segunda-feira, 20 de junho de 2011

Afinal...

Primeiro foi o filme Inside Job de Charles Ferguson a que já me referi [ver aqui] e que existe por aí em DVD. Explicava tudo e, pelos vistos, terá sido visto pelos que já sabiam e por outros que, com a crença dos incrédulos, se julgavam num Série B. Houve então, pouca ou nenhuma transladação crítica e fomo-nos ficando pela adesão aos odes e perorações da fama dos quinze minutos dos especialistas do rectângulo – e ele há cada um…

O Expresso publicou, em Abril passado, uma entrevista a Robert Fishman – americano, professor universitário, estudioso das implicações do euro sobre os países ibéricos. E que vem dizer, como já tinha dito em artigo publicado dias antes no The New York Times e que também aqui referi [ver aqui], que Portugal foi vítima dos especuladores e das agências de rating – bem como do Banco Central Europeu. Dizia então ele: Não concordo com a ideia de que esta crise tenha sido criada pelos políticos portugueses.

Pelo visto – quem viu, viu; quem não viu, visse! citando o grande nº10, António Oliveira - na última Quadratura do Círculo, Lobo Xavier também não acredita e veio lembrar as enormes dificuldades da situação – e da nova governação, pois claro! –– porque a intervenção seria muito limitada porque a troika isto e aquilo e etc. e tal e que estaríamos dependentes de factores exógenos e não de nós próprios. De factores exógenos, ouvi.

Embora de justificação interesseira este alargamento ao global da vista da crise – dominada por factores que nos são exógenos como ouvi - constitui um alívio por se saber que, afinal e mesmo para quem sempre referiu as culpabilidades internas absolutas, pesem os erros, os desacertos, a falta de explicações, mesmo o distanciamento ou algum desfoque na visão, a culpa, A CULPA! da actual situação de penúria em que nos encontrámos, não será do Sócrates. Ó alívio…e assim também não poderá ser de mais ninguém. É da vida, portanto!

Mas é de alguém e convém aprender a lição. Os mãozinhas invisíveis, os especuladores, os agiotas mesmo, detestam a regulação, detestam que haja Estados que possam intervir na libertinagem do mercado, detestam a esquerda, detestam países como Portugal que são governadas com conceitos políticos que, mesmo num intervalo centrista, exigem a intervenção reguladora do Estado. É um facto: os especuladores e suas mãozitas armadas odeiam Portugal – e por isso resolveram atacá-lo. Com o beneplácito de muitos, incluindo óbvias – com os interesses imediatistas da Alemanha à frente –  incapacidades europeias, truculência do Banco Central, inépcia da Comissão, malta ingenuamente a dormir e o que mais se saberá.

Então?! e como é que se resolve? antes do mais: não caindo na esparrela de impedir a regulação; depois – e como parece estar a ser feito – torcendo e ajudando como possível a que seja alterado o estatuto de opinadores, detido pelos agentes de rating, para peritos e aí, caindo no quadrante que Cipolla designa de bandidos [ver aqui], passarem a ter que responder criminalmente, mudado que fica o estatuto da liberdade de expressão, pelos seus actos (não fugindo mais ás acções judiciais que, inclusive por portugueses, têm sido colocadas em tribunais). A outra forma é que a Europa e os seus povos percebam a absoluta necessidade da regulação, acabando com o apoio aos mitos liberais das pretensas felicidades, dos bem-estares de devaneio, da visão do mundo focada apenas no interesse dos poderosos. Mantendo a razoabilidade dos valores da solidariedade, da igualdade e da liberdade…

… e esperando que os exógenos, os interesses de agiotas e especuladores, agentes e outros tratantes - lembrei-me de Gil Vicente - não façam cair a Grécia e estraguem mais do que já fizeram… porque ao estrago não haverá novo Governo que nos valha…

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