A Lagoa dos Salgados, no Algarve, está seca, o campo de golfe que a envolve está lindo de verde. Diz-se que não há água suficiente - aqui os relvados golfistas são regados com os efluentes de uma ETAR - para as duas coisas. É isto preocupante? Não é só temporário? Não passa daqui a pouco?
Temporário ou não, é importante, muito importante! Porque a Lagoa dos Salgados tem espécies de aves aquáticas que têm ninhos que têm filhotes a nascer que, sem a água que lhes proporcionará alimento, vão morrer. Ou seja: HÁ AVES AQUÁTICAS QUE TÊM ANÚNCIO PRÉVIO DE MORTE PORQUE O SEU LOCAL DE NIDIFICAÇÃO FICOU SEM ÁGUA E PORTANTO SEM ALIMENTO. Água e alimento que existiam antes da prioridade dada à rega do golfe. Razão porque as aves procuraram, como sempre, o local para nidificar. Mas que, para sobreviver, irão embora, abandonando os ninhos de que resultará - anuncia-se - a morte das crias. Sabendo-se que assim será e nada sendo feito em tempo útil, estamos perante uma negligência grave.
Alfaiate, Recurvirostra Avocetta
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Na Lagoa dos Salgados existem, entre outras variedades de aves aquáticas, caimões, garças-vermelhas, pernalongas, alfaiates, etc., e os seus filhotes, por falta de água e alimento, vão morrer. Sem reservas: deixa-se morrer a biodiversidade local - óbvio interesse público - em troca do interesse privado da manutenção das receitas de um campo de golfe. E as desculpas, saltando de repartição em repartição, esfarrapam-se em cada explicação.
O interesse sobrepõe-se à decência civilizacional. A negligência desculpa-se no economicismo reinante. De acordo com as notícias, a SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves de que sou sócio - prepara-se para apresentar queixa sobre o facto à Comissão Europeia. Não havendo possibilidade de impôr medida mais rápida e útil na resolução do problema, faz muito bem!