quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A resiliente ganhou

A Nina parece que recuperou totalmente - aumentou substancialmente de peso e tem uma actividade que roça o hiper. Foi de novo à veterinária que se mostrou muito optimista, achando que é possível começar a apresentá-la ao Percy ao Knight.

E aqui começa a agitação maior. Bufos a definir hierarquias, mostras de domínio territorial. Enfim, gestos a mostrar quem é quem, quem manda. E a Ana, com paciência de Job, vai-os apresentando, trás a Nina na transportadora até à sala e procura que se vejam, tentando sempre garantir que não haverá mal maior. Vai deixando objectos com cheiro dela para habituar. E fala com o Percy - que nem sempre lhe acha graça ao discurso, mostrando-se mesmo irritado - a explicar-lhe que não haverá perda de privilégios. O Knight, menos preocupado, deixa -se levar pela curiosidade e continua a a espreitar a novidade sempre que pode. Depois destas visitas a Nina é trazida de novo para os seus aposentos e o sossego nota-se: o cansaço da descida da adrenalina ganha e dorme num dos seus lugares favoritos - já criou alguns...

A Nina mostra-se cada vez mais viva e atrevida. E muito curiosa. Já se entretém com caçadas a tudo que lhe parece um terrível  inimigo.

Enfim, parece que com a sua notável resiliência, ultrapassou definitivamente o início de vida difícil que teve. Agora é assistir ao crescimento e divertir-mo-nos com as fases de criação de relações com o Percy e o Knight.

O capítulo da dúvida mostra-se encerrado.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

De novo a Nina

O atento Knight
foto telemóvel jpb
Com o apoio - e o mimo - da Ana e a constante atenção do Knight, a Nina tem-se aguentado na sua recuperação estipulada para trinta dias a antibiótico. Nos dias de bem-estar vive alegremente, salta - e como saltam os gatos (esta minorca salta para cima de objectos com 4/5 vezes o tamanho dela...) - trepa pelo cilindro de cordas onde se equilibra esbracejando por comida.

Ás vezes tem recaídas - aparentes, porque se trata apenas de mudança de comida. Alterada a ração, come alarvemente, pede mais e depois - ao colo da Ana, claro! - arrota como um bébé. E corre, salta, finta, esconde-se... não pára!

Mas continua isolada numa sala e sem poder, até que se saibam mais resultados de análises (um parasita que as pulgas lhe terão deixado, diz-se...) contactar com os outros gatos.

O Percy e o Knight andam naturalmente perturbados - ambos já perceberam a existência da Nina - mas não percebem porque não têm direito aos movimentos de sempre. E a casa tem uma agitação que não é comum  - como se não bastassem as trasmissões directas a desoras do Mundial de Rugby - e que não garante o sossego habitual. O que aumenta preocupações...

Habilidades circenses
foto telemóvel Ana
O Percy mostrou a sua segurança - nada costume - e quando viu a Nina através do vidro, bufou-lhe, deu meia-volta e, de rabo no ar - ufano, mesmo - voltou para a sala, deitou-se e dormiu. O Knight, não - farta-se de aproveitar cada momento para ver a Nina através do vidro da porta e mostra-se muito interessado.

Começa a faltar-nos paciência para manter a quarentena da Nina mas temos que garantir um mínimo de regras de segurança em relação ao Percy e Knight.  Amanhã nova visita ao veterinário para ver o que dizem novas análises - tenho bastante curiosidade em saber a opinião veterinária sobre o seu aspecto. Aparentemente parece curada, aparentemente parece capaz de enfrentar a vida apenas com os nossos cuidados normais. Mas as aparências...

Mas que a meNINA é resiliente, é! E uma querida. E mostra-nos mais uma vez a excelência deste notáveis animais. Uns companheiros - umas vezes tão sossegados e dependentes como outras de uma independência invulgar, muito senhores dos seus bigodes e capazes das maiores e mais notáveis habilidades felinas. E sempre, sempre, alheios a qualquer ordem, mas dando sempre mostras de uma enorme confiança nos seus cuidadores.


