sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Gosto de Futebol

Gosto de Futebol. Quer dizer: hoje já só gosto do espectáculo de Futebol que a idade já não autoriza à participação séria. Gosto de ver, de estar no estádio, de partilhar dos entusiasmos (dos adeptos do meu clube, claro) e - pese embora a terrível tragédia no Haiti - o jogo de solidariedade entre o Benfica All Stars e os "Amigos de Zidane" teve momentos notáveis de memória - o toque que não se esquece, a movimentação táctica de quem continua a saber, a forma de pretender jogar quando a cabeça se mantém no jogo e o corpo ajuda pouco - sublinhadas por um constante sorriso. Gostei do jogo e senti, a momentos, a nostalgia do tempo. E sensibilizou-me a solidariedade de mais de 50 mil espectadores. Foi bonito.

Gosto de Futebol e acho espantoso que gente sem qualificação, de baixa cultura cívica e desportiva esteja sistematicamente - com o desleixo e desqualificação do seu comportamento - a dar cabo dele.
Como é possível esta estupidez que liquida aquilo de que se diz gostar. Estratégia do escorpião?!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Três Cantos

Por uma qualquer razão que já não lembro, não pude ir ao espectáculo “Três Cantos”. Foi uma falha terrível – vi-o ontem na televisão e vê-lo ao vivo teria sido um momento inesquecível. O Zé Mário, o Sérgio e o Fausto criaram um notável espectáculo musical, onde se reconheciam, no som contemporâneo com que recriaram os arranjos das suas músicas, a qualidade das memórias que construíram e que fizemos nossas.
Lá atrás, a compor o som, vi ainda – “representando” a inicial Escola de Jazz do Hot Clube – o Tomás Pimentel (belo trompete) e o Rui Vaz – antigo “pilar” do rugby do S.Miguel – na voz e percussões. Belo espectáculo!
Vou atrás do disco e espero que haja DVD – aquilo é para ouvêr. Mas o que espero mesmo é que haja novo espectáculo. Grande abraço.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Lobo amigo

Quando vi esta fotografia fiquei cheio de inveja: o que era preciso fazer para ter esta sorte, para estar em cima deste "momento decisivo". Ainda por cima um Lobo! Sorte danada. Deram-lhe - claro! - um prémio.

Afinal será um embuste. O fotógrafo só fotografou um lobo amigo, obediente, a quem disseram Salta! e ele saltou! Afinal não houve "momento decisivo" na foto de um lobo alugado, parceiro nas vezes necessárias ao enquadramento, focagem, estilo.

Lembrei-me das aparências e das ilusões mas fiquei mais satisfeito. Posso voltar a objectiva de novo para os meus gatos que, embora pacíficos, simpáticos e quantas vezes colaborantes, nunca saltam quando lhes peço, nunca fazem pose, nunca se viram em tempo - obrigando sempre a horas ou dias de máquina preparada para um momento decisivo na esperança de uma superfoto caseira.

Em tempo: porque o prémio é sério não lhe refiro o nome (anularam a atribuição); porque o fotógrafo não foi, também não lhe refiro o nome. Por razões opostas, naturalmente.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Manuel Alegre, candidato

Em Portimão (15/Jan/2010), Manuel Alegre disse ao que vem.

“Venho aqui dizer-vos que estou disponível para esse combate.
[…]
Como republicano, quero uma República moderna, escola pública, serviço nacional de saúde, protecção social, direitos políticos individuais articulados com os direitos sociais, culturais e ambientais.


Como socialista, acredito na possibilidade de construir uma sociedade mais justa e solidária, através de serviços públicos geridos, não pela lógica do lucro, mas pela realização do interesse geral, e através de um novo modelo económico onde se conjuguem planeamento e concorrência, iniciativa pública e iniciativa privada.

Como democrata, penso que o espaço e a intervenção da cidadania são o sal da vida pública e que a democracia participativa é indispensável à renovação da democracia representativa.

Como português, digo que Portugal é muito maior do que a sua dimensão geográfica e que pela história, pela língua e pela cultura é um dos países que pode ser no mundo um actor global.”

