Texto inteligente, culto e com humor que baste, com boa direcção de actores, tem a movimentação necessária - de palavras, actores e objectos - para nos prender a atenção de princípio ao fim. Com ainda o controlo necessário para, a cada momento em que a ansiedade curiosa a que a tensão cénica nos leva e nos põe a quer adivinhar o seguimento, sermos surpreendidos com o cuidado das ligações e passagens, mantendo-se sempre num registo que foge a toda e qualquer chavão facilitista.
Ultrapassando a mera homenagem factual - Umberto Eco também aparece - a peça constitui o melhor elogio do Desporto que me lembro de ter visto. Porque dá ao Desporto a dimensão cultural e estética, retirando-o do caixote do lixo onde os programas de "análise futebolística" rasteiramente e quase quotidianamente o colocam e que, no fundo, está na razão dos enormes feitos que os atletas conseguem. Ao dar-nos esta dimensão cultural e estética do Desporto, a peça, para além da emoção que a memória nos transporta - os braços no ar das vitórias da Rosa são inesquecíveis - mostra-nos a dimensão que motiva os atletas, que os leva aos sacrifícios, ao rigor e responsabilidade constantes do treino, à procura permanente da superação, à definição de objectivos mais altos que o próprio sonho.
De excelência! Inteligente e culta, estéticamente poderosa e interessante no seu minimalismo cenográfico, a peça deve ser mais vista a passear por outros lados. Porque, repito, é excelente e surpreendente! É inspiradora.