Diz que lhe bate forte no coração, o ministro. É natural, o senhor Aguiar Branco - não é que não perceba o erro da aposta - tem uma agenda. Uma agenda de destruição de instituições de ensino seculares - Colégio Militar, Instituto de Odivelas e Pupilos do Exército - a favor de qualquer coisa, no interesse de alguma coisa que, confesso, ainda não percebi.
Mas qualquer coisa existe de interesseiro neste poder governamental - cada vez que os ouço, no despudor das intervenções, na pesporrência das suas afirmações, na visão que demonstram, mais me convenço que assim é. Traição à Pátria?! Assim é para quem, na desculpa de mau pagador, usa e abusa - José Gil, o filósofo, lembrava Sartre para acrescentar em definitivo: "Canalha é aquele que usa e abusa do seu direito." - pior, do que lhe deram como poder. E destruir, com ar triunfal de alquimista do futuro, património secular e transmiti-lo adulterado às novas gerações pode ser assim chamado, pode ter o nome de traição. À Pátria?! Claro, porque é à Pátria, a Portugal, que este património pertence!
E estas coisas do património, escrutinam-se - tirando as devidas conclusões e impondo as necessárias obrigações.
Eminência parda, à marca secular, ao nome feito e reconhecido, prefere a sua inovação: "Estabelecimentos Militares de Ensino".
"Estabelecimentos Militares de Ensino", a marca do senhor ministro que ninguém conhece, que ninguém sabe a que se refere mas que pretende substituir na história as marcas que o tempo vincou. A substituição que o marketeer de serviço lhe impingiu. E que, num deslumbre, gostou. Que lhe bate forte, diz embevecido. São assim os recém-chegados, de nada sabem mas são serviçais na vaidade que os interesses lhes descobrem.
E abusa das caras, das imagens - os mais letrados as reconhecerão - e abusando da nossa memória, afirma o seu objectivo: mostrar-nos o poder de que desfruta.
É preciso ter lata: que a fusão é necessária, afirma, por razões económicas pela situação do país, etc. e tal, e, portanto, gasta-se dinheiro numa campanha sem sentido: estupidamente elitista e provocadoramente fora de tempo - AS INSCRIÇÕES JÁ FECHARAM!!!
Aqui e ali o senhor ministro e a sua equipa pretendem, num truque de extensão da parte ao todo, passar a mensagem - não falando já da amálgama de números para influenciar a opinião pública menos conhecedora ou atenta - de que o problema, a razão de ser, da oposição dos antigos alunos do Colégio Militar se centra na instituição mista. Disparate! Abuso! Pretensão de nos fazer passar - a mim e a outros ex-alunos como eu - por nostálgicos tontos passadistas.
O problema não está na eventualidade de uma abertura de género do Colégio Militar. O problema de base não é a questão de algum clube do Bolinha onde menina não entra. Não! O problema está na pressa, no desvario, com que se pretende fazer uma reforma destruindo o carácter institucional que levou 200 anos a construir mas que a varinha mágica ministerial levará meia-hora a destruir. E que define a diferença entre, no caso, o Colégio Militar e as outras instituições de ensino nacionais. O problema está no disparate, não numa qualquer guerra de sexos.
Que é necessária uma reforma?! Claro que é, di-lo há anos a Associação dos Antigos Alunos.
Aquilo que queremos, aquilo que pretendemos, é que a necessária reforma potencie as capacidades colegiais para um mundo actual e futuro de tal forma que o torne tão exemplar como o foi sempre. Com inteligência e sentido estratégico.
Ex-aluno 200 de 1957