Fiquei um bocado chocado quando, na esperança curiosa de ver um atleta ou treinador desportivo, dei com o meu jornal desportivo de sempre – A Bola – a atribuir ao empresário Jorge Mendes o título de Personalidade do Ano. Nada tendo contra o empresário, achei deslocado. E fiquei sem saber quem era, na visão da casa, o desportista do ano…
Valeu para a reconciliação, a excelente entrevista realizada com o meu amigo Artur Santos Silva, presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República e do BPI. Que, com a clareza que lhe é normal, fez mais pelo entendimento desportivo, pelos valores da cidadania republicana (há outra?), pelos valores da democracia, que dezenas de discursos.
Cito do título: “Ainda falta muita cultura desportiva entre nós”
E mais à frente: “ […] é também preciso que, na escola, bons professores nos estimulem para a prática desportiva e bons treinadores melhorem as nossas naturais aptidões.”
E ainda: “A prática desportiva e a existência de uma verdadeira cultura desportiva ensinam a saber ganhar sem deslumbramentos e também a saber perder. É algo que a Portugal faz falta.”
Ou: “O desporto, com os seus feitos e as suas grandes figuras, é um dos últimos e mais fortes bastiões da identidade nacional.”
Acrescentando ainda que: “As democracias têm problemas porque há liberdade, a informação circula, há escrutínio sobre a actuação dos governantes. As sociedades livres são assim. Antes, o que não estava bem era ocultado. A fragilidade da nossa democracia é a ineficácia do sistema de justiça, o que não permite punir os infractores e deixa alastrar climas de suspeição permanente. Qualquer sociedade democrática tem que exigir que a lei seja cumprida e que quem não a respeita seja punido.”
Suficiente para reflectir.