quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Há festa na Portela?

Estive no sábado na Luz. Não vim muito satisfeito com o que vi – irrita-me esta mania do futebol português de marcar e tratar de defender-se na lentidão, no toque, na volta, no retorno. Numa tocaia sem raça e assente naquele pausar de transições – naquele jeito de pé-para-pé insuportável - a permitir que a equipa adversária, toda ela, se recoloque atrás da linha da bola. Vitória por 1-0 foi o melhor que se conseguiu numa maré-cheia de sorte. E hoje?

Hoje, estou preparado para um à rasca de hora-e-meia. A ver a bola a voar pela área com sai-não-sai ou com o é-tua-é-minha da hesitação de três habituais centrais – preocupa-me o mais que provável atraso nas decisões que o facto de Pepe não ter os automatismos da posição irá provocar sob a pressão constante de bolas pelo ar. Já cá – com mais à-vontade – o triângulo tremeu; no inferno de fora e de dentro não estou optimista.

Mas no fundo, o que profundamente me irrita é esta mania de deixar as coisas acontecerem no limite – na continha merceeira, no milagrinho de uma qualquer santa. Ou à espera que alguém nos pague a pretensa dívida que a auto-estabelecida superioridade técnica lhes impõe. A ver…se a disponibilidade e motivação de Liedson contagia todos os outros e há festa na Portela.

Já é recorrente: sempre que a Selecção joga, torna a questão dos naturalizados. Que só deviam jogar portugueses, não naturalizados! ouve-se no empinado ofendido de defensores de pátria vilipendiada. Como se isto fosse propriedade fechada e onde só os nascidos e de sangue tivessem direitos e cidadania. Como se a História – exemplar nas rainhas e reis consorte - não nos dissesse o contrário. Dito de outra maneira: a questão do nacionalismo fechado – somos portugueses porque os nossos antepassados o são – já não tem – se alguma vez teve - qualquer cabimento no mundo globalizado em que vivemos. Qualquer pessoa pode querer tornar-se cidadão de outro país que não o de seu nascimento; qualquer país pode estabelecer regras para aceitar a cidadania nacional de terceiros. Acertadas as duas vontades – ou os dois direitos - o novo cidadão ganha o estatuto de cidadão nacional (se bem me lembro: a única excepção portuguesa é de Presidente da República). Ponto. Termino citando Eduardo Lourenço: O nascer num sítio não é um destino, é uma contingência.

A África do Sul está à distância da travessia de noventa minutos.

Arquivo do blogue

Seguidores