Desde que vi, no pior vivo que me lembre, o desperdício que representou a derrota contra a Grécia na final do Euro 2004 - era um povo inteiro a empurrar para a vitória - que não tenho grandes ilusões sobre a capacidade futebolística da selecção nacional. Há sempre muita vaidade, muito antes de o serem já o eram, muito convencimento e pouca exigência.
Desta vez a minha ilusão também não era grande. Ainda não tínhamos ganho nada e já eramos campeões. E assim fomos aos saltos, passando pelo play-off, até à África do Sul. Sem grande glória e com o entusiasmo de um 3º lugar no ranking que não consigo entender (no Rugby os pontos do ranking só contam com resultados contra equipas do mesmo nível ou superior, nunca contra os mais fracos).
Como se este estado de espírito - traduzível em atitudes passivas, mais de espera que de procura - não bastasse, a continuidade da entrega da braçadeira de capitão a Cristiano Ronaldo foi um claro e previsível erro de casting. Que contribuiu ainda mais para uma atitude errada e incapaz de transformar um grupo num conjunto superior à soma das suas partes.
Com a visita de Piennar - o grande capitão do XV Springbok que venceu o Mundial de Rugby em 95 e que foi capaz de liderar uma equipa de fracos resultados até então e transformá-la em campeã, sabendo sempre encontrar a palavra justa para puxar os seus companheiros do fundo do poço dos momentos críticos - ainda pensei que alguma coisa se iria alterar. Mas o que disse, a experiência que contou, os aspectos que focou, ou não foram percebidos ou foram dados como menores. A oportunidade perdeu-se, tudo ficou na mesma e o resultado, foi-se.
Como se sabe (ou deveria saber), as palavras não vencem jogos; a atitude, sim.
Em tempo: escrevi este texto depois do jogo contra a Espanha; a sua publicação hoje permitiu condensá-lo e torná-lo de leitura mais simples.