Percy a garantir companhia
foto telemóvel jpb










[o Percy dorme todo esticado com parte do corpo em cima do computador onde escrevo - e se o tiro, volta.]  


domingo, 11 de setembro de 2011

Novas da Nina da Ria Formosa

Não tem sido fácil o princípio de vida da pequena Nina da Ria Formosa.

Já tínhamos percebido que a lesão no ombro, deslocado ou mesmo partido, não era mais do que o resultado da selvajaria de ter sido agarrada pela perna e lançada para longe. No dia seguinte à volta do refúgio de Olhão a Nina apareceu com um febrão de 40º - vírus eventualmente apanhado de gatos mais velhos, pensámos - e voltámos à veterinária Sarah. Mais antibiótico, mais injecções. Medicada dormiu aos cuidados da Ana mas de manhã ardia de novo em febre. Comia mal e bebia pouco e a drª Sarah propôs-se ficar com ela durante a noite para a colocar a soro e a monitorizar – ela e o namorado, gente boa, foram-se revezando na vigília. Pelo telefone íamos sabendo das reacções. e de manhã fomos informados que a febre tinha, finalmente, cedido e diminuído. Fomos buscá-la para, em carros diferentes do Percy e Knight, a trazermos para Lisboa.

Rearranjo das coisas cá em casa com a Nina num quarto isolada e as desconfianças dos outros dois que não percebiam a redução do espaço. No entanto a febre da Nina não baixava e continuava a comer pouco. O antibiótico, cuspia-o. Voltámos ao veterinário de quem somos clientes habituais. Mais antibiótico, mais injecções e a Nina, com todo o stress da cena, a cair redonda de sono na marquesa do consultório enquanto se anotavam os conselhos.

Nos momentos em que se sente melhor a Nina é um desassossego: salta, brinca, fala, sobe – com habilidade rara – ao tronco de corda para se equilibrar, em actividade circense, na diminuta plataforma. Aconchega-se no colo da Ana, trepa-a e olha curiosa para todo o lado. Esperta menina. Sempre de enorme simpatia e a mostrar-se agradecida, dá-nos esperança de que haverá de recuperar. Resiliente, a menina. Uma lutadora. Uma sobrevivente. Depois de tudo o que passou, não se abandona.

Nesses momentos a nossa esperança aumenta. Mas depois vem de novo o ciclo do aumento da febre e de não comer. A Ana, nas experiências que vai fazendo, lembrou-se de lhe fazer uma canja: como qualquer miúdo começou por comer a carne do frango e só depois o arroz. E comeu uma pratada. A coisa compunha-se, a Nina melhorava, a febre descia. Mas ainda não era altura para distracções.

Ontem, sábado, estava de novo caída, com o nariz seco, sem querer comer. Fomos ao Hospital Veterinário da Estefânia – durante a noite já tínhamos feito uma consulta telefónica – e passámos lá uma boa parte da tarde (só vi o último quarto-de-hora do Benfica…) – em análises, injecções, mais isto, mais aquilo. A Nina portou-se, apesar de alguns gritos de dor, como um heroína, aguentou com tudo. Ela é, aliás, muito lutadora, não está para desistências, reage sempre e sempre que pode dá nota da vontade de viver – não nos deixa desanimar.

Hoje o dia começou melhor. A Nina estava bem disposta – os remédios para o estômago fizeram o seu trabalho e a anemia detectada começou a diminuir – subia por onde podia e não tinha febre. Conforme combinado voltámos ao Hospital para controlo. Tudo parece estar no caminho da melhoria. A Ana vai-lhe dando todo o ânimo que pode e a pequeNINA gata parece compreender e mostra-se agradecida. É uma querida! E tremenda lutadora. Vai sobreviver.

[Acrescento]

11/9 – ainda hoje, apesar de dez anos depois e do distanciamento que as imagens televisivas permitem, não consigo deixar de ter uma profunda revolta de indignação perante o fanatismo gratuito que provocou a queda das torres e a morte de pessoas alheias às pretensas questões. Nada – religião, política, seja o que for – justifica a estupidez da decisão dos alqueidas.

