domingo, 6 de maio de 2012

Ventos do Interesse

O irritante - no sentido indignante - da corrente explosiva que mistura - para se dar ares de pés no tempo - conservadorismo com neoliberalismo é a prepotência com que nos retiram da história e do percurso que reconhecemos das coisas. Como nos entendem por ignorantes apresentam-se, emproados, como descobridores do caminho que a nossa estupidez e ganância colectivas se mostraram incapazes, tão pouco, de vislumbrar. Salvadores da pátria, de nós e do mundo não hesitam em impôr os seus interesses como a regra civilizacional mais salvatícia.

Ouvi em directo a maratona presidencial francesa e pude assistir ao manual mais actualizado dos truques do neoliberalismo que nos é imposto. Cuja primeira regra se cumpre na pomposidade da chamada à colação de conceitos que ninguém rejeita. Conceito com o seu quê de universalidade e que, sem definição do contexto de aplicação, não passa de treta demagógica. Mas que serve, qual receita-milagre, para fazer passar a ideia que assim são obrigatoriamente as coisas, que assim deverão ser e que qualquer outra formulação é estúpida, disparatada e, obviamente, atentória do bem-estar colectivo.

Bem enquadrado nos interesses dos mais poderosos o sr. Sarkozy, em close-up de olhar cúmplice, proclama a universalidade: "temos que aligeirar os custos do trabalho!" Claro! mas alguém tem dúvidas sobre essa necessidade? E para esse aligeirar maioritária e preocupadamente aceite, que propõe o sr. Sarkozy? Mais inovação, maior criatividade nas relações da cadeia de valor, melhores circuitos de distribuição, menos margens e menores desperdícios nas etapas de produção, melhor estrutura da composição de custos, etc.etc.? Não! O sr. Sarkozy com a pesporrência de um iluminado que maravilha a nossa vida, informa a solução: "sempre que houver acordo entre empresário e seus trabalhadores, esse acordo sobrepor-se-á à lei geral existente."

Pronto! na maestria do golpe o sr. Sarkozy torpedeia o Estado de Direito, ignora a história civilizacional da construção das relações dos direitos de trabalho, marimba-se para o desequilíbrio das imposições e dá mãos largas a uma brutal autorização do abuso da condição de necessidade. Um fartote ... no melhor interesse das normalidades neoliberais.

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