domingo, 3 de janeiro de 2010

Estádios do EURO 2004

A questão da oportunidade dos Estádios do Euro 2004 voltou de novo à baila. Porquê? Porque os custos de exploração e de manutenção são despesas incomportáveis para os municípios umas vez que a lotação que foi exigida pela UEFA para o Europeu, obrigando a grande volume de construção e ao ultrapassar em muito o número de espectadores que, em média, frequentam alguns dos estádios, não permite as receitas necessárias. Estão neste caso Aveiro e Leiria. Coimbra, aproxima-se do problema. O estádio do Algarve, sem equipa desportiva residente, para lá caminha.
É recorrente dizer-se que a causa está no facto de termos construído, para o Euro, dez estádios quando as necessidades não ultrapassavam os oito ou mesmo seis estádios. Não é bem assim.
De acordo com as afirmações do então presidente da Federação Holandesa e membro da UEFA, a vitória de Portugal ficou a dever-se à apresentação, por constituir uma mais-valia para o desenvolvimento do futebol português, de 10 novos estádios (com oito o EURO seria noutro lado, conclui-se).
Assentes os dez, poderia ser de outra forma? Poderia. E seria a mesma coisa.
Naturalmente que a UEFA, responsável pela boa realização do Europeu, quando nomeia um país organizador tem como objectivo único a realização da prova nas melhores condições - por isso quer estádios capazes, aeroportos acessíveis, hotéis de qualidade, hospitais de pre
venção, polícia organizada, etc. etc. Mas não quer saber para nada do dia seguinte.
E nós, portugueses, cometemos dois erros de fundo:
• Aceitámos a ideia que estádios com melhores condições para espectadores promoveriam maiores lotações nos jogos internos – a miragem das receitas para manter os novos estádios vem daí.
• Aceitámos, sem pestanejar, que o Caderno de Encargos da UEFA constituía uma regra a respeitar para a eternidade – a tradicional ignorância que nos impede de procurar novas soluções.
E assim não conseguimos perceber que os estádios – os tais dez que nos garantiam a organização do campeonato – poderiam ter sido construídos em estruturas permanentes reduzidas às probabilidades de frequência futura e com estruturas amovíveis para situações excepcionais como era o próprio EURO.
Pessoalmente, enquanto Coordenador Nacional da Medida Desporto do QCA III, tentei que se optasse pelas tais estruturas amovíveis que prevenissem o futuro, o dia seguinte. Vasco Lince, então Secretário de Estado, concordou e tentou também que assim fosse. As respostas desculpavam-se sempre no receio de desagradar à UEFA que nunca conseguimos que fosse ultrapassado apesar de infundado, como veremos. Na Holanda e Bélgica de 2000 vi, eu e os portugueses que lá estiveram, estruturas amovíveis para completar a lotação e que seriam retiradas após a realização dos jogos do Europeu. O Algarve percebeu a possibilidade e realizou um estádio com 30.000 lugares que passariam depois a 18.000 lugares e foi mesmo dado como exemplo, para estádios futuros, por dirigentes fiscalizadores da UEFA. Entretanto o estádio olímpico de Sydney baixava a sua lotação de 120.000 lugares para 80.000 lugares – como fora previsto quando do seu projecto.
Agora restam duas atitudes: a primeira, procurar antes do mais fácil – o seu derrube - soluções que permitam manter os estádios construídos em condições de utilização; a outra, aprender com os erros e não fazer disparates no Mundial a que concorremos.

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