segunda-feira, 5 de abril de 2021

O QUERIDO PERCY VAL D’ASSECA PARTIU

A visitar a árvore do Vale de Asseca de onde decidiu adoptar-nos, a mostrar a elegância habitual e a lembrar as óptimas sonecas que fizemos, os grandes jogos de rugby que vimos e os textos que escrevemos. Um amigo e companheiro que partiu com a serenidade dos grandes e que deixa uma memória de enormes e inultrapassáveis saudades.

O Percy Val D’Asseca, o nosso muito querido gato, amigo e companheiro, partiu, às 2 da manhã do domingo dia 4, com a serenidade da grandeza com que sempre viveu, com o mínimo de queixumes que não lhe foi possível segurar, com os olhos a despedir-se. Tinha quase 16 anos — que faria em Maio. E mesmo quando a sua saúde começou a deteriorar-se, nunca deixou de nos manifestar, com enorme ternura, a amizade que tínhamos criado. Gostava especialmente de uma ou outra coisa e sabia expressá-lo de forma compreensível — como quando preferia comer os secos da nossa mão em vez de pela tijela habitual.

Desde logo membro da nossa casa, retribuía-nos a amizade — mesmo amor — que lhe tínhamos com uma absoluta confiança, nunca mostrando receio de qualquer gesto nosso. Tinha, de facto, uma total confiança em nós e mostrava-o abertamente. Nos seus últimos dois, três dias, apesar do seu mal-estar e da perda de recursos físicos e da necessidade de se auto-proteger, procurando espaços menos abertos ou mesmo escondidos, nunca deixou de vir ter connosco para uma troca de mimos. Ou a mostrar um olhar de agradecimento por um cobertor que lhe puséssemos. Parecia, em cada gesto que fazia, que nos queria mostrar o apreço em que tinha o tratamento que gostosamente lhe dispensávamos. E por isso a nossa relação tinha um laço muito forte de união.

O bilhete de identidade que lhe fizemos

Profundamente doloroso — que nos marca o coração apertado — foi o momento quando, sentindo-o já com dificuldades respiratórias transmitidas num ou noutro som cavo e vendo a sua linguinha rosa já fora da boca, percebi a minha incapacidade para fazer mais por ele do que o gesto de carícia traduzido numa festa como último adeus — nada mais podia fazer pelo querido Percy... e, tão rápido quanto possível, saímos para o hospital. E fechou-se a porta — só o voltando a ver na tranquilidade da imagem que guardo. O  choque, a perda, essas serão para sempre.

Perder a sua presença no dia-a-dia é um sofrimento muito grande — não ter mais a simpatia da sua companhia, dos seus gestos — o sentir das suas mãos a puxar uma das nossas para que lhe fizéssemos festas ou para que lhe déssemos espaço para se acolher — dos seus sítios ou das suas coisas a construir memórias que vão levar muito tempo até que possam ser recordadas com um sorriso. Dói-me muito a tua falta, Percy querido..

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