda tive oportunidade de aceitar um convite da Catarina para ir para S. Petersburgo.
Foi divertido e só tenho a agradecer ao Hélder, à Leonor e ao Filipe, companheiros do mesmo Encontro.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Charlie Haden (1937-2014)


Charlie Haden com Carlos Paredes e Fernando Alvim no Hot Clube de Portugal, 1976
(foto: João Paulo Bessa) 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Reduzidos a cinzas

O paleio do sr. Scolari e o facto de trazer um título mundial na carteira aldrabaram-me quando chegou a Portugal - ingenuamente julguei que iria trazer coisas novas que pudessem transformar o futebol português. E, estúpido, acreditei. Comecei a desconfiar que não seria assim quando vi a selecção portuguesa a jogar - o paleio não tinha tradução prática, nada se transformava... mas a malta deixava-se ir na conversa das bandeirinhas à janela.
O final é conhecido, resultou no Euro sanduíche: derrota à entrada, derrota à saída contra os mesmos gregos e da mesma maneira. Ainda hoje tenho enorme amargo de boca da lembrança do desperdício de uma oportunidade que não retorna - tudo se ficou por marquetings saloios, num sempre em festa irresponsável. E desportivamente com erros elementares - como se a organização da festa nos garantisse o direito ao título.
Dez anos depois, igual... mas no Brasil. O desastre dos 7-1 do Brasil do sr. Scolari contra a Alemanha devem colocá-lo no plano onde deve estar: treinador banal que vive de auréolas exteriores à capacidade de pôr uma equipa a jogar de forma a garantir a máxima eficácia dos jogadores que a compõem e a melhor capacidade para anular as vantagens do adversário. Que é o que lhe compete enquanto treinador. O que a este alto nível significa demonstração prática de inteligência estratégica e táctica. Coisa de que nada se viu como demonstram os erros cometidos contra a Alemanha: assim como se as rezas garantissem o título tido por direito - Deus, existindo, não tem por missão tratar daquilo que é, no campo desportivo, exigência humana. 
Decididamente não gosto do sr. treinador Scolari e não lhe perdôo a derrota de Portugal na final do Euro 2004 - da qual me vou lembrar para o resto da minha vida: sentado na bancada com a família a ver a ineficácia...
Para o Brasil espero que esta derrota lhes permita reconhecer os erros do sistema do seu futebol - muita coisa está obviamente errada e as vozes que o denunciam devem agora ser melhor ouvidas. A derrota é brutal mas permite a mudança. Agora e acertada e aos que hoje choram o vexame, cabe a exigência.

domingo, 6 de julho de 2014

Os interesseiros

As opiniões do jornalista alemão, Harald Schumann, que está a realizar um documentário sobre a troika e que foram publicadas no Público de 4 de Julho de 2014:

"A ideia de resolver o problema da dívida através da austeridade falhou completamente. A dívida é agora ainda mais insustentável do que era há três anos. Os programas são também extremamente enviesados. Todo o fardo é assumido pelos trabalhadores e pelos contribuintes normais, enquanto as elites privilegiadas, que conseguem evadir a sua riqueza através dos offshores e que são as maiores responsáveis pela crise, até conseguem lucrar com os programas de ajustamento.
Por exemplo, quando conseguem comprar activos valiosos ao Estado a preços de saldo.
[...]
O “resgate” errado, que apenas salvou os investidores estrangeiros, principalmente alemães, de perderem nos maus investimentos que fizeram, mina a confiança nas instituições democráticas dos países afectados. Os governos e os parlamentos desses países parecem ser apenas marionetas nas mãos de desconhecidos — e não eleitos — burocratas estrangeiros. E, ou, de investidores.
[...]
Agora, em muitos países, estão em ascensão forças nacionalistas, que prometem ver- se livres desta Europa opaca e não democrática. Esta receita, se posta em prática, tornar-nos-ia, a todos, mais pobres. Perderíamos todos os ganhos da divisão transnacional do trabalho. Mas é precisamente porque os nossos governos mantêm os cidadãos em iliteracia económica, para camuflar a verdade e os interesse que servem, que estes extremistas são bem sucedidos. Por isso, todos os que não queremos que a Europa regresse aos tempos sombrios do século passado temos de fazer o que estiver ao nosso alcance para criar um discurso público que ultrapasse as fronteiras nacionais. Ou o conseguimos, ou o projecto europeu irá ruir."

Esclarecedor!

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