terça-feira, 15 de dezembro de 2009

INOVAÇÃO

Não há quem não invoque, desde o Presidente da República até qualquer outro cidadão que tenha que botar discurso, a INOVAÇÃO como condição essencial para ampliar a competitividade que há-de aumentar a riqueza dos portugueses. INOVAR É PRECISO! é a palavra de ordem para ultrapassar a crise actual e garantir um desenvolvimento sustentável do país. Muito bem, inovar é bom.

Porém, como tudo, também a inovação tem duas caras – ou duas moedas, para utilizar expressão cara ao Presidente da República. Uma boa e uma má. E é a inovação má que parece estar a prevalecer em Portugal.

Sábado passado um aposentado Inspector do Trabalho, João Fraga de Oliveira, escreveu no Público um interessante artigo sobre o tema. Deu-lhe um título significativo e que explica tudo: “Salários e inovação empresarial: o mínimo da razão directa”.

O que diz esse artigo? Em resumo: que a única e importante atenção dada à inovação empresarial é aquela que permitirá despedir trabalhadores para pagar menos salários. Ou seja, inova-se, despedindo, no conforto da ausência de risco. Porquê assim? Porque, por um lado, os baixos salários continuarão – razão primeira para que não valha a pena inovar para produzir mais e melhor (o custo da pesquisa não é compensado …) e, por outro, o contingente de desempregados permitirá uma exploração desenfreada sustentada (más condições de trabalho, horários alargados, intensificação abusiva de ritmos, diminuição de direitos, desrespeito etc. etc.) numa também cómoda continuidade. Ou seja e como refere o articulista: “Afinal, as vítimas do desemprego não são apenas os desempregados mas, também, sempre, os empregados.”

Aliás outra não será a razão que leva ao posicionamento da Confederação patronal ao realizar que “A actualização do salário mínimo vai causar perda de competitividade, de encomendas e de emprego.” acrescentando a sua coerência na recusa de aumentos aceitáveis do salário mínimo. Porque, verdadeira e empresarioportuguesmente, a INOVAÇÃO é para entreter discursos. Lampedusa sabia muito quando dizia ser “preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma”.

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