No desporto exige-se a humildade necessária para que nos seja possível tirar o máximo partido das capacidades que temos; a vaidade e o convencimento retiram-nos capacidade de análise, de execução e de clarividência para impedir que entendamos que o erro, para além de costas largas, termina sempre na culpa do árbitro.
O banco português desde cedo focou no árbitro os erros evidentes da disponibilidade física e psíquica dos jogadores portugueses de que o atraso desmesurado para o guarda-redes foi o prenúncio de um cartão vermelho - encostar a cabeça, coloque ou não em perigo a integridade física do adversário é um acto inadmissível, anti-ético, num campo desportivo - e do golo onde a superioridade numérica portuguesa de jogadores "em jogo" era evidente.
Palavras leva-as o vento, cartas de amor são papéis, escreveu o poeta que provavelmente nada sabia de futebol ou de campeonatos do mundo mas que alerta para a conversa da treta em que e ao que parece, nos tornamos especialistas: estamos aqui para ganhar! a nossa selecção é a maior! tragam-nos a Taça! Como se o apuramento ou alguns dos jogos de preparação não nos mostrassem o contrário e onde só um ranking feito de forma canhestra ajuda à mentira (quem é 4º do ranking mundial não joga assim!).
[a Alemanha jogou contra um sol violento que o horário tornou muito mais difícil para o guarda-redes. Nem partido dessa vantagem se viu jeitos...]
Quatro-zero não é resultado aceitável para uma equipa que a comunidade futebolística nacional considera como das melhores mundiais.
Como se sai daqui? Sabendo que a derrota ensina, só há uma maneira possível: a honestidade de um acto de contrição colectivo - de jogadores, responsáveis técnicos e dirigentes - que possa recolocar a focagem de cada um e de todos numa diferente atitude e forma de encarar um jogo internacional, colocando na entrega, na velocidade, na entreajuda, na vitória, as questões essenciais em cada momento daqueles que se encontram em campo.
Certo é que ou os jogadores portugueses mudam radicalmente de atitude e garantem uma postura adequada a uma presença num campo desportivo onde a capacidade de luta, de resiliência e de sofrimento fazem os vencedores - sem sangue, suor e lágrimas não há vitórias! - ou a nossa passagem pelo Mundial do Brasil ficará, de novo e negativamente, na história futebolística nacional.
E o pior que podemos fazer é a eterna desculpa dos fracos e medíocres: pôr na arbitragem as desculpas do descalabro que apenas a nós pertence - jogamos muito pouco, fomos completamente ineficazes e sem qualquer tipo de consistência colectiva.
Dar a obrigatória volta depende apenas da nossa coragem e honestidade competitivas. E o primeiro passo da mudança será não aceitar nem mascarar o que se passou no jogo.