Tive a possibilidade de assistir em Berlim - com o António Costa e o António Manuel - às primeiras eleições da Alemanha unificada. Com o SPD - Partido Social Democrata Alemão - participamos em reuniões, comícios, distribuição de documentos, panfletos, visitas a isto e áquilo. Principalmente na zona berlinense da RDA e sua periferia e tive então a possibilidade de visitar diversos locais do Muro e, claro!, estive na Porta de Brandemburgo e no mítico Checkpoint Charlie. Conheci o bairro que foi dos agentes da STASI e percebi, pelos diversos locais que visitei, muito do que seria a vida do quotidiano dos alemães de Leste. Hospedaram-nos num hotel utilizado pela nomenklatura do antigo regime - o quarto de banho do quarto tinha o tamanho de um quase ginásio.
Lembrei-me dessa visita nestes 25 anos de comemoração da Queda do Muro de Berlim. E lembro os receios, nomeadamente do líder do SPD, Oskar Lafontaine, do que representaria a unificação das duas Alemanhas e o poderio que, na Europa, poderia representar para além das memórias que poderia ressuscitar. E das suas preocupações sobre os custos de uma reunificação liberal e mal preparada e do seu legado potencialmente perturbador para o equilíbrio europeu. Levou alguns anos para que percebesse esses receios que, na altura, me pareceram despropositados - o custo não parecia exagerado vistas as vantagens - face à liberdade que se garantia a uma imensa população - com as consequências óbvias nos países satélites dos soviéticos.
Desta viagem guardo excelentes recordações e ainda lembro, quando se falava no retorno da capital a Berlim, a resistência que os membros do SPD faziam pela relação que esse facto poderia estabelecer com a Alemanha hitleriana e responsável pelas atrocidades da II Guerra Mundial.
A Guerra deixa fantasmas e desconfianças.