quarta-feira, 8 de março de 2017

FAZER DE ALBERT SPEER


Volante de anúncio da sessão

A convite do Hélder Costa participei de novo nos Encontros Imaginários de A Barraca onde fiz de Albert Speer, arquitecto preferido de Hitler, bem vestido, bem falante, e - muito por isso - tido por "bom nazi" (como se isto fosse possível). Apanhou no Tribunal de Nuremberg 20 anos de prisão safando-se - como teria merecido como se veio a demonstrar mais tarde - da condenação à morte. Convencendo o Tribunal que nada sabia dos campo de concentração ou do extermínio dos judeus e de outros - como se fosse possível ignorá-lo enquanto Ministro do Armamento e Munições e que lhe dava o controlo da distribuição pelo Reich dos materiais de construção. Ignorando, como tantas vezes acontece ainda hoje, a relação entre a ética e a estética, o Tribunal - embasbacado provavelmente pelos seus dotes de artista - entendeu-o como arrependido e desconhecedor do Holocausto e limitou-se a condená-lo pela responsabilidade na utilização de trabalho escravo - com esse trabalho escravo conseguiu, ao que se calcula, prolongar a guerra por mais dois anos - e crimes contra a humanidade.
Terminada a prisão terá recolhido os proveitos da venda de quadros roubados a judeus, terá vendido desenhos de Hitler por bom preço, deu entrevistas bem pagas e escreveu livros que os saudosistas da suoremacia ariana compraram para levar uma santa e rica vida. Morreu com um AVC.
Albert Speer, arquitecto megalómano, criminoso de guerra, um safado que como grande precursor do trumpiano conceito de factos alternativos, montou bem a estória para fazer ignorar o seu apoio e cumplicidade incondicional a Hitler - com eventual desacordo sobre a política incendiária do "Decreto Nero". Vinte anos, vinte anos de prisão para um estupo desta ordem...
O espectáculo correu bem e foi divertido. Pelo menos para nós os quatro - Nuno Santos Silva, Vítor Ramalho, Hélder Costa e eu próprio - que, no palco, nos fartámos de rir.

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