SURPRESA! Fiquei, genuinamente, surpreendido, agradado e de boca aberta de espanto: a Academia Sueca decidiu atribuir o Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan "por ter criado novas expressões poéticas no espaço da grande tradição das canções americanas".
"Ele é um grande poeta" disse, no anúncio do premiado, Sara Danius secretária permanente da Academia, para acrescentar que "the times they are a'changing, perhaps" justificando a atribuição com um dos títulos dos álbuns de Dylan.
Come senators, congressmen
Please head the call
Don't stand in the doorway
Don't block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There's a battle outside
And it is ragin'
It'll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin'.
Que mudem os tempos! Bons ares atravessaram a académica sala e atingiram em cheio a frescura de mentalidades que representa esta decisão dos seus 18 membros. E a ideia de cultura só ganha com isso. E ganha também a memória das gerações como a minha que se deliciavam com as suas "letras" e que lhe encontravam um sentido de vida que agora o Nobel vem confirmar. Afinal, sabíamos o que ouvíamos. Ouvíamos acerca de "condições sociais, religiosas, políticas e amor" como bem lembra o texto de atribuição do Nobel.
No mesmo dia de tristeza pela morte de Dario Fo, também prémio Nobel da Literatura (1997) e militante de esquerda sem bandeira como o definiu o Corriere della Sera, esse enorme émulo dos Bobos medievais "flagelando a autoridade e protegendo a dignidade dos espezinhados" como lembrou a Academia Sueca, não sei de melhor homenagem. Com qualquer deles aprendi a olhar para as coisas de outra maneira.