Que no Novo Ano de 2023 o Ocidente, ampliando o seu apoio, consiga empurrar definitivamente a invasora Rússia de Putin e acabar de vez com a bárbara e criminosa carnificina sobre o povo ucranaiano. Que a nossa solidariedade, independentemente das dificuldades que nos possa trazer, seja a garantia de que os corajosos ucranianos nunca tenham de se render.
A invasão da Ucrânia levada a cabo pelas forças russas subordinadas ao comando absoluto de Putin, trouxe novamente à luz do dia a memória europeia do que tínhamos já e apenas como trágicas e dolorosas lembranças. O 24 de Fevereiro tornou numa terrível realidade quotidiana o que julgávamos irrepetível. Porque a realidade é esta: estamos em guerra — G-U-E-R-R-A! — e Portugal está directamente envolvido, quer pelo uso da base das Lajes, quer pelos nossos soldados que avançam para uma eventual primeira linha de combate.
O Desporto sempre foi um elemento fundamental de afirmação de povos e países e constituiu assim uma arma muito importante no domínio da diplomacia. Em 2013 e para evitar o afastamento da luta greco-romana dos Jogos Olímpicos, três nações juntaram os seus melhores atletas e participaram numa demonstração em plena Grand Central Station em Nova Iorque. O pormenor da importância deste evento na história do desporto mundial foi o dos seus actores terem sido os Estados Unidos da América, Rússia e Irão. Este evento demonstrou a importância do desporto na sociedade contemporânea e a força que o mesmo tem para superar diferenças de natureza política e diplomática.
Em 1948, noutro hemisfério, a África do Sul iniciava o período mais negro da sua história com a instituição do Apartheid, só terminado em 1994. O râguebi, pelos seus valores, sempre se mostrou capaz de estar do lado certo da história e proibiu a presença dos “springboks” nas duas primeiras edições do Campeonato do Mundo — 1987 na Nova Zelândia e 1991 na Inglaterra. O mundo deixava claro ao governo sul-africano que não tolerava políticas, fosse qual fosse o disfarce, objectivamente racistas. Em 1995, já sem apartheid, o mundo assistia a um momento único de magia e união dada pelos sul-africanos, inspirados pela presença nas bancadas de “Madiba” com a camisola n.º 6 do seu capitão.
Chegados a 24 de Fevereiro o mundo assiste, atónito e num misto de surpresa e medo, a uma invasão injustificável sob qualquer ponto de vista. Aquilo a que estamos a assistir na Ucrânia é uma invasão às fronteiras — essas linhas vermelhas da decência — da humanidade e da democracia. Esta invasão, apesar da admirável coragem do povo ucraniano, nunca se resolverá pelas armas. E, infelizmente, o desporto percebeu isso tarde. Ter sido possível realizar o jogo de futebol Betis-Zenit não causou estranheza, nem indignação. Dois dias mais tarde, e novamente em Espanha, realizou-se em Madrid um Espanha-Rússia em râguebi. Os responsáveis espanhóis invocaram para a realização do jogo, que lhes daria o título europeu, a desculpa esfarrapada de que as russas já estavam em Madrid há quatro dias e por isso — pasme-se — seria injusto não jogarem. Outros episódios se irão suceder e este não é tempo de ficar em cima do muro, até porque o tempo é de trincheiras. Não é tempo de recomendações, não é tempo de agradar a patrocinadores com camuflagens de não se tocarem hinos. É tempo de decisões!
O desporto não é neutro e isso deve obrigar a uma imediata suspensão de todos os atletas que representem a Rússia, joguem onde jogarem, das suas equipas e das suas selecções. E mesmo o actual n.º 1 do ranking ATP, Daniil Medvedev, ao dizer-se favorável à paz, não deveria, como demonstrativo e real protesto contra o assalto que o seu país está a levar a cabo, comparecer em qualquer torneio. É inadmissível continuarem a competir enquanto a paz não for decretada. E é por isso que nos congratulámos — embora pecando por tardias — com as decisões de suspensão da Rússia e Bielorrússia assumidas por diversas federações desportivas internacionais.
Dirão muitos que isto pode tornar-se numa caça às bruxas. Responderemos que a época de caça foi aberta a 24 de Fevereiro na Ucrânia com balas verdadeiras, com perdas de vidas humanas, com famílias destruídas e deixadas ao abandono da sua sorte. As balas disparadas pelo Desporto serão apenas sinais de fumo que podem contribuir para a sensibilização do povo russo para a rejeição interna desta enorme atrocidade.
Não há desculpas, o desporto tem de ser exemplar na aplicação das medidas sancionatórias, dando um sinal claro ao povo russo que se encontram do lado errado da trincheira e, ao mesmo tempo, mostrar a solidariedade que permita a esperança ao povo ucraniano.
A Humanidade agradece.