sexta-feira, 26 de março de 2010

O jogo dos interesses

Os stewards não são intervenientes do jogo, diz o Conselho de Justiça da Federação de futebol. Talvez não. Talvez sejam apenas elementos essenciais da organização do jogo.
Mas certeza, certeza, é que não são espectadores. Porque eu, espectador, não tenho que cumprir - para além do direito de entrada - com mais coisa nenhuma para ir a um jogo de futebol. E um steward tem! Tem que cumprir o legalmente estabelecido para o poder ser.

Os steward em Portugal nasceram com o Europeu de 2004. Por imposição da UEFA que quis, por razões de segurança, desmilitarizar os estádios procurando assim evitar a visibilidade policial, lida muita vezes como provocatória (no Euro 2000 vi forças policiais preparadas para intervir em caso de necessidade mas situadas a distâncias anti-provocação e dentro dos estádios, não se viam polícias).
Tinham aprendido com o futebol inglês que se socorreu dos stewards quando percebeu que as sessões contínuas da violência holligan se deviam também ao mútuo acicate de claques e polícias - uns e outros a chamarem a adrenalina num jogo de insultos e provocações. Com os stewards com uma missão precisa enquanto parte de um longo plano - os líderes dos gangs viram terminados os seus direitos de entrada em estádios - a Inglaterra transformou os espaços de espectáculo futebolístico em lugares de frequência familiar. E os estádios estão cheios...

Não bastando uma visão distorcida da razão dos stewards, tínhamos ainda que nos confrontar com outra particularidade do futebol português: o facto de ser mais barato dar um enxerto de porrada num espectador - o lorpa pagante alimentador do espectáculo - do que em qualquer outro interveniente do jogo. A proporção é de 1 para 6!
Em Inglaterra, não! Há quinze anos quando Cantona agrediu um espectador que, reconhecidamente, o tinha insultado, foi - sem qualquer outra preocupação que não a defesa da qualidade ética do espectáculo - castigado com 8 meses de suspensão. E será também por isso que no futebol inglês se pode ir aos estádios, sem que os espectadores se sintam punching-balls a preço de saldo. Por cá, pelo contrário, justifica-se tudo numa amálgama de teses peregrinas - em pérolas como esta: quem incumpre é que deve ser castigado e multado, mas nunca ao ponto de deixar de exercer a sua profissão - que justificam o injustificável.

Se admitirmos que a estupidez não é para aqui chamada, então a ignorância nesta matéria dos portugueses influentes no futebol caseiro só pode ser vista como mera cortina de fumo para camuflar o verdadeiro móbil: uma razão de interesse! Até que o futebol se torne insuportável e não haja clubite ou propaganda que o mantenha.

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