terça-feira, 10 de novembro de 2020

EDUARDO LOURENÇO E ÁLVARO SIZA UNIDOS NA ARQUITECTURA

Foi com enorme orgulho que recebi a notícia que a Eduardo Lourenço, filósofo, ensaísta, escritor, pensador, professor, Membro do Conselho de Estado, ex-aluno do Colégio Militar com o número 92 de 1934, tinha sido atribuído o título de Membro Honorário da Ordem dos Arquitectos. Por um lado porque gosto muito da sua pessoa, do seu carácter, da sua postura cidadã e, também, do seu sentido de humor, por outro, porque a sua presença como membro da Ordem só valoriza a nossa casa profissional.

Conheci Eduardo Lourenço há muitos anos. Encontrámo-nos em Nápoles num Congresso (1990?) onde éramos os dois únicos portugueses e onde o Professor apresentou o tema sobre a importância da Europa em ajudar o Norte de África a atingir um nível aceitável de riqueza, criando condições de emprego e de decente qualidade de vida, para que não fosse acontecer - e disse-o nessa altura - uma enorme invasão por gente a fugir das péssimas condições de vida que atravessavam e que tendencialmente iriam piorar sem o apoio europeu.

Com o decorrer das sessões o interesse foi decrescendo com muita conversa e muito umbigo dos oradores. Conhece Capri? Quer lá ir amanhã? perguntou-me Eduardo Lourenço. Respondi-lhe-lhe que sim e lá fomos no dia seguinte apanhar o barco de ligação à ilha.

Num mar mediterrâneo de pouca agitação, mantivemos-nos ao ar livre e de pé no convés a olhar a amplitude das formas napolitanas à medida que nos afastávamos. Num instante, sem aviso prévio, o Eduardo mudou de bordo.

Dei-lhe um tempo e fui ver o que se passava.

- Já viu isto, Bessa?! atirou enquanto se debruçava para deitar carga ao mar. Nos intervalos, olhava para mim com cara de enjoada como pescada cortada por um sorriso trocista: Já viu isto ?! E sou eu filho de um país de marinheiros e estou para aqui a vomitar neste lago de mar. Que vergonha! E ria-se para vomitar mais.  

Sempre que nos encontrámos, para além da atenção devida à sapiência com que nos faz ver as coisas, que fico sempre atento ao seu fino e aguçado sentido de humor. E sempre agradecido pela riqueza que ganho.

A cerimónia da Ordem dos Arquitectos teve como ponto alto o brilhante diálogo - no filme "O Labirinto da Saudade" de Miguel Gonçalves Mendes - entre Eduardo Lourenço e Álvaro Siza que, por pura coincidência, marcou a grandeza da simultaneidade dos dois momentos que prestavam a devida homenagem a estes dois vultos maiores da Cultura Portuguesa. Um em Lisboa e outro em Madrid.

Álvaro Siza e Eduardo Lourenço no Bar da Eternidade do "Labirinto da Saudade"

Á mesma hora, Álvaro Siza recebia, em cerimónia realizada no Palácio Zurbano de Madrid, com a presença de Pedro Sanchéz, Primeiro -Ministro espanhol, com a comunicação vídeo de António Costa, Primeiro-Ministro português e a intervenção de fundo da escultora Eva Lootz para além de uma intervenção do laureado, o Prémio Nacional de Arquitectura de Espanha 2019, pela primeira vez atribuído a um arquitecto não espanhol.

Um dia formidável para a Arquitectura Portuguesa este 30 de Outubro de 2020.





  


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