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"Agradeço à Associação dos Antigos Alunos do nosso Colégio e à sua Direcção esta atribuição do Prémio Barretina do Desporto que muito me honra.
Os meus camaradas de curso, principalmente os "200 Bessas" das patrulhas que guardo no coração, saberão bem quanto significa para mim. E também saberão do seu significado alguns amigos oficiais de então - como o Nuno Cêpeda ou como o Pinto de Menezes, o querido Menau, que gostaria de o saber se cá estivesse connosco.
Agradeço também este prémio ao meu Pai que me introduziu o vírus do Desporto e que se tornou na água-forte que desenha toda a minha vida. Obrigado Pai.
E agradeço também a todos os treinadores, colaboradores, companheiros de equipa, dirigentes e a muitos adversários com quem fiz a minha carreira desportiva.
Miúdo ainda fui com a minha avó à costureira. Fiquei - claro! - a olhar para a janela e vi, lá ao fundo, uma curva e um bocado de recta de uma Pista de Atletismo. Fiquei fascinado. E aí terão começado os sonhos.
Tempos depois, ao lado do meu Pai e quando ia fazer os exames de aptidão ao, soube-o depois, Ginásio colegial, vi a nossa Pista de Atletismo e percebi, logo ali e acima de qualquer dúvida, que queria ficar no Colégio. Pelo ligeiro sorriso que guardo do meu Pai, sei que percebeu as minhas razões.
Com o que sei hoje de Desporto e dos seus sistemas - e sei bastante - não tenho nenhuma dúvida em o afirmar: frequentei uma das melhores escolas de formação desportiva do mundo da altura.
O que no Colégio então se fazia é comparável aos melhores sistemas de formação que hoje servem o desenvolvimento desportivo internacional.
À frente do método e do sistema de então lembro Pereira de Carvalho, o "Porco".
Dessa equipa faziam parte Mário Lemos, meu treinador de Atletismo e Voleibol; Reis Pinto na Ginástica e com quem aprendi oo inícios da Classe Especial; Nuno Vitória e Abranches de Sousa, meus treinadores de Andebol; Luís Sequeira, meu treinador de futebol e de quem fui "capitão de equipa". E lembro ainda com amizade o Chico das Bolas que nos garantia a qualidade das bolas e o Carranço que nos entregava equipamentos cuidados como para verdadeiros profissionais.
E lembro ainda, nos cavalos, o Manel Cerqueira que, no meio do volteio, me ensinou para a vida que "serviço é serviço, conhaque é conhaque!"; o Manuel Rodrigues, o "Manecas" e o Milho Ferro que eram responsáveis da Escolta a Cavalo a que pertenci.
Também não esqueço o Calisto da Esgrima e as tentativas que fazíamos para jogar Ténis no Ginásio com a impossibilidade de bater em bolas que deslizavam agarradas ao chão...
Por último e por mais próximo do coração lembro o enorme Dario Fernandes cuja Competência - transformou a nossa Classe Especial numa Classe de Excelência - Sentido Humano e Amizade me marcam as saudades para sempre.
Para com todos eles tenho uma dívida de gratidão.
Nós eramos atletas de Pentatlo Moderno sem sabermos que isso existia... e o método era tão bom que, sem que a modalidade nos fosse alguma vez ensinada, conseguimos formar uma Selecção Nacional de Rugby com ex-alunos que foram internacionais. Como também aí, no Rugby, me junto nos quatro seleccionadores nacionais ex-alunos. E como temos campeões noutras modalidades ou treinadores de grande sucesso. Todos ex-alunos do nosso Colégio.
A formação desportiva do nosso Colégio era, no meu tempo, formidável. E também graças a isso posso estar aqui a receber este Prémio Barretina.
E é por muito dever ao nosso Colégio que quero ainda dizer alguma coisa sobre o actual momento colegial.
"Todo o mundo é composto de mudança", avisou o poeta Camões e cantou-o o trovador José Mário Branco. O meu Colégio, o Colégio do nosso tempo, mudou! Já nada é como foi.
Aceito, naturalmente, a mudança. Mas gostaria que essa mudança - sendo composta como a vida mandar - me deixe as referências que permitam que a minha memória possa ter um espaço real de representação e encontro.
Por isso, para que isso seja possível, é que se dá importância ao património físico e cultural - para que a memória se mantenha viva nessa misteriosa e churchiliana "cadeia dourada" que dá sentido e continuidade às nossas gentes.
Já bastou a falta de cultura e inteligência que levou à destruição do Edifício das Ciências de notável escadaria. Já bastou a insensibilidade incapaz de integrar a incomparável luz do Pavilhão de Desenho numa nova função, numa nova forma.
O que espero, o que desejo, o que quero é que a inteligência, a capacidade da força da nossa resistência se for caso disso, nos garanta, seja qual for a mudança, o espaço de vivência dos zacatrazes da nossa memória.
Viva o nosso Colégio! Viva o Colégio Militar!
30 de Novembro de 2012"