Ainda não recuperei do banho eleitoral que o Partido Socialista apanhou nestas eleições - com as melhores condições para uma ampla vitória - para a Assembleia da República - permitindo assim, para além do entalanço estratégico em que se encontra para garantir as promessas e certezas com que creditou os seus votantes, a continuidade no poder de um grupo que, durante os últimos 4 anos, desbaratou o país, diminuiu a qualidade de vida de todo o português que não seja rico, colocou em situações aflitas milhares e milhares de portugueses, retirando-lhes partes das pensões, mandando-os para o desemprego e para a inactividade, retirando futuro aos jovens, estropeando o Serviço Nacional de Saúde e a Escola Pública ou vendendo ao desbarato domínios estratégicos. Em suma: que abusou do poder com que o povo português o mandatou e tratou apenas de cumprir uma agenda cúmplice dos interesses do mundo financeiro global.
E, mesmo assim e embora perdendo 700 000 votos - praticamente o mesmo que dez enchentes simultaneas do Estádio da Luz, isto é: uma brutalidade de votos - os abusadores conseguiram ganhar as eleições. E a razão dessa vitória traduz a pura incapacidade do Partido Socialista.
Durante a noite de Domingo a frase do falecido Amigo José Cardoso Pires: "Isto não é um país, é um sítio mal frequentado."(Alexandra Alpha, pg28, 1ª edição) passeou-se na minha cabeça. E se o conceito pode traduzir a reacção imediata ao "como é que votam na coligação depois de tudo o que passaram?", uma mais cuidada análise coloca as questões no campo em que devem ser colocadas: no PS, na sua campanha, no seu programa e nas suas propostas. E na óbvia incoerência do dito e do escrito.
Aliás, fazer de um exercício académico de cenário macroeconomico e da sua linguagem liberal e obscura a orgulhosa base de uma postura vencedora é, como se viu no resultado, um erro de palmatória - o mundo, por mais que assim pretendam, não se resolve no quadro preto de uma sala universitária... as dificuldades das pessoas também não.
No que o dito de Cardoso Pires continua pleno é na permanente demonstração de incompetência, no desleixo dos pormenores do diabo, no desrespeito do elementar. Que a abstenção iria ser menor, diziam os doutos e os políticos para de seguida perorar das virtudes; afinal não fora, dizia-se horas depois, seria a maior de sempre! seria de 43%. E ninguém, nenhum ministro da Administração Interna, se dava ao trabalho de mostrar admiração pelos números: os votantes inscritos ultrapassavam 9 milhões num quadro populacional de 10,3 milhões de habitantes (cf. Prodata) - e a abstenção calcula-se a partir destes números que incluem mortos, desaparecidos e, provavelmente, repetidos, porque não? de mudanças de lugar.
Pergunta elementar: alguém acha verosímeis estes números?
Aliás, se os números fossem verdadeiros, poderíamos começar a fechar escolas quase a torto e direito e o dinheiro governamentalmente entregue às escolas privadas em detrimento das públicas deixaria de ser motivo de interesse e discussão, porque não haveria alunos, por não haver jovens.
Alguns distritos eleitorais como Bragança, Guarda, Viana do Castelo ou Vila Real, mostram mais votantes inscritos do que habitantes segundo os dados de cada ficha distrital do Diário de Notícias. Uma borga! A que se acrescenta o vivo dado como morto ou a inabilidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros a obrigar a deitar fora votos de Dilí.
Neste sempre em festa da incompetência do discurso emproado, o resultado: mais do mesmo!
E agora? Que podem fazer os responsáveis do Partido Socialista? Não lhes resta mais do que encontrar uma boa e elevada inteligência táctica que permita que os votantes do Partido Socialista não se sintam, qualquer que seja a situação futura, traídos nas promessas pelas quais votaram. Para que continue a haver Partido Socialista.