Em meados do século XIX, o tenente-general Eusébio Furtado mandava – para lhes dar que fazer – os seus prisioneiros tratarem de empedrar a parada de Caçadores 5 junto ao Castelo de S. Jorge. Acreditando regenerar uns quantos – numa moda que pegaria em Lisboa – atraía outros pela novidade. Nascia assim, ao que parece, a calçada portuguesa: empedrado de pedra branca e preta – calcário e basalto - a desenharem contornos, geometrias, formas.
O custo, a falta de artistas, terá deixado para trás o desenho e alagou, com a postura municipal de 1895, os passeios da cidade de pavimentos de vidraço miúdo colocado irregularmente – assente “à sorte” como manda a regra – e a dar, como gostam de dizer os seus defensores, continuidade aos passeios. Em branco e com altos e baixos, claro.
Escorregadio, irregular e incomodamente reflector – transportando luz e calor para onde não devia – o vidraço contrapõe-se ao passeio que o passeio deveria ser. Mas há esta ignorância da tradição fundamentada na certeza néscia que está cá pelo menos desde uma qualquer partida de caravela, mar abaixo, a deixar o cata-que-farás a perder de vista e que empedrou a cidade. Pasmando turistas, gostámos de acreditar.
Pois…
A Ana fracturou, faz hoje três anos e numa escorregadela habitual nesta calçada, um tornozelo a obrigar a operação de largos parafusos que fazem tocar qualquer sistema de aeroporto. Três anos depois e neste mesmo dia, numa dessas correntes e traiçoeiras inclinações, irregularidades ou ressaltos, voltou a escorregar, caiu e fracturou um cotovelo. Vai ser operada na quinta-feira.
Não se pode exterminá-la?... à calçada claro!