quinta-feira, 10 de novembro de 2016

UM MUSSOLINI CONTEMPORÂNEO?

Cabeça de Benito Mussolini de Giandante X (1900/1984)
Ganhou Trump e o país mais poderoso do mundo irá ser conduzido por um racista, demagogo, populista, egocêntrico, xenófobo, sexista, protofacista, mentiroso compulsívo e tantas outras coisas mais que fazem dele uma espécie de Mussolini contemporâneo.
Com uma campanha a fazer-se anti-sistema este multimilionário do imobiliário e casinolândia que vive no e do sistema conseguiu convencer os americanos suficientes para garantir o maior número de delegados.
É um facto que Hillary Clinton, não sendo um fenómeno de popularidade, tem ainda contra ela o facto de ser mulher numa sociedade que, segundo um conhecido comediante, é "muito mais sexista que racista... e somos terrivelmente racistas". Como caricaturava Michael Moore "era só o que faltava que depois de um negro viesse uma mulher dar-nos ordens".
É claro que a campanha de Clinton cometeu enormes erros estratégicos, deixando fugir uma vitória que, apesar das condições, esteve ao seu alcance - tanto que parece ir vencer no voto popular. Mas os votos da classe operária - os blue collars - dos estados da cintura industrial do MiddWest (Michigan, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin) deixaram-se embalar na demagogia trumpista e foram todos parar ao mesmo saco, garantindo assim que a derrota democrata seria uma evidência - mas havia sinais que foram ignorados e como no futebol, a campanha Clinton ao querer segurar uma vantagem diminuta deu o flanco para acabar por perder. Ignorando que o ataque é a melhor defesa, a estratégia da campanha Clinton encolheu-se e deixou-se andar para permitir - porque não reagiu - a multiplicação da ocupação do espaço pela demagogia, pela mentira e pelo abuso.
Estou com o Libération: deixemo-nos de coisas, é a extrema-direita que está no poder nos Estados Unidos. Basta ver - para além de voltar a ouvir os lapidares conceitos do novo presidente - o que nos espera de um Giuliani que vem de democrata em passos cada vez mais largos para a extrema-direita (o seu comentário de vitória é exemplar), de um filho de que basta ler os twitters ou quejandos para não se ter dúvidas do alinhamento, de um islamofóbico Gingrich a um Bannon que foi director de campanha e que mostrou no site de notícias que era responsável a sua aproximação à extrema-direita levando à demissão de diversos jornalistas. E corre que estes irão ser parte do novo governo...
Como não é estúpido Trump, no pós-vitória, mostra-se cordato, respeitoso, estadista, simpático até. Esperem pela volta. E pelo muro também. 
Os que não têm dúvidas já se manifestaram...
Esta eleição de Trump, tida por inesperada, comporta uma enorme lição dirigida à esquerda.
À americana - os chamados liberais - que passou o tempo todo a presumir, sobranceira no convencimento que a sua auto atribuída superioridade moral seria o garante natural da vitória. De todo o lado - dos grandes centros cosmopolitas e culturalmente inovadores que formam a América de que gostamos - se dizia, fossem quais fossem os problemas, que não era possível que um tipo como Trump ganhasse as eleições presidenciais. Porquê? Porque ninguém vota num tipo destes. Acordaram tarde - afinal não conheciam o país como julgavam, reconhecem o Nobel Krugman e a própria Hillary Clinton. 
À europeia que, pelo andar da carruagem, tem tudo a aprender. Nomeadamente que o seu comportamento tipo direita simpática mascarada com algumas preocupações sociais mas com o deslumbramento conhecido pela alta finança, nunca será suficiente para parar as pretensões da extrema-direita europeia. A partir desta eleição seria bom que a esquerda europeia se olhasse e reflectisse para encontrar as soluções necessárias para os diversos problemas de forma a garantir que da extrema-direita de Le Pen à Austria passando pela Holanda não dará mais folêgo aos já instalados. 
A lição é simples: candidatos como Trump vencem porque a esquerda, não se mostrando capaz de enfrentar o mundo e o sistema para encontrar as soluções que permitam melhorar as condições de vida das populações, deixa em branco o espaço para a escrita demagógica e populista. E depois, não há emendas.

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