Manuel Alegre, enorme poeta – e com prosas que valem a leitura - democrata, republicano e socialista, é candidato à Presidência da República.
Naturalmente, será o meu candidato.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Justiça e Confortos Comuns

Em Dezembro de 1809, William Warre, inglês nascido no Porto, escreveu (Cartas da Península, 1808-18012) sobre os portugueses: “Estou convencido de que se forem tratados com justiça e tiverem os confortos comuns, roupa e comida, poderão ser tão bons soldados como os melhores do mundo. Nenhuns serão mais inteligentes e disponíveis, nem dispostos a aceitar a dureza e as privações com a mesma humildade.”
Destas qualidades se terão apercebido, já lá vão anos, os patrões e chefes europeus dos nossos emigrantes. De que estarão à espera os nossos patrões, empresários ou chefes para compreender, adaptar e aplicar o conceito? Se tratados com justiça e tiverem os confortos comuns…que tal experimentar de forma sistemática? Haveria com certeza mais produção e menos desemprego.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Acúrcio, internacional no futebol e no hóquei

O Acúrcio e o Teixeira, ambos jogadores do F.C.Porto, passavam férias em Miramar. E claro, o futebol era o tema. Enormes futeboladas na areia, atrás das barracas, próximo do riacho. Nós – eu e os do meu grupo de amigos – éramos mais novos mas lá íamos tendo direito à participação, nem sempre no futebol mas sempre nos toques. Jogar com aqueles nossos heróis de então guardou-se na minha memória para sempre. Como o golo de baliza-a-baliza que marcou no Restelo, contra o Belenenses e ao Zé Pereira(!). Li hoje que o Acúrcio, guarda-redes e defesa de hóquei em patins, internacional nas duas modalidades, faleceu. Fica-me a lembrança da simpatia e paciência com que nos aturava.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Pedroto, 25 anos

Conheci pessoalmente José Maria Pedroto nas mesas do café Orfeu na portuense Júlio Diniz ao lado da Rotunda da Boavista. Juntamente com Nuno Brás passávamos horas à conversa – ele queria saber de rugby e eu aprendia futebol e treino. Pedroto era um homem inteligente, culto, arguto e profundo conhecedor da natureza humana. Por isso deu dimensão ao “seu” Futebol Clube do Porto.

Dele se contam inúmeras estórias – algumas delas já na dimensão mitológica de que nunca se saberá a verdade verdadeira. Vão desde o “também está bem!” depois de diversas repreensões a um jogador recém-chegado que, depois de boas fintas, incapaz de centrar, rematava violentamente para as nuvens – até que acertou na baliza e fez golo… Mas verdadeira é a contada recentemente (entrevista ao Diário de Notícias) pelo prof. José Neto, seu colaborador e amigo: Fernando Gomes, o bi-bota, tinha feito uma primeira parte nem para suplente à garrafa de água; no balneário, Pedroto, pior que estragado (imagino), mandou-o desequipar-se e tomar banho. Terminado o intervalo, apito do árbitro a chamar e Pedroto a avisar “entramos atrasados” para dizer em direcção aos chuveiros “Fernando, equipa-te, entras a jogar a 2ª parte”. Imagine-se o jogo que Gomes terá feito!
José Maria Pedroto, muito saber. E um grande treinador. Aprendi muito com ele.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ir ao Porto

Sou ainda do tempo que para se ver uma auto-estrada era necessário ir ao Estádio Nacional – sei que não é daqui a expressão “para inglês ver” mas servia perfeitamente. Anos depois iniciou-se a Auto-estrada do Norte – saíamos daqui de Lisboa fazíamos alguns quilómetros, entravamos na estrada antiga e encontrávamos de novo auto-estrada à chegada ao Porto. Deveria ser “para não-automobilista ver”. E lembro-me bem de ouvir a estória do Raul Solnado (abraço, meu Amigo!) a contar que se tinha perdido à saída de Lisboa e só tinha encontrado de novo a auto-estrada à chegada ao Porto.
Depois fez-se a A1 – direitinho, sempre a andar, chega-se ao Porto (e vice-versa, pois claro!). Depois disseram-se assim: vai pela A8, tem menos trânsito, é boa e chega lá na mesma. Fui. Entrei na A8.

Com enorme espanto verifiquei – sem qualquer razão aparente – que, às tantas, já rolava na A17. Num salto, na A25 logo seguida da A29 para passar para a A44 e entroncar na A1, passar a Ponte da Arrábida e, finalmente, chegar ao Porto. Que percurso…
…Que raio era aquilo de passar o tempo a verificar se me tinha enganado. Porque é que o número da auto-estrada mudava sem nexo? Uma vozita falou-me ao ouvido: “É a economia, estúpido!”. Os concursos dos troços da construção?!!, perguntei-me.
É uma explicação. Mas estúpida também.
O que o Raul faria disto se fosse vivo…

Artur Santos Silva

Fiquei um bocado chocado quando, na esperança curiosa de ver um atleta ou treinador desportivo, dei com o meu jornal desportivo de sempre – A Bola – a atribuir ao empresário Jorge Mendes o título de Personalidade do Ano. Nada tendo contra o empresário, achei deslocado. E fiquei sem saber quem era, na visão da casa, o desportista do ano…

Valeu para a reconciliação, a excelente entrevista realizada com o meu amigo Artur Santos Silva, presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República e do BPI. Que, com a clareza que lhe é normal, fez mais pelo entendimento desportivo, pelos valores da cidadania republicana (há outra?), pelos valores da democracia, que dezenas de discursos.

