O senhor Aguiar Branco, mesmo se Ministro da Defesa, tomou uma decisão para a qual não é competente nem, tão pouco, mandatado. Por ignorância, convencimento ou vaidade institucional decidiu deitar ao caixote do lixo património nacional, cultural e histórico de mais de duzentos anos. Com o mesmo ar com que os néscios tratam aquilo que não compreendem ou atingem. Sem importância.
A pesporrência do senhor ultrapassa aquilo que é suposto fazer um nomeado governamental: proteger a herança patrimonial que recebeu e garantir-lhe a continuidade futura. Inchado de importância no fato de riscas e gravata saliente decidiu-se pelo disparate de alterar o Colégio Militar, instituição nascida a 3 de Março de 1803 e que a Portugal deu muito mais do que o sr. Ministro sabe ou possa julgar.
Nos velhos claustros perorou um dia, em cerimónia oficial, o investido sr. Ministro:
A pesporrência do senhor ultrapassa aquilo que é suposto fazer um nomeado governamental: proteger a herança patrimonial que recebeu e garantir-lhe a continuidade futura. Inchado de importância no fato de riscas e gravata saliente decidiu-se pelo disparate de alterar o Colégio Militar, instituição nascida a 3 de Março de 1803 e que a Portugal deu muito mais do que o sr. Ministro sabe ou possa julgar.
Nos velhos claustros perorou um dia, em cerimónia oficial, o investido sr. Ministro:
Em 208 anos de história já passaram por este púlpito dezenas de ministros, primeiros- ministros e chefes de estado. Por este púlpito já passaram dois regimes, três repúblicas e dezenas de governos. Deste púlpito já se disseram centenas de discursos.
Uns glorificando o passado, outros mais pessimistas com o presente, no tempo em que foram ditos, outros optimistas quanto ao futuro que se aproximava.
Mas passaram os regimes, passaram os ministros disseram-se as palavras e o Colégio Militar permaneceu.
Há 208 anos que é assim. Há 208 anos que o Estado Português investe não na instituição em si, porque essas nascem e morrem por decreto, mas nas pessoas. Nos alunos. Por aquilo que podem fazer cá dentro mas sobretudo por tudo aquilo que demonstram ser capazes de fazer lá fora.
Na sua longa história o Colégio Militar sempre fez justiça a esse legado. Os alunos do Colégio Militar absorvem aqui os valores e princípios que o Estado, verdadeiramente soberano e digno do seu povo precisa, hoje mais do que nunca.
Os alunos do Colégio Militar sempre se souberam distinguir. Na defesa da soberania. Na defesa da liberdade e na construção e desenvolvimento do país.
Dos teatros de África às missões internacionais em que hoje estamos empenhados. Da política, à economia ou mesmo na chefia do estado.
Não é seguramente por acaso que esta é a instituição de ensino que mais Chefes de Estado deu ao nosso país.
E é por isso que Estado português investe no Colégio Militar. Para ter ex-alunos do Colégio Militar
Quer dizer o sr. Ministro disse o que não percebia e agora também não percebe - para azar nosso de ex-alunos - a contradição da sua assinatura. Provavelmente porque não disse o que disse. E porque não percebe que nós falámos de património, não de saudade.28 de Outubro de 2011
A decisão do Ministério da Defesa do Governo da República Portuguesa e interpretada pelo ministro Aguiar Branco sobre as instituições de ensino militar, nomeadamente sobre o Colégio Militar do qual fui aluno e que conheço muito bem nas suas virtudes e defeitos, é incompetente, estúpida e irresponsável.
Incompetente porque se baseia em contas mal feitas, comparando o incomparável - esquecendo o elementar aprendido na primária de não somar castanhas com bananas - e não mostrando a mínima ideia de como realizar qualquer composição de custos. A visão é economicista, primária e, ignorando as diversas formas de ultrapassar um problema criado por exterioridades ao próprio Colégio, desvaloriza as óbvias mais-valias que uma administração mais objectiva e melhor relacionada com as características colegiais, facilmente conseguiria.
Estúpida porque pretende resolver um problema criando um maior, no seguimento aliás do receituário que temos percebido como ás de trunfo governamental: recorrer ao mais fácil por total incapacidade de encontrar eficazes soluções para cada problema que surja. Para o Colégio Militar existem óbvias soluções, explicadas por mais do que uma vez aos senhores governantes e seus mandados - mas o preconceito e a pateta ideia da poupança aparente e propagandeável está, estupidamente, a levar a melhor sobre a inteligência do trabalho que soluções capazes e eficazes implicam. Mas que resolvem o problema. Como define Cippola (ver aqui), a estupidez é muito mais ampla e perigosa do que poderíamos supôr. E a decisão tomada é prejudicial e ninguém ganhará realmente com ela. Pelo contrário, prejudicará todos, incluindo o Exército que deixará de poder mostrar ao país que lhe presta um vantajoso serviço de elevado nível como o demonstrará qualquer análise ao passado colegial.
Irresponsável porque transforma aquilo que, com 210 anos de existência, se tem pautado por caminhos de excelência que a mera análise das médias de notas anuais não permitem compreender ou qualificar. Tão pouco o pretendido custo comparativo de contas mal feitas. Deitar pela sarjeta potencialidades - e já nem falo nas vantagens comparativas de uma especial relação com os PALOP - que um mínimo de inteligência e cultura permitiriam repôr, transformando um período menos bom num novo exemplo de excelência, é de uma irresponsabilidade inconcebível. Que não pode ser ignorada ou perdoada.
E tudo misturado, embora pretendendo disfarçar-se sob um diáfono mas pretencioso manto de boa governança - só contaram p'ra si... - configura um brutal desperdício do que levou gerações a construir. E neste sentimento englobo o centenário Instituto de Odivelas que desaparecerá do estado que lhe conhecemos.
Duzentos e dez anos é uma dimensão que este Governo não compreende nem, tão pouco, distingue do anteontem. Ao admitir esta solução o Governo, o Primeiro-Ministro e os seus outros membros, são cúmplices no disparate e no abuso. E enquanto destruidores de património relevante não merecem respeito e como tal devem ser tratados.
Tratantes!