[Cippolli tem toda a razão quando avisa que um estúpido é muito mais perigoso que um bandido.]

sábado, 3 de setembro de 2011

Aventuras da Nina da Ria Formosa

Nina da Ria Formosa

À saída da praia, no limite da Ria Formosa mais próximo de Manta Rota, ouvimos miados que traduziam uma enorme ansiedade senão mesmo desespero. No meio das plantas aquáticas próximas de um caneiro encontrámos um gatito de poucas semanas de vida. Miando sempre, deixou-se apanhar com facilidade. Esperámos, uma boa meia-hora, pela possibilidade de resposta da mãe enquanto os movimentos do gatinho traduziam uma demonstração evidente de fome.

De resposta, nada. Era óbvio: fora, de acordo com os costumes locais, abandonado – o Percy que trouxemos há anos cá para casa também tinha sido abandonado – mas em local de impossível sobrevivência (se é que não escapou a um afogamento colectivo…). Ele há gentes…etc. e tal é o primeiro pensamento de repúdio e revolta – fazendo-nos esquecer que em parte alguma, escola incluída, existe qualquer preocupação para ensinar os princípios básicos para lidar com os animais que, como cães e gatos, nos são mais próximos. Nomeadamente no que diz respeito a cuidados elementares e necessidades de esterilizações… e assim nascem aos magotes com os resultados que se conhecem de abandonos, mortes por afogamento, transmissão de doenças, etc., etc.
Com uma caixa improvisada com coisas que sempre há nas malas de um carro em tempo de férias, resolvemos trazê-lo connosco – com dois gatarrões em casa a sua colocação não iria ser fácil… mas haveríamos de encontrar solução.















Meia-dúzia de telefonemas depois, a Ana conseguiu estabelecer uma rede que nos levou até à presidente de uma associação de defesa dos direitos dos animais em Tavira que nos indicou um abrigo de Olhão pertencente à ADAPO e capaz de o receber. Achamos melhor consultar um veterinário e deram-nos o contacto de uma veterinária irlandesa – dr.ª Sarah – que vive na área do Vale da Asseca. Novo telefonema e apareceu, sem qualquer problema, de imediato: eram dez da noite.

E foi então que percebemos que o gatinho era uma gata!

A drª Sarah em acção














Depois de algumas injecções, de tentar perceber o que poderia impedi-la de mexer bem uma pata, conseguimos instalá-la. Estava morta de fome, comeu tudo o que lhe demos e foi alimentada de quatro em quatro horas.

Conforme o combinado fomos, no dia seguinte, levá-la à associação de Olhão onde ficaria até aparecer alguém que a adoptasse. A viagem correu bem e, percebi, a ligação com a Ana era cada vez maior. Não sem alguma tristeza, deixámo-la na associação, deixando também o seu nome: Nina da Ria Formosa. E a esperança que a sua resiliência lhe permitisse a adaptação necessária à sobrevivência no meio de uma trintena de gatos, todos eles, comparativamente, enormes.

A Ana estava inconformada. Apesar da boa vontade evidente – por tão pequenina a coordenadora do abrigo levou-a para sua casa nessa noite - da preocupação em garantir meios de sobrevivência aos gatos, o local estava sobrelotado para a dimensão das instalações. Passou o resto do dia a fazer telefonemas, procurando entre amigos e conhecidos quem poderia ficar com a Nina. Encontrada guarida, voltámos a Olhão para a buscar.

Na volta, novo encontro e nova consulta com a dr.ª Sarah – só fala inglês (por enquanto diz ela). Detectado um surto de febre, mais injecções e mais pastilhas, melhor conhecimento da lesão na pata e aí está a Nina, de novo instalada em melhores condições, à espera que a levemos para Lisboa enquanto que o Percy e o Knight se mostram desconfiados com algum esquecimento a que ficaram sujeitos nestes três dias.

Nota: Numa ironia sobre impossibilidades, Desmond Morris deu como exemplo a improvável (ou até ridícula) relação gatos/jogadores de rugby. Claramente Morris não sabe nada de rugby e não terá grandes conhecimentos sobre estes felinos da nossa proximidade.
fotos jpb de telemóvel




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