sábado, 27 de maio de 2023

CARTA ABERTA A UM ESCRITOR IMAGINÁRIO

Conheço o Comandante Vicente Moura desde, pelo menos, o final dos anos noventa quando fui nomeado (1997) enquanto individualidade de reconhecido mérito desportivo para o Conselho Superior do Desporto do qual ele era presidente (1997/2000). E sempre mantive com ele uma relação respeitosa e até, com o correr dos anos, fraterna. Mas não fazia a mínima ideia que havia publicado um livro de cerca de seiscentas páginas a que deu o título de “Crónica Olímpica” e onde descreve a sua visão do mundo desportivo em que participou. E não iria saber da publicação se não tivesse sido avisado para ler a sua página 237 onde sou referido e colocado numa posição e em acções em que não me reconheço — mais: falando com alguns dos aí citados — José Curado, Jorge Bento ou Manuel Brito — nenhum deles, como eu, reconhece a participação em qualquer reunião realizada em Rio Maior… e, pessoalmente, não gosto, como é o caso, de ser tratado como “moço de recados”. O que, faça-lhes justiça, nem Fernando Gomes, então Ministro Adjunto, nem Vasco Lynce, na altura Secretário de Estado do Desporto de quem fui, a partir de Novembro de 1999 até Maio de 2000, adjunto e não assessor como se lê no livro, alguma vez procuraram sequer que o fosse. 


Para garantir a minha veracidade, embora com a dificuldade de mais de vinte anos entretanto passados, havia que conseguir consultar quer o citado artigo publicado no Record de 5 de Março de 2000 e aludido por Vicente Moura nessa passagem do livro, quer as actas das reuniões do Conselho Superior de Desporto. Nestas, no tempo de 1997 a 2002 em que pertenci ao Conselho, se constata que, para além de 3 reuniões no resvés Jamor, apenas houve uma única reunião fora de Lisboa realizada em Lamego, em Março de 2002, sob a presidência do Ministro José Lello.


Imagine-se a minha revolta ao concluir, das consultas feitas, a evidência: o publicado e que ficará em diversas prateleiras privadas e públicas, corresponde a uma adulteração de factos propositada e prejudicial ao meu nome, numa vontade explicíta com propósitos do seu próprio interesse. Porque sei que é assim?!


Porque ao ler o citado artigo do Record de 5 de Março de 2000 de onde são retiradas as acções que me são imputadas, verifico que tem um autor que assina Repórter Imaginário e que está editado numa página cujo título geral é HUMOR e que tem no seu canto superior esquerdo um rótulo bem visível e legível que avisa: PARECE/VERDADE/MAS/NÃO É. O que demostra o óbvio: nem por desleixo se cita como factualmente verdadeiros as descrições duma página desta natureza e só um interesse muito particular o pode levar a fazê-lo. Naturalmente que não gosto de ser utilizado para as visões que o autor pretenda impôr publicamente — não é sério, nem admissível!


Os erros factuais, só nesta página, são mais do que muitos: a referida reunião de 28 de Fevereiro realizou-se a 29 de Fevereiro (cf. Acta nº 29 que foi aprovada pelo Conselho e assinada pelo autor do livro, então seu Presidente) e dela se pode retirar que o projecto de parecer referente a diversas dimensões do futebol foi aprovado por unanimidade quer na generalidade, quer na especialidade. E cito, da mesma acta, o seu último ponto: “13. Por último, o Presidente louvou o trabalho desenvolvido e o sentido de Estado e de serviço público que dignificou uma vez mais este Conselho.”


Dados os factos e embora com tristeza, o meu respeito e fraternidade para com o Comandante Vicente Moura, morrem aqui! 


João Paulo Bessa


PUBLICADO NO JORNAL PÚBLICO DE 24/MAIO/2023, 4ª FEIRA, PAG. 39


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