A primeira vez que fui a Berlim já o Muro tinha caído. Fui lá – meses depois e com o António Costa e o António Manuel – assistir, junto do SPD então liderado por Oskar Lafontaine, às primeiras eleições na nova Alemanha. Claro que já tinha ouvisto falar do Muro e do mítico Checkpoint Charlie, de relatos de diversas e difíceis aventuras de fugas tentadas e conseguidas, dos atletas da RDA – de cujas proezas sei hoje o significado - e daquele ar de campo de concentração que o Muro dava à cidade.
Fiquei em Berlim Leste num super hotel da desaparecida nomenklatura – a casa de banho tinha uma dimensão de ginásio. Vi aí, notáveis edifícios clássicos - aparentemente bem conservados - e uma não-arquitectura nas coisas correntes e novas. Vi ainda partes do Muro – um bocado, transportável, ainda está numa gaveta cá de casa - percebi o seu traçado e o corte da cidade, vi Trabants e realizei a estupidez que pode atingir o espírito humano – e da qual dificilmente nos livrámos como se ouve em propostas em Israel e no Brasil - quando dominado pelo poder dos preconceitos e da visão totalitária da vida. Visitei cidades e aglomerados do outro lado, estive no Bairro da Stasi onde continuavam as famílias de secretas oficiais. Ouvi e discuti sobre as vantagens e inconvenientes da mudança da capital de Bona para Berlim – nós dizíamos não haver alternativa: ninguém na Europa iria compreender; eles respondiam que Berlim havia sido a capital nazi e não gostariam de o relembrar. Mas assistimos também ás enormes dificuldades do staff do SPD para elaborar uma estratégia capaz de enquadrar a novidade da unificação. Incapazes de se adaptar, os estrategos de Lafontaine queixavam-se da surpresa e não sobreviveram eleitoralmente. Compreendi claramente um conceito que deste então me acompanhou: demasiado planeamento vale o mesmo que nenhum!
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
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