… o Gana teria ido à meia-final do Mundial e o Uruguai teria ido para casa mais cedo. Se fosse rugby também não haveria assembleias de mandar vir a envolver o árbitro cada vez que fosse marcada uma falta com paragem do jogo. Se fosse rugby tão pouco se ganharia alguma coisa com as ditas faltas inteligentes feitas a meio-campo para cortar a vantagem do adversário. Se fosse rugby qualquer agressão não detectada pelo árbitro levaria ao castigo do prevaricador pelas entidades que superintendem à modalidade. Se fosse rugby, as bolas entradas na baliza seriam golos e o aproveitamento do fora-de-jogo deixaria de ser possível.
O Gana teria passado porque, se fosse rugby, a falta do uruguaio Suarez – defendendo sobre a linha de golo com as mãos – daria um golo de penalidade; não haveria assembleias porque, a cada mandar vir, o local da falta avançaria 10 metros no terreno; nada se ganharia com faltas inteligentes porque iria haver cartão amarelo com saída do faltoso por 10 minutos, marcação de falta com conquista de terreno e de novo direito á posse da bola; os golos eram golos e os fora-de-jogo seriam fora-de-jogo porque haveria recurso imediato às novas tecnologias que informariam árbitros e espectadores da realidade dos factos.
Ou seja: existe uma enorme diferença entre o entendimento do jogo de rugby e o jogo de futebol. No primeiro, toda a construção do sistema de leis do jogo tem por objectivo jogar de acordo com a lei, dando oportunidades idênticas a ambas as equipas; no segundo, a construção do sistema de leis do jogo permite o recurso constante à sua subversão e – pode-se mesmo dizê-lo – incentiva-o, permitindo vantagens ao dissimulador.
Se fosse rugby, o futebol era um jogo mais interessante com menos fanatismo e dando maior protagonismo aos melhores jogadores.
Se fosse rugby não seria possível pensar-se – como alguém anda por aí a pensar – que o jogador expulso deve ser substituído. Porquê? Porque diminuiria a violência, dizem. Com certeza. Principalmente porque seria possível montar uma equipa com o objectivo de baixar o pau sobre o mais perigoso adversário…
Se fosse rugby, os golos entrados seriam golos e os golos marcados em fora-de-jogo seriam anulados.