segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril

Chove no 25 de Abril?

 25 de Abril de 2011. Trinta e sete anos depois da revolução de 74. Para mim são hoje, como na canção dos Beatles, 64. Na madrugada de 74, quando o telefone tocou, pensei que seria o Dário que da noite lisboeta se lembrara que era o meu aniversário. Já a rir-me – estupor, acordar-me a esta hora, atendi. Era a Maria João: “É agora! liga o Rádio Clube Português.” Confirmou-me, lembrando-me do 16 de Março das Caldas, que “são dos nossos”. Telefonei para o Porto, para o meu pai e colei-me à rádio. De manhã, próximo de casa, dava para perceber o que se passava em volta do Rádio Clube, mas o meu bairro era o sossego total, nada se sentia, nada parecia passar-se. Fui ao Carmo. O jogo internacional – ainda guardo a camisola nove do equipamento que me foi distribuído – do Europeu de rugby que jogaríamos em Praga ficou-se no fecho do aeroporto. Pouco importou, ninguém quis saber da falta de comparência. Com amigos fui para Caxias à espera da libertação dos presos políticos – de camisinha feita, apanhei uma gripalhada tal que só assisti ao 1º de Maio pela televisão. Vibrando como se lá estivesse. E foi um nunca mais parar de actividade, de intervenção, de viver a vida como nunca a tínhamos vivido antes. Ajudar a transformar Portugal, era o que nos movia. E o que se correu por aí, com tropa pelo meio, em dias que nunca acabavam.

Muito mudou Portugal nestes anos trinta e sete anos. Lembro-me de um mapa que o meu pai tinha no seu gabinete da EDP – foi seu Vice-Presidente e Presidente – que mostrava uma dúzia de linhas vermelhas que representava a distribuição eléctrica do país em 1974 e outro, com uma enorme mancha de linhas a correr o Portugal inteiro, uns anos depois. Lembro-me dos 2% da população que éramos universitários e de quantos podemos ver que o são hoje; lembro-me da construção do Serviço Nacional de Saúde e, finalmente, da possibilidade de acesso generalizado aos cuidados de saúde. Da construção da Democracia – do, pura e simplesmente, poder mandar vir, sem outros entraves que não fosse a decência; da organização do sistema de partidos, da construção do Estado Social. Da Liberdade. Do reconhecimento cívico da extensão da responsabilidade. Conheci a construção de um superior número de oportunidades – como nunca existiram antes. Reconheço – sei! - a mudança enorme que o país conseguiu. Que nos transformámos, que nos construímos noutra coisa, mais digna, mais solidária.

Mas hoje, pergunto-me, como se perdeu a vantagem do que se conseguiu? Como é que, com base no que se dizia, no que se pretendia há trinta e sete anos, foi possível termo-nos tornado de novo num país com um enorme factor de desigualdade económica e social. Com uma brutal diferença de rendimentos, de ricos cada vez mais ricos e pobres mais pobres? Como foi possível utilizar todo o esforço de progresso numa vantagem de apenas alguns? Onde é que nos deixámos iludir?

O 25 de Abril de 74, os valores que pretendemos que simbolize, serve ainda de resposta à crise que atravessámos: queremos a responsabilidade da solidariedade colectiva! queremos a adequação das técnicas às necessidades dos portugueses! Sem respostas torpes ou interesseiras. Sem jogos de salão ou vantagens tecnocráticas. Com a decência de quem assume a responsabilidade que lhe foi entregue: trabalhar para a melhoria da qualidade de vida dos portugueses.

Na actual situação pré-eleitoral seria bom poder-se pensar que os futuros eleitos irão manter presente estas obrigações. Democráticas e republicanas. De serviço público.

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