Não tem sido fácil o princípio de vida da pequena Nina da Ria Formosa.
Já tínhamos percebido que a lesão no ombro, deslocado ou mesmo partido, não era mais do que o resultado da selvajaria de ter sido agarrada pela perna e lançada para longe. No dia seguinte à volta do refúgio de Olhão a Nina apareceu com um febrão de 40º - vírus eventualmente apanhado de gatos mais velhos, pensámos - e voltámos à veterinária Sarah. Mais antibiótico, mais injecções. Medicada dormiu aos cuidados da Ana mas de manhã ardia de novo em febre. Comia mal e bebia pouco e a drª Sarah propôs-se ficar com ela durante a noite para a colocar a soro e a monitorizar – ela e o namorado, gente boa, foram-se revezando na vigília. Pelo telefone íamos sabendo das reacções. e de manhã fomos informados que a febre tinha, finalmente, cedido e diminuído. Fomos buscá-la para, em carros diferentes do Percy e Knight, a trazermos para Lisboa.
Rearranjo das coisas cá em casa com a Nina num quarto isolada e as desconfianças dos outros dois que não percebiam a redução do espaço. No entanto a febre da Nina não baixava e continuava a comer pouco. O antibiótico, cuspia-o. Voltámos ao veterinário de quem somos clientes habituais. Mais antibiótico, mais injecções e a Nina, com todo o stress da cena, a cair redonda de sono na marquesa do consultório enquanto se anotavam os conselhos.
Nos momentos em que se sente melhor a Nina é um desassossego: salta, brinca, fala, sobe – com habilidade rara – ao tronco de corda para se equilibrar, em actividade circense, na diminuta plataforma. Aconchega-se no colo da Ana, trepa-a e olha curiosa para todo o lado. Esperta menina. Sempre de enorme simpatia e a mostrar-se agradecida, dá-nos esperança de que haverá de recuperar. Resiliente, a menina. Uma lutadora. Uma sobrevivente. Depois de tudo o que passou, não se abandona.
Nesses momentos a nossa esperança aumenta. Mas depois vem de novo o ciclo do aumento da febre e de não comer. A Ana, nas experiências que vai fazendo, lembrou-se de lhe fazer uma canja: como qualquer miúdo começou por comer a carne do frango e só depois o arroz. E comeu uma pratada. A coisa compunha-se, a Nina melhorava, a febre descia. Mas ainda não era altura para distracções.
Ontem, sábado, estava de novo caída, com o nariz seco, sem querer comer. Fomos ao Hospital Veterinário da Estefânia – durante a noite já tínhamos feito uma consulta telefónica – e passámos lá uma boa parte da tarde (só vi o último quarto-de-hora do Benfica…) – em análises, injecções, mais isto, mais aquilo. A Nina portou-se, apesar de alguns gritos de dor, como um heroína, aguentou com tudo. Ela é, aliás, muito lutadora, não está para desistências, reage sempre e sempre que pode dá nota da vontade de viver – não nos deixa desanimar.
Hoje o dia começou melhor. A Nina estava bem disposta – os remédios para o estômago fizeram o seu trabalho e a anemia detectada começou a diminuir – subia por onde podia e não tinha febre. Conforme combinado voltámos ao Hospital para controlo. Tudo parece estar no caminho da melhoria. A Ana vai-lhe dando todo o ânimo que pode e a pequeNINA gata parece compreender e mostra-se agradecida. É uma querida! E tremenda lutadora. Vai sobreviver.
[Acrescento]
11/9 – ainda hoje, apesar de dez anos depois e do distanciamento que as imagens televisivas permitem, não consigo deixar de ter uma profunda revolta de indignação perante o fanatismo gratuito que provocou a queda das torres e a morte de pessoas alheias às pretensas questões. Nada – religião, política, seja o que for – justifica a estupidez da decisão dos alqueidas.
[Cippolli tem toda a razão quando avisa que um estúpido é muito mais perigoso que um bandido.]