É recorrente dizer-se que a causa está no facto de termos construído, para o Euro, dez estádios quando as necessidades não ultrapassavam os oito ou mesmo seis estádios. Não é bem assim.
De acordo com as afirmações do então presidente da Federação Holandesa e membro da UEFA, a vitória de Portugal ficou a dever-se à apresentação, por constituir uma mais-valia para o desenvolvimento do futebol português, de 10 novos estádios (com oito o EURO seria noutro lado, conclui-se).
Assentes os dez, poderia ser de outra forma? Poderia. E seria a mesma coisa.
Naturalmente que a UEFA, responsável pela boa realização do Europeu, quando nomeia um país organizador tem como objectivo único a realização da prova nas melhores condições - por isso quer estádios capazes, aeroportos acessíveis, hotéis de qualidade, hospitais de pre
 venção, polícia organizada, etc. etc. Mas não quer saber para nada do dia seguinte.
venção, polícia organizada, etc. etc. Mas não quer saber para nada do dia seguinte.E nós, portugueses, cometemos dois erros de fundo:
• Aceitámos a ideia que estádios com melhores condições para espectadores promoveriam maiores lotações nos jogos internos – a miragem das receitas para manter os novos estádios vem daí.
• Aceitámos, sem pestanejar, que o Caderno de Encargos da UEFA constituía uma regra a respeitar para a eternidade – a tradicional ignorância que nos impede de procurar novas soluções.
E assim não conseguimos perceber que os estádios – os tais dez que nos garantiam a organização do campeonato – poderiam ter sido construídos em estruturas permanentes reduzidas às probabilidades de frequência futura e com estruturas amovíveis para situações excepcionais como era o próprio EURO.
Pessoalmente, enquanto Coordenador Nacional da Medida Desporto do QCA III, tentei que se optasse pelas tais estruturas amovíveis que prevenissem o futuro, o dia seguinte. Vasco Lince, então Secretário de Estado, concordou e tentou também que assim fosse. As respostas desculpavam-se sempre no receio de desagradar à UEFA que nunca conseguimos que fosse ultrapassado apesar de infundado, como veremos. Na Holanda e Bélgica de 2000 vi, eu e os portugueses que lá estiveram, estruturas amovíveis para completar a lotação e que seriam retiradas após a realização dos jogos do Europeu. O Algarve percebeu a possibilidade e realizou um estádio com 30.000 lugares que passariam depois a 18.000 lugares e foi mesmo dado como exemplo, para estádios futuros, por dirigentes fiscalizadores da UEFA. Entretanto o estádio olímpico de Sydney baixava a sua lotação de 120.000 lugares para 80.000 lugares – como fora previsto quando do seu projecto.
Agora restam duas atitudes: a primeira, procurar antes do mais fácil – o seu derrube - soluções que permitam manter os estádios construídos em condições de utilização; a outra, aprender com os erros e não fazer disparates no Mundial a que concorremos.
 
 
