quarta-feira, 29 de junho de 2011

Leviandade legislativa

No logradouro do quarteirão onde vivo há um casal de melros residente. Julgámos – gostámos de julgar na dúvida que sempre nos segue na falta de anilhas comprovativas - que são os mesmos de sempre.

Estando lá sempre, cantam, chamam um pelo outro e fazem que os meus gatos se mostrem os felinos predadores que sempre foram. Uns e outros fazem o seu número sabendo, bem lá no fundo, que nada vai acontecer a uns ou a outros – nem uns caçam, nem os outros se deixam caçar. Há sempre um mundo de obstáculos inultrapassáveis a separá-los.

Agora temo que possam desaparecer. Porque um idiota permitiu que possam ser tidos por caça – situação que, não sendo possível há mais de vinte anos, é hoje simplesmente, intolerável.

Como se não bastasse a incompetência  que dá forma ao documento legal, junta-se o disparate da sua extensão por três épocas, as ilegalidades que violam a Directiva Aves da União Europeia, o desrespeito pela tempo de criação ou pela autorização do uso do chumbo em zonas húmidas, mantendo ainda a autorização de caça  – não consigo entender as razões, o gozo possível ou a habilidade do disparo  – ao estorninho malhado (sturnus vulgaris) que, para além de estar em regressão, constitui um dos mais notáveis espectáculos de voo em grupo – com séries, aparentemente espontâneas, de tomadas de decisão nas alterações momentâneas do comando que me levam sempre a olhá-los como possíveis modelos de organização dos movimentos nos desportos colectivos e aprender muito, pelas adaptações possíveis, com os estudos que, sobre eles, vou lendo.

                                                     bando de estorninhos em voo
Agora que há novo Governo empossado, espero a anulação da Portaria em causa – a 147/2011 – e que sejam repostas as coisas de acordo com a civilidade e rigor de que estes aspectos se devem revestir.

(registo de interesse: sou sócio da Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves – SPEA)

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