Com o falecimento de Mário Soares (1924-2017) fechou-se um dos ciclos da minha vida. Toda a vida ouvi falar de Mário Soares. Mário Soares preso, deportado para S.Tomé, exilado em França. Mário Soares sempre contra a Ditadura. Mário Soares um Homem de Coragem e Convicções. Mário Soares a voltar de Paris no Comboio da Liberdade (28 de Abril de 1974) e a abrir-nos - com muito mais sabedoria que então lhe teremos atribuído - as portas da Liberdade e Democracia. Mário Soares a bater-se pela descolonização que os suportes do anterior regime, numa visão cega do andamento do Mundo, tudo fizeram, durante anos e anos e á custa de milhares de portugueses e africanos, para impedir. Mário Soares a abrir-nos o caminho da Europa. Mário Soares um Humanista. Mário Soares um homem de visão. Mário Soares que nos dava a confiança de garantir saber traçar uma linha que não admitiria que fosse ultrapassada e que marcava a diferença para a Liberdade.
Mário Soares sempre presente. Mário Soares Republicano, Socialista e Laico. Agora fica-nos a memória de um Homem Notável. A não esquecer!
Varanda do edifício da Sede da Campanha no Saldanha em Lisboa imediatamente após a divulgação dos resultados eleitorais |
Fiz parte, enquanto director executivo da Imagem - a convite e nomeação do Director de Campanha Gomes Mota - do "quartel-general" da campanha do MASP que acabou por o eleger, pela primeira vez, Presidente da República. Tempos notáveis de recordações formidáveis. O "Soares é fixe!" nasceu na sala ao lado - um jovem, Adelino Vaz, entrou e disse: Tenho o slogan! Disse-o e foi uma adesão imediata de quem estava no Gabinete - quando foi transmitido ao Candidato foi oficialmente aceite com um sorriso discreto de quem sabe o valor das coisas - e a sua máxima expressão esteve num memorável discurso de Pinto Machado num comício na Avenida dos Aliados no Porto. E foram comícios - com o José Nuno Martins a ser a voz de comando e animação da multidão connosco a deixarmos-lhe as notas de frases - com quilómetros de viagem por todo o país ou a procura do Rui Ochoa para que pudessemos publicar a sua fotografia que mostrava a agressão na Marinha Grande. Ou a lembrança da gravação do Rock da Liberdade (letra do António Pedro de Vasconcelos), no estúdio com o Rui Veloso para que tudo saísse bem e rapidamente. Ganhou as eleições, felizmente, num resvés que nos marcou a sorte.
Na tomada de posse, estando na escadaria da Assembleia da República, vi-o a passar revista às tropas em parada - o passo nem sempre acertava (ou acertava mesmo pouco) com as batidas do "caixa". Disse para o José Lello que estava ao meu lado: Momento histórico: nunca mais vai haver um militar na Presidência da República.
Depois de eleito foi sempre muito atencioso comigo - chegou a sair das suas posições protocolares para - com espanto de muita gente - me vir cumprimentar. Um dia, no Estádio Nacional e em dia de final da Taça, mandou um agente do seu serviço de segurança ter comigo - que estava na bancada central - para me dizer: "O sr. Presidente pede-lhe para vir comigo para ir ter com ele à Tribuna". Fui e ofereceu-me lugar na Tribuna numa cadeira a seu lado e, quase a sussurrar, disse-me: "Sente-se aqui e vá-me explicando isto que não percebo nada...". E fomos conversando sobre o jogo de futebol...
Tenho boas lembranças de Mário Soares e sou-lhe agradecido pelo que fez por Portugal.