Cito do título: “Ainda falta muita cultura desportiva entre nós”
E mais à frente: “ […] é também preciso que, na escola, bons professores nos estimulem para a prática desportiva e bons treinadores melhorem as nossas naturais aptidões.”
E ainda: “A prática desportiva e a existência de uma verdadeira cultura desportiva ensinam a saber ganhar sem deslumbramentos e também a saber perder. É algo que a Portugal faz falta.”

Ou: “O desporto, com os seus feitos e as suas grandes figuras, é um dos últimos e mais fortes bastiões da identidade nacional.”

Acrescentando ainda que: “As democracias têm problemas porque há liberdade, a informação circula, há escrutínio sobre a actuação dos governantes. As sociedades livres são assim. Antes, o que não estava bem era ocultado. A fragilidade da nossa democracia é a ineficácia do sistema de justiça, o que não permite punir os infractores e deixa alastrar climas de suspeição permanente. Qualquer sociedade democrática tem que exigir que a lei seja cumprida e que quem não a respeita seja punido.”

Suficiente para reflectir.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Estádios do EURO 2004

A questão da oportunidade dos Estádios do Euro 2004 voltou de novo à baila. Porquê? Porque os custos de exploração e de manutenção são despesas incomportáveis para os municípios umas vez que a lotação que foi exigida pela UEFA para o Europeu, obrigando a grande volume de construção e ao ultrapassar em muito o número de espectadores que, em média, frequentam alguns dos estádios, não permite as receitas necessárias. Estão neste caso Aveiro e Leiria. Coimbra, aproxima-se do problema. O estádio do Algarve, sem equipa desportiva residente, para lá caminha.
É recorrente dizer-se que a causa está no facto de termos construído, para o Euro, dez estádios quando as necessidades não ultrapassavam os oito ou mesmo seis estádios. Não é bem assim.
De acordo com as afirmações do então presidente da Federação Holandesa e membro da UEFA, a vitória de Portugal ficou a dever-se à apresentação, por constituir uma mais-valia para o desenvolvimento do futebol português, de 10 novos estádios (com oito o EURO seria noutro lado, conclui-se).
Assentes os dez, poderia ser de outra forma? Poderia. E seria a mesma coisa.
Naturalmente que a UEFA, responsável pela boa realização do Europeu, quando nomeia um país organizador tem como objectivo único a realização da prova nas melhores condições - por isso quer estádios capazes, aeroportos acessíveis, hotéis de qualidade, hospitais de pre
venção, polícia organizada, etc. etc. Mas não quer saber para nada do dia seguinte.
E nós, portugueses, cometemos dois erros de fundo:
• Aceitámos a ideia que estádios com melhores condições para espectadores promoveriam maiores lotações nos jogos internos – a miragem das receitas para manter os novos estádios vem daí.
• Aceitámos, sem pestanejar, que o Caderno de Encargos da UEFA constituía uma regra a respeitar para a eternidade – a tradicional ignorância que nos impede de procurar novas soluções.
E assim não conseguimos perceber que os estádios – os tais dez que nos garantiam a organização do campeonato – poderiam ter sido construídos em estruturas permanentes reduzidas às probabilidades de frequência futura e com estruturas amovíveis para situações excepcionais como era o próprio EURO.
Pessoalmente, enquanto Coordenador Nacional da Medida Desporto do QCA III, tentei que se optasse pelas tais estruturas amovíveis que prevenissem o futuro, o dia seguinte. Vasco Lince, então Secretário de Estado, concordou e tentou também que assim fosse. As respostas desculpavam-se sempre no receio de desagradar à UEFA que nunca conseguimos que fosse ultrapassado apesar de infundado, como veremos. Na Holanda e Bélgica de 2000 vi, eu e os portugueses que lá estiveram, estruturas amovíveis para completar a lotação e que seriam retiradas após a realização dos jogos do Europeu. O Algarve percebeu a possibilidade e realizou um estádio com 30.000 lugares que passariam depois a 18.000 lugares e foi mesmo dado como exemplo, para estádios futuros, por dirigentes fiscalizadores da UEFA. Entretanto o estádio olímpico de Sydney baixava a sua lotação de 120.000 lugares para 80.000 lugares – como fora previsto quando do seu projecto.
Agora restam duas atitudes: a primeira, procurar antes do mais fácil – o seu derrube - soluções que permitam manter os estádios construídos em condições de utilização; a outra, aprender com os erros e não fazer disparates no Mundial a que concorremos.

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