quarta-feira, 23 de julho de 2014

Cândido, o Cadol


O trabalho das equipas
Foto de Le Tour de France, TDFbySKODA

Gosto do Ciclismo que se traduz em corridas, principalmente por etapas. Gosto das estratégias e tácticas que as equipas utilizam para colocar os seus melhores em posição de vitória - gosto da componente colectiva desta modalidade.
Ver a Volta a França através da excelência das imagens que a televisão nos proporciona - juntando às imagens desportivas as imagens aéreas da ocupação do território (haverá imagens mais interessantes do que uma vista aérea de um aglomerado urbano?) - é qualquer coisa de extraordinário. E se houver luta desportiva, então o tempo é muito bem passado, divertido e, muitas vezes, entusiasmante.
Quem primeiro me mostrou o que eram os encantos do ciclismo foi o Cândido mais conhecido por Cadol, garagista - como o classificávamos - que nos arranjava os furos das câmaras de ar das bicicletas. Mecânico de bicicletas de profissão, louco pelo F.C. Porto, fazia, volta não volta, a Volta a Portugal. E era dele que ouvíamos as estórias dos ataques, das duras subidas, das loucas descidas. Do Sousa Santos, do Ribeiro da Silva, do Alves Barbosa, do Emídio Pinto, do Carlos Carvalho, do Sousa Cardoso e sei lá mais de quantos que a memória já não guarda. Tinha um filho, o Copi, em quem depositava esperanças de campeão - construi-lhe uma bicicleta com volante de corrida à proporção do tamanho dele.
As estórias entusiasmavam-nos e levavam-nos - na nossa etapa anual com prémio da montanha e tudo - de Miramar aos Carvalhos para ver passar os ciclistas.
Sempre que vejo as Voltas, lembro-me - com alguma nostalgia - do Cândido, o Cadol, das suas estórias e daquele espaço escuro com uma lâmpada pendurada de um fio e cheio de óleos onde brilhavam rodas de bicicletas. E onde passávamos horas por cada furo a arranjar. 
Continuo a gostar de ciclismo.
Principalmente da sua componente colectiva - provavelmente por isso, sou favorável, como acontece na Volta à França, ao uso de comunicações rádio: para que todos os membros da equipa tenham percepções semelhantes da corrida e possam agir em conformidades com os melhores interesses da equipa. O trabalho em equipa - numa distribuição de trabalho altamente organizado - é formidável: na protecção do seu chefe-de-fila (o nome diz tudo da expressão táctica colectiva), nas perseguições, no aumento de ritmo para desgastar adversários - os combóios são de notável expressão técnica e estética - na preparação para a melhor colocação do "seu" sprinter. A transmissão televisiva da Volta a França é um espectáculo que procuro não perder. Depois segue-se a Volta a Portugal, a Vuelta e o que mais houver entrecortado por jogos de rugby vindos do outro lado do mundo.
Continuo a gostar de ciclismo.

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