sábado, 11 de agosto de 2012

London 2012

Numa situação como a minha - eufemísticamente caracterizada por situação não remunerada de espera (desempregado é o que é!) - a única vantagem, o resto são prejuízos e, como alguém muito bem definiu, muito cansaço, tem sido a possibilidade de ver tudo o que é transmitido dos Jogos Olímpicos pelas televisões.

Tenho visto coisas extraordinárias - a começar por essa evocação notável, e até comovente na actual situação de domínio ideológico neoliberal, do britânico Serviço Nacional de Saúde na Cerimónia de Abertura - como, por exemplo, os 800m do notável queniano David Rudisha ou das meninas sprinters do 4x100 americano, ambos com recordes do mundo, as medalhas - 22 com 16 de ouro - de Phelps e os outros deslizamentos ou saltos espectaculares nas águas da piscinas, os momentos da Ginástica Artística, das várias disciplinas de Atletismo, jogos de voleibol de nível superior ou o notável domínio técnico-táctico do basquetebol dos USA de deixar saudades. Enfim, a memória guardará momentos notáveis e a minha memória de treinador acumulará conhecimentos para juntar à experiência.

Do que se vê das instalações fica-me a certeza do interesse que teria em tê-las visto antes da sua utilização e poder, daqui a uns meses, verificar as transformações e adaptações a outras utilizações dos diversos espaços.

E Portugal? Fez naturalmente e para quem sabe do que se fala, o esperado com alguns resultados interessantes. Com um momento notável protagonizada pela Clarisse Cruz - a nossa heroína que com queda, levantar e cerrar de dentes, tirou 10s ao seu melhor tempo e classificou-se para a final. Momentos que devem, para além da lembrança de exemplar atitude, merecer toda a reflexão sobre os objectivos e estratégias do desporto português. Porque se trata de uma expressão de autêntico desperdício; como é que esta campeã nunca foi verdadeiramente aproveitada? quem andou distraído a olhar por outros interesses? como treina e como compete? a que competências teve acesso? Como é possível não se reconhecer as qualidades demonstradas naqueles minutos de corrida? Anda tudo distraído? Clarisse Cruz é uma campeã a quem parece terem-se esquecido de dar uma oportunidade - e para a história futura o carinho que os portugueses justamente lhe dedicam, não lhe garantirá o que o desporto lhe poderia proporcionar.

Até ver e não estando ainda completa a participação portuguesa, o Tiro com João Costa, a Jessica Augusto na Maratona, o Ténis de Mesa - com Marcos Freitas, João Pedro Monteiro e Tiago Apolónia - o Remo com Pedro Fraga e Nuno Mendes, a Vela com Bernardo Freitas e Francisco Andrade nos 49ers e Álvaro Domingues e Miguel Nunes nos 470 estiveram muito bem pela conquista dos respectivos Diplomas Olímpicos (do 4º ao 8º lugares da geral). Bom, bom foi a Canoagem que conquistou uma medalha de prata com Emanuel Lima e Fernando Pimenta a que juntou três Diplomas Olímpicos conquistados - com direito a repetições - pelas meninas Joana Vasconcelos, Teresa Portela, Helena Rodrigues e Beatriz Gomes nos K4,500m, K2, 500m e K1, 200m. Uma extraordinária prestação elucidativa de excelente treino, programação e visão estratégica. Na certeza do bom caminho, diz assim - numa clara demonstração da diferença demonstrável nestes excelentes resultados - Mário Santos, presidente da Federação de Canoagem e Chefe da Missão portuguesa neste London 2012 em resposta à habitual e exasperante visão paroquial de entrevistadores:
"A nossa luta é para sermos melhores do que as federações de canoagem dos outros países e não para sermos os melhores das federações portuguesas."
Para quem como eu que defende a necessidade de redefinir a Missão das Federações de Utilidade Pública Desportiva - aquelas que recebem dinheiros públicos resultantes dos nossos impostos - para "criar as condições necessárias para que os seus federados possam competir em situação de igualdade de resultados no nível desportivo internacional" é muito bom ouvir uma mesma forma de ver o mesmo problema e, ainda, pela demonstração evidente dos resultados, que não é necessariamente mais dinheiro que possibilita as melhores soluções. Mas sim o alinhamento da visão estratégica pela Missão e pela focagem em resultados internacionais, o reconhecimento e utilização capaz das competências e dos recursos disponíveis e a capacidade de impedir desperdícios. O saber fazer, fazendo, para depois olhar e analisar e ter a certeza que se fez bem.

Vê-se e resulta na Federação Portuguesa de Canoagem. E a percepção da sua estratégia é de importância vital para o desenvolvimento qualitativo do desporto português. Que, ao contrário da expressão da constância das visões ignorantes, não produz resultados capazes nem tão pouco interessantes - e não é por sermos poucos (mito que já desmontei aqui) - como se pode ver no quadro que apresento.


Comparação de Portugal com países europeus

Países com população menor e com mais medalhas olímpicas que Portugal

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