sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vista de pernas para o ar

A coisa não anda boa. E todos os dias aparece mais a alguém a contribuir para o somatório da confusão e do disparate. O senso foi dar uma volta e os quinze minutos warholianos parecem ser a mais importante preocupação dos enfatuados ditadores de interesses.

Na suas Leis Fundamentais da Estupidez Humana, Carlo Cipolla avisa, na construção da Primeira Lei Fundamental, que: “Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação.”. Está visto: tenho a sensação que o país se tornou num laboratório experimental de demonstração da tese.

Há dias, e cito da primeira página do Jornal de Negócios, o sr. Monteiro de Barros veio dizer que “o poder económico está de cócoras perante o poder político”. Pois claro! No entanto, a vida diz-nos o contrário. Como mostra a crise, os sub-prime ou Portugal subordinado aos ditames do poderio económico-financeiro, a imposição das gloriosas agências de rating ou a Islândia e as dificuldades que irá ter por não aceitar um abuso do poderoso império bancário – que por acaso começaram, apoiaram e ganharam que se fartaram, económica e financeiramente – embora com as perdas inerentes mas compensadoras (menos, também aqui, é mais).

Curiosamente as cócoras em Portugal produziram um país onde as desigualdades de rendimento atingem a vergonha – veja-se a posição portuguesa no gráfico que André Barata trouxe, a propósito da relação confiança/rendimentos, para o blogue da SEDES.

As notícias são ao contrário. Com vantagens óbvias para os interesses – nas margens, no crédito e, até, na opulência de um novo regime de castas económicas. Quem pode, pode, quem não pode, vê passar…

Num artigo recente de uma revista internacional alguém se indignava, perguntando: até posso admitir que alguém possa ganhar vinte vezes mais do que outros, mas duzentas ou trezentas vezes? E de quantos trezentos temos sabido na base dessa ideia absurda que se não for assim se irão embora – pois que vão!, dizia outro no mail recebido – ficamos com menos gestores geniais… faremos o mesmo e gastaremos menos.

Numa sociedade democrática de direito manda a política, não o interesse ou o privilégio. Em recente artigo publicado no New York Times, Robert Fishman, co-editor do “The Year of the Euro: The Cultural, Social and Political Import of Europe’s Common Currrency”, depois de tecer diversas considerações sobre o que considera um ataque indiscriminado, abusivo e arbitrário das forças de um mercado sem regulação por razões que irão da pura miopia aos preconceitos ideológicos, avisa: “Only elected governments and their leaders can ensure that this crisis does not end up undermining democratic processes. So far they seem to have left everithing up to the vagaries of bond markets and rating agencies.”

E é claro, a cabeça de pernas para o ar garante vantagens – aos economicamente poderosos, naturalmente. E desvantagens ao viver democrático.

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